segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O tripé da liberdade cristã: a liberdade da simplicidade


Não existe Evangelho verdadeiro nem igreja genuína sem simplicidade. Para justificar tão radical assertiva, focalisei o olhar para nosso líder maior, Jesus de Nazaré (alocado nessa cidade menosprezada no norte da Palestina, situada na desprezível região da Galiléia) e seu nascimento em um curral em Belém da Judéia, na mais extrema pobreza.

Jesus era simples e seus seguidores deveriam ter a imagem da simplicidade gravada em suas vidas, como reflexo de seu Mestre maior. Ele mesmo chegou a dizer:

“As raposas tem seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.

Sem teto, sem cama e sem travesseiro, Jesus nos mostra o caminho da modéstia e da liberdade plena na simplicidade, quando asseverou que os pobres de espírito, e não os ricos presunçosos ou os líderes detentores do poder religioso são os que se depararão com os portões do céu escancarados e entrarão no Reino dos Céus pelas portas.

Isso nos remete ao fato de quão pretensiosos somos quando insistimos em exibir uma vida consumista, ou buscamos um estilo de vida burguesa locupletada de luxo e excessos. Quando agimos assim, é claro, estamos mostrando ao mundo o quão distantes estamos do padrão bíblico de simplicidade defendido por Jesus em palavras e ações concretas.

Quando despediu setenta de seus discípulos em uma missão evangelística, Jesus recomendou que cada missionário deveria levar uma marca identificadora em cada lugar por onde ia: a urgência da missão leva à simplicidade despojada, que não se deixa atrelar a nada nesse mundo:

“Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, comei de tudo que vos oferecerem...”.

Ele disse com todas as letras para não acumularmos tesouros na terra e sim, nos céus. Ou seja, com tudo isso Jesus nos ensina que em nossa peregrinação por esse mundo, não há tempo pra acumular bens ou criar impérios pessoais, pois somos peregrinos de passagem, nosso evangelho é maltrapilho (Brennan Manning que o diga) e nosso coração é de romeiros despidos de ganância, arraigados somente à vocação para as alturas, para as coisas lá do alto, de onde provém nossa verdadeira cidadania.

Jesus via a igreja como um organismo latejante, cheio de vida pulsando dentro de um corpo, ou como uma família aconchegante com seus membros entrelaçados pelos vínculos indissolúveis do amor, e não como uma construção fria, um prédio de proporções anômalas cheio de líderes poderosos e membros eternamente dependentes emocionais dos profissionais da fé.

Jesus disse que é mais fácil um camelo entrar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. A mesma regra hermenêutica se aplica ao contexto da igreja. EM JESUS NÃO HÁ TOLERÂNCIA PARA A RIQUEZA OSTENSIVA. Os ricos, porém, podem ser salvos, SE cultivarem um verdadeiro coração peregrino, destituído de ganância e demonstrarem uma disposição cheia da generosidade que se dá incondicionalmente.

A riqueza ostensiva foi a causa da reprimenda severa que Jesus fez ao pastor e à igreja de Laudicéia no livro de Apocalipse. O pastor daquela igreja dizia com arrogância:

“Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”.

Jesus, nauseado com tanta hipocrisia, arranca-lhe a máscara e responde:

“Porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te de minha boca”.

Aí Ele lança o arremate final:

“E tu nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu".

Infelizmente, esse é o triste quadro que vemos hoje.

Catedrais suntuosas, pastores vendidos, exibicionistas, líderes soberbos incorrigíveis, vampiros insaciáveis.

Esses Sistemas humanos engendrados pela ganância irrefreável, totalmente distanciados do modelo original proposto pelo Evangelho,com toda certeza hão de receber as mesmas palavras de Jesus como duro veredicto:

Igrejas ricas e abastadas! Mas pobres, Infelizes, cegas e nuas!

Jesus quando fundou Sua igreja disse: “edificarei minha igreja,” e Paulo conceituando igreja, disse que a igreja era coluna e baluarte da verdade. Infelizmente, muitos seguiram o texto ao pé da letra, pensando em edificações literais, construíram impérios e conglomerados da fé, esquecidos do projeto primordial das singelas reuniões de gente simples, das famílias alegres, partindo o pão de casa em casa, bem antes do imperador construir seus templos magnificentes.

Hoje temos milhões de igrejas, mas pouquíssimas são realmente libertas pela simplicidade. Jesus, o Senhor da igreja, O homem simples por excelência, sempre fugia de toda forma de publicidade ou marketing de Si mesmo. Esse sim, deve ser imitado e seguido.






Por Manoel dC

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