sexta-feira, 31 de outubro de 2014
A adoração da "fera" é recusada pelos cristãos
Pode imaginar grande número de homens e mulheres, de todas as raças e nacionalidades, adorar uma fera de sete cabeças? Esta pergunta talvez pareça estranha. Contudo, ela se origina da realidade, não da ficção. O aspecto mais trágico disso é que há pessoas que recorrem a brutalidades, no empenho de obrigar outros a adorar a “fera”.
Esta “fera” foi observada em visão pelo apóstolo cristão João, lá no primeiro século E. C. Descrevendo-a, João escreveu: “Eu vi ascender do mar uma fera, com dez chifres e sete cabeças, e nos seus chifres, dez diademas, mas nas suas cabeças, nomes blasfemos. Ora, a fera que vi era semelhante a um leopardo, mas os seus pés eram como os dum urso, e a sua boca era como a boca dum leão. E o dragão deu à fera seu poder e seu trono, e grande autoridade.” (Ap. 13:1, 2) Lemos sobre o alcance desta autoridade: “Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, e povo, e língua, e nação. E todos os que moram na terra a adorarão.” — Ap. 13:7, 8.
Não há dúvida sobre a identidade do “dragão”. Um pouco antes, o apóstolo João se referiu ao “grande dragão” como sendo “a serpente original, o chamado Diabo e Satanás, que está desencaminhando toda a terra habitada”. (Ap. 12:9) Mas, o que é a “fera”, que deriva sua autoridade do Diabo?
I. Identificação da "fera"
No decurso dos anos, os eruditos bíblicos se interessaram nesta pergunta. Um deles, Charles John Ellicott, lá no século dezenove, editou oito volumes dum comentário sobre a Bíblia inteira. Numa versão condensada do Comentário Bíblico de Ellicott (em inglês), encontramos a seguinte explicação da ‘fera que ascende do mar’:
“O mar representa a grande massa desassossegada da espécie humana. Os indivíduos, iguais a ondas grandes e pequenas, constituem esta grande massa oceânica de homens, impelidos pelo impulso ou pela paixão. . . . A fera sempre é figura dos reinos deste mundo — i. e., os reinos fundados na paixão ou no egoísmo. São em número de sete, assim como a fera tem sete cabeças. Lemos depois sobre sete montes. Fala-se destas potências mundiais como sendo montes, por causa de sua força e estabilidade, como cabeças da fera, porque, embora separadas, são inspiradas pelo espírito do dragão, o espírito de total inimizade ao governo do Justo Rei. Em Revelação 17:10 lemos que cinco já caíram, uma estava no poder e a sétima ainda não havia surgido. Coloca-se assim a chave nas nossas mãos. A sexta cabeça é a Roma imperial.”
Este comentário baseia-se nos indícios que a própria Bíblia fornece. As Escrituras falam sobre o mar ou as águas como representando “povos, e multidões, e nações, e línguas”. (Ap. 17:15) Lemos também: “Os iníquos são como o mar revolto, quando não pode sossegar, cujas águas lançam de si algas e lama.” (Isa. 57:20) Quanto à fera que saiu daquele “mar”, o livro bíblico de Daniel provê informação útil para fazer uma identificação positiva. Encontramos ali uma descrição de quatro feras — um leão, um urso, um leopardo e uma criatura de aparência aterrorizante. Estas quatro feras são identificadas como reis ou reinos. O leão representa Babilônia; o urso, a Medo-Pérsia, e o leopardo, a Grécia. (Dan. 7:2-7, 17, 18) No tempo em que o apóstolo João escreveu o livro de Apocalipse, as potências mundiais da Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia haviam caído, assim como também as grandes potências do Egito e da Assíria antes delas. Por conseguinte, a “fera” tem de representar o grande sistema político que tem governado a humanidade por meio de suas sucessivas sete cabeças, começando com a potência mundial do Egito.
Um acontecimento durante a vida terrestre de Jesus Cristo prova que Satanás de fato está por detrás das potências governantes, animalescas. A Bíblia relata: “O Diabo levou [Jesus] a um monte extraordinariamente alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e disse-lhe: ‘Todas estas coisas te darei, se te prostrares e me fizeres um ato de adoração.’” (Mat. 4:8, 9) Visto que o adversário controlava “os reinos do mundo”, ele podia oferecê-los a Jesus Cristo. O filho de Deus não negou que o Diabo estava em condições de dar-lhe estes reinos. De fato, Jesus disse mais tarde aos seus discípulos: “Há um julgamento deste mundo; agora será lançado fora o governante deste mundo.” — João 12:31.
O livro de Apocalipse mostra que os habitantes sofreriam pressão para se tornarem adoradores da “fera” controlada pelo Diabo. Somos informados de que todos sofreriam compulsão — “pequenos e grandes, e ricos e pobres, e livres e escravos, para que dêem a estes uma marca na sua mão direita ou na sua testa, e para que ninguém possa comprar ou vender, exceto aquele que tiver a marca, o nome da fera ou o número do seu nome”. — Ap. 13:16, 17.
A “marca” da fera identificaria a pessoa que a tem como pertencente àquela “fera”, dando-lhe pleno apoio. O Comentário Bíblico de Ellicott observa que a marca ‘seguramente significa aquiescência aos princípios desta tirânica potência mundial’.
Agora, a questão é: Pode o verdadeiro cristão dar seu pleno consentimento à “fera”? Não, se ele quiser permanecer leal a Yahweh e ao Senhor Jesus Cristo. Revelação 13:8 declara que ‘o nome de nem sequer um dos adoradores da fera está escrito no rolo da vida do Cordeiro’.
II. Os primitivos cristão mantiveram-se firmes
A conduta dos primitivos cristãos para com a sexta cabeça da “fera”, Roma, mostra que criam firmemente nisso. Naturalmente, aqueles cristãos não eram desrespeitosos para com as autoridades governantes. Reconheciam que o Império Romano existia por permissão de Deus. Além disso, os governantes em autoridade tinham certa medida da consciência dada por Deus, e, por isso, proviam serviços benéficos para todos, inclusive os cristãos. Entre tais serviços havia a manutenção dum sistema legal, a construção e manutenção de estradas, a proteção contra criminosos e distúrbios ilegais, e coisas semelhantes. Os cristãos, portanto, de boa consciência, pagavam impostos e tributos. Nunca se levantavam em revolta contra as autoridades seculares. — Veja Romanos 13:1-7.
Mesmo os que renunciaram ao cristianismo, quando confrontados com a ameaça da morte, admitiram que haviam sido ensinados a levar uma vida exemplar. Plínio escreveu numa carta ao Imperador Trajano:
“Outros, delatados por um informante, no princípio admitiram que eram cristãos, e depois o negaram, declarando que, embora tivessem sido cristãos, haviam renunciado à sua profissão de fé, alguns três anos antes, outros, ainda mais tempo, e alguns até mesmo só vinte anos. Todos estes adoraram tua imagem e as estátuas dos deuses, ao mesmo tempo maldizendo Cristo. E o seguinte foi o relato que me apresentaram sobre a natureza da religião que antes professaram, quer merecesse o nome de crime ou erro, quer não; a saber, que tinham por costume reunir-se em determinado dia . . . comprometendo-se com um juramento solene a não cometer nenhuma espécie de iniquidade; a não ser culpado nem de furto, nem de roubo ou adultério; a nunca faltar a uma promessa ou a reter um depósito quando era reivindicado.”
De fato, o Império Romano não tinha nada a temer de tais pessoas acatadoras da lei. Não obstante, a mera profissão de ser cristão era punível com a morte. Respondendo à carta de Plínio sobre o tratamento de casos envolvendo cristãos, o Imperador Trajano escreveu:
“Estas pessoas não devem ser caçadas por delatores; mas, quando acusadas e condenadas, sejam executadas; contudo, com esta restrição, que, se alguém renunciar à profissão de fé do cristianismo e fornecer prova disso por fazer súplica aos nossos deuses; não importa quão suspeita possa ter sido sua conduta passada, será perdoado ao se arrepender.”
Sim, apenas um pequeno gesto fazia a diferença entre a vida e a execução. Em muitos casos, os cristãos podiam ter salvo sua vida por colocar um pouquinho de incenso num altar diante da imagem do imperador governante. Contudo, os verdadeiros cristãos não transigiam. Não se sujeitavam aos desejos da sexta cabeça da “fera”.
Para muitos, hoje em dia, a atitude dos verdadeiros cristãos não tem sentido. Lemos no livro Os Começos da Religião Cristã (em inglês):
“O ato da adoração do imperador consistia em aspergir alguns grãos de incenso ou algumas gotas de vinho sobre um altar que havia diante duma imagem do imperador. Talvez, por estarmos tão afastados daquela situação, não vemos neste ato nada diferente de . . . erguer a mão numa continência à bandeira ou diante dum distante governante do estado, uma expressão de cortesia, respeito e patriotismo. É possível que muita gente, no primeiro século, pensava a mesma coisa sobre isso, mas não os cristãos. Eles encaravam o assunto inteiro como adoração religiosa, como reconhecimento do imperador como divindade, e, por isso, como ser desleal a Deus e Cristo, e eles se recusaram a fazer isso.”
Mas, por que não respeitou a sexta cabeça da “fera” a consciência dos cristãos? Não precisava temer nada da parte deles. Estes obedeciam à ordem de seu Senhor: “Pagai de volta a César as coisas de César, mas a Deus as coisas de Deus.” (Mat. 22:21) A sexta cabeça da “fera”, porém, não se satisfez com receber o que de direito lhe cabia. Esta sexta cabeça também quis ter aquilo que pertencia a Deus. O livro já mencionado prossegue:
“Porque se recusavam, [os cristãos] eram considerados como politicamente desleais. O motivo de os cristãos serem perseguidos foi exatamente o de serem considerados como inimigos do estado, por não quererem participar na adoração do imperador. Foi esta adoração que ajudou a prender numa união real os elementos amplamente divergentes que constituíam o império romano.”
Note que, afinal, o ponto em questão era a lealdade política ao estado — lealdade que colocava o estado à frente de Deus e constituía o estado em autoridade suprema. A sexta cabeça da “fera” não objetava às profissões religiosas de seus súditos, desde que venerassem César. Mas, não tolerava que alguém desse devoção exclusiva ao Criador do céu e da terra. Por isso, esta sexta cabeça apoderou-se da posição de deus e exigiu ser reconhecida como tal. Os verdadeiros cristãos simplesmente não podiam acompanhar tal presunção. Encaravam-se como responsáveis perante uma autoridade superior à do estado, a saber, a Deus e a Cristo.
Portanto, é simples a resposta sobre o motivo pelo qual os verdadeiros cristãos não podem adorar e não adorarão a “fera”. A fera não tem direito a tal adoração. Não importa quão insignificante o ato exigido possa parecer, se o cristão se empenhasse em tal adoração, ele seria desleal a Deus e Cristo. Os verdadeiros cristãos, em vez disso, mostram devoção inquebrantável ao Dador da vida e ao reino de Seu Filho.
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