"Cobertor é curto" na política macroeconômica brasileira e cenário mais provável é de ajustes mínimos no ano que vem, segundo o banco Itaú
Resumo das previsões:
Crescimento do PIB: 0,2% em 2014 e 1,1% em 2015
Desemprego (dezembro): 5,4% em 2014 e 5,7% em 2015
Inflação (IPCA): 6,5% em 2014 e 6,5% em 2015
Juros (Selic): 11,5% em 2014 e 12% em 2015
Superávit primário: 0,2% em 2014 e 1,2% em 2015
Câmbio (dezembro): R$ 2,50 em 2014 e R$ 2,70 em 2015
Déficit em conta corrente: -3,8% em 2014 e -3,6% em 2015
Criação de vagas é fraca, mas desemprego segue baixo
A criação de empregos permanece fraca, mas o desemprego continua baixo. Isso acontece porque diminui a taxa de participação na população economicamente ativa. O banco espera uma "exaustão dessa dinâmica" nos próximos meses. A população ocupada está parada (e em leve queda) já há 3 anos.
Em 2015, fontes de crescimento devem mudar
Em 2015, o banco prevê um crescimento do PIB de 1,1%. O consumo mais fraco e a demanda menor do governo devem ser compensados por dois fatores: investimento parado (ao invés de em queda, como nesse ano) e um aumento das exportações na ordem de 3,6% - mais ou menos no patamar de crescimento da economia mundial e estimuladas por um real mais fraco
Estoques e confiança seguram recuperação (por enquanto)
O que está segurando a recuperação da economia brasileira? Em primeiro lugar, os estoques altos na indústria: todos os 15 setores pesquisados pela FGV tem uma proporção maior de empresas com excesso de estoque do que com estoques insuficientes.
Os índices de confiança e de difusão da atividade (proporção dos indicadores que expandiram no mês) continuam fracos, apesar de algumas melhoras pontuais.
Inflação muda dinâmica, mas deve manter patamar
O banco prevê que a inflação deve continuar mais ou menos no teto da meta (6,5%) em 2015. Os preços administrados pelo governo devem subir e o real mais fraco também tem impacto sobre alguns preços, o que pressiona a inflação para cima. No entanto, o enfraquecimento do mercado de trabalho e dos reajustes de salários causa uma desaceleração na alta dos preços de serviços - o que já está acontecendo e puxa a inflação para baixo.
"Cobertor é curto" na política macroeconômica
O "cobertor é curto" na política macroeconômica, já que aumentos de preços administrados batem na inflação e exigem alta da Selic, que por sua vez diminui a atividade - prejudicando a receita - e pode aumentar o desemprego. Novos impostos contribuem para o ajuste fiscal, mas batem na popularidade.
Banco projeta crescimento de 2% do PIB até final do mandato
O cenário de mínimos ajustes no Brasil significa ajuste fiscal pequeno com alta do CIDE e alguns impostos, continuidade do controle de preços, intervenção intensa no câmbio, com mais concessões mas sem grandes reformas. Os resultados: evita o rebaixamento da nota, mas com menor fluxo de capitais, câmbio mais depreciado, crescimento do PIB de 2% no final do mandato.
Enfraquecimento é generalizado na América Latina
A América Latina vive uma "depreciação generalizada" de suas moedas - resultado de juros mais elevados nos EUA, queda do preço das commodities e políticas monetárias frouxas.
Em termos de crescimento, a atividade está menos dinâmica em todos os países, então "é legítimo dizer que há um fator comum". O Peru deixou de ser um "tigre asiático, talvez um gatinho". Alguns estão em situação pior - caso da Argentina, já em recessão, e do Brasil, que chegou a crescimento quase zero.
Commodities em queda atrapalham América Latina
Para o banco, a desaceleração chinesa está acontecendo, mas sem pouso forçado. O que importa para a América Latina, no final das contas, são as commodities - muito influenciadas pela demanda chinesa, mas também pelas expectativas em relação ao crescimento global. E nos últimos tempos, elas estão caindo - caso do minério, do petróleo e das agrícolas.
Cenário mais provável é de "pequenos ajustes"
Nos últimos dias, estamos "flertando" com um cenário em que o mercado acredita que não haverão nem ajustes mínimos, segundo Ilan. Ele está precificando uma maior probabilidade de um cenário sem ajustes - ainda que este ainda não seja o mais provável.
Para o banco, o cenário básico é de pequenos ajustes, já que há um "incentivo claro" do governo para evitar uma situação pior. Ele acredita que um pacote de ajuste fiscal deve ser anunciado nas próximas duas semanas, além da equipe econômica.
Ajustes mínimos "evitam deterioração", mas são insuficientes
Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, o cenário para o Brasil pós-eleição é intermediário: ajustes mínimos, que "evitam a deterioração, mas são insuficientes para fazer a economia crescer de uma forma robusta".
Um ajuste fiscal "gradual" deve evitar a perda de grau de investimento, mas leva a um cenário "bem médio". A projeção é de crescimento do PIB de 0,2% em 2014 e 1,1% em 2015.
Gustavo Loyola - Fundação Itaú Unibanco - Outubro/2013
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