O governo anunciou o esperado corte de quase R$ 70 bilhões no orçamento, sendo que o grosso será tirado dos setores de saúde e educação, além dos investimentos públicos. Em parte, isso se deve ao fato de que cerca de 90% do orçamento é fixo, sobrando aos demais 10% maior poder discricionário do governo para mexer. Todo ajuste fiscal, portanto, acaba recaindo sobre saúde, educação e investimentos, além de aumento de impostos. Essa tem sido nossa triste história antes mesmo do PT, que apenas piorou, e muito, aquilo que já era ruim.
Mas se o pagador de impostos e o consumidor brasileiro são sempre “convidados” para pagar a fatura da irresponsabilidade estatal, o mesmo raramente ocorre com o consumidor de impostos, ou seja, aqueles que vivem das benesses distribuídas pelo estado no setor público. O desperdício, as vantagens, as mordomias do andar de cima no poder acabam invariavelmente mantidas, preservadas por aqueles que parecem ter perdido o elo com o povo que os elegeu.
Em sua coluna na VEJA desta semana, Pompeu Toledo fala de algumas dessas mordomias, que não entraram nos cortes do ajuste fiscal de Dilma:
Outro exemplo de completa falta de sensibilidade dos poderosos? J.R. Guzzo, na mesma VEJA, resenha o livro novo de Eugenio Bucci, que fala sobre o uso dos recursos voltados teoricamente para a “comunicação pública”. Eles se transformaram em nada mais do que pura propaganda partidária. São bilhões de reais, caso o mesmo cínico questione se dá bilhão. Com a desculpa de informar melhor o eleitor sobre os feitos estatais, o estado usa nossos impostos para fazer propaganda política e partidária. Diz Guzzo:
As empresas estatais não fogem à regra, e entre os dez maiores anunciantes do país, três são do estado. Uma vez mais, estamos falando de mais de bilhão. Por que a Petrobras, em situação quase monopolista, precisa investir tanto em propaganda? Por que a Caixa e o BB, com suas vantagens de estatais que não precisam se preocupar tanto com a lucratividade, emprestando bilhões a taxas subsidiadas, precisam investir tanto em propaganda?
Um governo que age assim parece realmente disposto a “cortar na carne” para colocar as finanças em ordem e a economia de volta nos trilhos? Claro que não! O que o governo Dilma faz é jogar para os ombros dos trabalhadores o fardo de sua irresponsabilidade e seus próprios equívocos. Mas nada muda em Brasília para os mais poderosos. O povo paga a conta de seus erros e abusos, mas o clima dos políticos no poder continua o mesmo: como se vivessem num oásis separado do restante do país, blindados contra a crise que causaram.
Por Rodrigo Constantino
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