Parabéns!
Você acaba de ser nomeado ministro da República Federativa do Brasil. Com a ajuda da presidenta, montamos uma lista de perguntas frequentes para auxiliá-lo nesta importante função. As respostas abaixo certamente ajudarão V. Ex. a evitar sermões, demissões repentinas e outras dificuldades que alguns de seus colegas estão enfrentando. Boa sorte!
1. Não sei exatamente qual a função da minha pasta. Pra ser sincero, acho que ninguém notaria se o meu ministério fosse extinto. Como devo proceder?
Fique tranquilo! Nesta fase da carreira, é normal que surjam inquietações e um sentimento de inutilidade profissional. Você não está sozinho: dezenas de ministros sofrem desse problema. Para enfrentá-lo, o principal é comunicar a imagem oposta à imprensa e aos eleitores. Na TV, mostre que você está cheio de projetos, decore estatísticas e frases de ênfase. Com o tempo, até você vai acreditar que sabe do que está falando.
2. Preciso ir trabalhar na segunda-feira?
Sim.
3. Preciso ir trabalhar na sexta-feira?
Sim.
4. Ah, tá de sacanagem. Até na sexta-feira?
Bem, sempre é possível agendar reuniões com a base ou discutir regras mais rígidas para o setor em Fernando de Noronha. Mas fique de olho na imprensa do fim de semana: se houver alguma reportagem sobre você, nem precisa voltar a Brasília.
5. Estou com vontade de dar um soco no Eduardo Cunha. Como devo proceder?
A presidência não recomenda a prática de violência entre os políticos da base aliada. Ainda mais se o alvo for um político do PMDB. Jamais fale grosso ou encare um político do PMDB. Se algum político do PMDB encrencar com você, não teremos alternativa senão dar razão ao político do PMDB. A não ser, é claro, se você também for do PMDB. Nesse caso, podem se matar à vontade.
6. Como devo comunicar as ações do meu ministério?
Esta é uma questão importantíssima. A presidente costuma gostar dos ministros que comunicam exatamente o contrário do que fazem. Por exemplo: se você vai rever as regras do seguro-desemprego, não vá dizer por aí que “o seguro-desemprego está ultrapassado”. Faça o contrário: diga que “estamos muito preocupados com o seguro-desemprego”.
Se você prevê que não haverá aumento real ao salário mínimo em 2015, obedeça a presidenta e diga que “vamos propor uma nova regra para 2016 e 2019 para garantir aumento real do salário mínimo”.
E, por favor, não vá escrever um relatório contando que pagamos blogueiros para adular o governo. Em vez disso, diga que “este governo está comprometido com a autonomia da imprensa”. O povo vai lembrar do que você disse, não tanto do que você fez.
7. Acho que vou ser citado nas denúncias da Lava Jato. Como devo proceder?
O governo federal não se responsabiliza pelo histórico de seus ministros e recomenda que eles respondam a acusações de corrupção de forma honesta e democrática.
8. Estou desesperado: fui citado nas denúncias da Lava Jato. Como devo proceder?
Bem, neste caso, é preferível ignorar a resposta anterior e marcar uma reunião com o José Eduardo Cardozo. (Aqui entre nós, ele tem uns conhecidos que podem facilitar a coisa pra você.)
9. O cãozinho da minha mulher está doente. Posso levá-lo de jatinho ao veterinário em Ribeirão Preto?
Não.
10. Mas ele não simpatiza com nenhum veterinário aqui de Brasília…
Não.
11. Mas ele está tão doentinho…
Ok, sendo assim, pode. Mas vale a mesma dica da pergunta 4: arranje algum motivo oficial para a viagem. Uma reunião com empresários para discutir as Olimpíadas, a dívida dos estados, as regras mais rígidas para o setor. O povo adora regras mais rígidas para qualquer setor.
12. Um homem estranho passou aqui no gabinete e disse que foi indicado pelo Lula para a diretoria de licitações do meu ministério. Como devo proceder?
Os autores deste FAQ manifestam que não têm e nunca tiveram conhecimento de desvios de verba ou recebimentos de propina por funcionários do ministério em questão.
13. Peraí, não foi essa a minha pergunta. Deixo o homem trabalhar aqui ou não?
Os funcionários do ministério devem ser escolhidos por critérios técnicos e aspectos políticos, além do histórico de comprometimento com as lideranças e com os apoiadores do partido. Deu pra entender, né?
Por Leandro Narloch
Nenhum comentário:
Postar um comentário