Pelo menos 200 cidades do país estão organizadas para os protestos de hoje, fazendo prever milhões de cidadãos nas ruas demonstrando explícita discordância diante do modelo econômico e político que nos assola. Dentro da rotina adotada faz muito, haverá fulanização, com a presidente Dilma Rousseff ocupando a pole-position, mas com direito à execração de outros personagens, do Lula a Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Fernando Collor e muitos outros.
O Brasil apresentará sua irritação e indignação por conta da roubalheira generalizada na administração pública e privada, do aumento do custo de vida, dos impostos e tarifas, do desemprego, da falência dos serviços que o Estado deveria proporcionar, da redução de direitos trabalhistas e da leniência com que o governo age frente à corrupção. Com os excessos de sempre, a manifestação deverá ser pacífica, marcada pela presença das famílias nas ruas de grandes e pequenas cidades. Não se trata da rebelião das massas, muito menos da revolução. Será um grito de “basta!”, “chega!”, “não dá mais para aguentar!”
Durante a ditadura militar, a panela de pressão custou a explodir, chegando ao clímax com a campanha das “diretas já”, que significou muito mais do que o anseio de o povo votar para presidente da República, senão de que a sociedade não aguentava mais a sucessão de generais-presidentes e suas imposições. Agora, na democratização, muitos anos transcorreram até que emergisse o protesto generalizado.
Em todo o país será ouvido o grito de “fora Dilma!”, ainda que na realidade trate-se da rejeição de valores bem acima de julgamentos e críticas sobre pessoas. É o modelo que se esgotou. Aquilo que Madame representa, tanto quanto representavam os presidentes militares. Apesar da diferença fundamental de concepções e posturas dos dois regimes, o produto final é o mesmo: a população não aguenta mais.
Salvo engano, o significado dos protestos de hoje não levará à ruptura imediata das instituições, da mesma forma como a emenda Dante de Oliveira foi derrotada no Congresso, transcorrendo pouco mais de três anos para a eleição direta de presidente da República. Sempre a prática poderá ser desmentida e inusitados acontecerem de pronto, mas as indicações são de que Dilma não vai cair logo depois dos panelaços deste domingo, assim como o general Figueiredo custou a deixar o poder. Encontra-se, porém, sentenciado o modelo vigente. O governo dos trabalhadores deixou de ser governo e, muito menos, dos trabalhadores. Transformou-se em pousada das elites, dos empreiteiros, da corrupção e da impotência em atender as reivindicações nacionais. A irritação e a indignação seguirão seu curso.
Por Carlos Chagas
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