segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
O PT e a versão bananeira do Pacto de Varsóvia
Descobri, há bom tempo, que o Partido dos Trabalhadores tem conceitos próprios sobre democracia e Estado de Direito. Para o PT, democracia é algo que só acontecerá quando ele, partido, exercer a hegemonia e controlar todos os instrumentos do poder. Enquanto isso não se concretiza plenamente, o PT vai manipulando os meios que o regime vigente propicia ao curso de seu projeto.
Graças a isso, o partido conseguiu não ser apenas o PT. Ele é o PT e mais um vasto conjunto de corpos sociais que gravitam ao seu redor. São sindicatos e centrais sindicais; instituições culturais e de ensino; movimentos sociais e grupos minoritários que ele transforma em grupos de pressão a seu favor; grêmios estudantis, diretórios, centros acadêmicos e uniões de estudantes; partidos políticos sem anticorpos contra o uso de recursos públicos; organizações não governamentais; entidades relacionadas às políticas de gênero, ligas pró-aborto e defensoras da liberação das drogas; igrejas e órgãos de peso como a CNBB e a OAB que, convertidos ao rebanho, se entregam à alcateia. Ah, e os conselhos capturados pelo PT! Eles se revelam tão úteis que o partido, agora, pretende "empoderá-los" (coisas da novilíngua petista...) em todo o aparelho estatal federal. A isso e a outro tanto que resultaria exaustivo relacionar, juntam-se, sempre que necessário, organismos e instituições internacionais de isenção mais do que duvidosa.
Para o PT, democrática é toda manifestação desse grupo aí acima. Democrático é o que faz cada tentáculo seu. Ouvi-los, para o PT, é ouvir o povo. E quem o nega passa a ser tratado como cordeiro intrometido no riacho do lobo, acusado das piores ações e intenções.
Tão estranho quanto a democracia petista é o "Estado de Direito" petista. Nele, Direito é o que o partido quer. Por bem ou por mal. Perguntem ao companheiro João Pedro Stédile que, nesses assuntos, fala pelo partido. E Estado de Direito é algo que vai até onde o PT quer. Por bem ou por mal. Sobre essa parte conversem com o companheiro Gilberto Carvalho. O Estado Direito petista é moldável e elástico segundo suas necessidades. Procurem um pouco e não será difícil encontrar por aí traços comuns aos três totalitarismos do século passado.
Mas no jogo que o PT joga, o Brasil é apenas uma peça do tabuleiro. O jogo tem pretensões maiores. Começou em 1990 com o Foro de São Paulo, promovendo uma convergência multifacetária da esquerda na América Latina e desaguou na União das Nações Sul-Americanas, criada em 2006. Em mais recente estágio, no dia 5 de dezembro, em Quito, com a presença de Dilma, esse organismo, que congrega os países do continente, decidiu criar um programa de formação de quadros militares.
Trata-se da Escola de Defesa, que tem dois objetivos explícitos: produzir uma unidade interna que elimine possíveis conflitos intrarregionais e fortalecer a América do Sul contra o inimigo externo, vale dizer, contra o inimigo ianque. Procure no Google por Unasul e por "Escola de Defesa" (em espanhol e em português), e encontrará informação suficiente. Esse estrupício foi instituído pelo bloco para que o conjunto das Forças Armadas de todos os países componham algo que outra coisa não é senão uma versão bananeira do Pacto de Varsóvia.
Por Percival Puggina
Já vi esse filme. O bandido vence
Lula
Na campanha da presidente Dilma, ela mesma, Lula e boa parte do PT debocharam do que disse a candidata Marina Silva (PSB) sobre como montaria seu governo, caso se elegesse. Marina afirmou que simplesmente governaria com os melhores elementos de cada partido, sem discriminar nenhuma legenda. É uma boba, garantiram alguns. Uma sonhadora, acusaram outros. Governar com os melhores é impossível, apenas isso.
OU MARINA dominava uma receita que só ela conhecia ou então se pautaria pelo bom senso. E o bom senso lhe aconselhava a procurar gente decente, comprometida com a ética e talentosa para ocupar cargos do primeiro e do segundo escalões da República. E se essa gente fosse incapaz de lhe garantir a maioria dos votos no Congresso? E se por causa disso o governo capengasse?
MARINA CONFIAVA que não passaria sufoco porque, em primeiro lugar, governaria apenas por quatro anos. Descartara a reeleição. O que a seu ver seria o bastante para apaziguar os ânimos no Congresso e refrear as ambições, por suposto. Segundo, porque governaria com transparência, prestando contas aos eleitores de todos os seus passos e discutindo com eles suas dificuldades.
FERNANDO COLLOR se elegeu presidente em 1989 sem maioria no Congresso. Quis cooptar o PSDB e não conseguiu. Chamou de "único tiro" contra a inflação o plano econômico que garfou a poupança dos brasileiros. Por mais estúpido que tenha sido o plano, o Congresso não se negou a aprová-lo. Caso desse certo, o Congresso ficaria bem na foto. Se desse errado, o presidente é que ficaria mal.
NÃO FOI POR falta de apoio do Congresso que Collor acabou deposto. Foi por falta de apoio popular. O Congresso é sensível ao sentimento das ruas. E todo presidente, a princípio, se beneficia de um perí- odo de lua de mel com a opinião pública. Até que o período se esgote, ele pode se comportar com um grau de liberdade que mais tarde se estreitará. A não ser que o sucesso bata à sua porta.
NINGUÉM MAIS do que Lula reuniu condições para governar sem ser obrigado a fazer concessões que por fim o apequenassem, e ao seu partido. Foi o primeiro nordestino ex-pau de arara, ex-líder sindical, ex-preso político a subir a rampa do Palácio do Planalto. Ocupou o principal gabinete do terceiro andar com crédito para gastar por muito tempo. Encrencou-se porque piscou primeiro.
SOB PRESSÃO para lotear o governo, como seus antecessores haviam feito, por hábito ou necessidade, Lula subestimou o apoio das ruas. Preferiu apostar no apoio do Congresso. Logo ele, que no final dos anos 80 do século passado, enxergara ali pelo menos 300 picaretas. Foi atrás dos picaretas. Beijou a cruz — e, de quebra, a mão de Jader Barbalho. O mensalão quase o derrubou.
DILMA ATRAVESSOU a metade do seu primeiro governo resistindo à ideia de ceder ao "pragmatismo político". Em conversa, certo dia, com um amigo, ouviu dele: "Tirando três ou quatro, só tem desonesto no Congresso." Ela respondeu: "E eu não sei?" Para se reeleger, cedeu ao apetite dos desonestos. Beijou a cruz. E, de quebra, a mão de Helder Barbalho, filho de Jader, seu futuro ministro da Pesca.
FOI MEDÍOCRE o primeiro Ministério de Dilma. O governo que resultou disso foi naturalmente medíocre. Pois bem: ela está perto de cometer o prodígio de montar outro Ministério igual ou, talvez, pior. O que a diferenciava dos políticos a quem tanto desprezava é, hoje, o que a torna cada vez mais parecida com eles. Feliz Ano Novo para todos!
Por Ricardo Noblat
Murillo de Aragão: "A inteligência política do governo Dilma é precária"
O cientista político e consultor que orienta banqueiros e empresários no Brasil e no exterior explica por que o Congresso reage ao Planalto
HORA DE REFORMA
Murillo de Aragão defende um teto para gastos em campanhas eleitorais
Murillo de Aragão defende um teto para gastos em campanhas eleitorais
(Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Antes de tomar decisões envolvendo o Brasil, os gestores de 80 fundos de investimento escutam o cientista político Murillo de Aragão. Fundador da consultoria Arko Advice, Aragão mantém uma clientela de grandes bancos e multinacionais. Todos querem examinar os desafios que o governo Dilma Rousseff tem pela frente e suas chances de superá-los. Aragão deixa claro que Dilma precisará de mais perícia do que tem mostrado até agora. “Ela precisa recuperar a economia, dialogar mais e melhor com sua base no Congresso e isolar a Petrobras do petrolão.” Depois de uma conferência com 200 clientes de Cingapura, o autor de Reforma política, o debate inadiável concedeu a seguinte entrevista.
ÉPOCA – Que desafios a presidente Dilma Roussef enfrentará em 2015?
Murillo de Aragão – Ela precisará resolver de forma eficiente três heranças do primeiro mandato. A primeira: a economia está malparada, porque a credibilidade fiscal foi seriamente abalada. A segunda herança é a questão política, que nunca foi bem resolvida em sua gestão. O apoio dos políticos ao governo Dilma sempre foi instável. Isso foi agravado pela eleição, porque, nos Estados, houve disputa entre os aliados do Planalto. A terceira herança é o petrolão. No fundo, ele trata da forma de como se faz política no Brasil. Ela precisará recuperar a economia, dialogar mais e melhor com sua base no Congresso e isolar a Petrobras do petrolão.
ÉPOCA – Quais são os riscos econômicos?
Aragão – Os riscos estão em duas dimensões: a situação real e a sensação térmica. Em 2014, a economia não foi bem, mas a sensação térmica era confortável. Por isso, não atrapalhou muito o desempenho eleitoral de Dilma. Se a sensação térmica da economia piorar em 2015, a popularidade dela, que vem crescendo, poderá começar a cair. Para que Dilma tenha autoridade diante do Congresso e força eleitoral para indicar seu sucessor em 2018, é essencial que as expectativas econômicas sejam minimamente positivas.
ÉPOCA – O senhor pode fazer uma análise mais detalhada do risco político?
Aragão – Há um ponto de interrogação no Congresso por causa de duas questões. Uma é de aspecto formal: as eleições para as presidências da Câmara e do Senado. A outra questão está relacionada ao alcance das investigações do petrolão. Se elas tiverem o caráter devastador que muitos sugerem, o petrolão afetará a elite parlamentar brasileira. Algumas das principais lideranças do Congresso poderão ser atingidas pelas investigações. Esse é um problema que se torna ainda maior dentro de um governo com deficit político.
ÉPOCA – O que o senhor quer dizer com deficit político?
Aragão – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou uma base política grande, que o protegia e tinha autonomia propositiva. Era um governo com força para propor e ser atendido pelo Congresso. Essa base era mantida por um diálogo eficiente. Lula tinha disposição para a conversa com as lideranças políticas, empresariais, sindicais e de movimentos sociais. Existia um software de diálogo, que facilitava o trânsito do governo com o Congresso e com a sociedade. No governo Dilma, essa dinâmica perdeu as qualidades que tinha. O relacionamento entre o governo e o Congresso se tornou cada vez mais áspero, marcado pela impaciência de lado a lado. É esse o deficit político de que falo. Ele aumentou com a eleição, porque muitos aliados do governo no plano federal se sentiram traídos ou esquecidos nas disputas estaduais. Houve a sensação de que a relação do PT com os demais partidos não era confiável. Dilma entra em 2015 com um sério deficit político.
ÉPOCA – Houve um governo que começasse cercado por tantas incertezas?
Aragão – O início do segundo governo Dilma guarda relação com o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o primeiro mandato de (Luiz Inácio) Lula (da Silva). No caso de Fernando Henrique, a base política auxiliou o presidente a recuperar o país de uma crise cambial. Lula tinha amplo apoio popular, acabara de ser bem eleito. Isso o ajudou a encarar a questão financeira e a resgatar a credibilidade econômica. Dilma começa o novo mandato com desafios bem maiores que os antecessores. Poderá haver uma conjunção horrível para ela mais à frente: a economia pode ir mal, a popularidade pode cair e o apoio no Congresso pode ser perdido. É a tempestade perfeita.
ÉPOCA – O governo não tem instrumentos para ultrapassar essa turbulência?
Aragão – Em tese, sim, mas a inteligência política do governo Dilma é precária, com uma sucessão de erros incrível. É diferente dos mandatos de Lula, que exibiram um elevado quociente de inteligência política. Observe que, entre as gestões de Fernando Henrique e Lula, os parlamentares ficaram 12 anos sem votar vetos presidenciais. Com Dilma, o governo irritou tanto o Congresso que ele passou a votar os vetos presidenciais. É um absurdo o Parlamento se eximir dessa responsabilidade? Sim, mas ele estava acomodado. O Congresso só saiu da letargia porque estava aborrecido com o governo Dilma. Outro exemplo é o orçamento impositivo. Ouço falar dele há 30 anos. Só agora esse debate avançou. Por quê? Porque o Congresso se sente rebaixado em sua relação com o Planalto. São ações de retaliação, decorrentes da falta de inteligência política do atual governo.
ÉPOCA – A ameaça de uma crise detonada pelo petrolão, com uma sequência de processos de cassação no Congresso, poderá impulsionar a reforma política?
Aragão – Toda vez que surge uma crise, se fala na reforma política. Com isso, nas últimas décadas, ela vem ocorrendo em fatias. Parece que, agora, existe um interesse maior dos atores políticos em fazê-la. Há um movimento na sociedade, liderado por algumas entidades, a favor da reforma. O petrolão quebrou o modo como a política brasileira e as campanhas eleitorais foram financiadas até hoje. É necessário partir para um novo modelo. Não é possível que um país como o Brasil gaste R$ 5 bilhões em campanhas eleitorais, como ocorreu em 2014. Precisamos impor um limite para essas despesas. O teto deveria ser definido em lei. Quem o ultrapassasse deveria ser cassado. Também seria bom fazer coincidir os calendários das eleições municipais, estaduais e presidencial. O país se mobilizaria de uma vez só e daria um horizonte de mais estabilidade aos governos eleitos. O Congresso funcionaria melhor. Outra coisa: grande produção legislativa não significa qualidade legislativa. Não se deve medir a eficiência do Parlamento pelo volume de leis aprovadas. Os avanços democráticos precisam ser preservados. Se for mantido o atual sistema político, a degradação será inevitável.
ÉPOCA – É possível que um Congresso composto de 28 partidos tenha um bom fluxo de trabalho?
Aragão – Possível é, mas é difícil. Exige uma perícia que a gente não conhece. Nosso sistema partidário é gelatinoso. A lei atual permite que novos partidos sejam criados para “pescar” parlamentares noutras legendas e, depois, sejam fundidos em outros mais velhos. É uma forma de os parlamentares eleitos por um partido mudarem para outro sem perder o mandato. É tudo legal, mas é uma fraude.
ÉPOCA – Caso a reforma política seja esquecida, o sistema político poderá ser empurrado para mudanças autoritárias?
Aragão – Não vejo a possibilidade de um autoritarismo de forma clássica, como uma volta dos militares ao poder. Percebo que a disfunção democrática agravará o autoritarismo que hoje já existe na relação entre o Estado e a sociedade. O autoritarismo se manifestará com o caráter subalterno do cidadão perante o Estado, com a prevalência dos interesses das corporações sobre o bem comum, com a apropriação do interesse público em detrimento do interesse da sociedade, com o sequestro da política pelos políticos. Essas soluções autoritárias representam os maiores desafios para o Brasil. Se não melhorarmos o sistema político, a disfunção se agravará.
ÉPOCA – O resultado da eleição presidencial mostra que surgiu um antipetismo no país?
Aragão – Sim, especialmente no eleitorado mais urbano e instruído. Ao mesmo tempo, também houve um volume de abstenções, de votos brancos e nulos. Isso deve ser considerado. O que há não é um país dividido em dois, mas em três. A gente vive um paradoxo. De um lado, temos uma presidente reeleita com a maioria dos votos. Do outro, a maioria do eleitorado não está engajada a favor dela. É um governo que agrada muito, mas também desagrada muito. A situação é complicada para Dilma. No Brasil, o presidente sempre ganhou pelo consenso. Pela primeira vez, a eleição foi vencida pelo dissenso.
Fonte: Época
Por Felipe Patury e Marcelo Sperandio
Antes de tomar decisões envolvendo o Brasil, os gestores de 80 fundos de investimento escutam o cientista político Murillo de Aragão. Fundador da consultoria Arko Advice, Aragão mantém uma clientela de grandes bancos e multinacionais. Todos querem examinar os desafios que o governo Dilma Rousseff tem pela frente e suas chances de superá-los. Aragão deixa claro que Dilma precisará de mais perícia do que tem mostrado até agora. “Ela precisa recuperar a economia, dialogar mais e melhor com sua base no Congresso e isolar a Petrobras do petrolão.” Depois de uma conferência com 200 clientes de Cingapura, o autor de Reforma política, o debate inadiável concedeu a seguinte entrevista.
ÉPOCA – Que desafios a presidente Dilma Roussef enfrentará em 2015?
Murillo de Aragão – Ela precisará resolver de forma eficiente três heranças do primeiro mandato. A primeira: a economia está malparada, porque a credibilidade fiscal foi seriamente abalada. A segunda herança é a questão política, que nunca foi bem resolvida em sua gestão. O apoio dos políticos ao governo Dilma sempre foi instável. Isso foi agravado pela eleição, porque, nos Estados, houve disputa entre os aliados do Planalto. A terceira herança é o petrolão. No fundo, ele trata da forma de como se faz política no Brasil. Ela precisará recuperar a economia, dialogar mais e melhor com sua base no Congresso e isolar a Petrobras do petrolão.
ÉPOCA – Quais são os riscos econômicos?
Aragão – Os riscos estão em duas dimensões: a situação real e a sensação térmica. Em 2014, a economia não foi bem, mas a sensação térmica era confortável. Por isso, não atrapalhou muito o desempenho eleitoral de Dilma. Se a sensação térmica da economia piorar em 2015, a popularidade dela, que vem crescendo, poderá começar a cair. Para que Dilma tenha autoridade diante do Congresso e força eleitoral para indicar seu sucessor em 2018, é essencial que as expectativas econômicas sejam minimamente positivas.
ÉPOCA – O senhor pode fazer uma análise mais detalhada do risco político?
Aragão – Há um ponto de interrogação no Congresso por causa de duas questões. Uma é de aspecto formal: as eleições para as presidências da Câmara e do Senado. A outra questão está relacionada ao alcance das investigações do petrolão. Se elas tiverem o caráter devastador que muitos sugerem, o petrolão afetará a elite parlamentar brasileira. Algumas das principais lideranças do Congresso poderão ser atingidas pelas investigações. Esse é um problema que se torna ainda maior dentro de um governo com deficit político.
ÉPOCA – O que o senhor quer dizer com deficit político?
Aragão – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou uma base política grande, que o protegia e tinha autonomia propositiva. Era um governo com força para propor e ser atendido pelo Congresso. Essa base era mantida por um diálogo eficiente. Lula tinha disposição para a conversa com as lideranças políticas, empresariais, sindicais e de movimentos sociais. Existia um software de diálogo, que facilitava o trânsito do governo com o Congresso e com a sociedade. No governo Dilma, essa dinâmica perdeu as qualidades que tinha. O relacionamento entre o governo e o Congresso se tornou cada vez mais áspero, marcado pela impaciência de lado a lado. É esse o deficit político de que falo. Ele aumentou com a eleição, porque muitos aliados do governo no plano federal se sentiram traídos ou esquecidos nas disputas estaduais. Houve a sensação de que a relação do PT com os demais partidos não era confiável. Dilma entra em 2015 com um sério deficit político.
ÉPOCA – Houve um governo que começasse cercado por tantas incertezas?
Aragão – O início do segundo governo Dilma guarda relação com o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o primeiro mandato de (Luiz Inácio) Lula (da Silva). No caso de Fernando Henrique, a base política auxiliou o presidente a recuperar o país de uma crise cambial. Lula tinha amplo apoio popular, acabara de ser bem eleito. Isso o ajudou a encarar a questão financeira e a resgatar a credibilidade econômica. Dilma começa o novo mandato com desafios bem maiores que os antecessores. Poderá haver uma conjunção horrível para ela mais à frente: a economia pode ir mal, a popularidade pode cair e o apoio no Congresso pode ser perdido. É a tempestade perfeita.
ÉPOCA – O governo não tem instrumentos para ultrapassar essa turbulência?
Aragão – Em tese, sim, mas a inteligência política do governo Dilma é precária, com uma sucessão de erros incrível. É diferente dos mandatos de Lula, que exibiram um elevado quociente de inteligência política. Observe que, entre as gestões de Fernando Henrique e Lula, os parlamentares ficaram 12 anos sem votar vetos presidenciais. Com Dilma, o governo irritou tanto o Congresso que ele passou a votar os vetos presidenciais. É um absurdo o Parlamento se eximir dessa responsabilidade? Sim, mas ele estava acomodado. O Congresso só saiu da letargia porque estava aborrecido com o governo Dilma. Outro exemplo é o orçamento impositivo. Ouço falar dele há 30 anos. Só agora esse debate avançou. Por quê? Porque o Congresso se sente rebaixado em sua relação com o Planalto. São ações de retaliação, decorrentes da falta de inteligência política do atual governo.
ÉPOCA – A ameaça de uma crise detonada pelo petrolão, com uma sequência de processos de cassação no Congresso, poderá impulsionar a reforma política?
Aragão – Toda vez que surge uma crise, se fala na reforma política. Com isso, nas últimas décadas, ela vem ocorrendo em fatias. Parece que, agora, existe um interesse maior dos atores políticos em fazê-la. Há um movimento na sociedade, liderado por algumas entidades, a favor da reforma. O petrolão quebrou o modo como a política brasileira e as campanhas eleitorais foram financiadas até hoje. É necessário partir para um novo modelo. Não é possível que um país como o Brasil gaste R$ 5 bilhões em campanhas eleitorais, como ocorreu em 2014. Precisamos impor um limite para essas despesas. O teto deveria ser definido em lei. Quem o ultrapassasse deveria ser cassado. Também seria bom fazer coincidir os calendários das eleições municipais, estaduais e presidencial. O país se mobilizaria de uma vez só e daria um horizonte de mais estabilidade aos governos eleitos. O Congresso funcionaria melhor. Outra coisa: grande produção legislativa não significa qualidade legislativa. Não se deve medir a eficiência do Parlamento pelo volume de leis aprovadas. Os avanços democráticos precisam ser preservados. Se for mantido o atual sistema político, a degradação será inevitável.
ÉPOCA – É possível que um Congresso composto de 28 partidos tenha um bom fluxo de trabalho?
Aragão – Possível é, mas é difícil. Exige uma perícia que a gente não conhece. Nosso sistema partidário é gelatinoso. A lei atual permite que novos partidos sejam criados para “pescar” parlamentares noutras legendas e, depois, sejam fundidos em outros mais velhos. É uma forma de os parlamentares eleitos por um partido mudarem para outro sem perder o mandato. É tudo legal, mas é uma fraude.
ÉPOCA – Caso a reforma política seja esquecida, o sistema político poderá ser empurrado para mudanças autoritárias?
Aragão – Não vejo a possibilidade de um autoritarismo de forma clássica, como uma volta dos militares ao poder. Percebo que a disfunção democrática agravará o autoritarismo que hoje já existe na relação entre o Estado e a sociedade. O autoritarismo se manifestará com o caráter subalterno do cidadão perante o Estado, com a prevalência dos interesses das corporações sobre o bem comum, com a apropriação do interesse público em detrimento do interesse da sociedade, com o sequestro da política pelos políticos. Essas soluções autoritárias representam os maiores desafios para o Brasil. Se não melhorarmos o sistema político, a disfunção se agravará.
ÉPOCA – O resultado da eleição presidencial mostra que surgiu um antipetismo no país?
Aragão – Sim, especialmente no eleitorado mais urbano e instruído. Ao mesmo tempo, também houve um volume de abstenções, de votos brancos e nulos. Isso deve ser considerado. O que há não é um país dividido em dois, mas em três. A gente vive um paradoxo. De um lado, temos uma presidente reeleita com a maioria dos votos. Do outro, a maioria do eleitorado não está engajada a favor dela. É um governo que agrada muito, mas também desagrada muito. A situação é complicada para Dilma. No Brasil, o presidente sempre ganhou pelo consenso. Pela primeira vez, a eleição foi vencida pelo dissenso.
Fonte: Época
Por Felipe Patury e Marcelo Sperandio
sábado, 27 de dezembro de 2014
Miriam Belchior defende coletivos soviéticos com discursos que assustariam Orwell
Quem ainda não leu 1984, de George Orwell, não sabe o que está perdendo. O mais irônico de tudo é que Orwell era socialista, além de ex-trotskista. Isso faz com que seu livro acabe sendo uma espécie de deduragem. Coisas como novilíngua e duplipensar, além do Ministério da Verdade, nos entregam descrições perfeitas de tudo que os socialistas fariam no poder. Especialmente os bolivarianos, uma das espécies mais dissimuladas dessa gente.
Porém, hoje em dia a obra de Orwell deve ser encarada apenas como um breve e simplificado conto. Já uma compilação do período de governo do PT resultaria em uma obra mastodôntica como O Senhor dos Anéis ou A Guerra dos Tronos. A realidade já superou em muito a obra de Orwell.
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, nos mostra um exemplo do que podemos chamar de meta-novilíngua em seu discurso na abertura do 5º Forum Interconselhos, onde falou da proposta petista (e de suas linhas auxiliares, PCdoB e PSOL) para estabelecer os coletivos não-eleitos. (É que o Decreto 8243 foi derrubado na Câmara, mas ainda não o foi no Senado, e, ao que parece, isso fica só para o ano que vem – sabe como é, teve gente que priorizou se manifestar pedindo “anulação das eleições” e “impeachment já” e deixou tudo mais fácil para o governo)
Segundo o Estadão, Miriam disse: “É preciso para que não haja retrocesso e para que a gente rejeite de forma bastante firme insinuações, inclusive preconceituosas, de bolivarianismo nas ações do governo federal”.
É de se perguntar: retrocesso em quê? Se o Decreto 8243 ainda não está em vigência, como pode ser um “retrocesso” não ter sua implementação? É simples. Ela pensa em um futuro onde eles já podem usar seus coletivos não-eleitos para pressionar o Congresso, comportam-se (por encenação) como se esse futuro já existisse e daí dizem que “não podem retroceder”. Depois de Milton Erickson e sua hipnose ericksoniana ter se popularizado, ninguém devia cair mais nessa conversa. Infelizmente, muitos caem.
Aliás, o bolivarianismo é essencialmente apoiado pela chefe dessa senhora, a Dona Dilma, e os projetos de coletivos não-eleitos como um quarto poder são implementações já feitas na Venezuela, na Bolívia e em outros países destruídos por seus tiranetes. Na ótica de Miriam, se você olhar para os eventos históricos, torna-se um “preconceituoso”.
E lá vem mais distorção intencional da realidade: “A gente precisa se unir, já fizemos isso durante o processo de crítica (ao decreto). É claro que o momento não era o mais favorável, muito ainda influenciado pela disputa eleitoral, mas eu acredito que isso precisa voltar à pauta, com força, porque isso é democrático”.
Ora, a democracia significa a participação do povo, o que já é garantido pelo voto universal, que se traduz em representantes do povo no Legislativo e no Executivo. É como a virgindade. Ou existe ou não existe. É lógica binária. Como seria um projeto para “ampliar a virgindade” de uma garota? O que tem a ver com “democracia” estipular coletivos não-eleitos (ou seja, pessoas que não receberam o voto de ninguém) para pressionar o Congresso? Especialmente se esses grupos foram selecionados pelo próprio Executivo. Quer dizer, para Miriam a antítese da democracia é “democracia”. Como eu falei, eis a novilíngua levada a um estágio superior. É por isso que monstros assim acham certo chicotear eleitores dissidentes na Bolívia. É “democrático”.
Não poderia faltar o jogo padrão usado nessa questão: “Quem tem medo da participação da sociedade não é democrático.” O jogo em questão é a sociedade civil denorex. A manipulação semântica é simples e óbvia. Eles dizem que os coletivos não-eleitos selecionados pelo governo são todos os coletivos não-eleitos do Brasil. Depois dizem que esses coletivos não-eleitos selecionados por eles, já percebidos como “todos os coletivos não-eleitos”, são toda a sociedade civil. Em seguida, extirpam a expressão “civil” e usam o termo “sociedade” em isolado. Daí perguntam, com um sorriso angelical: “como você pode ser contra a participação do povo?”.
De todos os jogos bolivarianos, a iniciativa de implementar conselhos soviéticos é a mais macabra, pois se baseia em um único discurso, feito por repetição, de acordo com as manipulações semânticas acima. Não é preciso de 5 minutos para esclarecer qualquer pessoa a respeito do embuste. E, surpreendentemente, por falta de priorização nossa, eles tem a chance de implementar um regime ditatorial. Não com 40, 30, 20 ou 10 rotinas. Mas com uma única rotina.
Desse jeito, até parece que do nosso lado ainda há muita gente hipnotizada por esse tipo de discurso, pois não conseguem sequer desmascará-lo com assertividade e simplicidade. Hora de despertar, não acham?
Por Luciano Henrique
Cristovam Buarque critica a escolha de Cid Gomes para Ministro da Educação
Em seu comentário, Cristovam acusa a presidente Dilma de colocar o MEC entre as pastas irrelevantes ao usa-la em suas trocas políticas. Ele justifica que o fato de não colocar alguém do próprio partido à frente do Ministério, e mais preocupante ainda, escolher Cid para o cargo é reconhecer que a educação não é importante.
A crítica se deve as atitudes recentes de Cid Gomes vistas como contrárias a classe de educadores. Em 2011, no Ceará, estado que governou até o último ano, ao enfrentar uma greve de professores que reivindicavam aumento de salário, Cid teria dito "Quem dá aula faz por gosto, e não por dinheiro. Se quer ganhar dinheiro pede demissão e vai dar aula no ensino privado” . Na época a frase gerou revolta no Brasil todo, ele chegou a tentar se retratar posteriormente com a imprensa, mas acabou falando a mesma coisa só que de forma menos incisiva "Quem está atrás de riqueza, de dinheiro, deve procurar outra profissão, e não setor público”.
Outro episódio polêmico envolvendo Cid Gomes foi quando na Campanha de 2014, ao defender o candidato do PT, Camilo Santana, ao Governo do Ceará de uma acusação de desvio de dinheiro teria dito ” Deste de que há o o dinheiro, há quem procure roubar o dinheiro.”
Confira na íntegra a crítica de Cristovam:
“Tenho visto muitos comentários contra o nome do Cid Gomes para ministro da educação. Apesar de suas frases no passado dizendo que professor é profissão para quem não quer ganhar dinheiro, ele ainda não tomou posse. Quem sabe ele não reconhece que errou e ao saber das dificuldades financeiras dos estados e municípios ele não começa a defender a Federalização do salário do professor?
O GRAVE na nomeação dele está no fato de que o governo Dilma decidiu colocar o MEC entre as pastas irrelevantes, sem importância estratégica, área de manobra política entre os partidos. Está é a tragédia, não o nome do ministro.
O governo do PT decidiu que o MEC não precisa ficar com o PT. Ou reconheceu que educação não é estratégica, ou não tem propostas para a educação, ou não tem quadros entre todos os seus militantes para a área da educação, ou que a educação não é importante.
Esta é a tragédia, o nome do ministro pode ser apenas um erro.”
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Por que as ditaduras duram tanto?
Os líderes da Coreia do Norte parecem ter saído de um filme de comédia ou ficção científica, mesmo assim estão tranquilos no poder do país há 66 anos. Em Cuba, não há perspectiva de democracia mesmo se houver reformas econômicas e fim do embargo. Por que ditaduras, mesmo as mais patéticas e improducentes, são tão duradouras?
A resposta mais comum mira na capacidade do ditador de aterrorizar dissidentes ou ameaçá-los com retaliações econômicas. Norte-coreanos suspeitos de conspiração são logo executados; opositores cubanos perdem privilégios (como o emprego na universidade ou a vaga num ponto de táxi) e ganham cargos insalubres no interior do país.
Um artigo da última edição do Journal of Public Choice dá mais uma explicação – e uma explicação curiosa. Revoluções contra regimes tiranos são raras por causa do problema de ação coletiva, o mesmo fenômeno que facilita a pesca excessiva nos oceanos ou que leva moradores de condomínios com conta coletiva de água a gastarem mais.
O problema clássico da ação coletiva consiste no seguinte: diante de bens coletivos, as pessoas nem sempre agem individualmente como seria melhor para elas coletivamente.
Para os pescadores, é melhor que todos deixem de pescar durante a desova, de modo que o bem público (os cardumes) seja preservado. Individualmente, porém, é mais vantajoso pescar a qualquer hora contanto que os demais não pesquem no período de desova. Se a maior parte dos pescadores cooperar, os cardumes serão preservados também para o Gerson que pescou quando não deveria.
Do mesmo modo, para evitar sustos na conta de água do condomínio, é bom que a maior parte dos moradores economize. No entanto, se um morador passar uma hora no banho enquanto os outros se limitarem a 5 minutos, no fim do mês ele pagará a mesma parcela da conta de água que os vizinhos.
Os bens públicos costumam ser “não excludentes” – o benefício que eles fornecem é dividido entre todos os cidadãos, inclusive aqueles que não contribuíram. Por isso há pouco incentivo para cada indivíduo cooperar. Sem garantia da participação dos outros, pouca gente coopera. O resultado é a “tragédia dos comuns”. Todos pescam demais, e os peixes acabam. Todos gastam muita água, e os dígitos proliferam na conta do condomínio.
A revolução contra uma ditadura também é um bem público – e sofre do mesmo problema. Coletivamente, seria melhor se todos os cidadãos sob um regime opressor se revoltassem. Individualmente, porém, é mais vantajoso ficar em casa assistindo Sessão da Tarde enquanto os outros cidadãos arriscam a vida no movimento rebelde.
Se a revolução fracassar, quem ficou em casa não correu o risco de vida ou de retaliação econômica. Se a revolução for vitoriosa, o benefício que ela trouxer será dividido entre todos os cidadãos – inclusive aqueles que permaneceram no sofá. Como um incentivo desses, ninguém se revolta. O bem público – a revolução – desaparece. E a ditadura continua.
Para o economista alemão Thomas Apolte, autor do estudo, a tirania, a miséria ou a desigualdade social de um país não são incentivos suficientes para a queda de ditaduras. “É a estrutura dos mecanismos de comprometimento que é decisiva para explicar revoluções”, diz ele.
A análise das revoluções a partir da teoria dos jogos não é nova. Num artigo de 1971, Gordon Tullock, um dos grandes economistas do último século, chegou a afirmar que boa parte da literatura sobre revoluções precisa ser revista. Historiadores e jornalistas que escreveram sobre o assunto, diz ele, se concentraram demais na situação de um país antes da queda do regime. Mas isso, para Tullock, é pouco relevante se comparado ao balanço entre recompensas e castigos privados dos potenciais revolucionários. “Revolução é assunto de uma literatura elaborada e volumosa e, se eu estiver certo, toda essa literatura está errada”, diz ele.
Uma vítima fácil da teoria dos jogos é a ideia marxista de luta de classes. Ao acreditar que grupos ou classes agem como indivíduos, Marx caiu na falácia de composição – o erro de acreditar que o todo tem a mesma propriedade que a parte. Para a tristeza de cubanos e norte-coreanos, indivíduos nem sempre agem como seria bom para o grupo ao qual pertencem.
Por Leandro Narloch
Furacão digital no Caribe
A propaganda do governo, a imprensa oficial e slogans tipo “Pátria o muerte” vão ser desmoralizados pela internet
Ditaduras acabam pelas armas, por grandes mobilizações populares, pela fuga dos ditadores depois de saquear o país, acabam até com cravos vermelhos e sem um tiro, como em Portugal, ou caem de podres, como a nossa. Mas ultimamente têm acabado mal, como no Egito, na Líbia e no Iraque, e não raro são substituídas por novas ditaduras, ainda piores.
Uma das mais duradouras do planeta, mesmo sendo “do proletariado”, é a ditadura cubana, que com o reatamento de relações com os Estados Unidos caminha inexoravelmente para o fim do seu ciclo histórico. A novidade é que o regime cubano talvez seja o primeiro a ser derrubado pela massificação das comunicações e da internet — a mais inteligente e eficiente exigência que Obama negociou para o reatamento com Cuba.
Em pouco tempo a ilha estará na grande rede, todos terão acesso a tudo que se passa no mundo, no país, no bairro, na tecnologia, nos direitos humanos, na política. Todos verão que a história não é bem como a Revolução lhes contou, saberão que foram enganados, conhecerão os grandes erros que atrasaram e empobreceram o país. Depois de 50 anos a seco, uma tsunami de informações, opiniões e debates vai sacudir a ilha.
Para um povo que ainda vive na idade do chip lascado e do wi-fi a lenha, essas facilidades de comunicação se potencializam com seu alto nível de educação, a melhor das Américas, que lhes permitirá desfrutar plenamente do mundo novo que conhecerão. Denúncias serão feitas com fotos e gravações de celulares, segredos e tramoias serão revelados, com a porteira digital aberta não haverá polícia nem cadeia que segure tantos dissidentes.
A propaganda do governo, a imprensa oficial e slogans tipo “Pátria o muerte” vão ser desmoralizados pela internet. Com cartões de crédito e comércio on-line, Cuba vai receber um banho não só de dólares, mas de uma nova realidade, de novos sonhos e pesadelos.
Mas, quando se juntarem os capitais, tecnologias e empreendedorismo de dois milhões de cubanos de Miami com a educação e qualificação dos dez milhões da ilha, não só acabará a ditadura, mas logo Cuba será um dos melhores países da América.
Ditaduras acabam pelas armas, por grandes mobilizações populares, pela fuga dos ditadores depois de saquear o país, acabam até com cravos vermelhos e sem um tiro, como em Portugal, ou caem de podres, como a nossa. Mas ultimamente têm acabado mal, como no Egito, na Líbia e no Iraque, e não raro são substituídas por novas ditaduras, ainda piores.
Uma das mais duradouras do planeta, mesmo sendo “do proletariado”, é a ditadura cubana, que com o reatamento de relações com os Estados Unidos caminha inexoravelmente para o fim do seu ciclo histórico. A novidade é que o regime cubano talvez seja o primeiro a ser derrubado pela massificação das comunicações e da internet — a mais inteligente e eficiente exigência que Obama negociou para o reatamento com Cuba.
Em pouco tempo a ilha estará na grande rede, todos terão acesso a tudo que se passa no mundo, no país, no bairro, na tecnologia, nos direitos humanos, na política. Todos verão que a história não é bem como a Revolução lhes contou, saberão que foram enganados, conhecerão os grandes erros que atrasaram e empobreceram o país. Depois de 50 anos a seco, uma tsunami de informações, opiniões e debates vai sacudir a ilha.
Para um povo que ainda vive na idade do chip lascado e do wi-fi a lenha, essas facilidades de comunicação se potencializam com seu alto nível de educação, a melhor das Américas, que lhes permitirá desfrutar plenamente do mundo novo que conhecerão. Denúncias serão feitas com fotos e gravações de celulares, segredos e tramoias serão revelados, com a porteira digital aberta não haverá polícia nem cadeia que segure tantos dissidentes.
A propaganda do governo, a imprensa oficial e slogans tipo “Pátria o muerte” vão ser desmoralizados pela internet. Com cartões de crédito e comércio on-line, Cuba vai receber um banho não só de dólares, mas de uma nova realidade, de novos sonhos e pesadelos.
Mas, quando se juntarem os capitais, tecnologias e empreendedorismo de dois milhões de cubanos de Miami com a educação e qualificação dos dez milhões da ilha, não só acabará a ditadura, mas logo Cuba será um dos melhores países da América.
Por Nelson Motta
As ideias novas
A promessa de mudança da campanha “governo novo, ideias novas” se esgotou na área econômica, em que houve mudança em relação ao primeiro mandato. O novo ministro da Ciência e Tecnologia acumula declarações contra as duas áreas; o da Educação entrou em polêmica com professores e não era para melhorar a educação; a da Agricultura não viu os avanços que houve nas boas empresas do ramo.
Para que serve um segundo mandato se não é para o governante se livrar de amarras, ter ousadia e olho no futuro? Mas a presidente Dilma até agora montou um ministério de mais do mesmo: derrotados em seus estados, pessoas escolhidas pelos partidos ou opções individuais sem qualquer brilho.
O Ceará tem algumas boas experiências na educação, como por exemplo, o desempenho na Sobral de onde saíram os Gomes. Isso seria uma credencial para o ministro Cid Gomes, exceto por dois detalhes. Ele preferia outro cargo, conforme se noticiou; e numa polêmica com professores em greve disse que eles deveriam trabalhar por amor e não por dinheiro. Claro que educação exige paixão, sentido de missão, mas a proposta de que professores trabalhem sem a remuneração devida seria apenas uma frase ruim, se os Gomes não fossem conhecidos por desafinarem em declarações. Esta é uma área na qual não há tempo a perder com polêmicas vazias.
O ministro dos Esportes assumirá faltando um ano para as Olimpíadas. Há quem tema que o tempo seja exíguo demais para que George Hilton se prepare para o certame. Nesse campo, a presidente cometeu dois erros em um, porque nomear Aldo Rebelo para a Ciência e Tecnologia é realmente sem sentido.
Rebelo não é conhecido por suas posições vanguardistas em área alguma, mas em um ponto ele pode atrapalhar bastante o desempenho do país. Estamos no momento-chave das negociações de um acordo sobre mudanças climáticas e o Ministério da Ciência e Tecnologia sempre jogou um papel fundamental nas negociações e formulação da posição brasileira. O mundo assumiu o compromisso de chegar em 2015 a um novo acordo global de redução das emissões, em Paris, e estabelecer os novos objetivos de desenvolvimento sustentável que foram lançados na Rio+20.
Quem quiser ter uma noção de como Rebelo é inadequado para o cargo basta dar uma olhada em alguns parágrafos do seu relatório sobre o Código Florestal. Não pedirei ao leitor que atravesse aquele deserto de ideias novas. É pedir demais. Basta saber que nele, o ministro põe em dúvida o que é o ponto básico das convicções do IPCC — painel intergovernamental de cientistas organizado pela ONU — o de que é a ação humana que está provocando a atual onda de mudanças climáticas. A cada relatório, aumenta o grau de certeza dos cientistas. Existem vozes discordantes e elas são laterais. O Brasil parecerá exótico se desembarcar em Paris com um ministro pondo em dúvida os relatórios do IPCC que dão toda a sustentação científica para o acordo que o mundo tentará assinar. Se ele tiver voz ativa na formulação da nossa posição será um retrocesso de repercussão planetária.
O ministro da Pesca ser exatamente o filho do político que esteve envolvido em um escândalo de ranário é outro toque exótico do novo governo. A grande credencial do novo ministro da Aquicultura e Pesca, Helder Barbalho, é ter perdido a eleição para o governo do seu estado, o Pará. Claro, e a experiência familiar com as rãs.
Depois de fazer oposição ao governo Lula, principalmente na época em que o Ministério do Meio Ambiente trabalhava para reverter o ritmo do desmatamento, a senadora Kátia Abreu aproximou-se da presidente Dilma e acaba de ser indicada ministra da Agricultura. Apesar de ter sido eleita novamente para presidir a Confederação Nacional da Agricultura, está longe de ser um consenso no setor. Conhecida por suas posições extremadas, ela será um obstáculo ao avanço do setor na direção necessária de conciliação entre produção e meio ambiente. Kátia Abreu também não justifica o bordão “governo novo, ideias novas”.
O velho loteamento, as escolhas controversas, a ideia amalucada de passar os nomes de ministros pelo crivo do Procurador Geral da República, tudo reduz a esperança no segundo mandato de Dilma Rousseff. Sobra a área econômica; a que mais enfrentará a oposição do PT.
Por Miriam Leitão
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Feliz Natal!
Um momento doce e cheio de significado para as nossas vidas.
É tempo de repensar valores, de ponderar sobre a vida e tudo que a cerca.
É momento de deixar nascer essa criança pura, inocente e cheia de esperança que mora dentro de nossos corações.
É sempre tempo de contemplar aquele menino pobre, que nasceu numa manjedoura, para nos fazer entender que o ser humano vale por aquilo que é e faz, e nunca por aquilo que possui.
Noite cristã, onde a alegria invade nossos corações trazendo a paz e a harmonia.
O Natal é um dia festivo e espero que o seu olhar possa estar voltado para uma festa maior, a festa do nascimento de Cristo dentro de seu coração.
Noite cristã, onde a alegria invade nossos corações trazendo a paz e a harmonia.
O Natal é um dia festivo e espero que o seu olhar possa estar voltado para uma festa maior, a festa do nascimento de Cristo dentro de seu coração.
Que neste Natal você e sua família sintam mais forte ainda o significado da palavra amor, que traga raios de luz que iluminem o seu caminho e transformem o seu coração a cada dia, fazendo com que você viva sempre com muita ALEGRIA,
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Política, moral e ética: o desafio brasileiro
A opinião pública brasileira assiste indignada aos desdobramentos do maior escândalo da história. Ver a maior empresa brasileira mergulhada no pântano da corrupção, as ações despencarem e a credibilidade da economia ser abalada mexe com os brios da sociedade e coloca em xeque a eficácia da democracia.
Isso tudo é fruto de uma visão distorcida que se instalou na cúpula do PT, partido que nasceu em nome da ética e do trabalhador, de que “os fins justificam os meios”, ou seja, tudo é válido em nome da sustentação de um suposto projeto de transformação da sociedade.
Mas sabemos que os meios são indissociáveis dos fins. Os resultados não podem ser alcançados a qualquer preço. O PT no poder assumiu um pragmatismo amoral diante das armadilhas da governabilidade apresentadas pelo nosso débil sistema político. O presidencialismo de cooptação chegou a sua expressão máxima na obtenção da maioria parlamentar com base no “é dando que se recebe”, comprometendo a qualidade da gestão nos ministérios, nas estatais e agências reguladoras. Quando a misteriosa Rose tem o poder de indicar diretores de agências essenciais para o desenvolvimento, é porque as coisas vão muito mal.
O escândalo da Petrobras faz o mensalão parecer uma história da carochinha, uma brincadeira de escoteiros e normalistas. Um mero gerente da empresa se dispor a devolver cerca de US$ 100 milhões revela a dimensão do problema. Outra gerente denunciar à direção superior que graves problemas ocorriam mostra leniência e quase conivência com os malfeitos. A Petrobras lida com cifras estratosféricas, muitos zeros, e as “tenebrosas transações” ocorriam aqui, nos Estados Unidos e na África. É ultrajante para o Brasil ser objeto de investigações nos EUA e na Holanda e de processos de acionistas minoritários internacionais.
Permitam-me algumas digressões teóricas. Fala Max Weber: “Se fizermos qualquer concessão ao princípio de que os fins justificam os meios, não será possível aproximar uma ética dos fins últimos (de convicções) e uma ética da responsabilidade, ou decretar que fim deve justificar os meios”.
Como diz FHC, Weber tinha desprezo pelo político que dá de ombros para as consequências de seus atos, jogando a culpa na mesquinhez dos outros ou do mundo. Novamente Weber: “A política é como perfuração lenta de tábuas duras… Certamente, toda experiência histórica confirma a verdade, que o homem não teria alcançado o possível se repetidas vezes não tivesse tentado o impossível”. Mas não a qualquer custo. Não com o sacrifício dos princípios fundamentais.
Noberto Bobbio qualifica Maquiavel: a licença moral dada era para realizar “grandes feitos”, “grandes coisas”. E não para destruir a autoestima nacional e a maior empresa brasileira.
Muitos assaltaram bancos, sequestraram embaixadores e cometeram crimes em nome de uma suposta boa causa. Financiar um projeto político pela corrupção certamente não é uma boa causa.
Por Marcus Pestana
Tomara que caia
Ao ser diplomada no TSE para o novo mandato, Dilma Rousseff propôs um pacto nacional contra a corrupção. Quase na mesma hora, a Controladoria-Geral da União afirmava que a compra da Refinaria de Pasadena não foi um mau negócio, foi má-fé. Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, responsável pela aprovação da negociata. A dúvida é se os critérios para a compra da refinaria e para o pacto anticorrupção serão os mesmos.
O Brasil precisa saber urgentemente qual será o papel do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no pacto nacional contra a corrupção. Nas investigações da Polícia Federal, Vaccari é acusado de beneficiário do esquema do petrolão, e de injetar propinas na campanha de Dilma - essa mesma que foi reeleita e diplomada declarando guerra à corrupção. As faxinas da presidente deixariam o FBI de cabelo em pé.
Os EUA, aliás, já foram apresentados às entranhas do governo popular, com a chegada do escândalo da Petrobras à Justiça americana. O problema é que lá não tem um Lewandowski ou um Dias Toffoli para tranquilizar os companheiros na última instância. Também não tem um ministro da Justiça servindo de garoto de recados do marqueteiro petista. Como incluir os americanos, holandeses e suíços lesados pelo petrolão no pacto contra a corrupção? Será que o apoio deles custa mais do que os da UNE e do MST?
Uma das ascensões políticas mais impressionantes nos últimos anos foi a do ex-deputado André Vargas. Virou secretário de comunicação do PT e chegou a falar grosso com o STF no julgamento do mensalão - cuja transmissão televisiva ele queria embargar. Depois provocou Joaquim Barbosa publicamente, fazendo a seu lado o gesto do punho cerrado dos mensaleiros. André Vargas chegou à vice-presidência da Câmara dos Deputados, nada menos. Aos inocentes que não entendiam aquela ascensão meteórica, veio, enfim, a explicação: Vargas era comparsa do doleiro Alberto Youssef, o operador do petrolão.
Essa singela crônica de sucesso mostra que hoje, no Brasil, não há nada mais claro e seguro do que a lógica de funcionamento do PT. A qualquer tempo e lugar que você queira compreendê-la, o caminho é simples: siga o dinheiro.
Seguindo o dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a uma quadrilha instalada na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha o Paulinho do Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma, tinha bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império petista. Um ou outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e resmungou: mais um caso de corrupção no governo do PT. Acusação totalmente equivocada.
O mensalão e o petrolão não são casos de corrupção. Pertencem a um sistema de corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e da bondade. Vamos repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no caminho: trata-se de um sistema de corrupção. E as investigações já mostraram que esse sistema esteve ligado diretamente ao Palácio do Planalto nos últimos dez anos. Um deputado de oposição disse que o maior medo do PT não era perder a eleição presidencial, mas que depois Dilma fizesse a delação premiada.
E lá vai o Brasil para mais quatro anos dessa festa. Quem tem autoridade para acreditar que o método será abandonado? Quem em sã consciência pode apostar que um grupo político que se enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo irá fazer tudo diferente agora? Responda, prezado leitor: quem são as pessoas nesse governo ou nesse partido capazes de liderar uma guinada virtuosa? Lula? Dilma? Vaccari? Mercadante? Pimentel? Cardozo? Carvalho? Dirceu? Delúbio?
Mesmo depois de passada toda a propaganda suja da eleição, mesmo depois de exposta a destruição da maior empresa brasileira pelos que juravam amá-la, Dilma não recuou. Foi para cima do Congresso e rasgou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Obrigou o parlamento a legalizar o golpe do governo popular contra a política de superávit - que é um dos pilares da estabilidade monetária. O que falta fazer?
Que passe de mágica devolverá a credibilidade a um governo desmoralizado no país e no exterior? Quem vai querer investir aqui com esse bando de parasitas mudando as regras ao sabor das suas conveniências fisiológicas? Quem tem coragem de afirmar (com alguma dignidade) que os próximos quatro anos poderão reerguer esse Brasil em processo de argentinização?
Num sistema parlamentarista razoável, a extensão do escândalo na Petrobras já teria derrubado o governo. Os acordos de delação premiada já indicaram que Dilma e Lula sabiam de tudo. Se o Brasil quiser (e o gigante abrir pelo menos um dos olhos), essa investigação chegará onde tem que chegar. Esse é o único pacto possível contra a corrupção.
Em 1992, quando Collor estava balançando, já por um fio, Bussunda resolveu dar a sua contribuição e apareceu diante do Palácio do Planalto vestindo um tomara-que-caia - “em homenagem ao presidente”. É isso que falta?
Por Guilherme Fiuza
O Brasil ainda é o Brasil?
Por que as instituições nada fazem contra a matriz de corrupção instalada no coração do poder? Mistério.
Por que Bolsonaro suscita maior comoção e interesse entre os formadores de opinião do que as denúncias da geóloga Venina Velosa da Fonseca? Mistério.
Por que o relatório de uma Comissão Nacional da Verdade que sepulta verdades e ressuscita mentiras ganha espaço como se credibilidade tivesse, malgrado afronte a própria lei que a criou? Mistério.
Por que, para tantas pessoas, o mal está na mera existência da revista Veja e não nos crimes que ela denuncia? Mistério.
Por que é tão solenemente ignorada a existência do Foro de São Paulo, como bem sinaliza Olavo de Carvalho? Mistério.
Por que não causou estranheza em parte alguma que a pessoa escolhida para ocupar a função de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, seja, justamente, o ex-presidente de uma cooperativa habitacional que lesou centenas de associados? Não está ele sendo processado por estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica? Comanda as finanças do PT e só a Veja acha estranho? Mistério.
"Por que o partido que governa a República perdeu todo interesse em desvendar os enigmas em torno da morte de Celso Daniel? Mistério, mistério, mistério. Para onde quer que se olhe, lá está a densa bruma de onde quase se espera o surgimento de dragões, unicórnios e manticoras."
Pois eis que, de repente, fica-se sabendo que a presidente da República foi a Quito participar de uma reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e que nessa reunião foram tomadas diversas decisões envolvendo supostos interesses comuns aos países do bloco.
E com que parcerias! Pois bem, as relações internacionais do Brasil, de uns tempos para cá, seguem estratégias incomuns e nos têm custado muito caro. Não seria preciso mais do que isso para despertar o interesse da mídia nacional. Mas não despertou.
Por quê? Mistério. E não me consta que alguém tenha gasto meia hora, seja na mídia, seja no Congresso Nacional, para investigar o que significará, na vida prática, algo tão enigmático (mormente entre nações sob tais governos) quanto a Unidade Técnica de Coordenação Eleitoral que passará a funcionar na Unasul. Por quê? Mistério.
Tampouco suscitou interesse a decisão de criar uma Escola Sul-Americana de Defesa, que até sigla já tem: Esude. E para que servirá a Esude? Para constituir "un centro de altos estudios del Consejo de Defensa Suramericano de articulación de las iniciativas nacionales de los Estados Miembros, formación y capacitación de civiles y militares en materia de defensa y seguridad regional del nivel político-estratégico".
Será que só eu fiquei preocupado com isso? Será que só eu fui buscar informações e me deparei com este vídeo? Terei sido o único a descobrir que, conforme ali se explica, a tal Esude tem por objetivo formar civis e militares afastados das "lições caducas com que se formavam nossos militares", as quais seriam "quase cópias dos manuais gringos, norte-americanos"?
O que dizem sobre tudo isso nossos comandantes militares? Mistério.
Definitivamente, de duas uma: ou estou ficando incapaz de compreender o Brasil, suas instituições e seu povo, ou o Brasil está se tornando outra coisa qualquer.
Por Percival Puggina
Por que é tão solenemente ignorada a existência do Foro de São Paulo, como bem sinaliza Olavo de Carvalho? Mistério.
Por que não causou estranheza em parte alguma que a pessoa escolhida para ocupar a função de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, seja, justamente, o ex-presidente de uma cooperativa habitacional que lesou centenas de associados? Não está ele sendo processado por estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica? Comanda as finanças do PT e só a Veja acha estranho? Mistério.
"Por que o partido que governa a República perdeu todo interesse em desvendar os enigmas em torno da morte de Celso Daniel? Mistério, mistério, mistério. Para onde quer que se olhe, lá está a densa bruma de onde quase se espera o surgimento de dragões, unicórnios e manticoras."
Pois eis que, de repente, fica-se sabendo que a presidente da República foi a Quito participar de uma reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e que nessa reunião foram tomadas diversas decisões envolvendo supostos interesses comuns aos países do bloco.
E com que parcerias! Pois bem, as relações internacionais do Brasil, de uns tempos para cá, seguem estratégias incomuns e nos têm custado muito caro. Não seria preciso mais do que isso para despertar o interesse da mídia nacional. Mas não despertou.
Por quê? Mistério. E não me consta que alguém tenha gasto meia hora, seja na mídia, seja no Congresso Nacional, para investigar o que significará, na vida prática, algo tão enigmático (mormente entre nações sob tais governos) quanto a Unidade Técnica de Coordenação Eleitoral que passará a funcionar na Unasul. Por quê? Mistério.
Tampouco suscitou interesse a decisão de criar uma Escola Sul-Americana de Defesa, que até sigla já tem: Esude. E para que servirá a Esude? Para constituir "un centro de altos estudios del Consejo de Defensa Suramericano de articulación de las iniciativas nacionales de los Estados Miembros, formación y capacitación de civiles y militares en materia de defensa y seguridad regional del nivel político-estratégico".
Será que só eu fiquei preocupado com isso? Será que só eu fui buscar informações e me deparei com este vídeo? Terei sido o único a descobrir que, conforme ali se explica, a tal Esude tem por objetivo formar civis e militares afastados das "lições caducas com que se formavam nossos militares", as quais seriam "quase cópias dos manuais gringos, norte-americanos"?
O que dizem sobre tudo isso nossos comandantes militares? Mistério.
Definitivamente, de duas uma: ou estou ficando incapaz de compreender o Brasil, suas instituições e seu povo, ou o Brasil está se tornando outra coisa qualquer.
Por Percival Puggina
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Um Papai Noel verde e amarelo?
É isso mesmo que você pensou: o verbo bimbalhar tem sentidos nem tão católicos assim. É Natal, bimbalham as abelhas, bimbalham as estrelas do céu, bimbalham os corpos. (A propósito, o substantivo "bimbalho" não existe. Deveríamos inventá-lo quanto antes.) Entre todos, quem bimbalha mais, e bimbalha sem parar, são as lojas de quinquilharias. No resto do ano, os consumidores se açoitam uns aos outros. No Natal, vão às compras na ilusão de que, com um presentinho, dirão que têm amor a quem maltratam. Eis que bimbalham as caixas registradoras.
Dito isso, chega de bimbalho. Voltemos quanto antes à fantasia de Papai Noel. Ela é vermelha, como você já deve ter notado. Vermelha como um caminhão de bombeiros. Intensamente vermelha, vermelha mesmo, vermelha como o logotipo daquela bebida gasosa e recreativa cujo nome começa com "Coca" e termina com "Cola" - nos anos 30 do século passado, ela cuidou de massificar a rubra figura do bom velhinho em suas campanhas publicitárias nos Estados Unidos. Papai Noel, o vermelho de barbas brancas, como Karl Marx, deve sua existência a uma propaganda de refrigerante. Sem a publicidade, nunca teria ficado mais famoso do que Jesus Cristo, e o consumismo natalino não teria virado a religião que virou. A humanidade inteira acredita que a união das famílias, a reconciliação dos desafetos, a harmonia conjugal, a paz entre as nações e a solidariedade são mercadorias que a gente pode mandar embrulhar para presente.
Traduzindo: a humanidade inteira acredita em Papai Noel. As criancinhas são quem acredita menos. Apenas concedem que exista, em algum lugar da casa, um bom espírito que se realiza em distribuir alegria desinteressada a quem ainda não conheceu a ambição material e o desejo de matar o semelhante. É só nisso que elas acreditam. Os adultos acreditam em fantasias mais mirabolantes. Acreditam que podem tapear as crianças. Acreditam que uma camisa de algodão egípcio, um telefone celular que conta as batidas do coração ou uma passagem de primeira classe podem amolecer o coração daquele saco de pancadas ali ao lado. Acreditam que, se ganharam de presente uma traquitana de preço tão alto, é porque são amados e desejados com ardor. Os adultos acreditam em cobrar dívidas amorosas na forma de regalos arrematados em dez vezes no cartão. Acreditam que presentear é como pagar promessa em prestações. Adultos acreditam em Papai Noel como um embuste que funciona. Adultos acreditam em Papai Noel como acreditam no dinheiro. São muito mais crédulos que as criancinhas. Elas apenas enxergam no sujeito fantasiado de vermelho uma verdade que não existe nos mentirosos que a paparicam.
Bimbalhando feito louco, o Papai Noel dá tungadas em todo mundo. Não poupa ninguém. Das miseráveis ilusões dos adultos espertos e das inocentes esperanças infantis, Papai Noel extrai os cifrões que inflarão o ego do mercado. Só quem pode ganhar algum lucro com ele é o comerciante e, se o comerciante ganhar, o ministro da Fazenda ficará contente, sorrindo feito criança. O ministro da Fazenda acredita em Papai Noel porque acredita em números. Acredita que Papai Noel não é vermelho, mas verde e amarelo. Acredita que Papai Noel aquecerá "nossa" economia. Acredita que, no fim, todos aqueles presentes que depois não caberão no guarda-roupa, as caixas fechadas de panetone que atravessarão o prazo de validade e as pilhas elétricas que enferrujarão nos brinquedos terão ajudado pelo menos a espantar o fantasma da recessão. É pouco, é ridículo, é uma alucinação macroeconômica - e é tudo o que o governo pediu para Papai Noel.
Assim sendo, Feliz Natal para o Brasil. E que o Ano Novo seja próspero, mas próspero de verdade, próspero no sentido pecuniário da palavra.
Por Eugênio Bucci
13 bizarrices de Dilma na economia das quais jamais esqueceremos
Apesar de todos os avisos dados por analistas independentes, a presidente fez do Brasil um laboratório de bruxarias heterodoxas e deixa o governo com resultados pífios
Em seu primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff transformou o Brasil numa espécie de laboratório para todos os tipos de bruxarias heterodoxas na área econômica. Como os analistas independentes cansaram de avisar, os experimentos de Dilma acabaram provocando o desordenamento do processo produtivo, a alta da inflação e a paradeira da economia. Levaram, também, à perda de credibilidade do governo e à desconfiança dos empresários. A seguir, você poderá conferir algumas das principais bizarrices cometidas por Dilma na economia, que, felizmente, parece que serão deixadas para trás em seu segundo mandato. Ainda assim, elas serão lembradas para sempre com ironia por todos aqueles que previram seus resultados catastróficos.
1.”O ministro da Fazenda sou eu”
Inspirada em Luís XV, autor da célebre frase L’etat c’est moi (O Estado sou eu), Dilma foi, desde o primeiro dia de seu governo, o ministro da Fazenda de fato – e não Guido Mantega, o titular da Pasta. Em certa medida, foi ela também quem comandou o Banco Central, pressionando o presidente da instituição, Alexandre Tombini, a retardar o aumento de juros que se fazia necessário para combater a escalada inflacionária que se insinuava quando ela ainda estava na metade de sua gestão. Depois, para não prejudicar seu desempenho nas urnas, Dilma usou o mesmo expediente durante a campanha eleitoral. É Dilma, portanto – e não Mantega e Tombini – a grande responsável pelo fracasso retumbante de seu governo na economia. Mantega e Tombini podem até ser acusados de omissão ou de conivência, mas é ao Palácio do Planalto que a fatura pela estagflação, aquela combinação incômoda de estagnação econômica e inflação, deve ser enviada.
2. Um pibinho incomada muita gente...
Apesar da dificuldade de Dilma e o PT reconhecerem publicamente seu fracasso na gestão da economia, o governo chega ao final de forma melancólica. Com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estimado em apenas 0,2% em 2014 e numa média de 1,5% ao ano durante sua gestão, Dilma só ficou à frente dos governos Collor e de Floriano Peixoto neste quesito. O crescimento do PIB no governo Dilma foi tão baixo que o marqueteiro João Santana teve de fazer malabarismos para criar um discurso alternativo que a favorecesse e permitisse a ela enfrentar a realidade dos números e as críticas da oposição durante a campanha eleitoral. Em vez de divulgar a taxa de crescimento econômico de seu governo, Santana decidiu divulgar o crescimento médio anual nos 12 anos de governo do PT e compará-lo à media dos dois mandatos de Fernando Henrique. Obviamente, sem levar em conta o contexto histórico dos dois períodos.
3. Um pouco de inflação não faz mal a ninguém
Dilma jamais admitirá, nem o presidente do BC, Alexandre Tombini. Mas qualquer analista de mercado independente sabe que, na gestão de Dilma, a política monetária sofreu influências políticas inimagináveis no governo Lula, quando o ex-banqueiro Henrique Meirelles comandava a instituição, contribuindo de forma decisiva para garantir a credibilidade do país junto aos investidores locais e estrangeiros. Mais de uma vez, Dilma defendeu a ideia pregada pelos nacional-desenvolvimentistas, com quem se identifica ideologicamente, de que um pouquinho de inflação não faz mal a ninguém. Contra todas as evidências de que o BC precisava endurecer a política monetária, diante da frouxidão fiscal, para conter as pressões inflacionárias, Tombini dizia que a trajetória da inflação era de queda – o que, como se comprovou depois, com a inflação roçando o teto da meta, de 6,5% ao ano, era uma previsão prá lá de furada.
4. A irresponsabilidade fiscal com aval do Congresso
Depois de passar boa parte da campanha eleitoral jurando de pés juntos que as contas estavam em ordem e que o governo faria a economia prometida para pagar os juros de sua dívida pública em 2014, Dilma teve de reconhecer que a situação era dramática e enviou um projeto criticadíssimo ao Congresso para flexibilizar a meta fiscal que ela mesma havia traçado no ano anterior. Para aprová-lo, ofereceu R$ 745 mil para cada parlamentar aplicar a seu bel prazer em seu reduto eleitoral, num total de quase R$ 500 milhões. Ao final, apesar da gritaria da oposição, o toma-lá-dá-cá acabou prevalecendo e o projeto foi aprovado, para Dilma não ser questionada na Justiça por descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
5. 2 + 2 = 5
Embora Dilma tenha sido pródiga em bizarrices na economia, talvez nada tenha sido mais bizarro em seu governo do que a tal da “contabilidade criativa”. Para tentar esconder o desequilíbrio nas contas públicas, Dilma usou e abusou de truques contábeis grotescos, idealizados pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin. As manobras podem até ter iludido os incautos, mas deixou “estarrecidos”, para usar a palavra preferida da “presidenta”, quem é do ramo. O repertório de aberrações incluía principalmente triangulações de recursos entre o Tesouro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal. Essas triangulações apareciam na dívida bruta federal, mas não na dívida líquida, que o governo usava para fazer a propaganda oficial e vender a ideia de que era uma freira na gestão das finanças públicas. No fim, a manobra “esperta” contribuiu decisivamente para deteriorar a credibilidade do governo e minar a confiança dos investidores no país.
6. A morte anunciada da “nova matriz econômica”
Em oposição ao tripé macroeconômico criado no governo FHC, baseado nas metas de inflação, no câmbio flutuante e no superávit fiscal, Dilma adotou a “nova matriz econômica”, idealizada pelos acadêmicos da Universidade de Campinas (Unicamp), onde Dilma fez o curso de pós-graduação em economia. Eles têm horror a tudo que guarde qualquer semelhança com a visão clássica de mercado, defendida pelos economistas mais liberais. Centrada no real fraco em relação ao dólar, em incentivos fiscais para alguns setores “eleitos” da indústria e numa taxa de juro baixa, a “nova matriz” tinha o objetivo de estimular o crescimento econômico. Só que, apesar da contenção de preços administrados, como a gasolina, a inflação deu um salto, e os juros tiveram de subir para tentar manter os preços sob controle. Além disso, mesmo com os subsídios oficiais, a indústria não realizou os investimentos que o governo desejava estimular e a taxa de crescimento do país ficou num dos níveis mais baixos da história. A boa notícia é que, por causa de seus resultados pífios, a “nova matriz econômica” deverá ser abandonada no segundo mandato de Dilma, em nome de práticas tidas como "ortodoxas", como a austeridade fiscal e uma política monetária mais dura, para recolocar o Brasil na trilha do desenvolvimento sustentável.
7. O Petrolão e a perda bilionária de valor da Petrobras
Estatista militante, ex-presidente do conselho de administração da Petrobras e defensora do modelo nacionalista implementado para explorar o pré-sal, Dilma encerra seu primeiro mandato em meio ao maior escândalo de corrupção do país em todos os tempos, o Petrolão. Embora até agora ainda não haja nenhuma evidência concreta de que Dilma tenha se beneficiado da bandalheira, muitos analistas e muitos cidadãos de bem consideram que, como ex-presidente do conselho da Petrobras, ela foi, no mínimo, omissa no caso. Poderia, portanto, ser responsabilizada pelo que aconteceu com a empresa. O valor de mercado da Petrobras na sexta-feira, 19 de dezembro, havia caído de um pico de R$ 510 milhões, em maio de 2008, para R$ 122 bilhões – uma queda de 76%! Resultado: a Petrobras perdeu o posto de empresa mais valorizada do Brasil para a Ambev, que reúne as marcas Brahma e Antarctica, e foi também ultrapassada pelos bancos Itaú e Bradesco, nesta ordem. De estrela internacional, a Petrobras foi parar nas páginas policiais dos jornais. Além dos processos movidos no Brasil pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais do país, a Petrobras está sendo investigada pela SEC, sua congênere americana, e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Está sendo processada também por investidores privados nos EUA. Apesar de ainda ser difícil dizer como os desdobramentos do caso vão atingir seu governo e ela própria no segundo mandato, pode-se dizer, sem medo de errar, que há nuvens negras no horizonte.
8. A redução de juros “por decreto”
Um dia Dilma acordou e decidiu que era preciso dar uma marretada nos juros estratosféricos do país, bem ao estilo “eu prendo, eu bato, eu arrebento” que caracterizou seu governo desde o primeiro minuto. Embora jamais admita, forçou o Banco Central a reduzir a taxa básica de juros, que serve de referência para todas as outras, muito além do que seria razoável naquela conjuntura, marcada por crescentes pressões inflacionárias, com o objetivo populista de beneficar-se na campanha eleitoral. Dilma obrigou também os bancos oficiais – o Banco do Brasil e a Caixa, que hoje estão com uma taxa de calote muito acima da média do sistema – a seguir o mesmo caminho. Obviamente, o que muitos analistas previram acabou acontecendo. O corte dos juros, com a alta da inflação e o desequilíbrio fiscal, tornou-se insustentável, e as taxas voltaram a subir – e deverão subir ainda mais no começo de seu segundo mandato.
9 A “quebra” de contratos na área de energia
Com uma manobra arriscada, Dilma decidiu mudar as regras do jogo na área energética, que ela comandou no início do governo Lula, antes de se tornar ministra da Casa Civil. Acreditando que conseguiria reduzir os preços da energia no país com seu voluntarismo ingênuo, Dilma criou o caos e acabou afastando investidores nacionais e estrangeiros do setor, um dos mais carentes de investimentos no país. Para renovar os contratos com as concessionárias, Dilma ofereceu uma indenização considerada menor do que as empresas teriam direito pelo critério anterior, que levava em conta os investimentos realizados e que ainda não haviam sido recuperados com a exploração do serviço. Como aconteceu com quase todas as medidas que Dilma tomou na economia em seu primeiro mandato, o tiro saiu pela culatra. Em 2015, o preço da energia deverá ter um reajuste considerável para cobrir o “rombo” que ela gerou no setor com sua política estapafúrdia.
10. As cotas impostas à importação de veículos
Sem aviso prévio, Dilma mudou também, da noite para o dia, as regras adotadas no campo automotivo. Com o objetivo de estimular a produção local e manter os empregos dos metalúrgicos do país, ameaçados pela concorrência externa e pelo preço mais alto dos carros nacionais, Dilma trouxe de volta a velha reserva de mercado, de triste memória. A reserva havia vigorado até o início dos anos 1990 e acabou provocando uma acomodação nas montadoras locais, em franco prejuízo dos consumidores, obrigados a consumir verdadeiras “carroças”, nas palavras do ex-presidente Fernando Collor, responsável pela abertura do mercado. Dilma aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros importados produzidos fora do México e do Mercosul em 30 pontos porcentuais e forçou a renegociação do acordo de livre comércio de veículos leves com o México, que havia levado várias montadoras a adotarem uma estratégia de negócios compatível com o regime anterior. Resultado: em 2014, as vendas e a produção de veículos despencaram, mesmo com a redução de impostos promovida pelo governo. Hoje, há um excesso de produção, sobram carros nos pátios das montadoras e muitas fábricas deram férias coletivas para os trabalhadores ou implementaram medidas semelhantes para reduzir o ritmo de produção.
11. As privatizações são ruins, mas nem tanto
Depois de demonizar as privatizações em todas as eleições desde 2002, Dilma e o PT decidiram apoiá-las. Como o governo na tinha dinheiro para fazer as obras de infraestrutura de que o país precisa, ela se deu conta, com dez anos de atraso, que a melhor forma de realizá-las era por meio de privatizações – ou concessões, como preferem os petistas, para evitar a palavra proibida. Só que, como Dilma queria tabelar o lucro dos empresários e oferecer a tarifa mais baixa possível aos usuários, o projeto acabou não decolando, por absoluto desinteresse dos investidores. Quando Dilma quis consertar o erro – algo raro em sua trajetória – era tarde demais. Exceto por uma ou outra privatização de serviços públicos, como estradas e aeroportos, ela chegou ao final do primeiro mandato com quase nenhuma realização nesta seara.
12. A volta da política do “pires na mão” a Brasília
Durante seu governo, de tendência nacional-desenvolvimentista, Dilma ressuscitou várias práticas que se popularizaram durante o governo militar, quando o economista Antônio Delfim Netto era chamado de “czar” da economia. Talvez a principal delas – e a mais nociva para o país – foi a volta da política do “pires na mão”, pela qual os empresários voltaram a peregrinar pelos gabinetes de Brasília, em busca dos favores oficiais, em troca de promessas de investimento raras vezes cumpridas.
13 O filtro de Informações negativas
Para não atrapalhar seu desempenho eleitoral, Dilma interferiu até mesmo no cronograma de divulgação de dados do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (IPEA), ligado ao governo federal. Embora negue oficialmente, qualquer observador minimamente atinado, sabe que o IPEA adiou a divulgação de uma pesquisa que mostrava a estagnação da queda da desigualdade e da pobreza no país. Houve trapalhadas semelhantes na divulgação de pesquisas feitas pelo IBGE, cuja independência tem sido ameaçada pelo aparelhamento promovido pelo PT.
1.”O ministro da Fazenda sou eu”
Inspirada em Luís XV, autor da célebre frase L’etat c’est moi (O Estado sou eu), Dilma foi, desde o primeiro dia de seu governo, o ministro da Fazenda de fato – e não Guido Mantega, o titular da Pasta. Em certa medida, foi ela também quem comandou o Banco Central, pressionando o presidente da instituição, Alexandre Tombini, a retardar o aumento de juros que se fazia necessário para combater a escalada inflacionária que se insinuava quando ela ainda estava na metade de sua gestão. Depois, para não prejudicar seu desempenho nas urnas, Dilma usou o mesmo expediente durante a campanha eleitoral. É Dilma, portanto – e não Mantega e Tombini – a grande responsável pelo fracasso retumbante de seu governo na economia. Mantega e Tombini podem até ser acusados de omissão ou de conivência, mas é ao Palácio do Planalto que a fatura pela estagflação, aquela combinação incômoda de estagnação econômica e inflação, deve ser enviada.
2. Um pibinho incomada muita gente...
Apesar da dificuldade de Dilma e o PT reconhecerem publicamente seu fracasso na gestão da economia, o governo chega ao final de forma melancólica. Com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estimado em apenas 0,2% em 2014 e numa média de 1,5% ao ano durante sua gestão, Dilma só ficou à frente dos governos Collor e de Floriano Peixoto neste quesito. O crescimento do PIB no governo Dilma foi tão baixo que o marqueteiro João Santana teve de fazer malabarismos para criar um discurso alternativo que a favorecesse e permitisse a ela enfrentar a realidade dos números e as críticas da oposição durante a campanha eleitoral. Em vez de divulgar a taxa de crescimento econômico de seu governo, Santana decidiu divulgar o crescimento médio anual nos 12 anos de governo do PT e compará-lo à media dos dois mandatos de Fernando Henrique. Obviamente, sem levar em conta o contexto histórico dos dois períodos.
3. Um pouco de inflação não faz mal a ninguém
Dilma jamais admitirá, nem o presidente do BC, Alexandre Tombini. Mas qualquer analista de mercado independente sabe que, na gestão de Dilma, a política monetária sofreu influências políticas inimagináveis no governo Lula, quando o ex-banqueiro Henrique Meirelles comandava a instituição, contribuindo de forma decisiva para garantir a credibilidade do país junto aos investidores locais e estrangeiros. Mais de uma vez, Dilma defendeu a ideia pregada pelos nacional-desenvolvimentistas, com quem se identifica ideologicamente, de que um pouquinho de inflação não faz mal a ninguém. Contra todas as evidências de que o BC precisava endurecer a política monetária, diante da frouxidão fiscal, para conter as pressões inflacionárias, Tombini dizia que a trajetória da inflação era de queda – o que, como se comprovou depois, com a inflação roçando o teto da meta, de 6,5% ao ano, era uma previsão prá lá de furada.
4. A irresponsabilidade fiscal com aval do Congresso
Depois de passar boa parte da campanha eleitoral jurando de pés juntos que as contas estavam em ordem e que o governo faria a economia prometida para pagar os juros de sua dívida pública em 2014, Dilma teve de reconhecer que a situação era dramática e enviou um projeto criticadíssimo ao Congresso para flexibilizar a meta fiscal que ela mesma havia traçado no ano anterior. Para aprová-lo, ofereceu R$ 745 mil para cada parlamentar aplicar a seu bel prazer em seu reduto eleitoral, num total de quase R$ 500 milhões. Ao final, apesar da gritaria da oposição, o toma-lá-dá-cá acabou prevalecendo e o projeto foi aprovado, para Dilma não ser questionada na Justiça por descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
5. 2 + 2 = 5
Embora Dilma tenha sido pródiga em bizarrices na economia, talvez nada tenha sido mais bizarro em seu governo do que a tal da “contabilidade criativa”. Para tentar esconder o desequilíbrio nas contas públicas, Dilma usou e abusou de truques contábeis grotescos, idealizados pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin. As manobras podem até ter iludido os incautos, mas deixou “estarrecidos”, para usar a palavra preferida da “presidenta”, quem é do ramo. O repertório de aberrações incluía principalmente triangulações de recursos entre o Tesouro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal. Essas triangulações apareciam na dívida bruta federal, mas não na dívida líquida, que o governo usava para fazer a propaganda oficial e vender a ideia de que era uma freira na gestão das finanças públicas. No fim, a manobra “esperta” contribuiu decisivamente para deteriorar a credibilidade do governo e minar a confiança dos investidores no país.
6. A morte anunciada da “nova matriz econômica”
Em oposição ao tripé macroeconômico criado no governo FHC, baseado nas metas de inflação, no câmbio flutuante e no superávit fiscal, Dilma adotou a “nova matriz econômica”, idealizada pelos acadêmicos da Universidade de Campinas (Unicamp), onde Dilma fez o curso de pós-graduação em economia. Eles têm horror a tudo que guarde qualquer semelhança com a visão clássica de mercado, defendida pelos economistas mais liberais. Centrada no real fraco em relação ao dólar, em incentivos fiscais para alguns setores “eleitos” da indústria e numa taxa de juro baixa, a “nova matriz” tinha o objetivo de estimular o crescimento econômico. Só que, apesar da contenção de preços administrados, como a gasolina, a inflação deu um salto, e os juros tiveram de subir para tentar manter os preços sob controle. Além disso, mesmo com os subsídios oficiais, a indústria não realizou os investimentos que o governo desejava estimular e a taxa de crescimento do país ficou num dos níveis mais baixos da história. A boa notícia é que, por causa de seus resultados pífios, a “nova matriz econômica” deverá ser abandonada no segundo mandato de Dilma, em nome de práticas tidas como "ortodoxas", como a austeridade fiscal e uma política monetária mais dura, para recolocar o Brasil na trilha do desenvolvimento sustentável.
7. O Petrolão e a perda bilionária de valor da Petrobras
Estatista militante, ex-presidente do conselho de administração da Petrobras e defensora do modelo nacionalista implementado para explorar o pré-sal, Dilma encerra seu primeiro mandato em meio ao maior escândalo de corrupção do país em todos os tempos, o Petrolão. Embora até agora ainda não haja nenhuma evidência concreta de que Dilma tenha se beneficiado da bandalheira, muitos analistas e muitos cidadãos de bem consideram que, como ex-presidente do conselho da Petrobras, ela foi, no mínimo, omissa no caso. Poderia, portanto, ser responsabilizada pelo que aconteceu com a empresa. O valor de mercado da Petrobras na sexta-feira, 19 de dezembro, havia caído de um pico de R$ 510 milhões, em maio de 2008, para R$ 122 bilhões – uma queda de 76%! Resultado: a Petrobras perdeu o posto de empresa mais valorizada do Brasil para a Ambev, que reúne as marcas Brahma e Antarctica, e foi também ultrapassada pelos bancos Itaú e Bradesco, nesta ordem. De estrela internacional, a Petrobras foi parar nas páginas policiais dos jornais. Além dos processos movidos no Brasil pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais do país, a Petrobras está sendo investigada pela SEC, sua congênere americana, e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Está sendo processada também por investidores privados nos EUA. Apesar de ainda ser difícil dizer como os desdobramentos do caso vão atingir seu governo e ela própria no segundo mandato, pode-se dizer, sem medo de errar, que há nuvens negras no horizonte.
8. A redução de juros “por decreto”
Um dia Dilma acordou e decidiu que era preciso dar uma marretada nos juros estratosféricos do país, bem ao estilo “eu prendo, eu bato, eu arrebento” que caracterizou seu governo desde o primeiro minuto. Embora jamais admita, forçou o Banco Central a reduzir a taxa básica de juros, que serve de referência para todas as outras, muito além do que seria razoável naquela conjuntura, marcada por crescentes pressões inflacionárias, com o objetivo populista de beneficar-se na campanha eleitoral. Dilma obrigou também os bancos oficiais – o Banco do Brasil e a Caixa, que hoje estão com uma taxa de calote muito acima da média do sistema – a seguir o mesmo caminho. Obviamente, o que muitos analistas previram acabou acontecendo. O corte dos juros, com a alta da inflação e o desequilíbrio fiscal, tornou-se insustentável, e as taxas voltaram a subir – e deverão subir ainda mais no começo de seu segundo mandato.
9 A “quebra” de contratos na área de energia
Com uma manobra arriscada, Dilma decidiu mudar as regras do jogo na área energética, que ela comandou no início do governo Lula, antes de se tornar ministra da Casa Civil. Acreditando que conseguiria reduzir os preços da energia no país com seu voluntarismo ingênuo, Dilma criou o caos e acabou afastando investidores nacionais e estrangeiros do setor, um dos mais carentes de investimentos no país. Para renovar os contratos com as concessionárias, Dilma ofereceu uma indenização considerada menor do que as empresas teriam direito pelo critério anterior, que levava em conta os investimentos realizados e que ainda não haviam sido recuperados com a exploração do serviço. Como aconteceu com quase todas as medidas que Dilma tomou na economia em seu primeiro mandato, o tiro saiu pela culatra. Em 2015, o preço da energia deverá ter um reajuste considerável para cobrir o “rombo” que ela gerou no setor com sua política estapafúrdia.
10. As cotas impostas à importação de veículos
Sem aviso prévio, Dilma mudou também, da noite para o dia, as regras adotadas no campo automotivo. Com o objetivo de estimular a produção local e manter os empregos dos metalúrgicos do país, ameaçados pela concorrência externa e pelo preço mais alto dos carros nacionais, Dilma trouxe de volta a velha reserva de mercado, de triste memória. A reserva havia vigorado até o início dos anos 1990 e acabou provocando uma acomodação nas montadoras locais, em franco prejuízo dos consumidores, obrigados a consumir verdadeiras “carroças”, nas palavras do ex-presidente Fernando Collor, responsável pela abertura do mercado. Dilma aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros importados produzidos fora do México e do Mercosul em 30 pontos porcentuais e forçou a renegociação do acordo de livre comércio de veículos leves com o México, que havia levado várias montadoras a adotarem uma estratégia de negócios compatível com o regime anterior. Resultado: em 2014, as vendas e a produção de veículos despencaram, mesmo com a redução de impostos promovida pelo governo. Hoje, há um excesso de produção, sobram carros nos pátios das montadoras e muitas fábricas deram férias coletivas para os trabalhadores ou implementaram medidas semelhantes para reduzir o ritmo de produção.
11. As privatizações são ruins, mas nem tanto
Depois de demonizar as privatizações em todas as eleições desde 2002, Dilma e o PT decidiram apoiá-las. Como o governo na tinha dinheiro para fazer as obras de infraestrutura de que o país precisa, ela se deu conta, com dez anos de atraso, que a melhor forma de realizá-las era por meio de privatizações – ou concessões, como preferem os petistas, para evitar a palavra proibida. Só que, como Dilma queria tabelar o lucro dos empresários e oferecer a tarifa mais baixa possível aos usuários, o projeto acabou não decolando, por absoluto desinteresse dos investidores. Quando Dilma quis consertar o erro – algo raro em sua trajetória – era tarde demais. Exceto por uma ou outra privatização de serviços públicos, como estradas e aeroportos, ela chegou ao final do primeiro mandato com quase nenhuma realização nesta seara.
12. A volta da política do “pires na mão” a Brasília
Durante seu governo, de tendência nacional-desenvolvimentista, Dilma ressuscitou várias práticas que se popularizaram durante o governo militar, quando o economista Antônio Delfim Netto era chamado de “czar” da economia. Talvez a principal delas – e a mais nociva para o país – foi a volta da política do “pires na mão”, pela qual os empresários voltaram a peregrinar pelos gabinetes de Brasília, em busca dos favores oficiais, em troca de promessas de investimento raras vezes cumpridas.
13 O filtro de Informações negativas
Para não atrapalhar seu desempenho eleitoral, Dilma interferiu até mesmo no cronograma de divulgação de dados do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (IPEA), ligado ao governo federal. Embora negue oficialmente, qualquer observador minimamente atinado, sabe que o IPEA adiou a divulgação de uma pesquisa que mostrava a estagnação da queda da desigualdade e da pobreza no país. Houve trapalhadas semelhantes na divulgação de pesquisas feitas pelo IBGE, cuja independência tem sido ameaçada pelo aparelhamento promovido pelo PT.
Por José Fucs
Carlos Pereira: "O PT não sabe fazer coalizão de governo"
O cientista político diz que os governos petistas não sabem dividir o poder com os aliados – e isso está na raiz do petrolão
O professor da Fundação Getúlio Vargas Carlos Pereira formou-se em medicina, mas preferiu seguir carreira acadêmica como cientista político. Tornou-se um arguto analista do funcionamento da política no Brasil. Para ele, o sistema precisa de ajustes, mas é bom porque tem garantido, numa democracia relativamente jovem, estabilidade política, resolução de conflitos sem violência, redução da pobreza, equilíbrio macroeconômico e representação de interesses no jogo político. Num trabalho recentemente apresentado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, ele argumenta que os escândalos se sucedem porque o PT, em seus governos, não tem dividido o poder com seus aliados, regra essencial do presidencialismo de coalizão.
ÉPOCA – Teremos uma tempestade perfeita em 2015?
Carlos Pereira – É muito provável. Embora esteja muito otimista com o Brasil, estou pessimista com o governo. O governo perdeu consideravelmente seu poder no Congresso, apesar de ser majoritário. Há agora uma bancada de oposição não só numericamente mais forte, mas com figuras aguerridas e maior peso político. Existe também um cenário de explosão do maior escândalo de corrupção de nossa história. Será difícil para o governo escapar de ser chamuscado. O receio é que a mesma polarização das eleições seja reproduzida em 2015, num quadro de paralisia da economia, crescimento da inflação e desemprego.
ÉPOCA – A presidente Dilma Rousseff corre risco de impeachment?
Pereira – Esse risco só se tornará real se evidências concretas relacionarem diretamente Dilma ao petrolão. Um impeachment depende também de condições políticas. Falando de um cenário hipotético, diferentemente de Collor, Dilma tem um partido político com base e inserção social. CUT, MST, sindicatos e movimentos sociais sairão em defesa do governo. Esses grupos irão para a rua e alegarão que isso é um golpe, embora a Constituição brasileira pressuponha o impeachment como uma saída legal, diante de conflitos que envolvem crimes de responsabilidade. Já há manifestações de pequeno porte pelo impeachment. Se evidências surgirem, ocorrerão manifestações maiores. Então, os dois grupos entrarão em conflito.
ÉPOCA – Isso pode trazer grande instabilidade para o país?
Pereira – Seria um grande teste para as instituições democráticas. Até que ponto elas estão suficientemente maduras para segurar um processo de impeachment com grande polarização? Esse cenário tende a se tornar ainda mais complicado, porque o PT gerencia de forma ruim suas coalizões. O PT, tradicionalmente, desde quando Lula assumiu a Presidência, preferiu construir coalizões com número grande de parceiros, muito heterogêneos. Eles não têm uma plataforma comum de ação. É difícil coordenar uma coalizão dessas, e o PT ainda tem optado por não compartilhar poder com os parceiros, numa postura monopolista de concentração de poder. Lula alocou 60% dos 35 ministérios no começo de seu governo nas mãos do PT. Seu principal parceiro, o PMDB, só tinha dois ministérios. Depois, conseguiu ampliar, mas continuou subcompensado. O governo Dilma continuou com uma coalizão grande demais, heterogênea e monopolista. Isso gera tensões e animosidades internas. Aí o governo tem de encontrar outros mecanismos de recompensa para esses parceiros. Agora, nessa situação de vulnerabilidade do governo, o preço desse apoio, principalmente do PMDB, aumentará muito.
ÉPOCA – Mas o PMDB será atingido em cheio pelo petrolão.
Pereira – Por isso mesmo, o preço do apoio aumentará. Para que eles continuem unidos sem risco de quebra. Por quase três semanas, o PMDB fez corpo mole em relação s
à mudança da meta fiscal. Deu um sinal à presidente de que o futuro do governo depende do PMDB. Se ela não percebeu e continuar menosprezando o PMDB e outros parceiros, todos esses atores aumentarão seu poder de barganha, à medida que o governo se fragilizar.
ÉPOCA – Como o senhor acha que o governo reagirá?
Pereira – O governo assumiu uma postura defensiva de transferir responsabilidade. Dilma pegou a bandeira da reforma política para mostrar que a culpa não é do governo, mas do sistema político. O governo também tentará se aproximar cada vez mais da sociedade, com essas saídas plebiscitárias, à medida que, progressivamente, perder apoio no Parlamento e tornar-se refém dos parceiros. É esse cenário bastante negativo que vejo para o governo, mesmo que não surjam vinculações diretas entre Dilma e o petrolão. O governo ficará muito vulnerável, reagindo ao turbilhão de denúncias que não para.
ÉPOCA – No primeiro mandato, a presidente Dilma mostrou quase nenhuma aptidão para esse jogo político com o Congresso.
Pereira – Ela se mostrou, com certeza, uma péssima gerente da coalizão. Criei um índice de custo de governo. Calculei todos os custos que o Executivo tem com seus aliados – com cargos, ministérios e emendas parlamentares no Orçamento, desde 1994 (começo do governo Fernando Henrique Cardoso) até agora. Esse custo vem crescendo exponencialmente. O índice tem três variáveis: tamanho da coalizão, heterogeneidade ideológica e capacidade do governo de compartilhar o poder com os parceiros. O resultado foi claro: quanto maior a coalizão, quanto mais heterogênea ela é e quanto menos poder é compartilhado, maior é o custo de governar. Também dividi a variável custo pelas iniciativas do Executivo aprovadas no Congresso. Na série histórica, o governo mais ineficiente é da Dilma. Ela gasta muito e consegue aprovar o mínimo possível. Se você não gerencia bem a coalizão, não escolhe bem os aliados, não tem uma agenda em comum com eles nem compartilha poder, não adianta gastar mais. Não conseguirá mais apoio.
ÉPOCA – Dilma, no segundo mandato, poderá mudar a gestão política, como deu a entender que mudará na economia?
Pereira – A indicação do Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda não foi um movimento para a coalizão. Foi um movimento para os eleitores. A sociedade ficou dividida nas eleições sobre duas crenças. A primeira, claramente favorável à proteção e à inclusão social, foi encarnada pela candidatura dela. A candidatura de Aécio Neves encarnou fundamentalmente os princípios de equilíbrio macroeconômico. A sociedade queria as duas coisas. Nenhuma das candidaturas ofertou as duas ao mesmo tempo. Por isso, a margem de vitória dela foi tão pequena. Ela sabe disso e que enfrentará um ano difícil. Se não desse um sinal para esse eleitorado perdedor, as condições de governo ficariam piores. A indicação de Levy foi menos uma concessão à gestão da coalizão e mais sinal de sobrevivência política depois de uma eleição muito competitiva. Com relação à gestão da coalizão, espero que ela aprenda com os erros do passado. Mas nada me leva a achar que ela mudará de postura.
ÉPOCA – Por que o senhor está então otimista com o Brasil?
Pereira – Estou otimista com a evolução e a maturidade das instituições, como o Ministério Público, os Tribunais de Contas, a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal. São tantos grupos capazes de identificar malfeitos que mesmo pessoas muito ricas e muito poderosas não são capazes de subornar segmentos dessas instituições de controle. Isso mostra a grande solidez das instituições democráticas.
ÉPOCA – Apesar disso, o petrolão ressuscitou a discussão sobre uma reforma política. Critica-se o presidencialismo de coalizão.
Pereira – Quando o modelo é bem gerido, o custo é baixo. Já tivemos governos anteriores que geriram bem. O governo Fernando Henrique Cardoso montou uma coalizão de apenas quatro parceiros: PSDB, PFL, PTB e PMDB. Os quatro tinham uma agenda parecida de centro-direita, a favor da privatização, do controle inflacionário, da modernização da economia. Todos falavam a mesma linguagem. FHC levou em consideração o peso de cada um desses partidos no Congresso para alocar ministérios e cargos. Isso comprometeu os partidos com seu governo. Com a chegada de Lula e o desrespeito a essa regra de ouro da gestão de coalizão – dividir poder levando em consideração o peso de cada um –, surgiu progressivamente a necessidade de criar moedas de troca heterodoxas. O mensalão foi isso, assim como o petrolão. Esses escândalos de corrupção ocorrem nos governos petistas pelo não entendimento de como funciona o presidencialismo de coalizão. Existe, no âmago do PT, uma dificuldade de entender que é necessário compartilhar poder para que o presidencialismo de coalizão funcione bem. O PT, diferentemente de outras siglas brasileiras, tem muitas facções. Parece muito o partido peronista argentino. Tem vários grupos que funcionam como partidos dentro do PT. O PT prefere ser proporcional com as facções internas e desproporcional com os parceiros externos da coalizão. Só que são os parceiros externos que têm peso político no Congresso. Ao fazer isso, o PT precisa arrumar outras moedas, como o petrolão e o mensalão, para fazê-los felizes. Como há muitos escândalos, a percepção da opinião pública é que há algo de errado no sistema político. O problema é de gestão. Não está no desenho do sistema. Ele tem falhas e precisa de ajustes, mas funciona relativamente bem. Se tivéssemos um grupo político que entendesse melhor o presidencialismo de coalizão, os problemas seriam menores.
ÉPOCA – Teremos uma tempestade perfeita em 2015?
Carlos Pereira – É muito provável. Embora esteja muito otimista com o Brasil, estou pessimista com o governo. O governo perdeu consideravelmente seu poder no Congresso, apesar de ser majoritário. Há agora uma bancada de oposição não só numericamente mais forte, mas com figuras aguerridas e maior peso político. Existe também um cenário de explosão do maior escândalo de corrupção de nossa história. Será difícil para o governo escapar de ser chamuscado. O receio é que a mesma polarização das eleições seja reproduzida em 2015, num quadro de paralisia da economia, crescimento da inflação e desemprego.
ÉPOCA – A presidente Dilma Rousseff corre risco de impeachment?
Pereira – Esse risco só se tornará real se evidências concretas relacionarem diretamente Dilma ao petrolão. Um impeachment depende também de condições políticas. Falando de um cenário hipotético, diferentemente de Collor, Dilma tem um partido político com base e inserção social. CUT, MST, sindicatos e movimentos sociais sairão em defesa do governo. Esses grupos irão para a rua e alegarão que isso é um golpe, embora a Constituição brasileira pressuponha o impeachment como uma saída legal, diante de conflitos que envolvem crimes de responsabilidade. Já há manifestações de pequeno porte pelo impeachment. Se evidências surgirem, ocorrerão manifestações maiores. Então, os dois grupos entrarão em conflito.
ÉPOCA – Isso pode trazer grande instabilidade para o país?
Pereira – Seria um grande teste para as instituições democráticas. Até que ponto elas estão suficientemente maduras para segurar um processo de impeachment com grande polarização? Esse cenário tende a se tornar ainda mais complicado, porque o PT gerencia de forma ruim suas coalizões. O PT, tradicionalmente, desde quando Lula assumiu a Presidência, preferiu construir coalizões com número grande de parceiros, muito heterogêneos. Eles não têm uma plataforma comum de ação. É difícil coordenar uma coalizão dessas, e o PT ainda tem optado por não compartilhar poder com os parceiros, numa postura monopolista de concentração de poder. Lula alocou 60% dos 35 ministérios no começo de seu governo nas mãos do PT. Seu principal parceiro, o PMDB, só tinha dois ministérios. Depois, conseguiu ampliar, mas continuou subcompensado. O governo Dilma continuou com uma coalizão grande demais, heterogênea e monopolista. Isso gera tensões e animosidades internas. Aí o governo tem de encontrar outros mecanismos de recompensa para esses parceiros. Agora, nessa situação de vulnerabilidade do governo, o preço desse apoio, principalmente do PMDB, aumentará muito.
ÉPOCA – Mas o PMDB será atingido em cheio pelo petrolão.
Pereira – Por isso mesmo, o preço do apoio aumentará. Para que eles continuem unidos sem risco de quebra. Por quase três semanas, o PMDB fez corpo mole em relação s
à mudança da meta fiscal. Deu um sinal à presidente de que o futuro do governo depende do PMDB. Se ela não percebeu e continuar menosprezando o PMDB e outros parceiros, todos esses atores aumentarão seu poder de barganha, à medida que o governo se fragilizar.
ÉPOCA – Como o senhor acha que o governo reagirá?
Pereira – O governo assumiu uma postura defensiva de transferir responsabilidade. Dilma pegou a bandeira da reforma política para mostrar que a culpa não é do governo, mas do sistema político. O governo também tentará se aproximar cada vez mais da sociedade, com essas saídas plebiscitárias, à medida que, progressivamente, perder apoio no Parlamento e tornar-se refém dos parceiros. É esse cenário bastante negativo que vejo para o governo, mesmo que não surjam vinculações diretas entre Dilma e o petrolão. O governo ficará muito vulnerável, reagindo ao turbilhão de denúncias que não para.
ÉPOCA – No primeiro mandato, a presidente Dilma mostrou quase nenhuma aptidão para esse jogo político com o Congresso.
Pereira – Ela se mostrou, com certeza, uma péssima gerente da coalizão. Criei um índice de custo de governo. Calculei todos os custos que o Executivo tem com seus aliados – com cargos, ministérios e emendas parlamentares no Orçamento, desde 1994 (começo do governo Fernando Henrique Cardoso) até agora. Esse custo vem crescendo exponencialmente. O índice tem três variáveis: tamanho da coalizão, heterogeneidade ideológica e capacidade do governo de compartilhar o poder com os parceiros. O resultado foi claro: quanto maior a coalizão, quanto mais heterogênea ela é e quanto menos poder é compartilhado, maior é o custo de governar. Também dividi a variável custo pelas iniciativas do Executivo aprovadas no Congresso. Na série histórica, o governo mais ineficiente é da Dilma. Ela gasta muito e consegue aprovar o mínimo possível. Se você não gerencia bem a coalizão, não escolhe bem os aliados, não tem uma agenda em comum com eles nem compartilha poder, não adianta gastar mais. Não conseguirá mais apoio.
ÉPOCA – Dilma, no segundo mandato, poderá mudar a gestão política, como deu a entender que mudará na economia?
Pereira – A indicação do Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda não foi um movimento para a coalizão. Foi um movimento para os eleitores. A sociedade ficou dividida nas eleições sobre duas crenças. A primeira, claramente favorável à proteção e à inclusão social, foi encarnada pela candidatura dela. A candidatura de Aécio Neves encarnou fundamentalmente os princípios de equilíbrio macroeconômico. A sociedade queria as duas coisas. Nenhuma das candidaturas ofertou as duas ao mesmo tempo. Por isso, a margem de vitória dela foi tão pequena. Ela sabe disso e que enfrentará um ano difícil. Se não desse um sinal para esse eleitorado perdedor, as condições de governo ficariam piores. A indicação de Levy foi menos uma concessão à gestão da coalizão e mais sinal de sobrevivência política depois de uma eleição muito competitiva. Com relação à gestão da coalizão, espero que ela aprenda com os erros do passado. Mas nada me leva a achar que ela mudará de postura.
ÉPOCA – Por que o senhor está então otimista com o Brasil?
Pereira – Estou otimista com a evolução e a maturidade das instituições, como o Ministério Público, os Tribunais de Contas, a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal. São tantos grupos capazes de identificar malfeitos que mesmo pessoas muito ricas e muito poderosas não são capazes de subornar segmentos dessas instituições de controle. Isso mostra a grande solidez das instituições democráticas.
ÉPOCA – Apesar disso, o petrolão ressuscitou a discussão sobre uma reforma política. Critica-se o presidencialismo de coalizão.
Pereira – Quando o modelo é bem gerido, o custo é baixo. Já tivemos governos anteriores que geriram bem. O governo Fernando Henrique Cardoso montou uma coalizão de apenas quatro parceiros: PSDB, PFL, PTB e PMDB. Os quatro tinham uma agenda parecida de centro-direita, a favor da privatização, do controle inflacionário, da modernização da economia. Todos falavam a mesma linguagem. FHC levou em consideração o peso de cada um desses partidos no Congresso para alocar ministérios e cargos. Isso comprometeu os partidos com seu governo. Com a chegada de Lula e o desrespeito a essa regra de ouro da gestão de coalizão – dividir poder levando em consideração o peso de cada um –, surgiu progressivamente a necessidade de criar moedas de troca heterodoxas. O mensalão foi isso, assim como o petrolão. Esses escândalos de corrupção ocorrem nos governos petistas pelo não entendimento de como funciona o presidencialismo de coalizão. Existe, no âmago do PT, uma dificuldade de entender que é necessário compartilhar poder para que o presidencialismo de coalizão funcione bem. O PT, diferentemente de outras siglas brasileiras, tem muitas facções. Parece muito o partido peronista argentino. Tem vários grupos que funcionam como partidos dentro do PT. O PT prefere ser proporcional com as facções internas e desproporcional com os parceiros externos da coalizão. Só que são os parceiros externos que têm peso político no Congresso. Ao fazer isso, o PT precisa arrumar outras moedas, como o petrolão e o mensalão, para fazê-los felizes. Como há muitos escândalos, a percepção da opinião pública é que há algo de errado no sistema político. O problema é de gestão. Não está no desenho do sistema. Ele tem falhas e precisa de ajustes, mas funciona relativamente bem. Se tivéssemos um grupo político que entendesse melhor o presidencialismo de coalizão, os problemas seriam menores.
Fonte: Revista Época
Por Guilherme Evelin
domingo, 21 de dezembro de 2014
Entregando os filhos aos abutres
Talvez alguém possa pensar que este tema seja forte demais. Entretanto, é aquilo que muitos pais estão fazendo, entregando seus filhos aos abutres. Não se pode ter uma visão irreal da realidade em que vivemos. Entregar os próprios filhos aos abutres é uma covardia. Assim sendo, é preciso saber em quais circunstâncias isso ocorre. Veja abaixo:
1. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de ensiná-los.
“Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões”. Dt 6.7-9-NVI
- Ensinar aos filhos os princípios de Deus é um antídoto contra os abutres.
2. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de atentar para as amizades de seus filhos.
“O homem honesto é cauteloso em suas amizadeshttp:/, mas o caminho dos ímpios os leva a perder-se”. Pv 12.26-NVI
- Verificar quem são os amigos de seus filhos é um antídoto contra os abutres.
3. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de dar exemplo.
"Em tudo seja você mesmo um exemplo...”. Tt 2.7-NVI
"O homem justo leva uma vida íntegra; como são felizes os seus filhos!" Pv 20.7-NVI
- Ser exemplo para os filhos é um antídoto contra os abutres.
4. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de lado os valores da Palavra de Deus.
“Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que vivem conforme a lei do SENHOR!” Sl 119.1-NVI
- Sinalizar para os filhos os valores da Palavra de Deus é um antídoto contra os abutres.
5. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de corrigir seus filhos.
"Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá”. Pv 23.13-NVI
"Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor”. Ef 6.4-NVI
- Corrigir os filhos sempre que for necessário é um antídoto contra os abutres.
6. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam seus filhos tomarem decisões que ainda não poderiam fazê-lo sozinhos.
“Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar”. Dt 6.7-NVI
- Decidir pelos filhos quando estes ainda são imaturos é um antídoto contra os abutres.
7. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de dizer não.
- Dizer não para os filhos em alguns momentos é um antídoto contra os abutres.
8. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de dizer a verdade aos seus filhos.
“Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade”. Sl 15.2-NVI
- Falar a verdade aos filhos é um antídoto contra os abutres.
9. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam que eles amem mais o mundo que a Deus.
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Rm 12.2-NVI
- Proteger os filhos dos valores deste mundo é um antídoto contra os abutres.
10. Os pais entregam seus filhos aos abutres quando deixam de notar que existe uma luta espiritual.
“Pois a nossa luta não é contra seres humanoshttp:/, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais”. Ef 6.12-NVI
- Atentar para a realidade do combate espiritual é um antídoto contra os abutres.
Os abutres são uma realidade que não devem ser ignorados. Lembre-se de que seus filhos são herança de Deus. São presentes de Deus. Assim, cuide para que eles não sejam entregues aos abutres.
Pr Evaldo Rocha
Quando falta disciplina na família
Não existe curso de doutorado em paternidade. Grandes homens fracassaram rotundamente nesse sublime, mas árduo ministério. Um clássico exemplo dessa realidade é o sacerdote Eli. Diz a Escritura que seus filhos eram filhos de Belial e não se importavam com o Senhor (1Sm 2.12). Eli foi juiz e sacerdote de Israel por quarenta anos. Era um homem de Deus, que tinha discernimento das coisas espirituais. Em seu longo ministério, certamente cuidou de milhares de famílias e aconselhou muitos filhos a honrarem seus pais e a obedecerem a Deus. Porém, Eli deixou de disciplinar seus próprios filhos.
Hofni e Finéas, cresceram dentro da casa de Deus. Desde cedo se acostumaram com o culto divino e com as ofertas trazidas pelo povo. A casa deles estava encharcada da presença do sagrado. Entretanto, esses jovens prevaricaram e tornaram-se culpáveis diante de Deus. Viveram em excessos. Tornaram-se adúlteros, blasfemos e insolentes. Perderam completamente o temor de Deus. Corromperam o sacerdócio. Profanaram a casa de Deus. Mancharam suas vestes. Tornaram-se falsos pastores.
O povo todo via os escândalos promovidos por Hofni e Finéas, que embora casados, eram infiéis a Deus, ao cônjuge e ao povo. Os comentários deprimentes acerca do mau exemplo dos filhos de Eli chegavam a ele, mas este amava mais a seus filhos do que a Deus e não os disciplinava com o rigor necessário. Eli foi alertado várias vezes, mas não teve fibra para corrigir seus filhos. Finalmente, Deus usou o jovem Samuel para comunicar a sentença de morte à casa de Eli. Nem assim, ele reagiu. Ao contrário, aceitou passivamente a decretação da derrota em sua casa.
Eli tornou-se um pai complacente, bonachão e conivente com o pecado de seus filhos. Por causa do pecado deles, mais de trinta mil pessoas foram mortas no campo de batalha, a arca da aliança, símbolo da presença de Deus, foi roubada e eles foram mortos. O próprio Eli morreu ao saber das más notícias. Também morreu sua nora, a mulher de Hofni, ao dar à luz a Icabode, uma evidência de que a glória de Deus havia se apartado deles.
A família do sacerdote Eli é um alerta para nós. O amor responsável disciplina e estabelece limites. Não ama suficientemente os filhos, os pais que os poupam de confronto firme e de disciplina amorosa. Os pais ensinam os filhos com exemplo, admoestam os filhos com a palavra de Deus e os disciplinam com temor e reverência. Se você pai, ama seus filhos, ouse discipliná-los. É melhor ver os filhos chorando agora, do que sofrendo as consequências de seus pecados por toda a eternidade. É melhor o desconforto do confronto sincero do que o aparente conforto da omissão covarde. Que Deus nos ajude a termos famílias piedosas. Que a nossa maior alegria seja ver os nossos filhos andando na verdade!
Por Rev. Hernandes Dias Lopes
Que parte da mensagem de Natal você não entendeu?
Você se lembra quando foi a última vez em que foi presenteado ou presenteou alguém? Provavelmente sim, pois o ato de dar e receber presentes gera um memorável sentimento de muita alegria em nós.
Além da alegria mutua que é gerada, damos presente com a finalidade de se suprir uma necessidade do outro. Isso explica a tendencia que temos de escolher, como presente, coisas que as pessoas ainda não tenham.
Claro que existem aqueles casos onde o indivíduo presenteia com a intenção única de receber algo em troca. A ideia é que, quanto mais caro for o agrado, maior será o favor retribuído. Isso, porém, é a compra do favor alheio e não o ato de se presentear sem a expectativa de receber nada em troca.
Entre todas as celebrações o Natal é o momento em que mais trocamos presentes uns com os outros. Porém esta celebração tem perdido o seu real propósito. Muitos pensam que o Natal é uma simples data reservada para se trocar presentes, quando na verdade é uma celebração de gratidão.
Deus nos presenteou com o que mais precisávamos para sermos felizes eternamente e é por isso que comemoramos o Natal. Mas que presente é esse? A resposta para essa pergunta está em Mateus 1:18-25, passagem que conta o nascimento de Jesus Cristo, o maior presente de Deus ao mundo. Vejamos porquê.
Primeiro, Jesus foi protegido como um presente (vs. 18-20)
Você possui o hábito de embrulhar os presentes e envolvê-los em um lanço antes de entregá-los? Muitos fazem assim, pois querem valorizar e proteger o presente para que nada venha a danificá-lo até o dia da entrega.
Deus também antes de entregar o melhor presente ao mundo o protegeu, claro que não em um embrulho! Cristo por não nascer pronto para iniciar a sua obra aqui na Terra teve a proteção e os cuidado de Maria e José até chegar a idade adulta. Pais escolhidos para guardar Jesus, não porque eram divindades, mas por serem tementes e direitos aos olhos de Deus.
Se Deus estivesse em busca de um casal hoje, ainda encontraria um homem e mulher tementes e prontos para defender o nosso Senhor? Sabendo que Cristo é o melhor presente ao mundo, como temos o defendido? O Cristão deve ter convicção de sua crença, compartilhar a sua fé e defendê-la contra hereias ou ataques aos seus filhos na fé.
Segundo, Jesus foi prometido como um presente (vs. 21-23)
Levei minha filha recentemente a um Shopping Center e já na entrada ela viu um Papai Noel. Sem perder tempo, ela correu para lhe fazer um pedido. Como é de praxe, o Papai Noel lhe prometeu entregar o presente solicitado no Natal. A questão é que, após alguns minutos, ela viu a boneca solicitada ao bom velhinho numa vitrine e me fez o mesmo pedido. Com 7 anos de idade, ela não acredita mais no Papai Noel.
O que há de errado com a minha filha que não acredita nas promessas de um senhor que parece ser tão confiável? Ela reflete a mesma atitude que temos como adultos, pois duvidamos da promessas que nos são feitas já que muitas não são cumpridas. Políticos, por exemplo, vivem prometendo, mas nem sempre estas promessas são cumpridas.
José, por outro lado, acreditou na promessa que lhe foi feita, pois ela havia sido feita não pelo Papai Noel ou por um político, mas por um anjo e profeta do Senhor, nosso Deus. Se Deus promete, Ele cumpri!
Em quem você deposita a sua fé? Em Deus, que prometeu e cumpriu a promessa de enviar o seu filho Jesus Cristo para nos perdoar e reconciliar, ou, em nas promessas humanas como as do Papai Noel?
Terceiro, Jesus foi aguardado como um presente (vs. 24 e 25)
Alguns pais, quando compram os presentes de Natal aos seus filhos, dizem a eles que os presentes só poderão ser abertos no dia 25 de dezembro. Isso deve algo terrível para as crianças, pois ficar olhando o embrulho do presente, tão esperado e não poder abri-lo até a data certa, deve gerar uma tremenda ansiedade.
José e Maria passaram por um momento semelhante, pois aguardaram nove meses seu melhor presente chegar. José, por exemplo, não teve intimidade com Maria esperando pacientemente o nascimento de Cristo.
Hoje muitos aguardam, não o nascimento, mas o retorno de Jesus. Por outro lado, muitos não esperam a volta de Cristo. Pessoas que preferem aguardar, ano após ano, um ser fictício de barba branca. Pessoas que se esquecem que, Cristo nasceu para ser o nosso salvador, mas que voltará com um outro propósito, o de julgar. Você está preparado para esse retorno de Jesus?
Conclusão
Todos nós, pecadores, estávamos longe de Deus, mas Cristo nos reconciliou e hoje Deus está conosco (Emanuel). Nós merecíamos a morte eterna, mas Deus nos deu Jesus como presente que morreu em nosso lugar nos justificando. Devemos então colocar Cristo novamente no Natal, pois ele é a única razão dessa comemoração. Charles Spurgeon, dizia que: “Cristo não é glorificado porque ele nasceu numa manjedoura, mas, porque ele nasce num coração quebrantado”. Se o seu coração foi quebrantado pelo Espírito Santo de Deus, por meio deste texto, receba o presente que foi protegido, prometido e aguardado por amor a você. Jesus Cristo, o melhor presente de Deus ao mundo.
Por Alessandro Brito
sábado, 20 de dezembro de 2014
Dilma alopra assessores e PT convoca militância profissional
Marco Aurélio Mello, ministro da primeira turma do Supremo Tribunal Federal, que não tratará da Lava Jato, comentou ontem que, como cidadão, está “muito curioso em saber o que tem dentro desse embrulho”. Todo cidadão honesto está aguardando a demorada divulgação dos nomes dos políticos em um dos maiores escândalos de corrupção do mundo. Independentemente de quem for denunciado, ou ficar providencialmente de fora, por inexplicável blindagem criminosa, o fato gravíssimo é que as maiores estatais (não só a Petrobras) ficaram a serviço de uma base partidária que rouba bilhões e destrói a reputação das empresas que deveriam ser orgulho da Nação.
O pavor no governo chegou ao ápice com o depoimento oficial ao Minstério Público Federal de uma das pessoas mais íntimas do delator premiado Paulo Roberto Costa. A geóloga Venina Velosa Fonseca causou pânico com a entrega de um computador repleto de provas sobre os escândalos na Petrobras. A tensão é tanta que Dilma Rousseff deu ordens para que seus assessores mais próximos não se afastem da capital federal. No Palácio do Planalto, circulam informes seguros de que os nomes da Presidenta e do ex-Presidente Lula da Silva podem ser seriamente envolvidos na Lava Jato. Além disso, o medo real de ocorrer algum incidente grave que impeça a posse levou o acuado PT a fretar mais de dois mil ônibus para levar militantes profissionais até Brasília.
A divulgação pelo Estadão de uma lista de 28 nomes de políticos citados por Paulo Roberto Costa causou um rebuceteio no Governo do Crime Organizado. Como de costume, todos os listados reagiram com indignação e negaram qualquer envolvimento nas falcatruas entre a Petrobras e empreiteiras. As negativas, no entanto, podem valer de nada, na hora que forem apresentadas provas de verdade. Mesmo trabalhando durante o recesso forense, em janeiro, a força tarefa da Procuradoria Geral de República que cuida da Lava Jato só deverá apresentar os pedidos de inquérito a partir de fevereiro, quando os ministros do STF voltam ao trabalho e parlamentares tomam posse - e muitos outros deputados e senadores indiciáveis, sem mandato eletivo, perdem o direito ao absurdo foro privilegiado. Como o suspense deve durar mais de um mês, este é o tempo com que os bandidos contam para costurar sua impunidade.
O procedimento judicial será simples. As denúncias contra pessoas sem foro privilegiado serão enviadas para a primeira instância da Justiça Federal. Os processos que envolvem governadores ainda no cargo vão para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal vai receber as denúncias contra deputados e senadores com cargo eletivo. Arquivar o caso ou aceitar a abertura de ação penal será uma decisão dos ministros Teori Zavascki (relator), Celso de Mello, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski. Falta um supremo magistrado, ainda a ser indicado por Dilma para a vaga aberta pela aposentadoria forçada de Joaquim Barbosa, para completar o time que julgará a Lava Jato.
Foi esta mesma segunda turma do STF quem decidiu, nesta semana que acaba, de forma unânime, que foram ilegais as provas obtidas na sede do Banco Opportunity contra o empresário Daniel Valente Dantas, investigado pelas operações Satiagraha e Chacal, da Polícia Federal. Ainda cabe recurso, mas dificilmente o habeas corpus será derrubado. A defesa de Dantas, que responde por crimes financeiros, alegou que dados de um disco rígido da instituição financeira foram copiados sem ordem judicial específica. A decisão confirma que, no STF, tudo pode acontecer.
Nos bastidores dos podres poderes da federação de mentirinha, uma tese se consolida: pela quantidade de provas materiais legalmente geradas pela transação penal, nas colaborações premiadas de indiciados e nos acordos de leniência firmados por empresas, será praticamente impossível que não se chegue à verdadeira cúpula de chefões da Lava Jato, envolvendo nomes dos mais altos escalões da republiqueta de Bruzundanga. Na avaliação de políticos, magistrados, procuradores e lobistas é apenas uma questão de tempo para se atingir o núcleo duro da organização criminosa.
Quando isto acontecer, o que virá depois só Deus sabe...
Por Jorge Serrão
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