Entendo que a presidente Dilma Rousseff chore pelo trauma da tortura e da prisão durante a ditadura militar. Queria ver a presidente chorando também, com sinceridade, pelas revelações da “outra” Comissão Nacional da Verdade. Uma verdade investigada e denunciada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Quantas mentiras foram ditas pela senhora, presidente, neste ano eleitoral?
Algum dia veremos lágrimas de Dilma pela má gestão petista da Petrobras? Ninguém pede perdão no Brasil, nem os presidentes militares nem os civis. Será que, no escurinho de seus aposentos no Palácio da Alvorada, Dilma já percebeu que Graça Foster está com os dias contados, porque seu comando na Petrobras se tornou indefensável, por conivência ou desleixo?
Será que Dilma chora às escondidas ao reconhecer, para si mesma, que a Petrobras deixou de ser o orgulho nacional para se tornar a vergonha nacional, processada até no exterior? Será que Dilma chora pelas perdas de todos os pequenos investidores enganados pela empresa?
“Roubaram o orgulho dos brasileiros”, afirma o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre o escândalo. Janot defende a demissão de toda a cúpula da Petrobras pelo “cenário desastroso na gestão da companhia”. Dilma escuta Lula dizer que tem de “botar o dedo na cara” da oposição.
Se Dilma chora pelas 434 vítimas do golpe militar – e nos emociona – , será que chora de tristeza, vergonha e, quem sabe, arrependimento por não ter detido a roubalheira na maior estatal do país, por não ter impedido a compra da Refinaria de Pasadena, por ter deixado rolar os desvios bilionários que sucateiam nossos serviços públicos e punem a população?
A lama já chegou ao Congresso. Logo teremos a lista de políticos no “corredor da cassação”. O deputado fanfarrão André Vargas, recém-cassado, diz ser “apenas um cisco” na Lava Jato. Sabemos que é verdade. Vargas foi um dos anéis defenestrados para o partido manter os dedos. Haverá outros. Em abril, Lula já dizia: “No final quem paga o pato (da amizade de Vargas com o doleiro preso Alberto Youssef) é o PT.” Será que um dia anistiaremos os bandidos?
É um exercício didático lembrar o que Dilma falou, em abril, em Ipojuca, Pernambuco, numa cerimônia alusiva à viagem do navio Dragão do Mar. Ela criticou a “campanha negativa” de denúncias contra a Petrobras e discursou para os operários. “Mais que uma empresa”, disse Dilma há oito meses, “a Petrobras é um símbolo da afirmação do nosso país, e um dos maiores patrimônios de cada um dos 200 milhões de brasileiros. Por isso, a Petrobras jamais se confundirá com qualquer malfeito, corrupção ou qualquer ação indevida de quaisquer pessoas, das mais às menos graduadas.” Ela chora, hoje? Ou só a gente chora?
“Sabemos que (a Petrobras) é a maior empresa e a mais bem-sucedida deste país. Acreditamos na Petrobras, acreditamos na Petrobras mil vezes”, afirmou Dilma ao encerrar o discurso em Pernambuco. Mil e uma vezes, Dilma mentiu ou foi traída. Numa ação coletiva em Nova York, advogados dizem que acionistas da Petrobras foram enganados em “esquema multibilionário de corrupção, suborno e lavagem de dinheiro desde 2006”.
Sete em cada dez brasileiros acham que Dilma tem alguma responsabilidade na corrupção da Petrobras. A pesquisa é do Datafolha, nos dias 2 e 3 de dezembro. A maioria não acredita que Dilma seja inocente.
O ministro Jorge Hage, de 76 anos, pediu na semana passada a demissão da Controladoria-Geral da União (CGU). Saiu dizendo que as estatais no Brasil não são fiscalizadas. Estão “fora do alcance” da CGU, principal órgão federal de combate à corrupção. Será que Dilma chora quando escuta isso ou se enfurece?
Não é só a Polícia Federal. Não é só o Ministério Público. Não é só a CGU. A penúria da economia real mostra direitinho quem pagará o pato pela incompetência. Não será o PT. Seremos nós. As metas foram mandadas para o inferno, e as contas e os impostos são aumentados com força total.
Será que Dilma chora pelos “crimes contra a humanidade” nos hospitais públicos de Brasília, ali pertinho dela? O programa Bom Dia Brasil da última sexta-feira expôs o descaso assassino com doentes. Ambulâncias paradas por falta de combustível, hospitais sem equipamentos ou médicos, exames cancelados até o ano que vem, internet e telefone cortados. Funcionários com salários atrasados.
“Falta de respeito e consideração com a classe trabalhadora. A gente limpa onde eles pisam, e não pagam a gente”, disse o auxiliar de serviços gerais de um hospital público, José Mário Romano. Famílias processam os hospitais de Brasília pela falta de socorro que provoca mortes. Será que Dilma chora por esses crimes contra a cidadania? Se chora, ninguém vê.
Por Ruth de Aquino
Nenhum comentário:
Postar um comentário