terça-feira, 31 de março de 2015

Lições pós-1964: Aprenda e siga em frente!


No momento em que a cúpula do PT, desgastada e afetada por escândalos de corrupção que ajudou a promover, toma a decisão de partir para o enfrentamento popular contra seus adversários políticos (que preferem rotular de "inimigos"), nada como uma reflexão séria sobre a data histórica de hoje: 51 anos do movimento civil-militar de 1964. A análise tem importância fundamental porque estamos vivendo um perigoso momento de radicalismo político, combinado com impasse institucional da maior gravidade, que pode acabar em ruptura.

O julgamento histórico costuma ser muito simplório, quando é feito na base da “torcida” ideológica. A visão comuno-socialista – que opera segundo cartilhas autoritárias - os rotula de ditadores e torturadores. A visão do outro extremo – mesmo sem entender direito como a banda da História toca – os conclama como heróis que precisam sempre estar prontos a intervir para salvar o Brasil. Delegar aos militares o papel de salvadores da pátria é fácil e cômodo.

Por falta de uma análise historicamente equilibrada - sem rótulos de mocinhos, monstros e bandidos -, continuamos sem gerar aprendizado de tudo que aconteceu antes, durante e depois dos 51 anos do movimento civil-militar – que tem a data simbólica de 31 de março de 1964 como marco histórico – que acaba celebrado ou odiado, sem jamais ser corretamente entendido. Por isso, continuamos repetindo erros históricos, e nunca encontramos uma solução verdadeiramente democrática para nossos problemas essenciais.

O Brasil é uma rica colônia de exploração que se deixa manter subdesenvolvida e submetida aos interesses de uma Oligarquia Financeira Transnacional. Sempre fomos periferia e não demonstramos vocação para metrópole. Não conseguimos formular um Projeto para o Brasil se tornar, de fato, um País Civilizado, Desenvolvido, Justo, Ordeiro Progressista e comprometido com valores humanos e democráticos.

O Brasil é um País tão sem soberania e independência que não tem Forças Armadas em condições reais de cumprir seu papel fundamental: ter poder de dissuasão. O globalitarismo, que usa e abusa do extremismo ideológico para impedir a união nacional, aposta na desmoralização da expressão nacional do Poder Militar. A sociedade brasileira – formada majoritariamente por ignorantes – não entende a verdadeira importância essencial das Forças Armadas.

O Brasil é Capimunista. Misturamos práticas do capitalismo com ações socialistas ou comunistas. Somos submetidos a um regime de Estado de Direito, cinicamente democrático, que tenta intervir em tudo e em todos, através de um confuso aparato pseudolegal, que varia entre o autoritarismo e o totalitarismo, dependendo das conveniências dos grupos políticos que detêm a hegemonia dos conflituosos e desequilibrados poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Os desgovernos dos últimos 100 anos não avançam. Especializaram-se em repetir erros históricos primários. Por isso, sempre variamos entre pouco ou mais autoritarismo, mas sempre com o discurso de uma democracia (segurança do Direito, com exercício da razão pública) – que nunca existiu. Aliás, nossa República (obra dos militares) ainda não foi implantada... E, para piorar, estamos submetidos ao “império” da governança do crime organizado...

O desgoverno brasileiro é uma carranca do caos institucional. O grupo hegemônico é o mesmo de sempre. A variação é apenas na rotulagem ideologia do purgante. Os políticos, sempre os mesmos, trabalham para seus interesses pessoais ou cumprem a função de agentes conscientes do poderio econômico transnacional que sempre nos governou de fato. Não conseguem e nem querem ter uma visão nacional para desenvolver, de fato, o Brasil. Preferem apenas usar e abusar do Estado Capimunista a seu bel prazer e deleite.

Tudo ficou ainda pior porque os militares (garantidores da soberania) foram transformados em uma “guarda nacional”, com verbas contidas, escalados para ações humanitárias de emergência ou para agirem como “força policial auxiliar” na tal GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Aqueles que foram “interventores” em 1964 e em outras datas atrás agora operam como “guardas de esquina” - PMs de um falido Capimunismo gerador de desigualdade, vagabundagem, ignorância, extremismos e violência.

A farda se transformou em fardo. Alguns, ainda milagrosamente idealistas, acreditam e entendem o verdadeiro papel das forças armadas. Outros preferem se comportar como meros funcionários públicos fardados, seguindo uma carreira pública com salário e promoções que parecem seguras, até se transformarem em aposentados guerreiros da reserva – ou da reforma, por tempo ou invalidez. Na ativa, uns ainda tem a coragem e honra de um samurai. Outros preferem o pragmatismo das gueixas.

O Brasil vive o momento mais ridículo e vergonhoso de sua história republicana. Antes e após 1964, os militares, em parceria com civis, cometeram grandes erros e acertos. Seu grande pecado foi não terem entendido como os verdadeiros inimigos do Brasil operam. As legiões se focaram no combate aos agentes conscientes e ideológicos do inimigo, mas não perceberam que o inimigo lhes destruía e desgastava pelas beiradas, investindo no autoritarismo e na corrupção institucional. Os generais-presidentes foram saídos do poder pela garagem do Palácio do Planalto.

Curiosamente, como último ato, os militares tiveram de garantir a posse da vanguarda do atraso na Presidência da República. Ela continua no poder, com variações ainda mais dantescas. Basta olhar para o legítimo filhote da tal ditadura capimunista. O monstrinho concebido pelo padrastro-general Golbery do Couto e Silva no meio sindical foi alçado ao poder e, desde então, tenta comandar, por trás, as ações daquela que posou, um dia, de guerrilheira para implantar o comunismo no Brasil, mas foi parcialmente derrotada pelos militares. Agora, posando de vencedora, sacaneia os milicos sempre que pode.

O Brasil tem solução. Basta tirarmos, primeiro, os lixos do poder. A vasoura precisa ter Legitimidade e Ordem, para viabilizar a Paz Social, o Progresso e a Democracia – utopias a serem perseguidas. O problema começa a ser resolvido por cada cidadão – a partir dos próprios indivíduos e de seu lar. Só o amor à família, instituição onde começa a Pátria, permitirá que avancemos. Sem ordem e legitimidade não há progresso – só desrespeito, violência e barbárie. Sem a valorização da base familiar não teremos Pátria.

Por isso, o grande investimento que cada um precisa fazer, de imediato, é na Educação. Sem ela, não há civismo possível e nem patriotismo viável. O esforço educacional, a partir do ambiente familiar, vai nos devolver a auto-estima, a vontade de produzir e a força para empreender. O capital necessário para isto o Brasil tem de sobra. Basta ser canalizado para a solução correta.


O projeto urgente é derrotar o PT e seus aliados na vanguarda do atraso. Este esforço começa em cada cidadão de bem e sua família para ter hegemonia na sociedade. Que cada um faça sua parte, do jeito que puder e com as ferramentas que tiver. Temos de superar o Capimunismo até aboli-lo no Brasil. Vamos estudar, trabalhar, gerar renda, investir, fazer parcerias com outras pessoas de Bem e progredir.

Governar (algo ou a si mesmo) é uma arte. A governança (pessoal ou corporativa) depende de alguns princípios fundamentais: Vontade Política, Visão Humanista, Ética, Transparência, Equidade, Justiça, Legalidade, Responsabilidade, Prestação de Contas, Qualidade e Verdade. A obra não é fácil. Mas precisa ser tocada com competência, eficiência e senso prático de realidade.

1964 ensinou direitinho. Não precisamos de déspotas – fardados ou travestidos de pretensos democratas civis. É preciso que cada um cumpra o seu dever, e pare de se acomodar, jogando apenas a culpa nos outros.

Acredite em você, na sua família, nos seus amigos, nos seus parceiros e vá em frente. Faça. Acerte. Se errar, tente de novo, até acertar. Nossa contrarrevolução para tirar do poder as vanguardas do atraso precisa começar imediatamente. Cumpra o seu dever!

Viva a Liberdade. Não às censuras, repressões e totalitarismos políticos, econômicos e psicossociais. Superemos as ilusões ideológicas de torcida organizada, e vamos cuidar da organização pessoal. Se cada um não cuidar de si e da família, o Brasil não evolui para melhor. Mude e melhore você, primeiro. Depois, cobre isto dos ignorantes. O seu sucesso é a derrota dos idiotas, canalhas e ladrões.

Seja seu herói. Tenha fibra e vença! Olhe para frente! Aprenda com o passado, acerte mais no presente e garante o futuro!





Por Jorge Serrão

A magia do esvaziamento do discurso alheio


O estudo do neo-ateísmo nos leva obrigatoriamente ao reconhecimento de um padrão que deveria se tornar imperativo para nós: o esvaziamento do discurso alheio. Mas o que seria esse tal “esvaziamento de discurso alheio”?

Melhor do que tudo é observarmos um exemplo claro: o famoso caso do “monstro de espaguete voador”.

O fato é que, cansados de serem rebatidos com a declaração teísta dizendo “você não entendeu nada da teologia de Paul Tilich”, alguns neo-ateus resolveram criar uma sátira da religião. A ideia veio a partir de Bobby Henderson, em resposta a uma decisão do conselho educacional de Dover, Pensilvânia. O conselho queria que o design inteligente (versão “chique” do criacionismo) fosse ensinado em salas de aula.

Em uma carta aberta enviada ao conselho de educação do Kansas, Henserson dizia acreditar em um criador sobrenatural chamado Monstro de Espaguete Voador, formado por espaguete e almôndegas. A religião seria o pastafarianismo, e deveria ser ensinado nas aulas de ciência, assim como ocorre(ria) com o cristianismo.

A ideia era tirar o valor e até mesmo o sentido de muitas declarações teológicas, ou quaisquer declarações usadas para endossar a existência de Deus pelo discurso científico.

Mais do que isso, os neo-ateus estavam promovendo um esvaziamento do discurso adversário. Com métodos satíricos como esse, queriam dizer que enciclopédias inteiras de teologia não valiam nada. Para eles, tudo não passa de rodeios em torno do nada, para, com excessos de floreios, tentar vender uma ideia falsa aos seus fieis.

Você talvez se sinta tentado a perguntar: “Luciano, você realmente endossa este tipo de procedimento?”.

Sim, e direi aqui o motivo. O mesmo tipo de esvaziamento de discurso alheio que os neo-ateus fizeram em direção ao cristianismo, os cristãos poderiam fazer em relação ao humanismo secular. E vamos pisar ainda mais no acelerador: como o esquerdismo é uma variação da religião política, todo (absolutamente todo) conjunto de alegações esquerdistas deve sofrer o mesmo destino. E aí não são apenas teístas que devem se aproveitar. Todos, sejam ateus ou teístas, que rejeitem o esquerdismo, podem começar a esvaziar o discurso oponente.

Eu até acho que os cristãos pareciam sinceros ao escrever seus tratados teológicos. Parecia haver uma busca sincera de entender a “vontade de Deus”. Já quanto aos tratados esquerdistas (como toda a coleção de obras de autores marxistas) não pode receber a mesma caridade. Eram definitivamente discursos embusteiros para fornecer poder a alguns eleitos, respaldados pela submissão imperdoável de uma legião de funcionais (que realmente acreditam no esquerdismo).

Enfim, não há um argumento dizendo que nós não devemos usar a técnica de esvaziamento de discurso alheio em direção aos esquerdistas em quantidade menor que os neo-ateus fizeram em direção aos religiosos. Ao contrário, devemos começar a fazer isso urgentemente. Além de ser utilíssimo, este framework tornará nossa interação com eles muito mais divertida e prática.

A coisa é mais simples do que parece. A primeira premissa é assumir que nenhum bloco de discurso proferido pelos esquerdistas, em especial os da extrema esquerda, tem qualquer valor intelectual ou lógico. Não passa de um conjunto de fraudes intelectuais para executar alguns jogos, sempre disparando rotinas.

No passado alguns acharam essa visão exagerada. Cínica demais, até. Nada feito. Na elaboração de alguns conteúdos (para além deste site, e vocês terão novidades já na segunda-feira), a aplicação do ceticismo politico em alguns textos esquerdistas, parágrafo a parágrafo, mostra que estamos mais do que justificados a esvaziar todo e qualquer discurso desta gente.

Sendo assim, acabou a era dos “debates” com os esquerdistas. A coisa se resume a: (1) eles geram uma comunicação, (2) o resultado dessa comunicação é avaliado, (3) o conteúdo é desconstruído, ceticamente, (4) desmascaramentos são comunicados ao público adequado.

É claro que podemos ler obras como “O Capital”, de Karl Marx, e “O Capital no Século 21″, de Thomas Piketty. Mas não para abrimos um “diálogo” com os esquerdistas. Mas para entender os truques contidos em uma enormidade de páginas (feitas somente para enrolar a audiência) e saber como rebatê-los. As rebatidas devem incluir escárnio e ridicularização, além de exposições contundentes mostrando indignação, fazendo uso do shaming e de outros recursos.

Recentemente recebi a seguinte mensagem no Facebook: “Luciano, me ajude com isso. Me disseram que o nazismo é de extrema direita. Eu defendi que embora a direita esteja associada a manutenção do status quo…”.

Aí eu já o interrompi de imediato, lançando várias constatações. Dentre elas, a de que manutenção de status quo é algo que os esquerdistas fazem muito mais que direitistas. Na implementação das ideias originais do livre mercado, monarcas caíram. Na implementação das ideias originais do socialismo, tiranias se estabeleceram. Tudo com dezenas de milhões de mortos abatidos pelo seu próprio estado. Não adianta existirem 100.000 páginas fazendo teses dizendo que “direita é manutenção do status quo, mas a esquerda, por outro lado, quer a mudança”, que, sem provas, nem uma linha desta conversa fiada pode ser aceita.

A esse amigo, disse: “Me desculpe. Você ainda está na fase de atribuir algum valor ao lixo produzido pela esquerda, tratando-o como conteúdo intelectual a ser debatido. Eu não sou a melhor pessoa para te ajudar, pois minha experiência me mostrou que é bem melhor estar na fase do esvaziamento do discurso desta gente”.

Com o amparo do ceticismo político, o esvaziamento do discurso alheio gasta a maior parte do tempo explicando (em direção à plateia) os truques adversários, em linguagem simples, sem perder tempo com papo furado desnecessário (que só serve para afetar negativamente a comunicação de suas ideias), expondo comportamentos patéticos, denunciando encenações, conscientizando pessoas a se imunizarem dos truques e, enfim, ajudando a colocar o esquerdismo (em especial o socialismo) na lata de lixo da história.




Por Luciano Henrique

Do ateísmo a plena revelação de Cristo


Texto base: Mc 8.22-33

O Evangelho de Marcos nos trás uma história muito interessante a respeito de um cego que precisou ser tocado por Jesus duas vezes antes de passar a enxergar de forma plena. Somente Marcos registrou esse episódio. Só que esse acontecimento está inserido dentro de um contexto onde Jesus pergunta para os seus discípulos o que as pessoas estavam falando a Seu respeito e o que os seus discípulos tinha a falar sobre Ele. É quando Pedro toma a palavra e fala em nome do todos que Jesus é o Cristo. A partir daí Jesus passa a fala-lhes a respeito de sua ida a Jerusalém, sua morte na cruz e ressurreição; então Pedro chama Jesus à parte e começa repreendê-lo dizendo que tal coisa não iria acontecer a Ele, mas Jesus repreende Satanás que está soprando tais pensamentos na mente de Pedro, pois tais Pedro que anteriormente havia confessado que Jesus era o Cristo tendo esta revelação por parte do Pai, agora, está falando inspirado pelo diabo.

Dentro desse texto e contexto eu gostaria de refletir com você sobre algumas lições que aprendemos através dessas passagens. A primeira lição é quando o homem é totalmente cego – ateísmo. A segunda lição é quando a pessoa tem uma visão de Jesus dentro de um contexto religioso onde Jesus é confundido com qualquer outro deus ou entidade – os homens vistos como árvore e o que os homens falam a respeito de Jesus. A terceira é quando a pessoa passa ver de forma clara e límpida quem é Jesus – a cura por completo e a confissão de Pedro revelada pelo. E em quarto lugar termos os nossos olhos abertos através da revelação dada pelo próprio Deus quem é Jesus (Mt 16.16), mas corremos o risco de termos uma teologia satânica quando Satanás tenta nos induz a mudar os planos do Senhor Jesus em relação ao Seu ministério – a repreensão de Pedro a Jesus (Mc 8.31-33).

Vamos analisar esses textos:

1 – A primeira lição que aprendo é em relação ao ateísmo – o homem totalmente cego (Mc 8.22).

O texto nos fala que este homem era completamente cego, depois ele passou a ver sem discernir as imagens a sua frente e por fim passou a enxergar claramente, ficando totalmente restabelecido; “e tudo distinguia de modo perfeito” (v 25).

O ateu é uma pessoa totalmente cega em relação à pessoa de Deus ou de qualquer outra divindade. Ateísmo, num sentido amplo, é a ausência de crença na existência de divindades. O ateísmo é oposto ao teísmo, que em sua forma mais geral é a crença de que existe ao menos uma divindade [1].

Como nos fala o Salmo 14.1: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem”. Davi deixa claro nesse texto que o ateu é uma pessoa que não tem nenhuma responsabilidade com a moralidade ou dignidade. Para eles a lei moral é nula. A vida não tem nenhum significado.

Norman Geisler e Frank Turek em seu livro “Não tenho fé suficiente para ser ateu”, nos dizem que em épocas mais recentes, o darwinista Peter Singer, professor de Princeton, usou o darwinismo para afirmar que “a vida de um recém- nascido tem menos valor do que a vida de um porco, de um cachorro ou de um chimpanzé”. Sim, você leu corretamente.

Quais são as consequências das ultrajantes ideias darwinistas de Singer? Ele acredita que os pais deveriam poder matar seus filhos recém-nascidos até que tivessem 28 dias de vida! Essas crenças são perfeitamente coerentes com o darwinismo. Se todos viemos do limo, então não temos bases para dizer que os seres humanos são moralmente melhores, em qualquer medida, do que as outras espécies. A única questão é por que limitar o infanticídio a 28 dias ou, extrapolando, por que não a 28 meses ou a 28 anos? Se não existe um Criador da lei moral, então não existe nada de errado com o assassínio em qualquer idade! É claro que os darwinistas como Singer devem rejeitar essa conclusão, mas eles não têm bases objetivas para discordar a não ser que possam apelar para um padrão que esteja além deles mesmos — o Criador da lei moral.

James Rachels, autor do livro Created From Animais: The Moral Implications of Darwinism(Evolução dos animais: as implicações morais do darwinismo), defende a visão darwinista de que a espécie humana não tem valor inerente maior do que qualquer outra espécie. Falando de pessoas com retardamento mental, Rachels escreve:

“O que dizer sobre eles? A conclusão natural, de acordo com a doutrina que estamos considerando [darwinismo], seria que sua situação é de simples animais. Talvez devêssemos ir adiante e concluir que eles podem ser usados da mesma forma como animais não humanos são usados — talvez como animais de laboratório, ou até como comida?”

Por mais abominável que isso possa parecer — usar pessoas com problemas mentais como ratos de laboratório ou como comida —, os darwinistas não podem dar nenhuma razão moral que justifique o fato de não devermos usar qualquer ser humano dessa maneira. Experimentos como os dos nazistas não podem ser condenados pelos darwinistas, porque não existe um padrão moral objetivo no mundo darwinista.

Dois outros darwinistas escreveram recentemente um livro no qual afirmam que o estupro é uma consequência natural da evolução. De acordo com os autores Randy Thornhill e Craig Palmer, o estupro é “um fenômeno natural e biológico que é produto da herança evolucionária humana”, semelhante a coisas como “as manchas do leopardo e o pescoço comprido da girafa” [2].

Essas ideias ateias têm influenciado as nossas escolas e universidades. Pessoas completamente ateias tem tido a responsabilidade de ensinar os nossos jovens, com isso, o que temos visto hoje é uma sociedade desprovida de valores cristãos. É uma sociedade que luta pelo direito ao aborto, mas que não luta pelo direito à vida da criança. É uma sociedade que luta pelos animais, mas que não luta pelo próprio ser humano.

Como disse Davi são pessoas insensatas. O insensato é aquele que é insano, anormal, uma pessoa de difícil trato e entendimento, é o chamado desequilibrado. Pratica seus atos sem temor sem acreditar que está prejudicando e maltratando os outros, já que não tem a correta consciência das maldades que consegue arquitetar e colocar em prática.

Este é o cego que a Bíblia descreve em 2Co 4.4: “o deus desse século cegou o entendimento dos incrédulos”. O diabo faz com que as pessoas desacreditem de tudo, inclusive dele próprio.

Podemos concluir com isso que “Se Deus não existe, então o que Hitler fez foi simplesmente uma questão de opinião!”, pois os ateus afirmam que existe somente o material e o material não possui moralidade.

Mas é bom deixar bem claro que o Senhor Jesus abriu os olhos desse cego, assim como tem aberto os olhos de muitos outros ateus. Pois a fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Cristo (Rm 10.17).

Há alguns anos trás eu estava fazendo o discipulado em uma casa onde havia cerca de quatro pessoas. Sendo que uma delas era ateia, mas eu não sabia. No final dos três meses de discipulado esta pessoa que era ateia disse para todos os presentes que reconhecia Jesus como seu Senhor e Salvador. Romanos 10.17 se cumpriu na vida dessa pessoa. O Senhor ainda abre os olhos dos cegos. É possível um ateu se converter, pois quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo.

2 – A segunda lição que aprendo é em relação aos que veem Jesus em todas as religiões – não o discernem como na verdade Ele é - veem os homens como árvores (Mc 8.23,24, 27,28).

A Bíblia nos fala que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14). Por isso que quando Jesus perguntou para os seus discípulos o que as pessoas falavam a respeito dEle, eles responderam que as pessoas o viam como um profeta, outros que Ele era Jeremias, Elias, João Batista. As pessoas tinham várias ideias de quem era Jesus, mas ninguém sabia ao certo quem Ele era (Mt 16.13,14; Mc 8.27,28; Lc 9.18,19).

Isso não é diferente nos dias de hoje. Quantas pessoas estão confundindo Jesus com várias entidades e deuses. Dizem, cheios de convicção, que Deus está em todas as religiões e que o Senhor Jesus não veio para pregar uma religião por isso está em todas elas, mas a Bíblia nos revela quem é Jesus e como devemos adorá-lo. No entanto outras religiões que não observam a Bíblia, ou até observam, mas não a seguem estão errando na sua maneira de ver Jesus. Por exemplo:

No Catolicismo Romano Jesus possui uma Mãe que foi elevada a condição de Rainha do Universo. Ele não é o único intercessor entre Deus e os homens, mas divide com Sua Mãe (‘Nossa Senhora’) e com todos os santos a intercessão pela humanidade: São Pedro, São Paulo, Santo Expedito, Santo Antônio, Santa Luzia e tantos outros.

Para os Adventistas Jesus é o Arcanjo Miguel, como disse Ellen White, então se eles mudarem isso, eles terão que rejeitá-la como “o Espírito de Profecia” e não seriam a igreja remanescente! Então, agora eles precisam manter que Jesus é tanto Deus como um Anjo. Que Jesus não concluiu a obra de redenção na cruz; e que possui natureza pecaminosa, isso sem entrar em outros por menores.

Para As Testemunhas de Jeová Jesus é um ser criado como todas as outras criaturas criadas. Segundo eles, Jesus não é Deus. Jesus é o arcanjo Miguel assim como pensam os Adventistas. O Espírito Santo é uma força ativa de Deus.

Já os espiritualistas rejeitam o dogma da Trindade e o mistério da participação da pessoa de Jesus na Suprema Pessoa. Segundo o Espiritismo, Deus é Uno. Dele procedem todas as coisas. Jesus é Seu filho, como todos nós o somos. Segundo eles, estamos em pé de igualdade com Jesus, somos irmãos do Divino Mestre.

A religião judaica vê Jesus como um de uma série de falsos messias que apareceram ao longo da história. Jesus é visto como tendo sido o mais influente e, consequentemente, o mais prejudicial, de todos os falsos messias.

A religião Islâmica entende o profeta Jesus, filho de Maria como um dos mais elevados profetas que Deus altíssimo enviou à humanidade e sua gestação e sua infância e sua vida eram cheias de atos milagrosos. Ele era um ser humano infalível, impecável e o mais perfeito. Ele foi perseguido pelos judeus e incrédulos daquela época e também nós acreditamos que o Profeta Jesus filho de Maria não foi crucificado e muito menos ressuscitou. Ele, imediatamente, foi levado a Deus Poderoso através de uma ação milagrosa. O pensamento islâmico que fluiu das fontes islâmicas (o Sagrado Alcorão e as tradições proféticas) obrigam o todo muçulmano acreditar na missão do profeta Jesus, filho de Maria.

Isso é só uma pequena amostra, poderíamos citar como Jesus é visto no hinduísmo, no budismo, no seicho-no-ie e outras.

Assim como aquele cego que começou a enxergar, mas que via as pessoas como árvores assim são essas religiões que veem Jesus de varias formas, menos como Ele é realmente. Este homem por estar com a sua visão ainda comprometida não discernia claramente quem eram as pessoas e muito menos quem era Jesus. Entenda uma coisa, se não temos uma visão plena de quem é Jesus, jamais, entenda bem, jamais a pessoa vai conseguir ter uma visão clara de quem é o homem e quais são as consequências espirituais que ele se encontra. Quem não discerne de forma plena quem é Jesus irá confundi-lo com várias outras entidades ou então irá vê-lo onde Ele não está.

Até dentro de muitas igrejas ditas evangélicas pregam outro Jesus totalmente diferente do que a Bíblia descreve. Estamos vendo crescer dentro de muitas igrejas um evangelho totalmente descomprometido com a verdade bíblica. Líderes que pregam tudo, menos a verdade que liberta. A verdade que abre os olhos dos cegos. Como disse o próprio Jesus: “São cegos guiando cegos” (Mt 15.14).

3 - A terceira lição que aprendo aqui é quando a pessoa passa ver de forma clara e límpida quem é Jesus – a cura por completo do cego e a confissão de Pedro (Mc 8.25,29; Mt 16.16).

O cego passou a ver claramente distinguido tudo de modo perfeito, nos diz o texto. Este homem já não precisava mais de ajuda para se locomover de um lado para outro. Ele conseguia ver e distinguir as coisas ao seu redor. É exatamente isso que o Senhor faz com as pessoas cegas espiritualmente, elas passam a ver de forma plena quem é Jesus. A confissão de Pedro é um relato de como os discípulos já não tinham mais dúvidas de quem era Jesus. Observe que em Mt 16.17 o Senhor diz para Pedro que aquela revelação procedia do Pai, não foi um conhecimento intelectual. Observe a declaração de Jesus:

“Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt.16.17).

Quem abre os olhos dos cegos espirituais é o Espírito Santo aplicando em nossos olhos colírio espiritual (Ap 3.18). É Ele quem arranca dos olhos a venda que o deus deste século coloca nas pessoas cegando o entendimento em relação a Jesus (2Co 4.4). Esse conhecimento pleno de quem é Jesus, mas uma vez repito, não vem de um assentimento intelectual, mas através da revelação de Deus no coração dos incrédulos. Veja esta declaração de Jesus em relação ao Espírito Santo:

“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo… quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.7,8,13).

Temos como exemplo o apóstolo Paulo, que antes da sua conversão era um perseguidor da Igreja, no entanto, no caminho de Damasco teve um encontro com o Senhor. Observe que quando ele levanta do chão ele está completamente cego. Isso na verdade era uma forma de mostrar o seu estado espiritual em relação a Jesus. Ele era um fariseu cego assim como muitos outros fariseus o eram.

Quando Ananias ora por ele caem de seus olhos como que escamas e ele passa a ver, não só fisicamente, mas também espiritualmente (At 9.18).

Quando lemos a respeito desse cego que foi tocado duas vezes para poder ver de forma plena, isso nos mostra que muitas pessoas precisam desse segundo toque de Jesus dentro de nossas igrejas. Há muitas pessoas que pensam que veem Jesus e que o conhecem, mas estão completamente enganadas. Estão vendo um vulto e pensam que estão enxergando nitidamente. Isso é muito sério, pois quem não o vê de forma plena também não pode servi-lo de forma plena, pois não o conhece. Como disse Jó: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.4,6). Conhecimento de Deus gera arrependimento, vida santa e irrepreensível. Pessoas que dizem conhecer Jesus e andam na contramão da Palavra de Deus, certamente não o conheceram.

4 – A quarta lição que aprendo aqui é termos os nossos olhos abertos através da revelação dada pelo próprio Deus quem é Jesus (Mt 16.16), mas corremos o risco de termos uma teologia satânica quando Satanás nos induz a mudar os planos do Senhor Jesus em relação ao Seu ministério – a repreensão de Pedro a Jesus (Mc 8.31-33).

Isso é o que mais temos visto em muitos púlpitos por aí. Gente mudando a teologia bíblica por outra teologia. Uma teologia que agrada aos ouvidos, mas não faz diferença no coração. É muito comum hoje em dia vermos pregadores mudando a mensagem Cristocêntrica pela mensagem antropocêntrica. Como disse Paulo ao Colossenses 2.8;18,19:

“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo… Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”.

O mesmo apóstolo escrevendo a Timóteo alerta a respeito da apostasia dos últimos dias:

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1Tm 4.1).

E como apostasia pode vir acontecer? Bem, entendo que isso ocorre de três maneiras básicas:

1º – Por líderes de mau caráter, ou seja, gente que não tem um pingo de temor a Deus. Gente que se utiliza a credulidade do povo para se beneficiar.

2º – Por Lideres que aprenderam errado, ou seja, foram discipulados de forma errada. No entanto, se tais líderes aprenderem a verdade abandonará essa teologia satânica.

3º – Aqueles que se apostatam da fé como o texto de 1Tm 4.1 nos deixa claro. E eu creio que tais pessoas nunca conheceram a Cristo. Nunca tiveram uma experiência de conversão.

Queridos, nós não podemos por todos em uma vala comum e dizer que todas essas pessoas são de mau caráter. Creio que haja pessoas até muito bem intencionadas, mas que tem pregado um evangelho distorcido da verdade. São pessoas zelosas, mas fora da doutrina. Tem um grande zelo por Deus, mas desconhecem a sã doutrina. Com tais pessoas devemos agir como Cristo agiu com Pedro, repreenda Satanás, mas salve a Pedro. Mostre-lhes a verdade com amor não lhes impondo nada.

Conclusão

Eu tenho acompanhado algumas pessoas discutindo teologia na internet. Algumas dessas discussões são até saudáveis, mas algumas não levam a nada. Eu por exemplo creio e sigo a teologia reformada, mas tenho bons amigos arminianos que são mais piedosos que eu. No ponto principal nós não divergimos. Mas tem gente que falta pouco colocar os “hereges” na fogueira. E isso de ambos os dois lados.

Por exemplo, todo terceiro domingo prega na igreja que pastoreio um seminarista arminiano, e esse rapaz tem uma mensagem muito abençoada.

Temos que pregar a Cristo assim como os apóstolos pregaram. Com unção e graça. Como costuma dizer o Revendo Hernandes Dias Lopes: “Aos olhos e ao coração”.

Que o Senhor nos abençoe!



Por Silas Alves Figueira

Fonte:

1 - Ateísmo - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ate%C3%ADsmo, acessado em 28/01/15.
2 – Geisler, Norman e Turek, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu, Ed. Vida, São Paulo, SP. 2006, pag. 196, 197.

A vida é mais que uma lista de tarefas


Vamos começar com um conto de fadas. O da Cinderela. Mas não nos importa tanto o sapato de cristal, nem a abóbora que se transforma em carruagem, nem o príncipe azul. Vamos prestar a atenção na quantidade de tarefas que Cinderela deve fazer antes ir ao baile. Esfregar, limpar, passar roupa, organizar, cozinhar e, de novo, esfregar, limpar, organizar... Logicamente, quando chega a hora de ir ao baile, que é o que ela realmente quer e o que vai mudar sua vida, está tão cansada que precisa da ajuda mágica da Fada Madrinha para conseguir. Sem isso, Cinderela teria ficado em casa, cansada e pensando com ansiedade em tudo que ainda precisa fazer e em tudo aquilo que não terá tempo de terminar.

Pois bem, nós não somos muito diferentes dela. Antes de poder ir aos nossos bailes, quer dizer, fazer aquilo que realmente queremos, que nos motiva e quem sabe até pode mudar nossas vidas, estamos submersos em uma quantidade infinita de tarefas: a casa perfeitamente organizada, a máquina de lavar trabalhando, a criança matriculada em quatro atividades extracurriculares; é preciso ser, claro, muito produtivo em nossos empregos, amantes excelentes e criativos com uma vida social rica, ativa e variada... e ter o Facebook atualizado. Ah, e seria bom comer cinco frutas por dia e correr 10 quilômetros e não ter olheiras e,... fazer, fazer e fazer. No final de nosso conto de fadas, o que acontece é que o baile sempre fica relegado para o dia seguinte, “quando isso acabar...”. E assim passam os dias

No mínimo, Cinderela tem uma ou duas desculpas. As malvadas meias-­irmãs a obrigam e maltratam. Uma força externa a pressiona, submete e explora. Mas hoje nós mesmos somos as meias-­irmãs. Byung-Chul Han, em seu famoso livro La sociedad del cansancio (A Sociedade do Cansaço), adverte que vivemos em uma sociedade de academias, torres de escritórios, bancos, aviões e laboratórios genéticos. Quer dizer, na sociedade do alto rendimento, do multitasking (multitarefa). E uma das características desta sociedade é que o indivíduo se autoexplora com o álibi da obrigação. As meias­irmãs estão dentro de nós, dizendo tudo aquilo que devemos fazer em uma contínua e excêntrica corrida em espiral. Porque hoje o único pecado é não fazer nada. Até os momentos de ócio ou os períodos de férias se transformaram em uma conjunção inesgotável de tarefas que nos deixam mais cansados do que quando começamos.

Além disso, como afirma o filósofo sul-­coreano, ao não ter um explorador externo que possamos enfrentar com um forte “não!”, a luta termina sendo ainda mais complicada. No entanto, também é verdade que basta querer para vencer as duas meias-­irmãs que nos tiranizam e desatar a magia da Fada Madrinha que temos dentro de nós.

Devemos admitir então que estamos rodeados pelo afã de produtividade, que todos acabamos seduzidos por esses insuportáveis apps que nos alertam de tudo aquilo que ainda devemos fazer. Ou pelas cadernetas preparadas para fazermos listas de tarefas. Ou por livros que nos explicam como fazer tudo, como chegar a todas as partes e que o tempo renda mais. Mas chega o momento de abandonar essa loucura, porque no fundo, e paradoxalmente, não há nada menos produtivo do que o afã de produtividade. Byung-Chul Han assegura que o multitasking pode nos levar a um estado de atenção superficial e devemos levar em conta que as conquistas da humanidade aconteceram por causa da atenção profunda e contemplativa. Assim, também nossas conquistas dependem de saber colocar o foco e a atenção nas coisas importantes, nos bailes que valem a pena. E para isso vamos atacar o inimigo com as suas próprias armas e criar uma lista, só que inteligente, que sirva para nós e não que acabemos servindo a ela. Como?

O baile, em primeiro lugar. É preciso virar a lista de cabeça para baixo. Não deixar o baile para “quando acabar de fazer tudo isso”. Ocupar-­se primeiro do fundamental, de nós mesmos. Começar o dia dedicando-­se àquilo que sabemos que nos fará bem. Vamos imaginar que alguém precisa escrever um artigo e, antes de começar, no entanto, lê os emails pendentes, entra nas redes sociais e responde umas mensagens de Whatsapps. Resultado? Cansaço antes de começar. Cinderela pode ir ao baile e deixar essas outras coisas que exigem menos brilhantismo para depois.

Bem, e o que fazemos com todo o resto? Porque está claro que há coisas que simplesmente não podemos deixar de lado. Como fazer, então? Dividir o registro de tarefas em três grandes grupos pode ajudar.

Coisas que devemos realizar. Fazer o que precisamos fazer. Depois de ir ao baile, não devemos deixar que essas outras coisas, que voltarão a aparecer cedo ou tarde, fiquem dando voltas por nossa cabeça. Por exemplo, uma ligação incômoda que vamos postergando. São três minutos! Mas se continuamos postergando, em lugar de 180 segundos, chegará a durar seis meses na nossa cabeça.

Coisas que devemos organizar. Não é preciso carregar tudo. Podemos delegar, pedir ajuda, dividir tarefas, conseguir que certas coisas aconteçam sem cair sobre nós.

Coisas que não devemos fazer. Com certeza, nesta lista há muitos elementos que realmente não são necessários. Que podem ser eliminados diretamente e, desta maneira, liberar espaço. Cada um deve decidir quais são. Mas é importante perceber que neste ponto encontra­-se a primeira grande vitória pessoal para esquecer a voragem da hiperatividade sem sentido. Renunciar a tudo aquilo que nem contribui nem é estritamente necessário. Saber o que não é preciso realizar é tão importante quanto começar a fazer aquilo que é.

Depois que conseguimos parar de correr nessa espiral do dia a dia, fruto desta sociedade da multitarefa, é o momento de começar a dançar. E o mais importante é descobrir qual é a nossa música. O que nos faz felizes. O que realmente importa. Sir Ken Robinson chama isso de elemento, e assegura que “descobrir o elemento é recuperar capacidades surpreendentes em nosso interior, e desenvolvê-­las dará um giro radical não apenas no ambiente de trabalho, mas também nas relações e, no final, na vida”. A boa notícia é que todos estamos convidados a um baile no qual seremos protagonistas. Alguns já o conhecem e só devem manter na linha as duas meias-­irmãs. Outros, ao contrário, ainda não descobriram seu elemento e deverão olhar dentro de si mesmos, pois ele está ali, esperando ser convidado a dançar. Se a resposta a estas três perguntas for afirmativa, é porque já a encontramos:

Temos vontade de dançar? Se não temos preguiça, se sempre que pensamos nisso ficamos animados, se quando estamos fazendo essa atividade, embora não seja tantas vezes quanto gostaríamos, fazemos com vontade e dedicação. Se a resposta é sim, atenção, pois pode ser nosso elemento. O baile que está nos esperando.

O tempo para? Apesar das advertências da Fada Madrinha, Cinderela está tão encantada no baile que perde a percepção do tempo. Chega a meia-­noite e ela nem se dá conta. Só as badaladas do relógio podem sacá-­la do estado de flow no qual caiu, o verdadeiro feitiço cotidiano, que tem como característica a concentração de nossa energia e uma implicação total na tarefa, tal como foi definido por Mihaly Csikszentmihalyi em 1975. Se aqui a resposta é sim, com certeza esse é o baile que estamos procurando.

Vai se ativar a magia? A magia não é nada mais que a paixão. E a paixão é o motor da grandeza, da autorrealização e da capacidade. Se descobrimos aquilo que nos apaixona, seremos capazes de concentrar nossa energia nisso e descobrir que Platão estava certo quando afirmava que “todas as coisas serão produzidas em quantidade e qualidade superior, e com maior facilidade, quando cada homem trabalhar em uma única ocupação, de acordo com seus dons naturais, e no momento adequado, sem imiscuir-se em nada mais”.







Por Gabriel García de Oro

segunda-feira, 30 de março de 2015

Desperte para o real significado da liberdade


Quando pressionados por uma declaração de suas crenças, conservadores dão respostas evasivas ou irônicas: crenças são o que os outros têm, aqueles que, como socialistas e anarquistas, confundiram política com religião. Isto é lamentável, porque o conservadorismo é uma filosofia genuína, ainda que não sistemática, e ela merece ser afirmada especialmente em tempos como o atual, quando o futuro de nossa nação está ameaçado.

Conservadores acreditam que nossas identidades e valores são formados através de nossas relações com outras pessoas, e não através de nossas relações com o estado. O estado não é um fim, mas um meio. A sociedade civil é a finalidade última, e o estado é o meio de protegê-la. O mundo social emerge através da livre associação, enraizada nas relações de amizade e na vida em comunidade. E os costumes e instituições que estimamos têm crescido de baixo, pela mão invisível da cooperação. Elas raramente têm sido impostas de cima pelo trabalho de políticos, cujo papel, para um conservador, é reconciliar nossos propósitos, não ditá-los ou controlá-los.

Apenas nos países de língua inglesa os partidos políticos se descrevem como “conservadores”. Por que isto? Isto se dá claramente porque os falantes da língua inglesa são herdeiros de um sistema político que tem sido construído de baixo, pela livre associação de indivíduos e pelas operações da common law. Consequentemente, concebemos a política como um meio para conservar a sociedade e não um meio para impô-la ou criá-la. Da Revolução Francesa à União Europeia o governo continental tem se concebido em termos de “cima para baixo”, como uma associação de sábios, figuras poderosas ou “experts”, que estão no negócio de criação de ordem social através de regulação e lei imposta. A lei comum não impõe ordem, ela emerge da ordem. Se o governo é necessário, do ponto de vista conservador, é a fim de resolver os conflitos que surgem quando as coisas estão, por qualquer razão, desestabilizadas.

Se você vê as coisas deste modo, então você está propenso a conservar a sociedade civil pela acomodação da mudança necessária. O Partido Trabalhista visou enfraquecer nossa sociedade externamente e dividi-la internamente. Externamente por sua inquestionável aceitação da primazia da autoridade internacional da União Europeia, internamente pela imigração indiscriminada, conflito de classes e “reformas”, que usualmente significa a politização de nossas consagradas instituições. Os conservadores, por contraste, aspiram por uma sociedade governada de forma coerente com as instituições que surgiram através dos tempos em resposta às necessidades de mudança e circunstâncias.

Tal sociedade depende de uma lealdade comum e uma lei territorial, e estas não podem ser alcançadas sem fronteiras. Mas nos encontramos obrigados por um tratado concebido por internacionalistas utópicos em circunstâncias que desapareceram já há muito tempo. O tratado da União Europeia obriga os estados membros a permitir “livre movimentação de pessoas”, independentemente de seus desejos ou seu interesse nacional. Com seu sistema de assistência social aberto, sua língua universal, sua riqueza relativa, suas liberdades cuidadosamente defendidas, nosso país é o destino preferido da onda de imigrantes europeus. Entretanto, no topo de qualquer agenda conservadora está a questão da imigração. Como limitá-la, e como assegurar que os recém-chegados se integrarão numa sociedade em que a livre associação, liberdade de opinião, e o respeito pela lei são axiomáticos.

Os conservadores reconhecem que o direito de eleger nossos legisladores e mudar a lei é uma premissa de políticas democráticas. Sempre que possível, eles acreditam, nossas leis devem ser elaboradas em Westminster, ou nas côrtes da commom law de nosso reino, não por burocratas não eleitos em Bruxelas ou por côrtes de juízes Europeus.

Até recentemente os conservadores enfatizavam a sociedade civil tendo igual ênfase na família em seu cerne. Esta ênfase tem sido distorcida em confusão pela revolução sexual, pela difusão do divórcio e nascimentos fora do casamento, e pelos movimentos recentes para acomodar o estilo de vida homossexual. E estas mudanças tiveram que ser absorvidas e normalizadas. Nossa sociedade é tolerante, na qual a liberdade é estendida a uma variedade de religiões, visões de mundo, e formas de vida doméstica. Mas a liberdade é ameaçada pela licenciosidade: a liberdade é fundada em responsabilidade e respeito pelos outros, enquanto que a licenciosidade é um modo de explorar outros por puro ganho pessoal. A liberdade entretanto precisa de valores que protegem os indivíduos de uma vida pessoal caótica e que cuidam da integridade do lar em face de muitas ameaças.

O conservadorismo é uma filosofia de legado e administração, não dissipa recursos, empenha-se em aumentá-los e passá-los adiante. Para os conservadores, a política ambiental precisa ser resgatada da expertise embusteira dos alarmistas. Mas deve também ser resgatada da religião do Progresso, que nos instiga a perseguir crescimento a qualquer custo e a transformar nosso amado país em um conjunto de plataformas de concreto, por ferrovias de alta velocidade numa paisagem em que cada topo de montanha é coberto por sinistras fazendas de vento.

É difícil que estas convicções surtam efeito agora. Através de quangos (comitês) e corpos oficiais, o estado tem sido ampliado pelo Partido Trabalhista até o ponto de engolir a iniciativa privada e distorcer o longamente estabelecido instinto de caridade de nossos cidadãos. As regulações dificultam a associação de pessoas, e as decisões nonsense das côrtes Europeias constantemente nos dizem que, vivendo de acordo com nossas luzes, estamos atropelando os direitos humanos de alguém. Os conservadores acreditam em direitos, mas em direitos que são pagos por deveres, e que antes reconciliam pessoas ao invés de dividi-las.

Os pensadores de esquerda quase sempre ridicularizam a posição conservadora como defensora do livre mercado a qualquer custo, introduzindo a competição e a motivação do lucro mesmo nos arredores sagrados da vida comunal. Adam Smith e David Hume deixaram claro, entretanto, que o mercado, que é a única solução conhecida para o problema da coordenação econômica, depende ele próprio do tipo de ordem moral que emerge de baixo, quando as pessoas se responsabilizam por suas vidas, aprendem a honrar seus acordos e vivem em justiça e caridade com seus vizinhos. Nossos direitos são também liberdades, e liberdade faz sentido apenas entre pessoas que sejam responsabilizáveis por seus vizinhos em caso de mau uso.

Isto significa que, para os conservadores, o esforço de recuperar a sociedade civil do estado deve continuar incessantemente. Uma por uma nossas liberdades estão sendo erodidas: a liberdade de expressão pelos muçulmanos, a livre associação pela Côrte Europeia de Direitos Humanos, a liberdade de fazermos nossas próprias leis e controlar nossas fronteiras pela União Europeia. Nós conservadores valorizamos nossa liberdade não porque ela seja uma posse abstrata de uma pessoa abstrata, mas porque é uma conquista concreta e histórica, o resultado da disciplina civil exercida por séculos, e o símbolo de nosso reservado respeito pela lei do país.






Por Roger Scruton

Filósofo e escritor - http://www.roger-scruton.com

Originalmente publicado em The Spectator.

Tradução: Flávio Ghetti

Estatal não é público


Se usamos uma só palavra para nomear duas coisas diferentes que às vezes aparecem juntas, essas duas coisas acabam se tornando uma só no imaginário popular. É o caso do termo "público".

Público opõe-se a privado. Só que há dois tipos de "privado": aquilo que é do uso exclusivo de poucos, e aquilo que é propriedade privada.

E há dois tipos de "público": aquilo que muitos usam livremente, e aquilo que pertence ao estado. Sob um mesmo termo, "do estado" e "para todos" viram sinônimos. Mas o estado não é, nem nunca será, para todos.

Essa confusão serve muito bem aos interesses do próprio estado, que se aproveita da aura positiva que o termo "público" confere. Ele, de alguma maneira, é de todos, por todos, para todos. Representa a vontade geral, tem um pouquinho de cada cidadão, é uma força ordenadora que paira sobre a sociedade — diferente do setor privado, onde impera a ganância, o lucro (esse pecado capital) e o interesse... privado.

Muita gente nem percebe que "estado" e "sociedade" não são a mesma coisa.

Ao dizermos que o estado é público repetimos mantras espirituais de um passado em que se acreditava que o estado tinha algo de divino, numa verdadeira mística do poder. Tirou-se o Deus transcendente da jogada e colocou-se o deus-povo em seu lugar, como se houvesse um povo além e acima dos indivíduos que o compõem.

Hoje em dia, nosso estado é laico, mas apenas com relação às religiões que competem com a sua. Quanto a si mesmo, não há ficção espiritual, mentira piedosa ou hagiografia de que ele não faça uso para perpetuar seu poder onde ele mais importa: nas mentes dos fieis/súditos/cidadãos/contribuintes. Uma dessas santas artimanhas é justamente a ilusão de que se trata de um "setor público", representante e servidor do povo.

Algumas das posses do estado são, de fato, públicas. Ele tem o monopólio quase absoluto, por exemplo, do tipo mais básico de espaço público: a rua. Mesmo as ruas, contudo, nem sempre são públicas: em São Paulo, muitas vilas têm portões que impedem a entrada de não moradores. Estradas estatais cobram pedágio. Por outro lado, praças, parques, museus e bibliotecas, que também são espaços públicos, nem sempre são do estado. E ainda outros espaços públicos como bares, restaurantes e shoppings são quase sempre propriedades privadas.

Muito do que o estado tem ou faz, ademais, é exclusivo, é para poucos. Poucos podem usar a frota de carros oficiais ou cursar o Instituto Rio Branco ou mesmo receber um diploma da USP. São do estado, mas impõem severas restrições ao acesso.

Pensemos no ensino estatal; ele é "gratuito". Mas há escolas privadas que também oferecem vagas gratuitas; e outras, filantrópicas, que atendem apenas gratuitamente; e nem por isso as chamamos de "públicas". Ao mesmo tempo, instituições de ensino estatal podem cobrar, como fazem as universidades estatais nos EUA e na Inglaterra. Ser chamado de "público" não tem nada a ver com a real abertura, gratuidade ou universalidade; é apenas um termo que se aplica ao que vem do estado. E um termo nada neutro.

O estado, por ser o "setor público", goza de uma prerrogativa de benevolência ou generosidade. No entanto, a ideia de que os bens e serviços do estado "servem a todos", ao interesse comum ou ao bem público — em oposição a empresas que buscam o bem privado — é uma fórmula retórica vazia. Por acaso empresas que produzem e distribuem comida não servem ao interesse público? E as que produzem e vendem serviços de cultura e entretenimento? Tudo que tem uma demanda é um interesse público.

Empresas como Google e Facebook servem — gratuitamente — a muito mais pessoas do que o estado brasileiro. Qual o sentido de dizer que os interesses deste são "públicos" e os delas "privados"?

Outra faceta do mito estatal diz que o estado é público porque é seu, meu e de todos nós; ou ao menos que ele representa o coletivo. Isso também não é verdade. O estado é uma organização entre outras, e ele não é mais "nosso" do que qualquer empresa. O mecanismo do voto, nosso meio de agir sobre ele, é mais tênue e ineficaz do que o poder do consumidor sobre qualquer empresa ao comprar e deixar de comprar (poder do qual o estado se blinda por meio dos impostos e da emissão de dinheiro).

Ademais, o poder dos políticos eleitos é limitado, pois eles constituem uma fina camada do estado. O grosso dele é composto de funcionários cuja atividade independe do voto popular e sem o apoio dos quais nenhum político pode governar. Já no famigerado setor privado, ao menos no caso das empresas negociadas em bolsa (que também são chamadas, à sua maneira, de públicas), aí sim você pode se tornar dono de uma parte delas; e pode inclusive vendê-la depois.

Por acaso temos direito de vender a parcela do estado que supostamente nos pertence? Não, e por quê? Dica: ele não é nosso.

O estado não é mais público do que tantas outras instituições que são propriedade privada. Quem de fato o controla são poucos e não tem como ser diferente. Muitos de seus serviços e benefícios são direcionados a poucos (pensemos agora no BNDES ou nas aposentadorias dos servidores públicos, esses heróis da pátria). Ele também não está mais voltado ao serviço do público do que outras organizações. Seus agentes, por fim, não são mais virtuosos ou altruístas do qualquer outra pessoa; respondem aos mesmos exatos incentivos que todos os pobres mortais.

Assim, ao falar das coisas do estado, evite o adjetivo "público"; ele engana. Utilize "estatal" em seu lugar. Funcionário estatal, escola estatal, rua estatal, interesse estatal, setor estatal. Reserve o "público" para praças e bares, que podem ser estatais ou não. A perpetuação da mística do poder do estado só nos afasta da realidade crua: o estado não é você, o que é dele não é seu, não há uma vontade coletiva por trás dele e ele não conhece e nem serve a seus interesses melhor do que qualquer outra organização.

Na verdade, o estado — esse ente de razão — nem existe; são só pessoas como você e eu, que não sabem mais e não são melhores do que você e eu, mas cuja vontade recebe — de nossa parte — a permissão tácita para se impor à força. No dia em que essa verdade realmente penetrar nossa consciência, ele estará em maus lençóis.








Joel Pinheiro da Fonseca

Mestre em filosofia
Escreve no site spotniks.com
Siga-o no Twitter: @JoelPinheiro85

Karl Marx e a diferença entre comunismo e socialismo


No dia 10 de setembro de 1990, o multimilionário escritor, economista e socialista Robert Heilbroner publicou um artigo na revista The New Yorker intitulado "Após o Comunismo". A URSS já estava em avançado processo de colapso.

Neste artigo, Heilbroner recontou a história de como Ludwig von Mises, ainda em 1920, havia provado que o socialismo não poderia funcionar como sistema econômico. Neste artigo, Heilbroner disse essas três palavras: "Mises estava certo".

Mas aí vem a dúvida: qual a diferença entre comunismo e socialismo? Mises havia concluído que o socialismo não poderia funcionar, mas o que realmente entrou em colapso foi um sistema rotulado comunismo. Há alguma diferença?

História

Quando Karl Marx e Friedrich Engels começaram a escrever conjuntamente, no ano de 1843, Marx era a figura dominante. Engels era um melhor escritor, e era ele quem sustentava Marx financeiramente.

Marx passou toda a sua carreira se opondo àquilo que ele chamou de "socialismo utópico". Ele nunca interagiu com nenhum grande economista ou teórico social. Você pode procurar, mas jamais encontrará qualquer refutação sistemática feita por Marx a Adam Smith, por exemplo. Marx gastou suas energias criticando verbalmente vários autores de esquerda, cujos escritos praticamente não tiveram nenhuma influência sobre a Europa em geral.

Dado que ele estava constantemente atacando autores socialistas, Marx criou uma teoria própria sobre o comunismo. Ele chamou essa sua teoria sobre o comunismo de "socialismo científico". Marx argumentou que, inerente ao desenvolvimento da história, há uma inevitável série de etapas. Isso significa que ele era um determinista econômico. Ele acreditava que o modo de produção é fundamental em uma sociedade e que o socialismo seria historicamente inevitável porque haveria uma inevitável transformação do modo de produção da sociedade.

Todos os aspectos culturais da sociedade, sua filosofia e sua literatura formariam, segundo Marx, a superestrutura da sociedade. Já a subestrutura — ou seja, seus fundamentos — seria o modo de produção.

Segundo Marx, sua análise econômica revelava uma inevitável linearidade dos vários modos de produção. O comunismo primitivo levou ao feudalismo. O feudalismo levou ao capitalismo. O capitalismo levará a uma bem-sucedida revolução do proletariado. O proletariado irá impor o socialismo. E, do socialismo, surgirá o comunismo.

Esse processo linear fecha o círculo. Tudo começou com o comunismo primitivo, e tudo levará ao comunismo supremo. Com o comunismo supremo, toda a evolução histórica estará completa.

Só que Marx nunca explicou por que a evolução das etapas seria dessa maneira. Ele nunca explicou por que não haveria outra revolução após a chegada do comunismo supremo, a qual levaria a um modo de produção maior que o comunismo. Era mais conveniente apenas finalizar esse processo linear no comunismo.

A União Soviética jamais alegou ter chegado ao estágio comunista do modo de produção. Ela sempre se disse socialista. O nome do país era União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Os líderes supremos da União Soviética jamais alegaram que a URSS havia alcançado a etapa final do modo de produção. Stalin promoveu o conceito de socialismo em apenas um país. Ele diferia de Trotsky nesse quesito. Trotsky queria uma revolução do proletariado em nível global. Stalin era mais esperto. Ele queria o poder e, sendo assim, ele sabia que, antes de tudo, teria de consolidar o poder em um país.

Logo, Trotsky teve de fugir do país, e Stalin enviou o agente Ramón Mercader, do Comissariado do Povo para Assuntos Internos, para matá-lo na Cidade do México. O agente matou Trotsky com um golpe de picareta em seu crânio. Foi um ato cheio de simbolismo. A picareta havia sido um dos ícones da história da Rússia.

O socialismo é a propriedade estatal dos meios de produção. Mas Marx profetizou que o estado desapareceria sob o comunismo. Ele nunca explicou como ou por que isso iria acontecer. Sua teoria era bizarra. Ele dizia que, para abolir o estado, era necessário antes maximizá-lo. A ideia era que, quando tudo fosse do estado, não haveria mais um estado como entidade distinta da sociedade; se tudo se tornasse propriedade do estado, então não haveria mais um estado propriamente dito, pois sociedade e estado teriam virado a mesma coisa, uma só entidade — e, assim, todos estariam livres do estado.

O raciocínio é totalmente sem sentido. Por essa lógica, se o estado dominar completamente tudo o que pertence aos indivíduos, dominando inclusive seu corpo e seus pensamentos, então os indivíduos estarão completamente livres, pois não mais terão qualquer noção de liberdade — afinal, é exatamente a ausência de qualquer noção de liberdade que o fará se sentir livre.

Igualmente, Marx nunca mostrou como o sistema de produção poderia ser organizado nessa etapa suprema do comunismo, na qual não haveria nem um livre mercado e nem um planejamento centralizado pelo estado. Ele nunca forneceu qualquer detalhe sobre como seria uma sociedade comunista, exceto em uma breve passagem que foi publicada em um livro escrito conjuntamente com Engels e com o homem que os havia apresentado em 1843, Moses Hess. O livro foi intitulado A Ideologia Alemã (1845). Só foi publicado em 1932. Hess jamais ganhou créditos por sua co-autoria, mas parte do manuscrito aparece em sua coletânea de escritos.

Eis a descrição do comunismo:

Assim que a distribuição do trabalho passa a existir, cada homem tem um círculo de atividade determinado e exclusivo que lhe é imposto e do qual não pode sair; será caçador, pescador, pastor ou um crítico, e terá de continuar a sê-lo se não quiser perder os meios de subsistência

Na sociedade comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividade exclusiva, é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar da manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.

Esta fixação da atividade social, esta petrificação do nosso próprio trabalho num poder objetivo que nos domina e escapa ao nosso controlo contrariando a nossa expectativa e destruindo os nossos cálculos, é um dos fatores principais no desenvolvimento histórico até aos nossos dias.


Não obstante o fato de que há aproximadamente 70 volumes das obras de Marx e Engels, essa é a passagem mais longa que descreve o funcionamento de uma sociedade comunista e de como seria a vida sob esse arranjo.

Conclusão

Socialismo foi o sistema que realmente foi colocado em prática. Comunismo pleno nunca existiu e não passa de uma utopia cujo funcionamento jamais foi explicitado em trechos maiores do que um parágrafo.

Sem uma economia monetária — ou seja, sem uma economia em que os cálculos de lucros e prejuízos são possibilitados pelo dinheiro — é impossível haver uma ampla divisão do trabalho.

E sem um livre mercado para todos os bens, mais especificamente para bens de capital, é impossível haver um planejamento econômico racional.

A propriedade comunal dos meios de produção (por exemplo, das fábricas) impede a existência de mercados para bens de capital (por exemplo, máquinas). Se não há propriedade privada sobre os meios de produção, não há um genuíno mercado entre eles. Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços legítimos. Se não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de preços. E sem esse cálculo de preços, é impossível haver qualquer racionalidade econômica — o que significa que uma economia planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada.

Sem preços, não há cálculo de lucros e prejuízos, e consequentemente não há como direcionar o uso de bens da capital para atender às mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível.

Em contraste, a propriedade privada sobre o capital em conjunto com a liberdade de trocas resulta na formação de preços (bem como salários e juros), os quais permitem que o capital seja direcionado para as aplicações mais urgentes. Ao mesmo tempo, o julgamento empreendedorial tem de lidar constantemente com as contínuas mudanças nos desejos dos consumidores.

O arranjo socialista simplesmente impede que esse mecanismo ocorra. Foi por isso que Mises argumentou, ainda em 1920, que qualquer passo rumo ao socialismo é um passo rumo à irracionalidade econômica.

E foi a isso que Heilbroner se referiu quando ele disse que "Mises estava certo".






Autores:

Hans F. Sennholz, 1922-2007, foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos. Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou. Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997. Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.

David Gordon, membro sênior do Mises Institute, analisa livros recém-lançados sobre economia, política, filosofia e direito. É também o autor de The Essential Rothbard.

Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história.

Leandro Roque, editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

Raça e Etnia

Ao se falar de raça e etnia muitas pessoas demonstram total falta de base teórica ou então idéias distorcidas sobre a questão, hoje é sabido que do ponto de vista biológico todas as idéias de racialização humana caíram por terra, não existem raças humanas, mas apenas a espécie (raça humana), porém a construção social feita a partir destas idéias permanece no imaginário popular e principalmente os efeitos nefastos de todas estas hoje sabidamente equivocadas idéias na vida de milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo, em especial nos reportamos ao Brasil. Para eliminar os efeitos destas idéias equivocadas é preciso porém antes, conhecer como foi realmente montada a idéia de raça e seus conceitos. Hoje nos remetemos as questões étnicas ( povos), a discussão de raça não faz mais sentido a não ser do ponto de vista dos seus efeitos na construção social.

RAÇA

A primeira classificação dos homens em raças foi a “Nouvelle division de la terre par les différents espèces ou races qui l'habitent” ("Nova divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam") de François Bernier, publicada em 1684.

Carolus Linnaeus (1758) inventor da taxinomia e criador da classificação Homo Sapiens, reconheceu quatro variedades do homem - Americano (Homo sapiens americanus: vermelho, mau temperamento, subjugável), Europeu (europaeus : branco, sério, forte), Asiatico (Homo sapiens asiaticus: Amarelo, melancólico, ganancioso), e Africano (Homo sapiens afer : preto, impassivel, preguiçoso). Linnaeus reconheceu também uma quinta raça não-geográficamente definida , a Monstruosa (Homo sapiens monstrosus), compreendida por uma diversidade de tipos reais (por exemplo, Patagônios da America do Sul, Flatheads canadenses) e outros imaginados que não caberiam em nenhuma das quatro categorias "normais" (segundo a visão racista de Linnaeus que não apenas criou a classificação como atribuiu a cada uma características físicas e morais, o individuos mestiçados poderiam talvez ser então classificados nesta última categoria) .

O sucessor de Linnaeus', J. F. Blumenbach, primeiramente em 1775 reconheceu "quatro variedades da humanidade:" 1) Europa, Ásia ocidental, e parte de America do Norte; 2) Ásia do leste e Austrália; 3) África; e 4) o resto do novo mundo. A visão de Blumenbach continuo a evoluir, em 1795 dando origem a cinco variedades, Caucasiano, Mongol, Etíope, Americano, e Malaio, diferindo do agrupamento anterior onde os esquimós passaram a ser classificados com os Asiaticos do leste.

Neste sentido, as coisas ficaram estáticas até 1962, o ano em Carleton Coon publicou "A origem das raças". Lá Coon, um antropólogo físico, dividiu a humanidade em cinco raças (ou subspecies): Caucasoide, Mongoloide, Australoide, Congoide (Negroide), e Capoide(Africa Meridional até filipinas).

Segundo Dobzhansky (1970), esta visão conduziu à absurdos como quando os siblings (pessoas com síndrome de Down) foram categorizados em tipo racial (mongolóide) diferentes de ambos seus pais . De uma perspectiva social, este problema (indivíduos surgidos da mistura de raças) foi resolvido tipicamente empregando o conceito de Marvin Harris a hipodescendencia, isto é, a criança de tal união pertence a raça biológica ou socialmente inferior: "o cruzamento entre um branco e um indio é um indio; o cruzamento entre um branco e um negro é um negro; o cruzamento entre um branco e um hindu é um hindu; e o cruzamento entre alguém de raça européia e um judeu é um judeu." (Grant, The Passing of the Great Race, 1916). Em algumas países, uma regra de 1/8 ou 1/16 foi estabelecida a fim determinar a identidade racial apropriada de indivíduos oriundos de mistura de raças. Sob estas regras, se o indivíduo for, pelas linhas da descendência, 1/8 ou somente 1/16 de negro (preto uniforme) , o indivíduo é também negro.


ETNIA

Uma etnia ou grupo étnico é em um sentido amplo uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e genéticas. Estas comunidades comumente reclamam para sí uma estrutura social, política e um território. Etnia se usa a vêzes erroneamente como un eufemismo para raça, ou como um sinônimo para grupo minoritário.

Raça é um conceito que tem sido associado ao de etnia. Porém etnia compreende os fatores culturais (nacionalidade, afiliacão tribal, religiosa,língua ou tradições) e biológicos de um grupo humano, raça específicamente alude aos fatores morfológicos distintivos desses grupos humanos (cor de pele, compleição física, estatura, traço faciais, etc.) desenvolvidos em seu processo de adaptacão a determinado espaço geográfico e ecossistema (clima, altitude, flora, fauna, etc.) ao largo de várias gerações.

Históricamente, a palavra "etnia" significa "gentio", proveniente do adjetivo grego "ethnikos." O adjetivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nacão estrangeira. O sustantivo deixou de estar relacionado com “Pagão” em princípios do sec. XVIII. O uso do moderno sentido da palavra começou na metade do sec. XX.

A Língua

A língua tem sido utilizada como primero fator classificador dos grupos étnicos, sem dúvida esta ferramenta não tem estado estado isenta de manipulacão política ou erro. Se deve assinalar que existe grande número de línguas multi-étnicas e determinadas etnias são multi-língues

A Cultura

A delimitacão cultural de um grupo étnico com respeito aos grupos culturais de fronteira, se faz dificultosa para o etnólogo em especial no tocante a grupos humanos altamente comunicados com grupos vizinhos. Elie Kedourie é talvez o autor que mais tenha aprofundado a análise das diferenças entre etnias e culturas . Geralmente se percebe que os grupos étnicos compartilham uma origem comum , e exibem uma continuidade no tempo, apresentam uma nocão de história em comum e projetam um futuro como povo. Isto se alcança através da transmissão de geração em geração de uma linguagem comum, intituições, valores e algumas tradicões. Se bem que em determinadas culturas se mesclam os fatores étnicos e os políticos, não é imprescindível que um grupo étnico conte com instituições próprias de governo para ser considerada como tal. A soberania portanto não é definidora da etnia, mas se admite a necessidade de uma certa projeção social comum.

A Genética

É importante considerar a genética dos grupos étnicos se devemos distingui-los de um grupo de individuos que compartilham únicamente características culturais. As etnias geralmente se remetem a mitos de fundacão que revelam uma nocão de parentesco mais ou menos remoto entre seus membros. A genética atual tende a verificar a existencia dessa relacão genética, porém as provas estão sujeitas a discussão, refrência é Lucca Cavalli-Sforza.

Grupos étnicos

Os membros de grupos étnicos costumam conceber a sua identidade como algo que está fora da história do estado-nação – quer como alternativa histórica, quer em termos não-históricos, quer em termos de uma ligação a outro estado-nação. Esta identidade expressa-se muitas vezes através de "tradições" variadas que, embora sejam frequentemente invenções recentes, apelam a uma certa noção de passado.







Por Juarez C. da Silva Jr.

O socialismo real e o socialismo fantasiado para enganar trouxas


Um amigo me disse: “Luciano, que absurdo o que aconteceu na USP. Um grupo de militantes do movimento negro invadiu a sala, chamou a professora de racista e mandou que todos os brancos se calassem. Como eles podem fazer isso enquanto afirmam defender oprimidos?”

No que eu disse: “Absurdo é você ter se surpreendido com isso. Absurdo é, ainda mais, você achar que eles agiriam de maneira diferente. Absurdo seria se eles agissem de maneira diferente, de acordo com o que defendem”.

Acontece aqui que meu amigo acha que o socialismo fantasiado para enganar trouxas é algo para existir na prática, e não apenas uma propaganda enganosa criada para obter o benefício que essa propaganda traz.

Mas precisamos ser adultos. O socialismo precisa ser julgado pelo que de fato é, não pelo que os socialistas dizem deles próprios. Se fôssemos adotar este padrão de crer na propaganda, nenhum bandido poderia ser preso, nenhum vendedor de bilhete premiado poderia ser punido por fraude, nenhuma adúltera poderia ser considerada como tal. Isto por que todo bandido se declara inocente, todo adúltero/a diz que “não é isso que (x) está pensando”, e todo vendedor de bilhete falso diz que o bilhete é verdadeiro. Se não caímos nos truques destes três, por que ainda tem gente que cai no truque de acreditar na definição do socialismo por eles próprios?

Este é o colapso mental sofrido pelo meu amigo. Essas fissuras na estrutura mental impedem que ele perceba o socialismo como ele realmente é. Por isso, não entenderá qualquer grupo adepto do marxismo cultural como eles realmente são.

Olhando de forma adulta e consciente para o socialismo, veremos que ele foi projetado desde o início para ser assim. Caso contrário, Marx não teria definido uma “ditadura do proletariado” como transição para a prometida “sociedade sem classes” (o bilhete premiado vendido pelo fraudulento). Que outro nome damos para a ditadura do proletariado que não um método para conseguir oprimir os outros a partir do uso de um discurso fingido no qual o artista da dissimulação convence os outros de “lutar por oprimidos, contra opressores”?

O que aconteceu na sala de aula foi exatamente isso. A simulação de um discurso dizendo “sou oprimido” para poder oprimir. Como eu disse, seria surpreendente se agissem de maneira diferente.








Por Luciano Henrique

O mito da democracia racial e o mito das cotas


Para quem quiser assistir, o vídeo está lá no YouTube. 


Representantes do movimento negro interrompem uma aula para discutir o regime de cotas na Universidade de São Paulo (USP). Um dos alunos, autor da filmagem, começa a debater com eles. Provocativamente, diz que ninguém proíbe ninguém de entrar na faculdade, basta estudar e passar no vestibular. Num tom sereno, mas que beira o sarcasmo, pede que a aula comece. Ofendidos, os representantes do movimento negro reagem. Não é nada fácil, diz uma representante num tom de voz elevado, entrar na USP tendo estudado em escola pública, na periferia, num ambiente de pobreza, violência e perseguição policial. A discussão esquenta. Lá pelas tantas, o aluno que filma e quer ter aula desfere seu argumento definitivo:

– Eu me considero igual a você.

Ao que ela responde:

– Você já sofreu racismo? Nunca! Então, você não é igual a mim.

Repousa aí, nessa singela troca de gentilezas, o nó da questão que hoje divide não só a USP, mas as demais universidades brasileiras, órgãos públicos, empresas privadas ou lugares onde vigoram – ou se discutem – as políticas de reserva de vagas para negros, como compensação pelas chagas históricas da escravidão e do racismo. Ao afirmar que todos são iguais perante a lei, o aluno da USP repete o ideal iluminista, gravado como cláusula pétrea na Constituição: não deve haver discriminação nenhuma com base em cor, raça, sexo, religião, situação econômica e coisas do tipo. Ao dizer que não, não somos todos iguais, a representante do movimento negro lembra que, aonde quer que se vá neste país, negros ocupam predominantemente papéis subalternos na sociedade e são vítimas de preconceito. Nada mais justo, segundo a visão dela, que o Estado tente reparar essa injustiça histórica lhes dando preferência em concursos e cargos, com base no mesmo critério dos racistas – as “raças”.

E repousa aí, nesse singelo raciocínio, toda a dificuldade: raças não existem na humanidade, são um conceito cientificamente furado, como demonstra um sem-número de estudos genéticos. Em seu livro Uma gota de sangue – História do pensamento racial, o sociólogo Demétrio Magnoli mostra que, se é verdade que não somos todos iguais, a diferença entre indivíduos jamais poderá ser caracterizada por meio de grupos de “raças” ou de quaisquer categorias de inspiração racial, como a cor da pele. Decidir que dois indivíduos pertencem à mesma “raça” apenas pelo aspecto físico é incorrer, diz ele, no mesmo erro dos racistas. Seu livro demonstra que adotar critérios raciais, positivos ou negativos, como política de Estado sempre gerou mais problemas do que resolveu. Das ações afirmativas nos Estados Unidos à política de castas da Índia – passando por Malásia, África do Sul, Quênia, Ruanda, pela Alemanha nazista e por vários outros exemplos –, Magnoli disseca pacientemente, em minúcias, a história das políticas raciais. Não adota um tom militante, embora seja conhecido como um dos mais veementes oponentes das cotas raciais no Brasil. Trata-se, essencialmente, de um livro de história, em que mesmo os mais ferrenhos defensores dessas políticas – chamadas por Magnoli de “racialistas” – terão algo a aprender.

Há no Brasil, diz ele, uma característica singular: a mestiçagem, presente já no mito nacional que considera o povo brasileiro como “fusão de três raças”. O próprio censo, em que pese a fragilidade de suas categorias, registra que os brasileiros, mesmo os mais pobres, se identificam mais como “pardos” que como “pretos”, dois grupos evidentemente artificiais. De acordo com Magnoli, a mestiçagem não elimina o racismo, nem implica que tenhamos atingido o grau mítico da “democracia racial”, idealizada pelo sociólogo Gilberto Freyre. Mas ela é uma dificuldade, até de ordem prática, para as novas políticas raciais. A sociedade brasileira não se vê dividida binariamente entre “negros” e “brancos”, como ocorre em outros países. Nos Estados Unidos, vigora a regra que dá título ao livro: basta alguém ter um único ancestral negro – ou “uma gota de sangue negro”, como nas antigas leis racistas – para ser considerado negro. Magnoli argumenta que, ao reunir os “pretos” e “pardos” numa única categoria para formar o grupo dos “negros”, as leis de cotas contribuem para importar a lógica americana – e seus conflitos entre “negros” e “brancos” – para o Brasil. Não há solução simples para o racismo, para a herança nefasta da escravidão ou para a pobreza. Pelo menos, diz Magnoli, o “mito da democracia racial conduz a atitudes antirracistas; é uma plataforma inigualável se a meta for edificar uma democracia cega para a cor da pele dos cidadãos”. As políticas racialistas, ao contrário, exacerbam o contraste e aumentam a tensão. Pelo tom da discussão entre o aluno da USP e a representante do movimento negro, é provável que até contribuam para amplificar o racismo.







Por Helio Gurovitz

sábado, 28 de março de 2015

FAQ ministerial: as perguntas frequentes dos ministros de Dilma


Parabéns!

Você acaba de ser nomeado ministro da República Federativa do Brasil. Com a ajuda da presidenta, montamos uma lista de perguntas frequentes para auxiliá-lo nesta importante função. As respostas abaixo certamente ajudarão V. Ex. a evitar sermões, demissões repentinas e outras dificuldades que alguns de seus colegas estão enfrentando. Boa sorte!



1. Não sei exatamente qual a função da minha pasta. Pra ser sincero, acho que ninguém notaria se o meu ministério fosse extinto. Como devo proceder?

Fique tranquilo! Nesta fase da carreira, é normal que surjam inquietações e um sentimento de inutilidade profissional. Você não está sozinho: dezenas de ministros sofrem desse problema. Para enfrentá-lo, o principal é comunicar a imagem oposta à imprensa e aos eleitores. Na TV, mostre que você está cheio de projetos, decore estatísticas e frases de ênfase. Com o tempo, até você vai acreditar que sabe do que está falando.

2. Preciso ir trabalhar na segunda-feira?

Sim.

3. Preciso ir trabalhar na sexta-feira?

Sim.

4. Ah, tá de sacanagem. Até na sexta-feira?

Bem, sempre é possível agendar reuniões com a base ou discutir regras mais rígidas para o setor em Fernando de Noronha. Mas fique de olho na imprensa do fim de semana: se houver alguma reportagem sobre você, nem precisa voltar a Brasília.

5. Estou com vontade de dar um soco no Eduardo Cunha. Como devo proceder?

A presidência não recomenda a prática de violência entre os políticos da base aliada. Ainda mais se o alvo for um político do PMDB. Jamais fale grosso ou encare um político do PMDB. Se algum político do PMDB encrencar com você, não teremos alternativa senão dar razão ao político do PMDB. A não ser, é claro, se você também for do PMDB. Nesse caso, podem se matar à vontade.

6. Como devo comunicar as ações do meu ministério?

Esta é uma questão importantíssima. A presidente costuma gostar dos ministros que comunicam exatamente o contrário do que fazem. Por exemplo: se você vai rever as regras do seguro-desemprego, não vá dizer por aí que “o seguro-desemprego está ultrapassado”. Faça o contrário: diga que “estamos muito preocupados com o seguro-desemprego”.

Se você prevê que não haverá aumento real ao salário mínimo em 2015, obedeça a presidenta e diga que “vamos propor uma nova regra para 2016 e 2019 para garantir aumento real do salário mínimo”.

E, por favor, não vá escrever um relatório contando que pagamos blogueiros para adular o governo. Em vez disso, diga que “este governo está comprometido com a autonomia da imprensa”. O povo vai lembrar do que você disse, não tanto do que você fez.

7. Acho que vou ser citado nas denúncias da Lava Jato. Como devo proceder?

O governo federal não se responsabiliza pelo histórico de seus ministros e recomenda que eles respondam a acusações de corrupção de forma honesta e democrática.

8. Estou desesperado: fui citado nas denúncias da Lava Jato. Como devo proceder?

Bem, neste caso, é preferível ignorar a resposta anterior e marcar uma reunião com o José Eduardo Cardozo. (Aqui entre nós, ele tem uns conhecidos que podem facilitar a coisa pra você.)

9. O cãozinho da minha mulher está doente. Posso levá-lo de jatinho ao veterinário em Ribeirão Preto?

Não.

10. Mas ele não simpatiza com nenhum veterinário aqui de Brasília…

Não.

11. Mas ele está tão doentinho…

Ok, sendo assim, pode. Mas vale a mesma dica da pergunta 4: arranje algum motivo oficial para a viagem. Uma reunião com empresários para discutir as Olimpíadas, a dívida dos estados, as regras mais rígidas para o setor. O povo adora regras mais rígidas para qualquer setor.

12. Um homem estranho passou aqui no gabinete e disse que foi indicado pelo Lula para a diretoria de licitações do meu ministério. Como devo proceder?

Os autores deste FAQ manifestam que não têm e nunca tiveram conhecimento de desvios de verba ou recebimentos de propina por funcionários do ministério em questão.

13. Peraí, não foi essa a minha pergunta. Deixo o homem trabalhar aqui ou não?

Os funcionários do ministério devem ser escolhidos por critérios técnicos e aspectos políticos, além do histórico de comprometimento com as lideranças e com os apoiadores do partido. Deu pra entender, né?




Por Leandro Narloch

O indivíduo comum como o único agente da história


“A ideia do herói revolucionário não é, de forma alguma, nova. Na realidade, é um dos mais interessantes paradoxos do marxismo que este tenha combinado uma teoria da história que nega a eficácia da liderança com uma prática revolucionária que depende inteiramente da liderança para seu sucesso, e que foi capaz de consolidar-se no poder somente por estabelecer hábitos de adoração ao herói revolucionário”.

A passagem, de Roger Scruton sobre Gramsci, traz um ponto muito interessante sobre uma das maiores – entre tantas – contradições do marxismo: a crença no determinismo histórico concomitante ao culto do líder revolucionário. As “forças históricas” são produzidas pela luta de classes, segundo os marxistas, e do feudalismo passamos ao capitalismo que, inexoravelmente, chegará ao socialismo.

A crença em qualquer fatalismo deveria levar à inação. Ora, se tais acontecimentos independem da volição das pessoas, até mesmo da ação de indivíduos, então por que lutar tanto? Para “acelerar” o processo histórico inevitável? Claro que não faz o menor sentido, e o classismo marxista, esse abjeto coletivismo que só enxerga classes abstratas e nunca indivíduos de carne e osso como os protagonistas da história, não passa de uma forma de tornar o violento revolucionário mais insensível ao dano que causa às pessoas.

Somente quando a “burguesia” é o alvo, o grande inimigo, que revolucionários podem dar vazão à sede de violência eliminando os kulaks, os pequenos proprietários russos de terras. Somente quando os seguidores de Pol-Pot enxergam nada além de “classes dominantes” é que um terço da população do Camboja pode ser exterminada sem tanto peso na consciência dos revolucionários. Não matavam pessoas, pais e mães, gente de carne e osso, mas uma “classe”. O mesmo com os nacional-socialistas na Alemanha, exterminando “ratos judeus”, e não seres humanos como você e eu.

Não perceber que são indivíduos os verdadeiros agentes da história, cuja trajetória é sempre indefinida, é um equívoco primário que o marxismo comete, e que possibilita todo tipo de prática nefasta por parte dos revolucionários – eles mesmos indivíduos também, seguindo seus instintos mais do que sua razão, e agindo impunemente e com paz na consciência, pois se sentem agindo como uma “classe” oprimida, nunca como pessoas responsáveis por seus atos.

Toda essa longa explanação foi para chegar na realidade brasileira atual. Os petistas, herdeiros tupiniquins do marxismo, julgavam-se os “protagonistas da história” como representantes da “classe oprimida”, enquanto os demais, mesmo os esquerdistas tucanos, eram da “elite”, da “classe opressora”, e portanto “reacionários”. A mobilização das massas nas ruas era monopólio do PT, pois somente ele agia em prol do avanço da história rumo ao seu destino inevitável: o socialismo.

Muitos realmente acreditaram e acreditam nessa baboseira. É por isso que olham perplexos, com um sentimento doloroso de dissonância cognitiva, para milhões nas ruas contra o PT. Precisam ser acusados de “classe golpista”, de “elite”, mesmo que sejam pessoas comuns, da classe média, um misto de tudo, de trabalhadores, de profissionais liberais, de aposentados, de jovens estudantes, de empresários grandes, médios ou pequenos. Todos viram um monolítico grupo de “reacionários golpistas”, pois se colocam contra o “progressismo” petista, aquele que fala em nome dos pobres e de seu futuro brilhante.

Reinaldo Azevedo falou algo similar em sua coluna de hoje na Folha, mostrando, com o próprio Marx, como alguns podem ser vítimas de sua própria visão de mundo. O PT está em crise grave, definhando, murchando, e antigos aliados pulam fora do barco que afunda. O partido pode até mesmo ser totalmente destruído. Mas esquerdistas históricos se recusam a ver o que acontece. Escreve Reinaldo, usando o petista Andre Singer como exemplo:

Tentei achar nos seus textos onde estão os sujeitos que fazem história fora das hostes da esquerda. Não há. Ou os homens que disputam as narrativas estão engajados num movimento que traz em si o germe da mudança necessária ou estão articulando as forças da reação, o que levaria o mundo a andar pra trás.

É impressionante que mesmo os esquerdistas que leram mais de três livros ignorem que os valores do homem médio –que, no fim das contas, asseguram a estabilidade disso que entendemos como civilização– também podem ser afirmativos, não apenas reativos ou derivados da mobilização esquerdista. Bakunin, numa crítica pela esquerda, apontava “a falta de simpatia” de Marx pela raça humana. A crítica era pertinente. O furunculoso nunca se interessou pelo homem que há, aquele que realmente faz história, mas sempre pelo homem a haver, que existe como projeto.

O petismo perdeu o bonde. Também perdeu a rua, como ficará claro, de novo!, no dia 12 de abril. O petismo já morreu. Tornou-se vítima de sua própria concepção de mundo.

Amém! Mas não chega a ser uma declaração de fé, e sim uma conclusão lógica derivada da análise fria dos fatos, algo que os petistas jamais foram capazes de fazer. Eles eram o “motor da história”, e isso era tudo que bastava para sua arrogância e seu ataque virulento aos opositores, tratados por eles como inimigos, como obstáculos ao futuro radiante de sua utopia.

É o que dá essa mania de enxergar somente coletivos abstratos, e nunca o indivíduo de carne e osso, o único agente verdadeiro da história, sempre imprevista. Para os liberais, o indivíduo sempre faz a diferença – para o bem e para o mal.



Por Rodrigo Constantino

O crescimento do PIB e os falsos defensores dos pobres


Por que nenhum blogueiro progressista, nenhum colunista que se diz a favor dos pobres repercute e lamenta o crescimento mixuruca do PIB?

Sempre que o IBGE divulga os números, eu fico atento para ver se eles comentam, mas nada: tratam como se o dado fosse relevante somente para economistas, e não a pior notícia que os pobres poderiam ouvir.

PIB patinando ou em queda significa menos vagas de trabalho e menor concorrência entre patrões por empregados. O camarada que se sente explorado pelo patrão fica sem a possibilidade de encontrar um emprego melhor e dar adeus ao chefe. O garçom e o vendedor de carros vão para casa com menos comissões do bolso, pois ninguém vai ao restaurante, ninguém compra carros.

Do contrário, PIB em alta é uma festa. Patrões concorrem entre si por empregados, oferecendo salário melhor, carteira assinada, menor carga horária e até alguns mimos (em 2010, construtoras ofereciam massagista para os pedreiros).

Por que, então, os blogueiros progressistas não lamentam a tragédia do PIB em baixa?

Minha razão preferida é esta: intelectuais de esquerda gostam de explicar a pobreza de uns pela riqueza de outros. A mensagem que mais lhes rende adeptos é a que culpa os ricos pela miséria do país.

Defender a alta do PIB não se encaixa nessa visão de luta de classes. Significa admitir que pobres e ricos estão no mesmo barco: todos se beneficiam com o crescimento da economia. O número de milionários dá um salto enquanto massas de miseráveis chegam à classe média.

Concordar com a importância do PIB também significa admitir que a melhor ajuda que se pode dar aos pobres é desimpedir o crescimento da economia: diminuir a burocracia nas contratações e na abertura de empresas. E intelectuais de esquerda jamais vão admitir que estar do lado dos pobres equivale a estar do lado dos homens de negócio.





Por Leandro Narloch