sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Você fala do Evangelho para seus filhos ou só dá regras?


Os cristãos sabem que o evangelho é a mensagem que os incrédulos precisam ouvir. Nós lhes dizemos que eles não podem ganhar a sua entrada para o céu e que eles têm que confiar somente em Jesus para a sua justiça. Mas, então, algo estranho acontece quando começamos a ensinar os incrédulos em miniatura em nossa própria casa. Esquecemo-nos de tudo o que sabemos sobre a letalidade de confiar em nossa própria justiça e lhes ensinamos que o cristianismo tem tudo a ver com comportamento e se, em um determinado dia, Deus estará satisfeito ou insatisfeito com eles. Não é à toa que tantos deles (algumas estimativas chegam a 88 por cento, mas nenhuma é menor que 60 por cento) são perdidos para a rebeldia absoluta ou para seitas baseadas em obras, como o mormonismo, logo que eles estão livres para fazerem uma escolha independente.

Não há nenhuma maneira fácil de dizer isso, mas é preciso dizer: os pais e as igrejas não estão passando adiante uma fé cristã sólida e um comprometimento com a igreja. Podemos ter algum consolo no fato de que muitos filhos crescidos eventualmente retornam. Mas os pais e as igrejas cristãs precisam se fazer a difícil pergunta: “O que acontece com o nosso compromisso de fé que não encontra raiz na vida de nossos filhos”?

A premissa deste livro é que a principal razão pela qual a maioria dos filhos de lares cristãos desvia-se da fé é que eles nunca realmente ouviram o evangelho ou, para início de conversa, nunca tiveram fé. Eles foram ensinados que Deus quer que eles sejam bons, que o pobre Jesus fica triste quando eles desobedecem, e que pedir a Jesus para entrar em seu coração é toda a dimensão da mensagem do evangelho. Raspe a superfície da fé dos jovens ao seu redor e você encontrará uma deficiência de compreensão preocupante, até mesmo dos princípios mais básicos do cristianismo.

Isso é ilustrado por uma conversa que tive recentemente com uma jovem mulher de vinte e poucos anos que havia sido criada em um lar cristão e frequentado a igreja a maior parte de sua vida. Depois dela assegurar-me de que era, realmente, salva, eu a perguntei: “O que significa ser cristão”?

Ela respondeu: “Significa que você pede a Jesus para entrar em seu coração”.

“Sim, tudo bem, mas o que isso quer dizer?”

“Quer dizer que você pede a Jesus para perdoá-lo.”

“Ok, mas pelo que você pede que ele perdoe você?”

“Coisas más? Eu acho que você pede para ele perdoar você pelas coisas más, hum, os pecados que você comete.”

“Como o quê?”

Como um cervo assustado diante de um farol alto, ela olhou para mim. Eu pensei em tentar uma tática diferente.

“Por que Jesus a perdoaria?”

Ela se mexeu. “Hum, porque você pede a ele?”

Ok, eu pensei, vou tentar novamente.

“O que você acha que Deus quer que você saiba?”

Ela sorriu. “Ele quer que eu saiba que eu devo amar a mim mesma e que não há nada que eu não possa fazer se eu pensar que posso”.

“E o que Deus quer de você?”, perguntei.

“Ele quer que eu faça coisas boas”.

“Como?”

O cervo reapareceu. “Você sabe, ser bom para os outros e não ficar por aí com pessoas más.”

Claro, você pode dizer que essa superficialidade é uma aberração e que não é típico das crianças em sua casa ou igreja. Esperamos que você tenha razão. Mas todos nós temos que admitir que, se a maior parte das nossas crianças está deixando a fé o mais cedo possível, algo deu terrivelmente errado. Certamente a fé que capacitou a igreja perseguida por dois milênios não é tão rasa e tediosa como “Peça desculpa”, “Seja bonzinho” e “Não seja como eles”. Por que qualquer pessoa desejaria negar a si mesma, entregar a sua vida ou sofrer por algo tão vazio quanto isso? Além da parte “Peça a Jesus para entrar em seu coração”, como essa mensagem difere da que qualquer criança sem igreja ou um jovem judeu ouve todos os dias?

Vamos encarar o fato: a maioria de nossas crianças acredita que Deus está feliz se elas forem “boas pelo amor de Deus”. Nós transformamos o Deus santo, aterrorizante, magnífico e amoroso da Bíblia no Papai Noel e seus duendes. E, em vez de transmitirmos as verdades gloriosamente libertadoras e transformadoras de vidas do evangelho, nós ensinamos aos nossos filhos que o que Deus quer deles é moralidade. Nós lhes dissemos que ser bom (pelo menos exteriormente) é o objetivo final de sua fé. Isso não é o evangelho; não estamos passando o cristianismo adiante. Precisamos muito menos de Os Vegetais e Barney e toneladas a mais da mensagem radical, escandalosa e sangrenta do Deus feito homem e subjugado por seu Pai por nosso pecado.

Essa outra coisa que estamos dando a eles tem um nome – é chamado de “moralismo”. Aqui está como um professor de seminário descreveu sua experiência de infância na igreja:


Os pregadores que eu regularmente ouvia na... igreja na qual fui criado tendiam a interpretar e pregar as Escrituras sem Cristo como o foco... central. Personagens como Abraão e Paulo eram recomendados como modelos de fé sincera e obediência fiel... Por outro lado, homens como Adão e Judas eram criticados como a antítese do comportamento moral adequado. Assim, a Escritura tornou-se nada mais do que uma fonte de lições de moral sobre a vida cristã, quer sejam boas ou más.

Quando mudamos a história da Bíblia do evangelho da graça para um livro de ensinamentos morais, como as fábulas de Esopo, todos os tipos de coisas dão errado. Crianças descrentes são encorajadas a mostrar o fruto do Espírito Santo, mesmo que estejam espiritualmente mortas em seus delitos e pecados (Ef. 2:1). Crianças impenitentes são ensinadas a dizer que estão arrependidas e a pedir perdão, mesmo que nunca tenham provado a verdadeira tristeza piedosa. Crianças não regeneradas são informadas de que elas estão agradando a Deus por terem conseguido alguma “vitória moral”. Boas maneiras foram elevadas ao nível da justiça cristã. Pais disciplinam seus filhos até que eles evidenciem uma forma prescrita de contrição e outros trabalham arduamente para manter seus filhos longe da perversidade do mundo, assumindo que a perversidade dentro de seus filhos tenha sido tratada, porque uma vez eles fizeram uma oração na Escola Bíblica de Férias.

Se os nossos “compromissos de fé” não criaram raízes em nossos filhos, talvez não seja porque eles não ouviram consistentemente sobre eles? Em vez de o evangelho da graça, nós lhes demos banhos diários em um “mar de moralismo narcisista”, e eles respondem à lei da mesma forma que nós: correndo para a saída mais próxima, assim que possível.

A criação moralista de filhos acontece porque a maioria de nós tem uma visão errada da Bíblia. A história da Bíblia não é uma história sobre como fazer bons meninos e meninas serem melhores. Como Sally Lloyd-Jones escreve no Livro de Histórias Bíblicas de Jesus:


Agora, algumas pessoas pensam que a Bíblia é um livro de regras, dizendo o que você deve e não deve fazer. A Bíblia certamente tem algumas regras nela. Elas mostram a você como viver melhor. Mas a Bíblia não é principalmente sobre você e o que você deveria estar fazendo. Trata-se de Deus e do que ele fez. Outras pessoas pensam que a Bíblia é um livro de heróis, mostrando as pessoas que você deveria imitar. A Bíblia realmente tem alguns heróis nela, mas... a maioria das pessoas na Bíblia não é herói de maneira alguma. Elas cometem grandes erros (às vezes de propósito), elas ficam com medo e fogem. Às vezes elas são completamente cruéis. Não, a Bíblia não é um livro de regras ou um livro de heróis. A Bíblia é, acima de tudo, uma história. É uma história de aventura sobre um jovem Herói que vem de uma terra distante para reconquistar o seu tesouro perdido. É uma história de amor sobre um corajoso príncipe que deixa o seu palácio, seu trono – tudo – para resgatar quem ele ama. É como o mais maravilhoso dos contos de fadas que se tornou realidade na vida real.

Essa é a história que nossos filhos precisam ouvir e, como nós, eles precisam ouvi-la vez após vez.



Por Elyse Fitzpatrick

Fonte: Trecho do lançamento de Fevereiro da Editora Fiel: “Pais fracos Deus forte: criando filhos na graça de Deus”, de Elyse Fitzpatrick e Jessica Thompson.

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