sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Um país de acomodados



Por Carlos Chagas

A economia vai mal, o futebol também. O dólar chegou a patamares há muito não alcançados. A bolsa de valores caiu, o desemprego é uma realidade. Pela primeira vez em muitos anos o FMI volta a censurar o Brasil. O custo de vida aumenta sempre que visitamos as prateleiras dos supermercados, enquanto os serviços públicos vão de mal a pior. Das promessas do governo, nem a metade foi cumprida, com ênfase para as obras do PAC. Em matéria de segurança pública, basta atentar para o predomínio do crime organizado. E do desorganizado, também.

Santa Catarina orgulhava-se de ser um oásis de tranqüilidade, hoje está entregue à baderna engendrada de dentro dos presídios. As filas aumentam nos hospitais públicos, sem o mínimo atendimento digno. Nas escolas, o tal tempo integral resume-se a deixar as crianças jogando bola nos terrenos vizinhos, sem as anunciadas cinco refeições diárias. Da corrupção, melhor calar, agora que até o chefe da quadrilha da roubalheira na Petrobras acaba de ir para casa. Dos mensaleiros condenados a vastas penas de prisão, cinco já se encontram fora das grades, aguardando-se mais dois até o fim do ano.

Por que diabos, então, Dilma cresce nas pesquisas, Marina cai e Aécio conforma-se em ficar fora do segundo turno? Estarão os institutos de consultas eleitorais perdidos e atrapalhados, ou o eleitorado prefere, em maioria, ficar de fora, como se tudo não lhe dissesse respeito? Dirão os sociólogos ser essa a resposta do andar de baixo, majoritário, em sinal de desprezo pelo andar de cima.

A verdade é que se não surgirem surpresas monumentais na votação de domingo, e na outra, do dia 26, o país terá demonstrado estar satisfeito com o governo que tem. Sempre haverá o raciocínio de que tendo ficado ruim a véspera, o dia seguinte poderia ficar pior.


Madre superiora

Será necessário, porém, prospectar mais fundo. Dilma deverá reeleger-se em função de sua postura autoritária, prepotente e irascível? Estaria o país satisfeito em assistir a Madre Superiora do convento enquadrando as feirinhas e obrigando-as a permanecer ajoelhadas, rezando seu catecismo? A atual presidente carece de potencial para tanto, apesar de suas tentativas, mas representa esse papel.

Devemos buscar as razões do segundo mandato, caso não irrompa uma alteração despercebida dos doutos pesquisadores, na índole egoísta da maioria da população. Os empresários protestam, estrilam e reivindicam, mas ajeitam-se para continuar a viver nessa situação sofrível. A classe média sofre cada vez mais, ainda que tentando conservar suas ilusórias conquistas, por isso permanecendo insossa e inodora. O proletariado urbano troca a indignação pela falta de coragem para exigir mais direitos, com medo de cair dos patamares já alcançados. Assim estão as instituições nacionais: acomodadas. Acovardadas diante da hipótese de mudanças capazes de mudar suas vidas, que ninguém, aliás, define como seriam.

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