Em 1992, o escritor Otto Lara Resende caminhava por uma rua do Rio quando choveu dinheiro sobre sua cabeça. O caso foi contado com a suavidade de um clássico da bossa nova por Ruy Castro, autor de “O poder de mau humor” (1993), onde se aprende como o poder é cruel: “Antes de nos arruinar, quer primeiro nos enlouquecer.”
Aconteceu durante a desordem político-econômica do governo Fernando Collor. Apeado da Presidência no impeachment decantado por um coro petista, Collor renasceu na década seguinte aliado a Lula e, desde então, tem assento garantido na bancada governista, sob liderança do PT.
Otto recebeu um monte de moedas na cabeça. Não se machucou. Viu que nem mendigos se davam ao trabalho de recolher aquele dinheiro sem valor espalhado no chão, e escreveu: “Nem peso ou consistência material essa droga tem.”
Mantendo-se na inércia, Dilma Rousseff corre o risco de começar o segundo mandato presidencial sob uma simbólica chuva de títulos da Petrobras, que perdeu quase 55% do valor de mercado nos últimos dois anos.
Por trás da corrosão das moedas sob Collor e das ações da Petrobras sob Dilma, podem-se vislumbrar laivos da “fase 1”, para usar o jargão da burocracia, da crueldade do poder de enlouquecer, antes de arruinar.
A balbúrdia na estatal petroleira possibilitou, entre outras coisas, que fosse roubada a chuva no agreste nordestino. Aconteceu durante a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, negócio público que começou custando US$ 2,5 bilhões e já ultrapassa US$ 20 bilhões — mais de um terço acima de similares e contemporâneas da Índia (quatro), na China (três) e na Arábia Saudita (duas).
Em geral, uma obra de construção civil para quando chove e o custo dessa interrupção é normalmente absorvido pelo empreiteiro.
Em Abreu e Lima, a conta da paralisação por chuvas (raios, também) ficou com a petroleira estatal. As empreiteiras do “cartel de leniência” espetaram uma fatura de pouco mais de US$ 130 milhões como indenização pelas chuvas no agreste. O cálculo do tribunal de contas é preliminar.
Dados da Agência Pernambucana de Água e Clima mostram que desde o início da obra da refinaria, em 2007, choveu tanto quanto nos seis anos anteriores. Na média, os períodos de tempo sereno e seco também foram iguais. Ou seja, roubaram até a chuva do agreste. É a tática de primeiro enlouquecer, na sequência arruinar o acionista majoritário da empresa pagante, isto é, o público.
Insólito, porém real na paisagem de proposital descontrole da empresa estatal, onde o poder político chegou a impor desde contratos em branco até gastos extras com a entrega antecipada de uma plataforma marítima (P-57), apenas para viabilizar uma cena partidária em Angra dos Reis (RJ) durante a campanha presidencial de 2010. Talvez tenha sido o comício político mais caro da história contemporânea: custou à Petrobras US$ 25 milhões, propina incluída.
Singular, mas coerente com uma forma de gerência dos interesses do Estado que permitiu o pagamento extraordinário de US$ 24 milhões a uma empreiteira como indenização por duas semanas de paralisação das obras num trecho (16% do terreno) do Terminal Aquaviário de Barra do Riacho (ES). Motivo: foram encontrados exemplares de Atta robusta, espécie em extinção, mais conhecida como saúva-preta.
Aconteceu durante a desordem político-econômica do governo Fernando Collor. Apeado da Presidência no impeachment decantado por um coro petista, Collor renasceu na década seguinte aliado a Lula e, desde então, tem assento garantido na bancada governista, sob liderança do PT.
Otto recebeu um monte de moedas na cabeça. Não se machucou. Viu que nem mendigos se davam ao trabalho de recolher aquele dinheiro sem valor espalhado no chão, e escreveu: “Nem peso ou consistência material essa droga tem.”
Mantendo-se na inércia, Dilma Rousseff corre o risco de começar o segundo mandato presidencial sob uma simbólica chuva de títulos da Petrobras, que perdeu quase 55% do valor de mercado nos últimos dois anos.
Por trás da corrosão das moedas sob Collor e das ações da Petrobras sob Dilma, podem-se vislumbrar laivos da “fase 1”, para usar o jargão da burocracia, da crueldade do poder de enlouquecer, antes de arruinar.
A balbúrdia na estatal petroleira possibilitou, entre outras coisas, que fosse roubada a chuva no agreste nordestino. Aconteceu durante a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, negócio público que começou custando US$ 2,5 bilhões e já ultrapassa US$ 20 bilhões — mais de um terço acima de similares e contemporâneas da Índia (quatro), na China (três) e na Arábia Saudita (duas).
Em geral, uma obra de construção civil para quando chove e o custo dessa interrupção é normalmente absorvido pelo empreiteiro.
Em Abreu e Lima, a conta da paralisação por chuvas (raios, também) ficou com a petroleira estatal. As empreiteiras do “cartel de leniência” espetaram uma fatura de pouco mais de US$ 130 milhões como indenização pelas chuvas no agreste. O cálculo do tribunal de contas é preliminar.
Dados da Agência Pernambucana de Água e Clima mostram que desde o início da obra da refinaria, em 2007, choveu tanto quanto nos seis anos anteriores. Na média, os períodos de tempo sereno e seco também foram iguais. Ou seja, roubaram até a chuva do agreste. É a tática de primeiro enlouquecer, na sequência arruinar o acionista majoritário da empresa pagante, isto é, o público.
Insólito, porém real na paisagem de proposital descontrole da empresa estatal, onde o poder político chegou a impor desde contratos em branco até gastos extras com a entrega antecipada de uma plataforma marítima (P-57), apenas para viabilizar uma cena partidária em Angra dos Reis (RJ) durante a campanha presidencial de 2010. Talvez tenha sido o comício político mais caro da história contemporânea: custou à Petrobras US$ 25 milhões, propina incluída.
Singular, mas coerente com uma forma de gerência dos interesses do Estado que permitiu o pagamento extraordinário de US$ 24 milhões a uma empreiteira como indenização por duas semanas de paralisação das obras num trecho (16% do terreno) do Terminal Aquaviário de Barra do Riacho (ES). Motivo: foram encontrados exemplares de Atta robusta, espécie em extinção, mais conhecida como saúva-preta.
Por José Casado
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