Mal situada em ranking sobre integração a cadeias globais de produção, economia brasileira se isola e abre mão de conseguir elevar produtividade e de crescer.
Na ditadura militar, com ênfase no governo Ernesto Geisel, o país se tornou ainda mais protecionista, a fim de realizar o sonho de contar com uma indústria de base própria, para substituir as importações de insumos petroquímicos, de máquinas e equipamentos.
Uma formidável massa de dinheiro público foi destinada a este projeto estratégico, lastreado em uma ampla reserva de mercado. O desfecho foi um estrondoso fracasso.
Constituiu-se, na história republicana do país, uma das maiores transferências de renda do contribuinte para um pequeno número de empresários, os “campeões nacionais” daquela época. Quase quarenta anos depois, num governo do PT, na outra ponta do espectro ideológico, o país comete o mesmo erro: ergue mais barreiras protecionistas, restabelece a ideia de reserva de mercado, também com a vã ideia de aumentar o “conteúdo” local da produção de sua indústria. Colherá o mesmo fracasso.
Como o mundo é outro, bem mais globalizado, o equívoco se torna mais visível. É o que está registrado no relatório anual da Organização Mundial do Comércio (OMC), dirigida pelo brasileiro Roberto Azevêdo, divulgado segunda-feira.
Nele, a brasileira é uma das últimas colocadas numa relação das economias mais integradas a cadeias globais de produção. Enquanto apenas 40% das importações brasileiras são de componentes de bens a serem exportados, este índice chega a 75% em Taiwan, a primeira colocada neste ranking em que o Brasil se encontra na 27ª posição. Até a China, de economia ainda muito centralizada, um capitalismo selvagem de estado sob uma ditadura comunista, está mais bem situada que o Brasil, no 20º lugar.
O próprio Azevêdo lamenta, porque, como diz, participar dessas cadeias globais aumenta a produtividade e, por decorrência, o crescimento econômico. Tudo aquilo que escasseia no país nos tempos que correm.
Na raiz deste equívoco está o erro crasso da política externa de aprofundar a dependência do Mercosul, bloco comercial hoje alimentado muito mais por ideologia do que por interesses nacionais legítimos.
Sem se abrir a acordos bilaterais de comércio, o Brasil subordina as exportações de produtos manufaturados ao destino de economias como a argentina — atemorizante, como se sabe. E não consegue índices de produtividade para entrar em outros mercados, nada que a taxa de câmbio consiga resolver.
Entende-se por que o Global Trade Alert, entidade que acompanha medidas de política comercial pelo mundo, coloque o Brasil como o quarto país com maior número de medidas protecionistas decretadas desde 2008, abaixo apenas da Rússia, Índia e, nenhuma surpresa, a aliada Argentina. Péssima companhia e futuro preocupante.
Fonte: O Globo (editorial 24/10/2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário