Ontem, após o jantar, acomodei-me à cadeira de vovô, para assistir ao noticiário. As manchetes eram as de sempre. Novas denúncias de corrupção, falta d’água em São Paulo e enchentes em Rondônia. Sinceramente, ainda não sei que notícia era mais deletéria. Se a seca no Sudeste, se as inundações no Norte, ou se o mau exemplo daqueles que depredam a coisa pública. Já um pouco desalentado, deixei escapar uma pergunta. Uma pergunta, aliás, que já incomodava meu pai e, possivelmente, meu bom avô, Manuel Francisco. Se eles ainda vivessem, gostaria que me respondessem: “O Brasil tem jeito?”
Que o nosso país é jeitoso e tem muitos jeitinhos, não é novidade para ninguém. O que nos falta em planejamento, sobra-nos em jeitices. As nações desenvolvidas planejam. Quanto a nós, ajeitamos aqui, remendamos ali e, mais além, improvisamos. E, assim, com muitos trejeitos, deixamos que as coisas tomem o seu curso, sem qual quer recurso à ética e aos costumes civilizatórios.
Afinal, o que é mais deletério à nação? A seca ou as enchentes? Nem estas, nem aquela. Nada pode ser mais danoso ao país do que a corrupção. Basta uma chuvarada para encharcar a terra. E, quando a mesma chuvarada vai embora, as águas baixam, tomando represas e açudes. Todavia, quem haverá de barrar toda essa corrupção?
Num primeiro momento, ela seca os cofres públicos. O dinheiro que poderia ser usado na saúde, na educação e na segurança, vai sempre esconder-se nalgum paraíso fiscal, infernizando a consciência cidadã. Num segundo ato bem ensaiado, a corrupção enche a empobrecida nação de maus exemplos. Ora, se os velhos corrompem, por que os jovens serão incorruptíveis? Além do mais, todos querem levar vantagem, mesmo que o país fique em desvantagem.
A essas alturas, não podemos evitar mais essa pergunta. Como matar de vez a corrupção? Os corruptos não viverão para sempre. Um dia morrerão como hão de morrer os incorruptíveis. Os exemplos destes e daqueles, porém, jamais serão sepultados. Podem até ser esquecidos nos jornais, mas os livros de história encarregam-se de trazê-los à memória. E, no último dia, virão todos à tona. Os bilhões roubados nenhum valor terão no tribunal divino. Nenhuma consciência poderão comprar, a não ser uma passagem de segunda classe ao lago de fogo.
Mas o que tem a ver a corrupção com a esperança? Do que estava escondido, muita coisa já veio à tona. A sujeira incomoda. Entretanto, a faxina está sendo feita por homens corajosos, firmes e inabaláveis. Dessa forma, vem Deus intervindo não somente em nossa história, mas na biografia de cada homem e mulher deste Brasil grande que ainda tem jeito, apesar de nossos jeitinhos.
Isso me dá esperança.
Acredito no Deus que intervém
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