Uma terceira abordagem, que não esgota as possibilidades, seria aquela a que nós nos acostumamos com os cegos partidários da presidenta praticando o “ realismo fantástico”, estimulando o irreal ou estranho como algo comum, cotidiano, isto é, atribuindo verossimilhança intrínseca ao fantástico, ao imaginário, em confronto com o real ou surreal, pois consideram que ela, até mesmo nestes três anos e quatro meses de governo, teria feito alguma coisa. Persiste a máxima goebeliana que a mentira insistentemente repetida transforma-se num fato.
Logo no início, no conjunto de lendas que sublimaram Dª Dilma, a difusão de que sabia escolher auxiliares, contrastando com o episódio Erenice (filho empresário) e logo depois o do Palocci (aumento do patrimônio em curtíssimo prazo). A manutenção do trêfego Mantega e da plêiade Ideli, Gleisi, Maria do Rosario, Miriam Belchior, Marta, Menicucci... demonstram à exaustão como tendo oportunidade de indicar 39 auxiliares não selecionou um só que fosse adequado a função.
Embora em julho de 2010 o presidente Lula dissesse “a verdade é que a companheira Dilma Roussef assumiu a responsabilidade de fazer este trem de alta velocidade até a Copa de 2014. Nós devemos este projeto a esta mulher”, na prática houve sucessivos adiamentos da licitação, troca de titulares e até hoje persistem as indefinições e a não execução.
Na posse em 2011, a presidenta Dilma afirmava: ”Quero ser a presidenta que consolidou o SUS, tornando-o um dos melhores e maiores sistema de saúde publica do mundo.” Não cabem comentários sobre as duas promessas. Os fatos falam por si.
Nos seis meses iniciais defrontava-se com o fato dos cerca de 300 passaportes diplomáticos (que Antonio Patriota sustentou que eram direito adquirido), da MP dos orçamentos secretos (que não prosperou) ao tempo em que a grande antiprivatista entregava à iniciativa privada os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília.
Nos meses subsequentes assumia a identidade de faxineira mor, como se não tivesse indicado os ministros e pactuado com os malfeitos, defenestrando ou permitindo que saíssem, mercê dos acontecimentos, alem de Palocci, em junho, e Jobim (“cansei de idiotas”) logo depois, sete ministros.
Pela ordem: Alfredo Nascimento, dos Transportes (empresa do filho); Wagner Rossi, da Agricultura (enriquecimento e lobista dentro do Ministério); Pedro Novais, do Turismo (governanta paga com dinheiro publico e reuniões de trabalho em motel de luxo em São Luiz); Orlando Silva, dos Esportes (20% dos convênios com ONGs); Carlos Lupi, do Trabalho (graves irregularidades com sindicatos); Fernando Bezerra Coelho, da Integração (emendas destinadas ao filho e verbas para o hospital do tio-avô); Mario Negromonte, das Cidades (favorecer aliados com verbas publicas)... Só mais tarde viria a amiga do rei Rosemary e seus bebês...
Ainda assim, e mesmo diante das irregularidades tangenciando quase todos, geradoras das substituições, ninguém foi responsabilizado, e – tão grave quanto – a faxineira voltou atrás e permitiu que tudo tornasse a ficar turvo com o retorno de quase todos exercendo suas influências políticas para não ferir o presidencialismo de coalizão.
Enquanto isto, o governo usava e abusava do BNDES. Sendo objeto de capitalizações, empréstimos inconfessáveis, negócios que um dia virão à tona, havendo aqueles que entendem que a CPI da Petrobras deveria atravessar a rua.
No período, foi marcante a saída do Juquinha, presidente da Valec, encarregada da construção da ferrovia Norte–Sul. Em março de 2012, surgia o episódio do Carlinhos Cachoeira, com a Delta , com Demostenes, com envolvimentos em Brasilia, Rio e Goiás. O governo, que no início pensou usar a CPI, acabou trabalhando através do relator do PT, da base, para que nada ocorresse e a comissão murchasse. São da época a blindagem de Sergio Cabral e, a titulo de lembrança, o Pagot e o Cavendish.
Em paralelo, em 2012 e 2013, assistíamos ao julgamento do mensalão, convergindo, no clímax, para a substituição com a indicação de novos juízes juntando-se a Levandowski e Toffoli, a saber: Luiz Roberto Barroso e Teori Zavascki.
Por Osvaldo Nobre
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