terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A crise dos emergentes está apenas começando. Ou: Pessimildo estava certo!


Durante toda a campanha eleitoral, a presidente Dilma culpou a “crise externa” pelos problemas brasileiros, pela estagnação econômica e a alta inflação. Mas era uma falácia. O Brasil tinha seus problemas produzidos em casa mesmo, pelo próprio governo. O resto do mundo emergente crescia bem mais com bem menos inflação. Era apenas uma desculpa esfarrapada do governo.

Mas agora a crise está mesmo começando. A retirada dos estímulos monetários do Federal Reserve, o banco central americano, pressionará todos aqueles que devem dólares no mundo. O fluxo de capital se inverte e retorna para os Estados Unidos. O custo do dinheiro sobe para todos, e quem estava nadando nu fica exposto com a maré mais baixa.

Além do aumento no custo de capital e a reversão do fluxo de dólares, há a queda de atividade na China. O crescimento chinês foi a grande mola propulsora dos países com recursos naturais abundantes, pois fez tanto o preço das commodities como a quantidade exportada por tais países dispararem. Isso também está mudando agora, como o preço do minério de ferro, um dos principais itens de nossa pauta de exportação, demonstra:

                                                                                              Minério de ferro. Fonte: Bloomberg
Aquilo que na época da campanha era apenas uma falácia inventada pelo PT para fugir da responsabilidade pela crise brasileira, agora deverá se tornar realidade. A crise dos emergentes chegará em um momento extremamente delicado para o Brasil, que já está mergulhado em uma série de problemas por conta própria.

Quando Lula assumiu o poder em 2003 e teve a sabedoria de delegar a gestão econômica a um banqueiro como Henrique Meirelles e a um médico com bom senso como Palocci, o cenário era completamente diferente. Os ventos externos estavam começando a soprar forte em nossa direção. Era o começo do ciclo das commodities.

Agora Dilma indicou Joaquim Levy para a Fazenda, mas isso não basta, não é suficiente. O que vem pela frente é possivelmente um tsnunami contra os países emergentes, e a fase de ajustes será muito dolorosa. Dilma teria de ter muita convicção na receita adequada para bancar a ortodoxia “fiscalista” nesse período de crise. Ela precisaria confiar muito em Levy para lhe conceder a autonomia necessária para administrar o barco na tormenta.

Pouco provável. Quando alguém está gripado, precisa descansar, esperar o pior passar. Mesmo o Bolt não conseguirá um bom desempenho se resolver correr no auge da gripe. O Brasil está doente, precisa “descansar”, ou seja, precisa de um período de ajustes dolorosos de recuo dos gastos públicos para voltar a ter chances de crescer de forma sustentável depois. Dilma terá paciência para aguardar? Terá tolerância para a ressaca após a euforia artificial? Vai bancar a impopularidade e o risco político de fechar as torneiros mesmo com o escândalo da Petrobras apertando seu cangote?

Como diz Warren Buffett, não importa quão grande seja o esforço ou o talento, algumas coisas simplesmente demandam tempo: não é possível produzir um bebê em um mês engravidando nove mulheres diferentes. O Brasil precisará de tempo para digerir o abacaxi. E justo quando a crise dos emergentes desponta no horizonte e o cenário político se encontra extremamente fragilizado no quadro doméstico.

Vai faltar dinheiro, os investidores estarão mais atentos e rigorosos, as exportações brasileiras serão menores, as empresas não terão fácil acesso ao capital barato. O governo resolveu ser mais realista e reviu para 0,8% a estimativa de crescimento em 2015, diferente dos arroubos megalomaníacos de Guido Mantega. Mesmo assim, é um número muito otimista ainda. Provavelmente teremos recessão ano que vem, pressionando a taxa de desemprego para cima.

sso pode gerar maior inadimplência, e os bancos privados pisarão ainda mais no freio. O que vão fazer os bancos públicos? No passado recente, pisaram no acelerador para compensar o efeito. Se fizerem isso novamente, o estrago em seus balanços será inevitável. Não há mais espaço para tais estímulos. O que fazer?

Na campanha, o marqueteiro de Dilma criou o personagem Pessimildo, um ranzinza cujo pessimismo era rebatido pelos defensores do governo como infundado. Mas Pessimildo estava certo, afinal. O Brasil não vai crescer nos próximos meses ou anos, e a inflação continuará elevada. É um quadro preocupante, assustador até. E isso vinha acontecendo mesmo com um cenário externo favorável. Isso agora mudou.

O Brasil estava gripado quando o resto do mundo ostentava boa saúde. Agora os emergentes começam a espirrar com mais força. O que vai acontecer com nossa economia doente?




Por Rodrigo Constantino

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