Já apresentei meus argumentos em defesa da saída de Dilma do governo, rebatendo pontos de vista legítimos, como aqueles que temem um Lula na oposição para 2018 e o custo do ajuste no colo de outro partido, e também os nem tão legítimos assim, como aqueles que simulam um medo terrível do que poderia vir no lugar do PT, como se algo pudesse ser pior (talvez o PSOL, o PT de ontem, mas não tem chance – ainda, e o que essa turma insinua é o contrário, um governo, ó céus!, de direita).
O Brasil é curioso: tem até banqueiro que defende o PT por temer mudanças incertas. Mas não mudar é, sem dúvida, o maior risco de todos. Duas colunas de hoje argumentam na mesma linha. A primeira do economista Rogerio Werneck, meu ex-professor da PUC, publicada no GLOBO. A segunda do jornalista Reinaldo Azevedo, na Folha. Werneck diz:
Por enquanto, persistem visões divergentes sobre a conveniência e a oportunidade do brusco rearranjo de forças políticas que seria deflagrado pelo impeachment. Ainda há muita incerteza sobre quais dos atores políticos relevantes sobreviverão à Operação Lava-Jato. E, também, desalento com a ingrata agenda que seria herdada pelo sucessor da presidente Dilma, enquanto, de mão beijada, o PT se livraria do imbróglio e, em boa hora, readquiriria o privilégio de ser oposição.
Mas, se a solução do impeachment ainda esbarra em tanta resistência, a preservação de Dilma no cargo também se afigura altamente problemática. É difícil entrever como a presidente conseguirá escapar do círculo vicioso que a vem arrastando para uma posição cada vez mais vulnerável.
O agravamento da crise econômica tem acentuado a fragilização da presidente. E frágil como está, o Planalto só consegue dar respaldo a uma política econômica de pouco alcance, muito aquém da que se faz necessária para superar o quadro de alta incerteza e paralisia de decisões que o país enfrenta. Persistindo essa falta de perspectiva, não há como evitar aprofundamento da crise econômica, fragilização adicional da presidente e estreitamento ainda mais severo das possibilidades de condução da política econômica.
[…]
Sobram razões para crer que o cenário de permanência de Dilma está fadado a ser dominado pelas enormes dificuldades que a presidente terá de enfrentar para conter sua fragilização política. A questão é como o país, atolado como está, numa crise econômica de grandes proporções, poderá atravessar os próximos 40 meses com um governo tão fraco.
O que o Planalto teme é que, mais dia menos dia, a elite política do país afinal se dê conta de que, comparado a esse cenário, os desdobramentos do impeachment possam se afigurar menos custosos do que por enquanto aparentam ser. E, no entanto, o Planalto não se emenda.
Como a crise não deve melhorar tão cedo, e o governo Dilma ainda resolveu retroceder em vários aspectos, adotando as mesmas medidas equivocadas de antes, parece claro que o custo de manter Dilma no poder vai aumentar, não diminuir. A cada dia que passa, aqueles que temem as incertezas após um eventual impeachment de Dilma vão perceber que as certezas de mantê-la no governo são bem mais assustadoras.
Mas, claro, isso, por si só, não é motivo para um impeachment, como diz Reinaldo Azevedo, lembrando, porém, que há motivos concretos para tanto, e que o custo de manter mais do mesmo será enorme:
Aqui e ali, as forças minoritárias do governismo, hoje majoritárias na imprensa, especialmente nas TVs, pretendem silenciar as maiorias que pedem a saída da presidente Dilma Rousseff com uma pergunta que lhes parece definidora: “Ah, é? Se ela sair, o que vem depois?” Eu também tenho uma questão: “E se ela ficar? O que vem depois?” Eis o ponto.
A primeira indagação tem múltiplas respostas a depender das circunstâncias. A segunda tem uma só: mais do mesmo, mas em queda. Caso a presidente venha a ser impichada, Michel Temer assume. Se a chapa for cassada pelo TSE –um processo longo– o chefe do Executivo será eleito diretamente ou pelo Congresso, a depender de quando se dê o duplo impedimento. Em qualquer hipótese, o custo da transição será menor do que o da conservação do nada.
[…]
E que se note: não advogo a interrupção do atual mandato apenas porque a presidente Dilma desmoraliza a candidata Dilma a cada ato e porque se mostra incapaz de elaborar uma agenda que dê ao país um mínimo de estabilidade. Por esse caminho, perde-se apenas a legitimidade –o que já é muito grave.
Ocorre que considero –coisa de que esta Folha absolutamente não está convencida, segundo li em editorial– que ela atropelou também a ordem legal e cometeu crimes de responsabilidade, no plural.
[…]
A imprensa não pode se furtar a redigir e a ler a narrativa histórica. Será que aquela que está em curso na Lava Jato, por enquanto, atribui aos devidos autores o peso real de seus atos? Será que a verdade do petrolão é compatível com a permanência de Dilma na Presidência? A resposta, que tem de ser dada na lei, é estupidamente óbvia.
Seja por razões éticas e legais, seja por questões econômicas e políticas, o fato é que o custo de insistir no status quo com Dilma e o PT no “comando” da nação é muitíssimo maior do que o de partir para uma mudança incerta após um impeachment. Não entrem nessa dos “jornalistas” a soldo do PT e de banqueiros que nunca lucraram tanto na vida, como agora com um governo de esquerda. Medo todos deveriam ter é se Dilma ficar até 2018!
Por Rodrigo Constantino
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