Quem ainda não leu 1984, de George Orwell, não sabe o que está perdendo. O mais irônico de tudo é que Orwell era socialista, além de ex-trotskista. Isso faz com que seu livro acabe sendo uma espécie de deduragem. Coisas como novilíngua e duplipensar, além do Ministério da Verdade, nos entregam descrições perfeitas de tudo que os socialistas fariam no poder. Especialmente os bolivarianos, uma das espécies mais dissimuladas dessa gente.
Porém, hoje em dia a obra de Orwell deve ser encarada apenas como um breve e simplificado conto. Já uma compilação do período de governo do PT resultaria em uma obra mastodôntica como O Senhor dos Anéis ou A Guerra dos Tronos. A realidade já superou em muito a obra de Orwell.
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, nos mostra um exemplo do que podemos chamar de meta-novilíngua em seu discurso na abertura do 5º Forum Interconselhos, onde falou da proposta petista (e de suas linhas auxiliares, PCdoB e PSOL) para estabelecer os coletivos não-eleitos. (É que o Decreto 8243 foi derrubado na Câmara, mas ainda não o foi no Senado, e, ao que parece, isso fica só para o ano que vem – sabe como é, teve gente que priorizou se manifestar pedindo “anulação das eleições” e “impeachment já” e deixou tudo mais fácil para o governo)
Segundo o Estadão, Miriam disse: “É preciso para que não haja retrocesso e para que a gente rejeite de forma bastante firme insinuações, inclusive preconceituosas, de bolivarianismo nas ações do governo federal”.
É de se perguntar: retrocesso em quê? Se o Decreto 8243 ainda não está em vigência, como pode ser um “retrocesso” não ter sua implementação? É simples. Ela pensa em um futuro onde eles já podem usar seus coletivos não-eleitos para pressionar o Congresso, comportam-se (por encenação) como se esse futuro já existisse e daí dizem que “não podem retroceder”. Depois de Milton Erickson e sua hipnose ericksoniana ter se popularizado, ninguém devia cair mais nessa conversa. Infelizmente, muitos caem.
Aliás, o bolivarianismo é essencialmente apoiado pela chefe dessa senhora, a Dona Dilma, e os projetos de coletivos não-eleitos como um quarto poder são implementações já feitas na Venezuela, na Bolívia e em outros países destruídos por seus tiranetes. Na ótica de Miriam, se você olhar para os eventos históricos, torna-se um “preconceituoso”.
E lá vem mais distorção intencional da realidade: “A gente precisa se unir, já fizemos isso durante o processo de crítica (ao decreto). É claro que o momento não era o mais favorável, muito ainda influenciado pela disputa eleitoral, mas eu acredito que isso precisa voltar à pauta, com força, porque isso é democrático”.
Ora, a democracia significa a participação do povo, o que já é garantido pelo voto universal, que se traduz em representantes do povo no Legislativo e no Executivo. É como a virgindade. Ou existe ou não existe. É lógica binária. Como seria um projeto para “ampliar a virgindade” de uma garota? O que tem a ver com “democracia” estipular coletivos não-eleitos (ou seja, pessoas que não receberam o voto de ninguém) para pressionar o Congresso? Especialmente se esses grupos foram selecionados pelo próprio Executivo. Quer dizer, para Miriam a antítese da democracia é “democracia”. Como eu falei, eis a novilíngua levada a um estágio superior. É por isso que monstros assim acham certo chicotear eleitores dissidentes na Bolívia. É “democrático”.
Não poderia faltar o jogo padrão usado nessa questão: “Quem tem medo da participação da sociedade não é democrático.” O jogo em questão é a sociedade civil denorex. A manipulação semântica é simples e óbvia. Eles dizem que os coletivos não-eleitos selecionados pelo governo são todos os coletivos não-eleitos do Brasil. Depois dizem que esses coletivos não-eleitos selecionados por eles, já percebidos como “todos os coletivos não-eleitos”, são toda a sociedade civil. Em seguida, extirpam a expressão “civil” e usam o termo “sociedade” em isolado. Daí perguntam, com um sorriso angelical: “como você pode ser contra a participação do povo?”.
De todos os jogos bolivarianos, a iniciativa de implementar conselhos soviéticos é a mais macabra, pois se baseia em um único discurso, feito por repetição, de acordo com as manipulações semânticas acima. Não é preciso de 5 minutos para esclarecer qualquer pessoa a respeito do embuste. E, surpreendentemente, por falta de priorização nossa, eles tem a chance de implementar um regime ditatorial. Não com 40, 30, 20 ou 10 rotinas. Mas com uma única rotina.
Desse jeito, até parece que do nosso lado ainda há muita gente hipnotizada por esse tipo de discurso, pois não conseguem sequer desmascará-lo com assertividade e simplicidade. Hora de despertar, não acham?
Por Luciano Henrique
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