A emoção serve para ganhar eleição, mas para governar o que vale é a razão. Mas parece cada vez mais difícil, justo num momento muito difícil para o país, estabelecer-se um debate racional e qualificado sobre os graves problemas que todos conhecem. Ninguém, nenhuma corporação, nenhum partido tem força política, popular, econômica e moral para mudar nada sozinho. É hora de negociar soluções para os impasses que atrasam e empobrecem o país, sem ser mais rigoroso com os outros e mais complacente com os seus.
Mas, quando se fala em negociar, qualquer brasileiro logo associa a falcatruas, vantagens indevidas, propinas e outros crimes corriqueiros no cotidiano nacional, em todos os níveis da administração pública. Sim, existem negociações legítimas e possíveis, dependendo dos interlocutores, de sua credibilidade e, principalmente, de boa vontade e tolerância, que, longe de serem sinais de fraqueza, representam superioridade moral.
Na negociação que levou Joaquim Levy ao comando da economia, a razão venceu a emoção. Mas sobre o aparelhamento das estatais, um dos fatores geradores da corrupção, ninguém fala. Não basta trocar de nomes, é preciso mudar conceitos e valores. Ou, como diria Paulo Maluf com sua voz anasalada e a crueza de um quibe cru: “Não adianta trocar as moscas, precisamos é sair da merda.”
Cheios de razão, milhares de funcionários e ex-diretores corretos, eficientes e dedicados da Petrobras, e de outras estatais, a imensa maioria que construiu com seu trabalho a grandeza das empresas, estão indignados com a tática defensiva dos delinquentes de dizer que todos fazem, que sempre foi assim, jogando no mesmo saco de lixo os melhores e os piores para dar a ideia que todos são iguais e, por isso, a culpa deve ser diluída, e ninguém condenado. Como se fossem todos óleo do mesmo barril, querem que a mancha se espalhe no mar do esquecimento e tudo mude para nada mudar.
O mau-caráter, o desonesto, o sem-vergonha, o corrupto nasceram com o homem, mas nunca na história deste país eles foram tantos e tão poderosos, ao mesmo tempo: nada é mais organizado do que o crime no Brasil.
Por Nelson Motta
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