quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Cuidado! Seja honesto!


Para o brasileiro decente, que vive do suor (bíblico) de seu rosto e paga seus impostos, acordar a cada quinta ou sexta-feira com mais uma fase da Operação Lava Jato se tornou uma pequena grande recompensa, uma espécie de homenagem tardia que o Estado rende à honestidade.
As cenas dos agentes da PF efetuando as prisões e as entrevistas dos procuradores-ninjas explicando as investigações são um bálsamo para os cidadãos que se consideram os otários da República, dada a histórica impunidade usufruída por quem rouba para esconder fortunas na Suíça ou construir piscinas folheadas a ouro.

Para quem se sentia pequeno e indefeso contra a corrupção histórica, é reconfortante saber que os efeitos da Lava Jato — o medo que ela impõe aos que andam fora dos caminhos que mamãe recomendou — deixam sem dormir os empresários e os políticos que costumam conspirar contra a coisa pública. Alguns deles, inclusive, já refletem sobre o assunto por trás das grades e de prisões preventivas.


Os tempos estão mudando.

Se você é um reles funcionário do Detran cobrando um ‘por fora’ numa vistoria no Rio de Janeiro…

Se você ajuda alguém a fraudar o INSS sonhando em dirigir uma Range Rover…

Se você é um fiscal da Receita estadual que reduz uma multa aplicável por lei em troca de uma mochila cheia de papel pintado…

Se você é um deputado que cobra de grandes empresas para enfiar artigos em projetos de lei (ou retirá-los de lá)…

Se você é um banqueiro que fecha os olhos para as regras ‘know your client’ e aceita que o dinheiro sujo contamine a sua legítima operação bancária….


Cuidado. Muito cuidado.

Sua hora deve estar chegando.

Ontem, muitos brasileiros foram às ruas pedir a saída da Presidente da República mais impopular da história. A sociedade ainda debate se há base para um pedido de impeachment, se há materialidade suficiente nos fatos — seja na questão das pedaladas fiscais, seja na contaminação das contas de campanha.

Mas os brasileiros que foram à rua não se sentiam sozinhos. O Ministério Público Federal e um juiz obstinado estão apontando um novo caminho. Um caminho de tolerância zero.

Mais do que uma operação isolada ou um ponto fora da curva, a Lava Jato é um estado de espírito. É o espírito do tempo.

Cuidado.






Por Geraldo Samor

Nenhum comentário: