O Brasil passa por um problema sério de identidade. Ninguém sabe quem manda. A avacalhação é geral. De repente, o Lula saiu da toca e começou a juntar um monte de gente para administrar o país esquecendo que a Dilma ainda está no trono. Pretende com esses grupos políticos criar um governo paralelo e deixar a presidente falando sozinha, no vazio. Lula não admite – e já disse isso pessoalmente para Dilma – que ela mantenha sob seu guarda-chuva o ministro Aloizio Mercadante. Sabe que no cargo de chefe da Casa Civil é um pulo para o ministro disputar a presidência em 2018. Portanto, Lula não quer ninguém fazendo sombra às suas pretensões políticas.
Aos poucos, ele vai minando o poder da Dilma e do Mercadante. Exigiu que a presidente indicasse o vice Michel Temer para coordenação política do governo, uma forma de botar o Mercadante para escanteio. Ela, como sempre, obedeceu cegamente. Mas não demorou para dar o troco: não atende as demandas políticas e nenhum pedido do Michel, o que tem provocado um profundo mal estar no meio político, mas sobretudo dentro do PMDB, onde o vice já foi apelidado de chefe de departamento de pessoal.
Lula mexeu na Comunicação Social do governo. Botou de goela abaixo da Dilma seu amigo Edinho, tesoureiro da campanha, já enrolado na operação Lava Jato, para cuidar dos bilhões da publicidade, uma arma mortífera para enfrentar os donos dos jornais que pensam em fazer oposição ao seu nome em direção a 2018. Com o míssil apontado para o Mercadante, seu principal alvo no governo, ele agora juntou-se aos políticos de Brasília que também não veem o ministro com muita simpatia. Tudo de ruim no governo, Lula joga nas costas do Mercadante que resiste, não porque é um grande articulador político, mas porque a Dilma sabe que se ceder a mais essa pressão de Lula pode levá-la ao total esvaziamento do poder.
E no país de dois presidentes, tudo está indo para o fundo do poço. Eduardo Cunha, por exemplo, que até então não passava de um político de segunda linha, agora está dando as cartas. Quer, por exemplo, mudar o regimento para se reeleger na mesma legislatura; quer construir um anexo e um shopping na Câmara, mesmo com o país em crise; quer derrubar Rodrigo Janot e impedir a sua reeleição na Procuradoria Geral da República; e contratou sem licitação a empresa Kroll por 1 milhão de reais para ajudar na CPI da Lava Jato. Virou, de uma hora para outra, o popstar da política com um histórico que mal encheria uma merendeira.
Lula enxerga tudo isso e mantém-se firme no seu propósito de esvaziar a Dilma. Como a presidente está no mundo da lua com seu novo corpinho, o que pode se notar pelos seus últimos pronunciamentos quando trocou as bolas, nada melhor do que passar a imagem da sua fraqueza e da sua inércia para o país, numa bem orquestrada campanha com seus blogueiros chapas-brancas. O ex-presidente não se conforma com a limpeza que a Dilma fez no seu gabinete, expurgando os militantes mais próximos dele. Não se conforma, sobretudo, com a indicação de Joaquim Levy, o Ministro da Fazenda, que não passou pelas suas mãos. Mas na disputa pelo poder, Lula não quer ficar à margem, por isso enfiou lá dentro do Planalto o Edinho que entende de comunicação como ele entende de fissão nuclear.
Nesse caos em que vive o país, cada um quer tirar uma casquinha. Até os delatores premiados já desdizem os seus depoimentos porque começam a entender que podem conviver com suas tornozeleiras de grife em casa com as contas bancárias abarrotadas de dólares lá fora. Eles sabem que no Brasil o crime compensa.
Enquanto isso, o país, sem projeto, vai se esfacelando nas mãos desse governo incompetente e corrupto.
Por Jorge Oliveira
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