A escolha de Joaquim “mãos de tesoura” Levy para o ministério da Fazenda continua dando o que falar. A ala mais à esquerda do PT está em polvorosa, inconformada. Alega que não foi esse o projeto vencedor nas urnas, mas está equivocada. Afinal, o que venceu nas urnas eletrônicas não foi projeto algum, mas sim a compra escancarada de votos com muito terrorismo eleitoral.
Discorda? Então desafio o leitor a perguntar ao grosso da base de eleitores de Dilma qual era esse projeto, quem era Guido Mantega, e se estavam satisfeitos com os índices de inflação no país. Que tal? É evidente que a eleição não foi decidida com base no debate de propostas, e que a maioria dos eleitores de Dilma sequer compreende o que estava em jogo. Foram vítimas ou cúmplices do abuso da máquina estatal e da exploração da própria ignorância por parte de um marqueteiro maquiavélico e disposto a tudo para vencer.
Isso não deixa de configurar um escancarado estelionato eleitoral, claro, mas somente porque o terrorismo feito pela campanha de Dilma associava as medidas ortodoxas necessárias ao desaparecimento de comida na mesa dos mais pobres, algo que não faz o menor sentido. Dilma mentiu, e mentiu muito. Isso é fato. Mas daí a constatar que o “projeto” que venceu nas urnas foi o nacional-desenvolvimentismo com base na “nova matriz macroeconômica” vai uma longa distância. O eleitor de Dilma não votou em Belluzzo. O povo só não quis perder o Bolsa Família, ponto.
Mas a maioria da população queria mudança. Muitos podem não ter conhecimento técnico adequado para compreender como devem ocorrer tais mudanças. Não têm obrigação de entender de economia, algo que muitos doutores, especialmente os da Unicamp, também não entendem, diga-se de passagem. O que desejam são os resultados. Ou seja, querem menos inflação, mais crescimento e a manutenção dos programas sociais. E isso, queiram os petistas ou não, só será possível com alteração no rumo da política econômica.
Dilma parece finalmente ter compreendido isso, ou compreendido que precisa sinalizar ao mercado que “compreendeu” isso, para ganhar tempo. Daí a escolha de Joaquim Levy, doutor em Chicago, ortodoxo até à alma. O que ninguém sabe ainda é até onde ela está disposta a bancar essa aposta de mudança, pois haverá uma dolorosa fase de ajustes. A permanência de Alexandre Tombini no Banco Central e a escolha de Nelson Barbosa para o Planejamento mostram que o “despertar” da presidente foi parcial e tímido ainda.
Mas sem dúvida é um bom começo, apesar do estelionato. Como disse Aécio Neves, o PT é refém de suas contradições, e por isso precisou colocar um “agente da CIA” no comando da KGB. A analogia, feita por Arminio Fraga, é muito boa, e colocou o ministro Gilberto Carvalho na defensiva, a ponto de ter afirmado que não foi Dilma quem mudou, mas sim Levy, ao aderir ao governo. Se o mercado acreditasse nisso, os ativos teriam despencado e o dólar, disparado.
Meu amigo Paulo Figueiredo Filho fez uso de uma metáfora que julgo ainda melhor. Para o governo Dilma ser a KGB, teria que ser mais organizado. O fator ideológico até está presente, mas não a disciplina. Portanto, colocar Levy nesse governo é como colocar um padre para cuidar de um bordel. Sim, até agora pode-se dizer que a gestão da economia foi uma zona, uma bagunça, uma irresponsabilidade total, uma indecência. Levy veio tentar colocar ordem na casa, acabar com os malabarismos contábeis de Arno Augustin e Mantega, cortar a orgia fiscal.
A grande dúvida dos investidores é até quando ele aguenta, se antes mesmo de assumir já é alvo do “fogo amigo” do próprio PT. Os ataques dos radicais de esquerda Levy tira de letra, acredito. O maior perigo mesmo é quando a própria presidente se desentender com ele, bater na mesa, gritar, colocar o dedo em riste, reclamar dos efeitos de suas medidas, cobrar mais heterodoxia. Qual será sua reação? O “padre” vai tolerar ser pautado pelo “bordel”? É nesse momento que a porca torce o rabo…
Por Rodrigo Constantino
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