Por que nenhum blogueiro progressista, nenhum colunista que se diz a favor dos pobres repercute e lamenta o crescimento mixuruca do PIB?
Sempre que o IBGE divulga os números, eu fico atento para ver se eles comentam, mas nada: tratam como se o dado fosse relevante somente para economistas, e não a pior notícia que os pobres poderiam ouvir.
PIB patinando ou em queda significa menos vagas de trabalho e menor concorrência entre patrões por empregados. O camarada que se sente explorado pelo patrão fica sem a possibilidade de encontrar um emprego melhor e dar adeus ao chefe. O garçom e o vendedor de carros vão para casa com menos comissões do bolso, pois ninguém vai ao restaurante, ninguém compra carros.
Do contrário, PIB em alta é uma festa. Patrões concorrem entre si por empregados, oferecendo salário melhor, carteira assinada, menor carga horária e até alguns mimos (em 2010, construtoras ofereciam massagista para os pedreiros).
Por que, então, os blogueiros progressistas não lamentam a tragédia do PIB em baixa?
Minha razão preferida é esta: intelectuais de esquerda gostam de explicar a pobreza de uns pela riqueza de outros. A mensagem que mais lhes rende adeptos é a que culpa os ricos pela miséria do país.
Defender a alta do PIB não se encaixa nessa visão de luta de classes. Significa admitir que pobres e ricos estão no mesmo barco: todos se beneficiam com o crescimento da economia. O número de milionários dá um salto enquanto massas de miseráveis chegam à classe média.
Concordar com a importância do PIB também significa admitir que a melhor ajuda que se pode dar aos pobres é desimpedir o crescimento da economia: diminuir a burocracia nas contratações e na abertura de empresas. E intelectuais de esquerda jamais vão admitir que estar do lado dos pobres equivale a estar do lado dos homens de negócio.
Por Leandro Narloch
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