Sai mais um ranking internacional e o Brasil, outra vez, passa tremenda vergonha.
Trata-se do Relatório sobre o Capital Humano, um estudo que o Fórum Econômico Mundial vem preparando desde 2013, para medir o êxito dos países em adestrar, desenvolver e preparar [para a vida] a sua gente - essa que o Fórum chama de "o grande ativo" de cada nação.
O Brasil ficou em humilhante 78º lugar entre 124 países. Por si só, já seria um vexame suficiente, mas, em se tratando de Brasil, tudo que é muito ruim sempre pode piorar.
Nesse caso, há pelo menos três itens que tornam o cenário ainda mais devastador. A saber:
1 - O que empurrou o Brasil ao fundo do ranking foi o desempenho no preparo dos menores de 15 anos, idade crucial. Nesse capítulo, a posição brasileira é de chorar: 91º lugar.
Pesou em especial o que o relatório chama de "taxa de sobrevivência em educação básica", ou seja, a capacidade de o aluno sair "vivo" (bem preparado) do ciclo básico.
Como se sabe, desde o governo Fernando Henrique Cardoso, houve um avanço considerável na universalização do ensino básico, dado obviamente positivo.
Mas o novo relatório mostra que é também insuficiente. Não basta pôr as crianças na escola; é preciso que "sobrevivam" nela.
2 - Olhando-se apenas a posição no ranking dos países latino-americanos e do Caribe, aí dá vontade de se matricular no clube dos portadores de complexo de vira-lata.
O Brasil, sétima ou oitava economia do mundo, dependendo do momento, é apenas o 13º país latino-americano/caribenho em matéria de tratamento digno de seu capital humano.
Perde para o Chile (45º), Uruguai (47º), Argentina (48º), Panamá (49º), Costa Rica (53º), México (58º), Peru (61º), Colômbia (62º), El Salvador (70º), Bolívia (73º), Paraguai (75º) e Barbados (77º).
Ficar atrás dos três primeiros já é ruim, mas até compreensível, na medida em que são países que historicamente tiveram nível educacional razoavelmente elevado.
Mas perder até para países tão pobres como El Salvador, Bolívia e Paraguai é uma obscenidade.
3 - No âmbito dos Brics, que são só cinco, o Brasil fica exatamente no meio: perde de Rússia e China, ganha de Índia e África do Sul.
Nesse grupo, um detalhe importante: por mais que a China seja um grande êxito de público e de crítica nos últimos muitos anos, sua posição no ranking de capital humano é ruim (64º posto, não muito à frente do 78º do Brasil).
Parece, pois, evidente que crescimento espetacular, por si só, não é suficiente para preparar o capital humano para os desafios do mundo moderno.
É uma impressão reforçada pelo fato de que dois países que enfrentam ou enfrentaram uma crise econômico-social terrível (Grécia, 40º lugar, e Espanha, 41º) tratam seu capital humano melhor do que a China e melhor que qualquer um dos países latino-americanos, nos quais ou não houve crise ou ela foi mais suave.
Alguém ainda acha que o ajuste fiscal de Joaquim Levy basta para mexer com esse vexame?
Por Clóvis Rossi
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