O ex-presidente nos provoca inesperadas reflexões como a das palavras se converterem em altissonantes moedas, em questão de minutos, que valem antes pelo que nos custam que pelo valor daquele que as recebe.
É no mínimo estapafúrdio que alguém que, em momento algum, conseguiu sequer abrir um livro, nem que fosse apenas para fechá-lo, por enfado ou preguiça, tenha se tornado num dos mais caros palestrantes do país e merecedor, inclusive, de número maior de títulos de doutor honoris causa do que um Gilberto Freyre, por exemplo, aqui como no exterior; um personagem que, estando mais para Faustão do que para o Padre Vieira, vem atraindo aplausos de diferentes e distintas plateias que abrangem de sindicalistas a professores de célebres universidades. Como se pode chegar perto de quem sabe hipnotizar tanta gente, mesmo dispondo de pauta tão reduzida de assuntos, transmitida sempre numa voz rascante e engrolada, em meio a intermináveis erros de pronúncia e sintaxe a cada pronunciamento?
E assim o nosso ex-presidente Lula se nos apresenta o protótipo dos mágicos, porque de sua cartola sai principalmente aquilo que não existe, ou seja, qualquer tipo de utilidade ou de saber, por nunca lhe faltarem incríveis oportunidades de demonstrar seus dons como, recentemente, numa palestra de vinte nove minutos especialmente endereçada a operários, em que teve cada uma de suas palavras medida e custeada, por minuto, ao preço de treze mil reais. Mas justamente por ser um perfeito mágico é que o ex-presidente nos provoca inesperadas reflexões como a das palavras se converterem em altissonantes moedas, em questão de minutos, que valem antes pelo que nos custam que pelo valor daquele que as recebe.
O ex-presidente encontra, dessa forma, mesmo desconhecendo o marxismo que professa, um modo de nos dizer — tanto ou mais que a linguagem do capitalismo — que as coisas não têm outro destino senão o capital; porque embora não se acredite naquilo que se está dizendo, jamais há de faltar quem meça a realidade do mundo unicamente por tal dimensão. Pois nessa imensa desproporção entre o que prega e o que faz, — e entendendo mais o peso da moeda que o da palavra — a quem, finalmente, se dirige o ex-presidente Lula? Entre as prédicas até hoje ouvidas no mundo, e levando em conta a paga por minuto, quanto vale um sermão de John Donne ou de Vieira; e, para não tirar Jesus Cristo da jogada, quanto vale ainda o Sermão da Montanha?
Por Ângelo Monteiro
Poeta, filósofo e ensaísta.
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