Ela perdeu muito peso em poucos meses. Na balança do corpo, perdeu 15 quilos, desde novembro, graças a uma dieta argentina. Na balança do poder, Dilma Rousseff perdeu parte do apoio de seu principal aliado, o PMDB, e a confiança do país. Hoje, ela é uma mulher bem mais magra e uma presidente bem mais fraca.
Está emparedada pelo Congresso, que se amotina por causas nobres e motivos espúrios. Está isolada do povo por não ter condições financeiras para manter um governo assistencialista e populista. Corta programas sociais para não ver o Brasil se desmilinguir. Com um Estado inchado que custa 40% do PIB – repetindo, um Estado que consome quase metade do PIB, um dos Estados mais caros do mundo –, Dilma sai à cata de dinheiro, arrecadando ainda mais impostos. Ela sabe que quebrou.
Da mesma forma que reduziu a barriga e os quadris, Dilma terá de encolher o Estado e as estatais, coisa que já deveria ter feito em tempos gordos, antes da dieta. Em 2005, há dez anos, havia um projeto de ajuste fiscal de longo prazo, com uma meta de deficit zero nas contas públicas. Dilma achou “rudimentar” esse regime. Deu no que deu, o Estado ficou obeso, e só mesmo uma cirurgia radical nos salvará.
Não será o médico argentino Máximo Ravenna que fará emagrecer a gulosa máquina petista. Esse método reduz apenas quilos, rapidamente, e visa queimar as reservas de gordura do corpo. Associa cardápio de baixa caloria a atividade física e acompanhamento psicológico. Dilma é obediente, ingere apenas 800 calorias por dia e ajusta seu figurino. No corpo, tinha muitas reservas a queimar. Já no país...
Para ajustar as finanças, ainda bem que Dilma não chamou um argentino. O mago Joaquim Levy, sorridente e pragmático, precisa mostrar resultados rápidos na economia. O ajuste de Levy é draconiano, mas será que seu cliente, o governo do PT, se ajustará às regras da dieta? Ou se viciou no desperdício? Dilma e Levy precisarão se entender às mil maravilhas, porque, se houver uma quebra de discurso e de confiança entre médico e paciente, neste caso, quem sofrerá será nosso corpinho, quem sofrerá será o Brasil.
Dilma prova hoje o sabor amargo de uma vitória eleitoral conquistada em cima de mentiras, ilusões, conchavos, acusações irresponsáveis e promessas vãs. O eleitorado militante petista está mais calado que a presidente. Se existe alguém, hoje, que não provoca inveja no Brasil, é Dilma. Também não inspira pena. Chegou aonde chegou por suas próprias pernas, arrogância, omissão e temperamento. Dilma II só pode culpar Dilma I. Também pode culpar seu criador, Lula, que a fez acreditar num futuro mirabolante.
Metida no inferno astral, o que faz Dilma? Come menos e fala menos. Quase some. A imprensa a acusa de “letargia” e “inércia”. Chama a presidente de “zumbi” e “surda”. Parece telespectadora de si mesma. Vê a lista dos políticos acusados de corrupção, divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, felizmente sem seu nome. Vê a paralisação dos caminhoneiros. Vê a greve de professores. Vê a revolta das mulheres dos sem-terra, armadas com facões. Vê despencar a venda de carros em fevereiro. Vê sua Medida Provisória devolvida por Renan Calheiros, logo quem. Vê que perdeu até a chance de indicar cinco novos ministros para o Supremo Tribunal Federal, porque a Câmara aumentou a idade máxima, no STF, de 70 para 75 anos. Vê um movimento nas ruas e redes sociais por seu impeachment. Vê o povo insatisfeito e temeroso com a volta da inflação e do desemprego.
Pois eu acho que Dilma está certa ao se recolher. Comer menos, falar menos, evitar gafes, entender o que se passa, recosturar suas alianças, esperar passar a borrasca e não fazer besteira. Pode até divulgar fotos suas comprando doce de leite num supermercado no Uruguai, para parecer uma avó e dona de casa comum. Mas terá de trabalhar mais e direito nos 46 meses que lhe restam. Não basta se repaginar, ondular o cabelo e refazer os terninhos. Terá de se reinventar. Mudar a postura. E assumir responsabilidade real com a vida de 200 milhões de brasileiros e suas famílias.
Dilma errou demais da conta. Mas a hora é de um pacto para evitar o pior panorama: uma recessão sem luz no fim do túnel. Não importa mais quem votou em Dilma ou contra ela. Importa o voto em nosso país, importa evitar uma crise institucional e econômica sem volta. Vale acompanhar o ensaio de uma aproximação entre setores do PT e do PSDB, unidos por dois interesses: tornar o PMDB um pouco mais humilde e salvar o Brasil. Há interlocutores no PSDB que Dilma já disse admirar e respeitar. Um deles é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, por enquanto, é melhor ficar de boca fechada.
Por Ruth de Aquino
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