O mês de março tem significado especial na política brasileira contemporânea.
Foi em 13 de março de 1964, uma sexta-feira, que foi realizado o comício da Central do Brasil organizado pelas forças de esquerda com apoio e presença do então presidente João Goulart, em defesa das suas Reformas de Base. A ele compareceram sindicalistas, líderes camponeses, membros do governo e políticos alinhados com o governo. Não faltando a presença de Maria Teresa Goulart, esposa de Jango.
Na ocasião, foram assinados dois decretos, sendo o primeiro deles simbólico, que consistia na desapropriação das refinarias de petróleo que ainda não estavam nas mãos da Petrobrás e outro relativo à reforma agrária.
O evento foi sucedido por outros importantes movimentos políticos que vieram a acontecer, e serviram, também, como motivo para a intervenção militar que se sucederia.
Foi igualmente no mês de março (19) que se realizou a Marcha com Deus pela Família, manifestação que reuniu cerca de um milhão de pessoas contra o governo.
Em 31 de março de 1964 os militares tomaram o poder no Brasil e nele permaneceram por 21 anos, pela primeira vez na história, como registrou o brasilianista americano Alfred Stepan.
Pois bem, neste 13 de março, também uma sexta-feira, 51 anos depois, está programada a campanha em defesa da Petrobrás, precedida por ato realizado na ABI, com a presença de líderes esquerdistas, ex-presidente Lula inclusive, não faltando sindicalistas e líderes camponeses. Todos apoiadores do atual governo. A Avenida Paulista, em São Paulo, será palco escolhido para tal manifestação.
Dois dias depois, no dia 15, também está programada outra passeata, desta vez em protesto a tudo que vem acontecendo na política brasileira. Escândalos de corrupção inclusive.
Mais uma vez, governo e sociedade civil se enfrentam numa luta política, com nítidos contornos ideológicos. Desta vez, porém, sem a ameaça de uma intervenção militar, em vista da nítida diferença na conjuntura política nacional e internacional, bem como no ambiente reinante na caserna. Além, é claro, da atual robustez das instituições e da democracia que vigora no país.
Mas, o que não significa ausência de possíveis e danosas consequências para a estabilidade política, embora, nos dias atuais, num ambiente de legalidade democrática.
Mesmo assim, não se pode ignorar a continuidade de uma luta ideológica, presente antes e agora entre as forças de ‘esquerda’ e ‘direita’. Como é próprio da dialética política natural na democracia.
Mesmo não havendo a intenção, os organizadores de ambos os lados não poderiam ter escolhido um mês de tanto simbolismo político para a nação. Ainda que as atuais evidências não permitam prever, e mesmo neguem semelhante ato final. Ainda assim, o simbolismo continua vivo na política.
Por João Paulo Peixoto
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