Hoje à noite será conhecido o nome do próximo presidente, e a partir de amanhã as petrorroubalheiras voltarão a ter o destaque que merecem. Trata-se do maior e melhor documentado escândalo da História. Diante dele, o mensalão é coisa de flanelinhas. Pela primeira vez, o Ministério Público e o Judiciário terão a oportunidade para desvendar, expor e punir uma rede que envolve burocratas, operadores, políticos e grandes empresas. A colaboração de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef com as autoridades já gerou um lote de inquéritos que se desdobrarão em diligências e prisões. No vértice dessa pirâmide, estará o relator do processo no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki. Faltou sorte aos envolvidos, pois se trata de um magistrado silencioso, rápido e eficiente como a lâmina de uma guilhotina.
Até agora, pelos vazamentos desordenados, as investigações estão poluídas por acusações que produzem mais calor do que energia. Por exemplo: o “amigo Paulinho” disse que, em 2009, repassou R$ 10 milhões ao presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, para que ele ajudasse a travar uma CPI destinada a investigar a Petrobras. O capilé teria sido pago pela empreiteira Queiroz Galvão, uma das donatárias da obra da refinaria Abreu e Lima, aquela que deveria ter custado US$ 2,5 bilhões, já custou US$ 20 bilhões e ainda não está pronta. Prova, até agora, nenhuma. Paulinho contou também que, em 2010, derramou R$ 1 milhão na campanha da petista Gleisi Hoffmann para o Senado. Essa acusação ampara-se numa anotação existente em sua agenda: “PB 0,1”. Seriam as iniciais de Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, marido de Gleisi e alto comissário do PT paranaense. Esse dinheiro teria sido entregue, em espécie, a um intermediário. O Ministério Público e o Judiciário sabem que, com esses elementos, as duas acusações valem rigorosamente nada. Se a Queiroz Galvão pagou a Guerra, será preciso rastrear o ervanário. O mesmo sucede no caso da senadora. Ou aparece a grana, ou “PB” tanto pode ser Paulo Bernardo como Papa Bergoglio, e “0,1” pode significar 1 milhão ou uma esmola de dez centavos.
O “amigo Paulinho” e Youssef merecem fé porque, pelos seus acordos com a Viúva, ficarão anos na cadeia se forem apanhados mentindo. O que vazou não é tudo o que eles contaram, e o Ministério Público e a Polícia Federal deverão aprofundar as investigações, documentando-as. Só esse trabalho poderá converter em acusação aquilo que por enquanto é um “ele me disse”.
A exposição das petrorroubalheiras criou uma situação paradoxal. Ao mesmo tempo em que se fala numa negociação das grandes empreiteiras para conseguirem um acordo de leniência com a Viúva, tanto a Odebrecht como a Camargo Corrêa negaram terem se metido em qualquer ato ilícito. No máximo, teriam sido extorquidas. Como? O procurador-geral Rodrigo Janot matou essa charada chamando a proposta de “cartel da leniência”. O “amigo Paulinho” deu à Justiça os nomes dos representantes de Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão com quem traficava. Só as investigações poderão mostrar do que tratavam e por quanto tratavam.
Por Elio Gaspari
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