Os senadores não tiveram coragem de vetar a indicação de Luiz Fachin para ministro do Supremo Tribunal Federal, assim como os deputados aprovaram as medidas provisórias que reduzem direitos trabalhistas e previdenciários. Quer dizer, curvaram-se aos desejos da presidente Dilma, mesmo dando a impressão de independência, demonstrando serem uma coisa só. Para não se desmoralizar por completo, sortearam uma votação rotineira e desimportante para tentar evidenciar um falso sentimento de confronto. Impediram a designação do diplomata Guilherme Patriota para representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos, lugar vago há quatro anos.
Além da evidência de fraqueza, nossos parlamentares deixaram clara sua submissão ao palácio do Planalto, apesar de certas aparências retóricas. Não se deve estranhar a postura do Congresso, de resto um dos mais conservadores dos últimos tempos, perfeitamente afinado com o ajuste fiscal que pune os trabalhadores e privilegia as elites. Aumento de impostos é com Suas Excelências mesmo. Se alguém mudou foi Madame, não o Legislativo. Caíram as máscaras dela e do PT, porque o PMDB está onde sempre esteve faz muito, ou seja, apoiando o governo. Qualquer governo. Os demais partidos fizeram o dever de casa, alguns colando, outros gazeteando.
O rumor estridente dos panelaços parece não haver sido ouvido na Praça dos Três Poderes, inexistindo sinais de que a indignação popular venha a aumentar. Pelo contrário, a impressão é de que Dilma continuará praticando contradições e espalhando a versão de que não mudou de time. Mudou sim, tornou-se neoliberal, como a maioria de seus ministros e parlamentares da base oficial.
Sendo assim, não haverá que esperar grandes reações da esquerda posta em frangalhos, a menos que sobrevenham inusitados. Acomodaram-se as centrais sindicais, negando ao trabalhador meios para expor sua indignação. As elites venderam para eles a falsa verdade de que é preferível manter os empregos. Cada um que se vire e se aperte, quando o caminho natural seria aumentar o ritmo de protestos e manifestações. Isso em meio a demissões em massa, estimuladas por um governo que já foi dos trabalhadores. Hoje, é dos empreiteiros, das montadoras estrangeiras e dos bancos.
Decepcionaram-se outra vez quantos imaginaram os políticos, ou seja, os partidos, o Congresso e os governadores, insurgindo-se diante do fato de a fatura ser outra vez enviada aos menos favorecidos. As previsões são de dias piores frente a crise econômica tratada com os mesmos remédios de sempre, aviados nos laboratórios das elites.
Por Carlos Chagas
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