No mesmo dia em que os depoimentos do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef eram divulgados (quinta-feira, 9), o ex-presidente Lula desabafava, numa plenária do PT: “Eu já estou de saco cheio”.
Referia-se naturalmente às denúncias de corrupção, que envolvem seu partido e a ele próprio. E acrescentava: “Nenhum petista pode aceitar que um tucano bicudo o chame de corrupto”.
Além de supor que a hipótese (não demonstrada) de o adversário habitar o mesmo chiqueiro o isentaria, Lula se esqueceu de que nenhuma das denúncias que “enchem o seu saco” partiu de tucanos. Esses sempre foram exageradamente polidos na questão. Coube a FHC, ao tempo do Mensalão, esvaziar a campanha do impeachment. Lula, de certa forma, deve-lhe o mandato.
Quem denunciou o Mensalão foi um então aliado do governo Lula, o deputado Roberto Jefferson, que presidia o PTB. E quem está trazendo à tona o escândalo da Petrobrás é Paulo Roberto Costa, nomeado pelo próprio Lula diretor de Abastecimento e Refino daquela empresa. Dilma diz que não gostava dele, mas o incluiu numa seleta lista de convidados ao casamento de sua filha.
Não se trata, porém, de cuidar de afinidades, mas dos fatos. E esses tendem a continuar a “encher o saco” de Lula. O que veio a público dos depoimentos de Paulinho (forma carinhosa com que Lula o tratava) e Beto (outro apelido afetivo que indica intimidade) é só a ponta do iceberg. Vejamos.
Eles não puderam nominar os agentes públicos de escalão superior, aos quais fazem menção em diversas partes do depoimento, em face do benefício do foro privilegiado, que confere essa prerrogativa ao Supremo Tribunal Federal.
Governadores, ministros, parlamentares e presidente (e ex) da República só podem ser julgados pelo STF. Mas o STF já acatou as denúncias, o que indica que estão fundamentadas. Se não estivessem, seriam rejeitadas.
Acresce que Paulinho e Beto não estão blefando ou estariam jogando contra o próprio destino. Se a delação premiada for furada eles aumentarão suas já de si robustas penas. Alguém numa situação-limite dessas não ousa blefar. A delação premiada, convém lembrar, parte de uma confissão: o delator se reconhece como infrator. Portanto tudo o que diz tem alguma credibilidade, que nem por isso deixa de ser rigorosamente conferida.
A expectativa agora é quanto aos nomes “de cima”. Já se sabe como funcionava o esquema, quais partidos dele se beneficiaram, quanto ganharam e quais empresas privadas foram parceiras. Já não há dúvida de que uma quadrilha lesou a Petrobras por no mínimo seis anos (2006-2012), no reinado do PT.
Resta conhecer os chefes da quadrilha. Não é um momento confortável para a candidatura de Dilma Roussef, que, no entanto, no primeiro programa eleitoral do segundo turno, comprometeu-se a “continuar” combatendo (“ainda mais”) a corrupção. É no mínimo uma conflito existencial, em que o PT combate a corrupção que ele mesmo pratica. No caso específico da Petrobras, sabotou duas CPIs.
A primeira tentativa, ainda no governo Lula, provocou uma passeata anti-CPI, comandada no Rio pela UNE. O PT, que, nas palavras de Lula, vivia repetindo, ao tempo em que era oposição, que “quanto mais CPI, melhor”, tornou-se inimigo delas.
Há hoje duas CPIs em funcionamento para investigar a Petrobras: uma no Senado e outra, mista (Câmara e Senado). A primeira é chapa-branca e, em vez de investigar, esmera-se em desmontar tentativas de investigação. A segunda peleja com a má vontade do PT e do governo para levar avante os trabalhos.
Foi preciso que gente “do esquema” – Paulinho e Beto – entrasse em cena, em situação-limite, para que a colossal maracutaia começasse a ser desvendada. Os tucanos só agora parecem ter despertado para a necessidade de não assistir passivamente a mais um estupro aos cofres públicos.
Enquanto tudo isso ocorre, Dilma e Lula insistem em falar em nome dos pobres. Se Paulinho, sozinho – mero operador do esquema -, amealhou, numa única conta bancária, 23 milhões de dólares (mais de 55 milhões de reais), quanto terá ganho o “pessoal de cima”? O país, sim, está de saco cheio dessa conversa fiada de defensores dos pobres, vítimas da elite opressora.
Por Ruy Fabiano
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