Um dia o Lula falou que não bastava aumentar salários. Era preciso mudar o regime. O tempo passou, mas à exceção dos metalúrgicos do ABC, durante alguns anos, os salários não aumentaram e o regime continua o mesmo. A Nova República continuou velha e o partido dos trabalhadores nem é dos trabalhadores e muito menos é partido. A reforma política nada reformou. A Câmara rejeitou todas as propostas de mudança e o Senado confirmou a supressão de direitos trabalhistas.
Fazer o quê? Aguardar as próximas eleições é sonho de noite de verão. Faz décadas que nos enganamos com a expectativa, porque tudo fica na mesma. Imaginar a rebelião das massas equivale a desconhecê-las e a ignorar que jamais terão consciência de sua capacidade.
Quem assistiu as longas sessões da Câmara, terça-feira (26) e ontem (27), rejeitando alterações eleitorais, bem como a adesão do Senado ao massacre do trabalhador, concluirá pela desimportância do Congresso e a falência dos partidos políticos.
Madame, no México, exultou e confundiu todo mundo ao dizer “que desde 2008 o Brasil adotou medidas anticíclicas para evitar contaminação da economia pelos efeitos da crise global e que agora é hora de desfazer as medidas anticíclicas e fazer o dever de casa”. Entenderam? Nem eu.
A verdade é que apesar de o PT continuar votando contra os direitos trabalhistas, nenhuma proposta saiu de suas bancadas no sentido de dividir com as elites a carga de sacrifícios para enfrentar a crise econômica. Joaquim Levy já se declarou contra o imposto sobre grandes fortunas e sua opinião parece haver frutificado no partido. O vampiro continua se banqueteando no banco de sangue.
Numa palavra, o regime continua o mesmo enquanto, ou por conta disso, os salários não aumentam. O Lula deve explicações. Pretende voltar ao palácio do Planalto, em 2018, com que intenção? Corrigir os malfeitos de Dilma parece muito pouco. Ampliar o assistencialismo será inócuo. Mudar o regime?
O primeiro companheiro precisa dizer o que pretende. O seu ideal não pode restringir-se à possibilidade dos operários freqüentarem churrascarias uma vez a cada seis meses. Muito menos a voltar aos tempos em que a crise econômica não nos atingia. O provável candidato é intuitivo. Pouco ou nada lê. Toca de ouvido. Mas deve definir o seu regime.
Por Carlos Chagas
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