sábado, 29 de agosto de 2015

Medo de incerteza caso Dilma seja impedida é infundado


Elite empresarial teme mudanças incertas no jogo político caso ocorra o impeachment, mas risco muito maior é ela continuar até 2018 no poder


Já apresentei meus argumentos em defesa da saída de Dilma do governo, rebatendo pontos de vista legítimos, como aqueles que temem um Lula na oposição para 2018 e o custo do ajuste no colo de outro partido, e também os nem tão legítimos assim, como aqueles que simulam um medo terrível do que poderia vir no lugar do PT, como se algo pudesse ser pior (talvez o PSOL, o PT de ontem, mas não tem chance – ainda, e o que essa turma insinua é o contrário, um governo, ó céus!, de direita).

O Brasil é curioso: tem até banqueiro que defende o PT por temer mudanças incertas. Mas não mudar é, sem dúvida, o maior risco de todos. Duas colunas de hoje argumentam na mesma linha. A primeira do economista Rogerio Werneck, meu ex-professor da PUC, publicada no GLOBO. A segunda do jornalista Reinaldo Azevedo, na Folha. Werneck diz:

Por enquanto, persistem visões divergentes sobre a conveniência e a oportunidade do brusco rearranjo de forças políticas que seria deflagrado pelo impeachment. Ainda há muita incerteza sobre quais dos atores políticos relevantes sobreviverão à Operação Lava-Jato. E, também, desalento com a ingrata agenda que seria herdada pelo sucessor da presidente Dilma, enquanto, de mão beijada, o PT se livraria do imbróglio e, em boa hora, readquiriria o privilégio de ser oposição.

Mas, se a solução do impeachment ainda esbarra em tanta resistência, a preservação de Dilma no cargo também se afigura altamente problemática. É difícil entrever como a presidente conseguirá escapar do círculo vicioso que a vem arrastando para uma posição cada vez mais vulnerável.

O agravamento da crise econômica tem acentuado a fragilização da presidente. E frágil como está, o Planalto só consegue dar respaldo a uma política econômica de pouco alcance, muito aquém da que se faz necessária para superar o quadro de alta incerteza e paralisia de decisões que o país enfrenta. Persistindo essa falta de perspectiva, não há como evitar aprofundamento da crise econômica, fragilização adicional da presidente e estreitamento ainda mais severo das possibilidades de condução da política econômica.

[…]

Sobram razões para crer que o cenário de permanência de Dilma está fadado a ser dominado pelas enormes dificuldades que a presidente terá de enfrentar para conter sua fragilização política. A questão é como o país, atolado como está, numa crise econômica de grandes proporções, poderá atravessar os próximos 40 meses com um governo tão fraco.

O que o Planalto teme é que, mais dia menos dia, a elite política do país afinal se dê conta de que, comparado a esse cenário, os desdobramentos do impeachment possam se afigurar menos custosos do que por enquanto aparentam ser. E, no entanto, o Planalto não se emenda.


Como a crise não deve melhorar tão cedo, e o governo Dilma ainda resolveu retroceder em vários aspectos, adotando as mesmas medidas equivocadas de antes, parece claro que o custo de manter Dilma no poder vai aumentar, não diminuir. A cada dia que passa, aqueles que temem as incertezas após um eventual impeachment de Dilma vão perceber que as certezas de mantê-la no governo são bem mais assustadoras.

Mas, claro, isso, por si só, não é motivo para um impeachment, como diz Reinaldo Azevedo, lembrando, porém, que há motivos concretos para tanto, e que o custo de manter mais do mesmo será enorme:

Aqui e ali, as forças minoritárias do governismo, hoje majoritárias na imprensa, especialmente nas TVs, pretendem silenciar as maiorias que pedem a saída da presidente Dilma Rousseff com uma pergunta que lhes parece definidora: “Ah, é? Se ela sair, o que vem depois?” Eu também tenho uma questão: “E se ela ficar? O que vem depois?” Eis o ponto.

A primeira indagação tem múltiplas respostas a depender das circunstâncias. A segunda tem uma só: mais do mesmo, mas em queda. Caso a presidente venha a ser impichada, Michel Temer assume. Se a chapa for cassada pelo TSE –um processo longo– o chefe do Executivo será eleito diretamente ou pelo Congresso, a depender de quando se dê o duplo impedimento. Em qualquer hipótese, o custo da transição será menor do que o da conservação do nada.

[…]

E que se note: não advogo a interrupção do atual mandato apenas porque a presidente Dilma desmoraliza a candidata Dilma a cada ato e porque se mostra incapaz de elaborar uma agenda que dê ao país um mínimo de estabilidade. Por esse caminho, perde-se apenas a legitimidade –o que já é muito grave.

Ocorre que considero –coisa de que esta Folha absolutamente não está convencida, segundo li em editorial– que ela atropelou também a ordem legal e cometeu crimes de responsabilidade, no plural.

[…]

A imprensa não pode se furtar a redigir e a ler a narrativa histórica. Será que aquela que está em curso na Lava Jato, por enquanto, atribui aos devidos autores o peso real de seus atos? Será que a verdade do petrolão é compatível com a permanência de Dilma na Presidência? A resposta, que tem de ser dada na lei, é estupidamente óbvia.


Seja por razões éticas e legais, seja por questões econômicas e políticas, o fato é que o custo de insistir no status quo com Dilma e o PT no “comando” da nação é muitíssimo maior do que o de partir para uma mudança incerta após um impeachment. Não entrem nessa dos “jornalistas” a soldo do PT e de banqueiros que nunca lucraram tanto na vida, como agora com um governo de esquerda. Medo todos deveriam ter é se Dilma ficar até 2018!

Por Rodrigo Constantino

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