domingo, 24 de maio de 2015

Governo Dilma corta bilhões de educação e investimento, mas não corta na própria carne


O governo anunciou o esperado corte de quase R$ 70 bilhões no orçamento, sendo que o grosso será tirado dos setores de saúde e educação, além dos investimentos públicos. Em parte, isso se deve ao fato de que cerca de 90% do orçamento é fixo, sobrando aos demais 10% maior poder discricionário do governo para mexer. Todo ajuste fiscal, portanto, acaba recaindo sobre saúde, educação e investimentos, além de aumento de impostos. Essa tem sido nossa triste história antes mesmo do PT, que apenas piorou, e muito, aquilo que já era ruim.

Mas se o pagador de impostos e o consumidor brasileiro são sempre “convidados” para pagar a fatura da irresponsabilidade estatal, o mesmo raramente ocorre com o consumidor de impostos, ou seja, aqueles que vivem das benesses distribuídas pelo estado no setor público. O desperdício, as vantagens, as mordomias do andar de cima no poder acabam invariavelmente mantidas, preservadas por aqueles que parecem ter perdido o elo com o povo que os elegeu.

Em sua coluna na VEJA desta semana, Pompeu Toledo fala de algumas dessas mordomias, que não entraram nos cortes do ajuste fiscal de Dilma:


Um cínico poderia perguntar: isso dá bilhão? Dá sim, muitos bilhões. Mas ainda mais importante é o aspecto simbólico da coisa. O povo brasileiro está sendo obrigado a pagar pelos erros do governo Dilma, que em parte são seus próprios erros, ao menos daqueles que votaram no PT. Mas não observa a mesma postura austera vinda do poder, daqueles que decidem os cortes. Suas mordomias são intocáveis, e o hiato entre poder e povo cada vez se abre mais. Aqueles que abusam do poder parecem não se dar conta de que um dia esse abuso poderá se voltar contra eles como um bumerangue. Um dia o povo vai cansar de verdade…

Outro exemplo de completa falta de sensibilidade dos poderosos? J.R. Guzzo, na mesma VEJA, resenha o livro novo de Eugenio Bucci, que fala sobre o uso dos recursos voltados teoricamente para a “comunicação pública”. Eles se transformaram em nada mais do que pura propaganda partidária. São bilhões de reais, caso o mesmo cínico questione se dá bilhão. Com a desculpa de informar melhor o eleitor sobre os feitos estatais, o estado usa nossos impostos para fazer propaganda política e partidária. Diz Guzzo:


As empresas estatais não fogem à regra, e entre os dez maiores anunciantes do país, três são do estado. Uma vez mais, estamos falando de mais de bilhão. Por que a Petrobras, em situação quase monopolista, precisa investir tanto em propaganda? Por que a Caixa e o BB, com suas vantagens de estatais que não precisam se preocupar tanto com a lucratividade, emprestando bilhões a taxas subsidiadas, precisam investir tanto em propaganda?

Um governo que age assim parece realmente disposto a “cortar na carne” para colocar as finanças em ordem e a economia de volta nos trilhos? Claro que não! O que o governo Dilma faz é jogar para os ombros dos trabalhadores o fardo de sua irresponsabilidade e seus próprios equívocos. Mas nada muda em Brasília para os mais poderosos. O povo paga a conta de seus erros e abusos, mas o clima dos políticos no poder continua o mesmo: como se vivessem num oásis separado do restante do país, blindados contra a crise que causaram.






Por Rodrigo Constantino

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