Ao assistir as manifestações contra o seu governo, a presidente Dilma deve ter ficado frustrada por não poder estar no meio do povo exigindo o fim da corrupção e a prisão dos ladrões do dinheiro público.
Nas recordações mais distantes da presidente estão a sua vida de militante no combate à ditadura. Naqueles tempos, com a mente ainda em formação, a então Wanda, sonhou os sonhos de milhares de jovens que decidiram pegar em armas para assumir o poder como fizera Fidel Castro em Cuba. Estes jovens imaginavam uma pátria onde todos seriam iguais e o poder emanaria do povo, como pregam constituições mundo a fora. Seria a pátria amada com suas riquezas repartidas entre todos, e o governo exercido sem tirania. Seria a felicidade geral da nação.
Cuba, a maravilha, depois da vitória em nome do povo, se transformou em ditadura igual as outras, oferecendo a igualdade na pobreza, onde o menos vale mais, e o desenvolvimento individual é considerado pernicioso à sociedade.
A luta pela instalação da sociedade mais justa continuou e Wanda desapareceu com as suas fictícias companheiras de luta: Estela, Patrícia, Luíza e Patrícia. No lugar delas, ressurgiu Dilma, a eficiente e intolerante defensora dos direitos de todos.
A nova Dilma, apadrinhada pelo revolucionário Leonel Brizola, adaptou-se ao momento político da época, ingressou na vida pública pelas mãos de seu mentor, tornando-se gerente eficiente, como era reconhecida até assumir a presidência da República, onde chegou, desta vez, apadrinhada por Lula, o personagem sobre quem Brizola dissera: "Lula, para chegar ao poder, pisa até no pescoço da mãe!" Dilma deve ter gargalhado e concordado com a frase.
Hoje as proféticas palavras de Brizola devem atormentar as suas noites de insônia sentindo o peso dos pés de Lula sobre o seu pescoço, e ouvindo as vozes das ruas contra o seu governo.
A presidente é um Midas invertido; tudo o que toca se transforma em lata, isso para usar uma expressão educada atendendo a propaganda da pátria educadora. Os discursos que faz a presidente não sensibilizam o povo, provocando manifestações instantâneas como os panelaços que ocorrem a cada fala dela ou de seus ministros.
Se Wanda tivesse participado das manifestações em Brasília veria que a mudança sonhada na juventude estava na Esplanada dos Ministérios, nas vozes, nos apitos e nos apupos da multidão. Famílias inteiras participaram do ato cívico; cabeças grisalhas se misturavam com os cabelos revoltos dos jovens. Crianças, velhos, jovens, homens e mulheres faziam coro às palavras de ordem.
Em meio aos que só desejam um governo honesto e eficiente, foram vistos personagens estranhos à democracia vestidos em disfarçadas roupas de combate a sugerir a volta de governos de exceção. Um grupo com bandeira do Império, também circulava em paz. Não houve baderna durante a manifestação, e, como na Revolução dos Cravos, policiais da segurança pública foram homenageados. Deu tudo certo, a democracia se fortaleceu. Só faltou Wanda, que ficou protegida na segurança do Palácio. Na segunda-feira, no meio da tarde, após a reunião que fez com seus ministros, de surpresa - para não provocar panelaços - a presidente falou à nação através da mídia oficial. Seguiu as orientações dos experimentados políticos, as quais deve ter acolhido contrariada. O povo não a ouviu!
Paulo Castelo Branco
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