sexta-feira, 1 de maio de 2015

Acabou a mágica do desemprego


Até 2014, o Brasil viveu sob o efeito de uma mágica, a mágica do desemprego. O número de contratações diminuiu – e o de gente sem trabalho, também. Em 2014, abriram 397 mil vagas, o menor número desde 2002. E o desemprego atingiu sua mínima histórica de 4,8%. O governo Dilma comemorou a melhora da estatística mesmo sem ter criado muitas vagas de trabalho.

O truque foi a fecundidade. O desemprego demorou tanto a aumentar porque, há 30 anos, os desempregados não nasceram. Simples assim.

É o que prova este gráfico aqui:


O gráfico mostra evolução do número de filhos por mulher brasileira de acordo com a taxa de escolaridade. Em 1970, brasileiras com até 3 anos de estudo tinham em média 7,2 filhos, enquanto aquelas com mais de 8 anos de educação ficavam com 2,7 filhos. A diferença entre elas era de 4,5 filhos por mulher.

A partir de 1980, porém, houve uma queda radical na fecundidade das mulheres com até 3 anos de escolaridade. Em 25 anos, a diferença de fecundidade passou de 4,5 para 1,5 filhos por mulher.

Essa queda da fecundidade produziu um efeito gigantesco no Brasil, ainda que difícil de perceber. Se as brasileiras continuassem tendo tantos filhos quando em 1980, o Brasil teria hoje 105 milhões de habitantes a mais. Seria como se quase toda a população do México se mudasse para o Brasil em busca de emprego.

Como a população cresceu mais devagar, o nível de emprego se manteve mesmo diante da queda das contratações. Entre 1995 e 2000, a parcela de brasileiros entre 15 e 24 anos cresceu em média 2,1% ao ano. Isso significa que todo ano era preciso abrir mais vagas que o ano anterior para abrigar os jovens que começavam a procurar trabalho.

Entre 2005 a 2010, no entanto, a parcela de brasileiros nessa idade diminui 0,9% ao ano. Ou seja: mágica. As vagas diminuíram, assim como o desemprego. Quem presidiu o país nessa época teve uma sorte danada.

O que mais espanta na estatística atual é que o desemprego está aumentando mesmo com tão pouca gente entrando no mercado de trabalho. Sinal de que não há mágica (e nem sorte) que resistam a trapalhadas econômicas.




Por Leandro Narloch

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