O grave momento político atual causa profunda desilusão e revolta na maioria silenciosa do povo brasileiro. A cada dia surgem notícias de novos escândalos, novos envolvimentos de autoridades, mentiras, violência. Os protestos nas redes sociais, na mídia e nas ruas não são considerados pelos governantes, pelos partidos e pelos políticos. O Brasil assiste, impotente e irado, o espetáculo imoral de grupelhos usando, ilegitimamente, suas posições institucionais para preservar o poder e a riqueza acumulada de forma corrupta, sem se preocuparem com o bem estar e o progresso da nação.
A solução para a crise que enfrentamos passa, necessariamente, pela solidariedade do povo ofendido para com o ideal da promoção do bem comum. No entanto Brasil está cada vez mais despossuído de sonhos, esgarçado nas suas ligações afetivas, perdidos pela desconfiança generalizada que cada cidadão nutre pelos outros. O povo só reage às freqüentes noticias de desgoverno e de corrupção ou com o deboche que a nada conduz, ou com o ódio crescente que a tudo pode vir a destruir.
Com o fracasso e o desaparecimento dos partidos políticos, restaria a esperança de lideranças esclarecedoras da situação e aglutinadoras da nação em torno de um projeto de país livre e justo, tais como fizeram os grandes nomes da nacionalidade, em um passado recente: Franco Montoro, Tancredo Neves, Juscelino Kubitheck, Getulio Vargas. Onde estão se escondendo os seus sucessores?
Na ausência de partidos, de lideranças, de idéias norteadoras de ações, estamos nos encaminhando, celeremente, para o caos.
É moralmente legitimo que um eleitorado, humilhado e enganado por um governo e um partido político, exija a imediata substituição dos que os enganaram e roubaram. Isto não é “golpe” como querem alguns – é o resultado da reflexão por parte do povo e do que resta de suas autenticas lideranças locais, dispersos no anonimato das pessoas envergonhadas e sofridas, que pretendem usar os instrumentos legítimos e legais, oferecidos pela Constituição, que prevê punição e substituição de maus governantes.
O Brasil real está parando com cada vez mais desempregados, inflação em alta, produção em baixa, investimentos insuficientes, a confiança se esvaindo pelos desvãos da nefanda prática política. Levaremos anos para recuperar a destruição praticada.
Estamos a um passo de uma explosão de revolta radical e justo protesto de uma população que, mais dia menos dia, vai reagir. Os atuais governantes e políticos que atuam na área federal, deveriam começar a correr – todos. O povo quer uma substituição radical – saiam, pois todos são, de alguma maneira, culpados pelo estado de anarquia a que chegamos.
É preciso pensar em opções para a crise, como é o caso prioritário de necessárias novas eleições gerais, comandadas pelo Supremo Tribunal Federal. Acossados pelo clamor popular, reunindo o que resta da dignidade que talvez ainda possuam, ou pelo medo físico de uma população furiosa, este Congresso que aí está trataria de votar, antes de se auto-extinguir, com a máxima urgência, uma decente reforma política prévia, sem financiamento privado das campanhas, com clausulas que indiquem as condições honestas para a criação de novos partidos com expressão nacional, já que os atuais deverão ser extintos.
Já se fez muitas análises, já se falou e se escreveu demais, temos as informações necessárias, possuímos mulheres e homens capacitados, patriotas, honestos, prontos para contribuírem para o soerguimento nacional – basta que lhes seja oferecida uma oportunidade. Sabemos da roubalheira, sabemos das intenções de instauração de formas de poder incompatíveis com as tradições democráticas do Brasil, sabemos dos conchavos, das meias verdades, mas poderemos conhecer, também, quem são as pessoas confiáveis, dignas e competentes, em quem se pode votar neste momento de recuperação da dignidade nacional – caras novas.
Chega de incompetência e de corrupção. Basta de canalhas dirigindo os destinos do Brasil. Não queremos e não podemos mais admitir este estado de anarquia nacional.
Por Eurico Borba
Escritor, ex-professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE.
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