sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Governo "maquia" as contas descaradamente para Dilma vencer
Por Carlos Newton
É inacreditável, inaceitável e imperdoável. Na reta de chegada das eleições gerais, o governo federal volta a “maquiar” as contas públicas para simular um bom desempenho administrativo, tentando ocultar a grave crise econômica, sem solução a curto prazo.
Essa prática da “maquiagem” das contas públicas parece ter se tornado a maior especialidade do ainda ministro Guido Mantega, da Fazenda, que já está “demitido” publicamente pela presidente Dilma Rousseff (“Governo novo, equipe nova”), mas continua vagando pela Esplanada dos Ministérios, como um zumbi virtual, sem lenço, sem documento e sem destino.
Professor da Universidade de Campinas, Mantega chegou a ser um economista de destaque. Começou no governo Lula como ministro do Planejamento, depois substituiu Carlos Lessa na presidência do BNDES e acabou se tornando ministro da Fazenda em março de 2006, quando Antonio Palocci foi derrubado pelas inconfidências do caseiro Francenildo.
Rei da maquiagem
Mantega pegou a chefia da equipe econômica num momento superfavorável e aproveitou a onda. Quando a festa acabou no início da gestão de Dilma Rouseff e o governo teve de encarar a realidade dos fatos, Mantega passou a abusar cada vez mais da maquiagem dos números. Revelou-se um mestre no assunto, mas acontece que o Brasil não é um país tão atrasado assim e tem um número enorme de economistas que percebem essas manobras com a maior facilidade.
Assim, de maquiagem em maquiagem, Mantega foi-se desmoralizando progressivamente. Julgou que ficaria na História com o ministro que mais tempo permaneceu à frente da economia brasileira, mas na verdade somente será lembrado como o ministro dos “Pibinhos” e da maquiagem à la carte.
Agora, na reta final da eleição geral, oportuna reportagem de Martha Beck, em O Globo, mostra que o governo vem enfrentando dificuldades para fechar as contas devido ao fraco desempenho da economia, o que prejudicou a arrecadação. Este ano, o compromisso de Mantega é realizar um superávit primário de R$ 99 bilhões, ou 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). No entanto, até julho essa poupança estava em apenas R$ 24,7 bilhões. O jeito então é reforçar a maquiagem…
Conta de chegar…
Para proteger a presidente que já o demitiu publicamente, Mantega está superestimando descaradamente as receitas, omitindo despesas que precisam ser pagas este ano, subestimando o déficit da Previdência Social e manipulando outros indicativos.
A repórter Martha Beck mostra que a avaliação de receitas e despesas da União no relatório é uma peça de ficção. Nos gastos “omitidos”, há R$ 1,9 bilhão relativos ao repasse que a União faz aos estados como compensação da Lei Kandir, que isenta de ICMS as exportações de produtos primário e semiindustrializados. Outros R$ 500 milhões omitidos são parte do pagamento que o Tesouro Nacional deveria fazer ao FGTS pelo recolhimento da multa de 10% que é paga pelas empresas em casos de demissão sem justa causa.
Mais um milagre financeiro ocorre com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), cujas despesas previstas para o ano foram reduzidas em R$ 4 bilhões, de R$ 13 bilhões para R$ 9 bilhões, embora o quadro do setor elétrico continue cada vez mais sombrio em função da falta de chuvas.
As maquiagens não param e abrangem também as receitas. Os royalties do petróleo, por exemplo, estão inflados para fechar o anos em R$ 47,9 bilhões, mas até agosto só entraram R$ 27,8 bilhões. Na verdade, é impossível arrecadar royalties de R$ 20 bilhões em quatro meses. Qualquer idiota percebe isso.
Parece que desta vez Mantega carregou demais na maquiagem e perdeu até o senso do ridículo.
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