À exceção do terceiro pleito, que mereceria considerações mais amplas, o que a nação tem recebido é pouco, e as alinharei sinteticamente (pois o conjunto de realizações é de tal ordem que só caberia num livro).
a) A infra-estrutura em petição de miséria, com o PAC empacado e submetido à batuta da engenheira de alimentos sendo merecedores de realce: a transposição do São Francisco, cujas obras completam sete anos com cenário desanimador, atrasos, abandonos, construções deterioradas e contratos superfaturados; o programa Minha Casa Minha Vida, cujos números inflados não resistem a menor análise, e distante das metas; as cisternas, as creches, os aeroportos pelo interior; os arcos metropolitanos; o programa ferroviário lançado em agosto de 2012 (10 mil km em cinco anos) que descarrilou.
b) A renda dos mais ricos crescendo mais do que a dos mais pobres; o analfabetismo aumentando(Pnad).
c) O paradoxo do seguro desemprego vis a vis o FAT.
d) O balanço de pagamentos nunca visto, com rombo recorde em 2013 de US$ 81,4 bilhões (3,7% do PIB). O Brasil como país mais vulnerável entre os Brics, já que as reservas só pagariam compromissos que vencem nos próximos dois anos.
e) A Comissão da Verdade, cujos custos até agora são incompatíveis com os resultados obtidos, com o relatório final adiado para dezembro de 2014 – após a eleição.
f) O programa Mais Médicos ferindo a legislação trabalhista e ainda embrionário para aferição de resultados, embora já haja avaliações que o configurem como pífios.
g) Os royalties que seriam dos estados produtores e que geraram enorme confusão para fazer uma demagogia palanqueira (destinar à educação) em cima de uma receita que não existirá tão cedo.
h) A evolução dos gastos públicos (custeio) atingindo em 2013 cerca de 23% do PIB, avultando também os gastos de 7,4% do PIB com o INSS e contribuindo para um recorde do déficit fiscal.
i) O desastre da política industrial, inclusive com a redução brutal da produtividade de 2,5% em 2008 para 0,3% em 2013.
j) O escândalo dos leilões de aeroportos (doações com dinheiro público) quando ficamos sabendo que concessões a grupos privados não é privatização.
k) A política indigenista levada a cabo pela Funai plenipotenciária também em questões indígenas, que parece não se subordinar a ninguém, muito menos à presidenta, ampliou como nunca a extensão das terras indígenas, que atingem 13% das terras do Brasil. Para se ter idéia, esta área é superior à soma dos dois maiores países da Europa Ocidental, isto é, França acrescida da Espanha.
l) A contabilidade criativa, inclusive com adequação de saldos – Refis mais recursos de Libra – além da capitalização e endividamento do BNDES (R$ 400 bilhões).
m) A CEF com show de incompetência, seja com a confusão do Bolsa Família (“vai acabar”), seja com a apropriação indébita da ordem de R$ 700 milhões dos saldos de cadernetas de poupança.
n)) O vai e vem da política monetária e de juros já conduzindo o IGP-M a 7,3%.
o) As desonerações contribuindo para a baixa de produtividade. A isenção do IPI da industria automobilística com a queixa posterior da imobilidade urbana.
p) A grande nacionalista liberalizando o aumento de participação estrangeira no BB.
q) A antiprivatista que suga o BNDES para os empreiteiros e amigos e que privatiza descaradamente – transportes, portos, estradas, geração (SPEs) e transmissão de energia – usando o genial lema que concessão não é privatização.
r) A manipulação deslavada da medida do desemprego usando o IBGE (com índices restritos a seis regiões) segundo o qual a taxa é de 5,5%, enquanto o próprio Instituto indica que através do Pnad Contínuo atingiria 7,5%, ao tempo em que o Dieese situa em mais de 10%. Não difundem que um contingente de 61 milhões de brasileiros de mais de 14 anos não trabalha nem procura emprego, isto é ,38,5% da população em idade para trabalhar não trabalha nem procura emprego (dados do próprio IBGE)).
Onde, no entanto, Dª Dilma se superou realmente foi na política energética, da qual se dizia grande conhecedora. A expertise demonstrada foi uma decepção. Seria cômico se não fosse trágico o anúncio com pompa e circunstância, por ocasião da revisão e antecipação das concessões, que as tarifas iriam baixar. Este capítulo, um tiro falhado, mereceria um tratado (usinas sem reservatório, modelito que privilegia térmicas, política tarifária incompetente, despreparo dos órgãos fiscalizadores).
Os preços represados do combustível e da energia conduzindo também a Petrobras e a Eletrobras, dois patrimônios do povo brasileiro, aos menores valores de mercado de suas histórias.
No caso da Petrobras, a excepcional presidenta do Conselho aprovou a compra da Refinaria de Pasadena; US$ 1,2 bilhão, em confronto com R$ 42 milhões; aprovou sucessivos estouros orçamentários em proporções alarmantes da Refinaria Abreu Lima, com aportes substantivos do BNDES, este banco cujos beneficiários interessados sempre o livram de uma CPI.
No campo econômico, Dilma dispõe do Mantega como ventríloquo. Na área de energia, o ministro Lobão nega o racionamento, mas pede economia de energia, assumindo com pompa a postura de novo ventríloquo.
Nunca antes neste país tivemos tão explicita demonstração de incompetência. O Brasil vive uma grande tragédia! Esta a razão pela qual 64% do povo quer mudança. As agências de rating, tão desmoralizadas, diante da declaração de Dª Dilma, podem afinal, em breve, ser redimidas.
Por fim, os partidários do realismo fantástico até acreditam que, independentemente da metáfora do conjunto vazio que ela realizou nestes três anos e pouco, pode ainda assim se reeleger e executar tudo que não fez, bastando permitir que o imaginário se superponha à verdade.
Há porem aqueles que são vinculados apenas ao realismo, com um pouquinho mais de lucidez, esperam o milagre, a esta altura, improvável que o outro se apresente como candidato. Parte desta corrente entende que é melhor esperar quatro anos, pois o desgaste causado para o projeto partidário pela presidenta é de grandes proporções.
Por Osvaldo Nobre
Autor dos livros Brasil, País do Presente, Bric ou RIC e Década de Transformações.
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