Hoje, quem diria, o PT vive um drama por causa do mesmo fenômeno que assombra a direita há várias décadas.
Antes de falar deste fenômeno, vejamos o que disse Lula em julho de 2013 a estudantes em uma conferência em São Bernardo:
A pior coisa que pode acontecer no mundo é a gente aceitar a negação da política. Não existe nenhuma experiência em que a negação da política tenha um resultado melhor do que a podridão da política. […] Quando estiverem p... da vida, que não confiarem em ninguém: eu não gosto do Lula, eu não gosto da Dilma [Rousseff], eu não gosto do Marinho [Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo]’, ainda assim, não neguem a política […] Não é de hoje que a gente vê as coisas acontecerem e as pessoas colocarem a política no ralo da podridão. (…) Toda vez que acontece um problema, a negação da política aparece em primeiro plano.
Esta parte também é relevantíssima e tem tudo a ver com o que eu tenho falado mais de mil vezes por aqui:
Muito menos neguem os partidos. Vocês podem fazer outros. Quando você estiver p... e quiser negar as coisas, em vez de negar a política, entre na política.
Já é o suficiente para nossa análise.
O que Lula dizia aqui é o seguinte: com o advento das manifestações de junho de 2013, uma espécie de purismo tomou conta de boa parte dos jovens de esquerda. Com isso, muitos deles seguiam atacando a direita, mas, para pesadelo do PT, começaram a negá-los também.
Se isso não afetou suficientemente o partido nas eleições presidenciais, o efeito veio feito um tsunami após a constatação pública do estelionato eleitoral petista. Eles já não passaram a contar apenas com seus opositores tradicionais. Agora tinham que lidar com a rejeição vinda de outros socialistas brasileiros.
Mas o que é o socialismo se não um método para se obter o poder de forma totalitária para os líderes dos militantes ingênuos? Nenhum partido seria melhor para estes militantes do que o PT. Tudo bem que agora eles estão começando a se desgastar até nessa frente, mas o PT pragmaticamente seria a melhor escolha para os socialistas brasileiros.
Ao invés disto, estes puristas de esquerda passaram a atacar o partido, em troca de… quem mesmo? Ninguém. Eis a negação da política. Pode estar em curso inclusive o florescimento de uma visão de esquerda aí sim adepta da tomada de poder pela via da força, como ocorreu em Cuba.
Eu não tenho pena do PT. Nem um pouco. E é um fato que o surgimento de pessoas que “neguem a política” está fazendo muito mal para eles.
Por outro lado, este efeito tem afligido a direita brasileira há várias décadas. E, curiosamente, os negadores da política de direita estão mais quietos ultimamente diante do esfacelamento petista. A ironia aqui beira o estado da arte.
Relembremos o que é política: a ação humana baseada no tratamento de conflitos de interesses pela via social. Logo, ela depende necessariamente das opções políticas que temos. Se um grupo desiste dos partidos que podem pender para seu lado (seja na direita ou na esquerda), resta o idealismo filosófico ou, na pior das hipóteses, as vias antisociais, como intervenção militar ou luta armada.
A dinâmica é mais simples do que parece. O abandono das demandas reais e dos partidos atuais, em troca de “nenhuma opção”, impede que seus interesses sejam atendidos de qualquer forma. No caso de partidos como PSDB, DEM e PMDB, algumas pessoas da direita negam a política ao dizer “ah, é tudo farinha do mesmo saco”. Com isso, retiram qualquer forma de pressão destes partidos e os empurram na direção oposta aos seus interesses. (E antes que me questionem, eu apoio completamente o NOVO, mas, hoje em dia, ele ainda não é um partido que faça avançar nossas demandas no Congresso)
A negação da política, na direita, muitas vezes esconde a crença fundamental em uma intervenção militar. Na esquerda, esconder uma crença fundamental também, mas aqui na revolução armada. Hoje em dia, na era dos SmartPhones (em que um tanque nas ruas se transformaria em um vídeo no YouTube em questão de segundos), essas apostas não possuem mais o menor fundamento. Mas ainda assim grupos consideráveis de pessoas acreditam nelas. Elas podem até negar a verdade, que não deixa de ser dura: estão apenas mantendo uma crença no sistema límbico profundo para habilitar sua rejeição à política. Em troca dessa manutenção de crença, no máximo conseguem fazer propaganda para seus maiores adversários.
O que eu sinceramente não esperava é que a negação à política fosse hoje em dia afetar o PT. Que eles sofram um pouco aquilo que nós, da direita, temos sofrido há muito tempo com negadores da política. E que nós possamos aprender com isso, questionando duramente direitistas que neguem a política.
Por Luciano Henrique
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