segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Sem um grito, toda boiada estará perdida


Por mais que a população brasileira se esforce para levantar a cabeça, tentando emergir do processo de idiotização a que se vê permanentemente submetida, não há como, pois a televisão impede. A questão é cultural, está arraigada de forma profunda nos modos e atitudes das pessoas, exigindo esforço descomunal para ser revertida.

Além disso, não existe o menor interesse em transformar tal cenário, seja por parte de grupos dominantes de comunicação que nos infelicitam, seja por iniciativa dos “dirigentes”, eles próprios analfabetos e ignorantes a toda prova, apenas mercenários desqualificados.

O único fato novo que ameaça balançar de fato a estrutura política é o visível agravamento da situação econômica. Já que não se sabe tomar providências (e quando elas são supostamente tomadas o efeito é mínimo), apela-se a milagres. Por isso que “Deus é brasileiro”. Nada muda na seara política porque no Brasil tem sido sempre assim: os novos que aparecem tratam de colocar em prática os mesmos velhos costumes empregados pelos que saem, sem que seja considerado, sequer, pequeno hiato de tempo.

E nada acontece, porque a impunidade é o cimento malfazejo que apodrece a base de nosso edifício democrático. Basta observar dois casos que mais depressa chamaram a atenção, depois de empossados os donos das últimas eleições, em Roraima e no Rio Grande do Sul. No primeiro, a governadora Suely Campos (PP) assumiu e nomeou a maioria de todos os parentes diretos e afins. No último, o governador José Ivo Sartori (PMDB) nem bem tomou posse e começou a desmontar seu discurso eleitoral.

Esteja de um lado ou de outro, nada muda de figura. Os brasileiros estão cansados de ouvir, por exemplo, a palavra “conciliação”. Ela é sempre aplicada em todas as ocasiões que se descobrem roubos e desvios e parte do distinto público dá início à cobrança de medidas corretivas. Mas não se insiste durante muito tempo. Passados os primeiros instantes, a vida retoma seu curso normal. O roubo continua do mesmo jeito (mudando-se a forma) e o caso passa a ser esquecido até nova denúncia.

Quem melhor apreendeu o espírito dessa coisa foi o presidente de sindicato Lula da Silva, o Lularápio. Com grande experiência de vida, adquirida em bares, convívio popular e comportamento reprovável (tudo isso aliado a indiscutível inteligência), Lularápio participou de tudo e sua mente agiu como esponja que também a tudo absorve. Foi assim que se tornou delator na fase de abrandamento do regime militar (o delegado Romeu Tuma Jr. contou em livro) e conseguiu se encastelar na Presidência.

Claro que não chegou sozinho. Foi conduzido por sua habilidade em conquistar novos aliados, ambiciosos e ladrões como ele. Isso, num país (que conhece como ninguém), anestesiado, imbecilizado 24 horas do dia por novelas e pornografia da mais execrável, sempre carente de um Salvador capaz de resolver todos os problemas, em especial os de natureza pessoal. No Brasil, o condicionamento a que são submetidas as pessoas busca transforma-las em verdadeiras inúteis.

Os ladrões do dinheiro público que aí se encontram em cargos pomposos (de vários, diversos partidos), erraram, porém, na medida. Porque, agora, terá de se ajustar a economia e a criatividade será exigida. E não adianta apenas buscar afundar a Operação Lava Jato, iniciativa vergonhosa tomada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso e o ex-presidente Lularápio. Eles estão agindo em cumplicidade. A emenda poderá sair pior do que o soneto. O ex-ministro (STF) Joaquim Barbosa protestou no twitter e exigiu da presidente Dilma a demissão de seu ministro da Justiça.

O grito de Joaquim foi no sábado (14), em pleno carnaval. Não fosse a internet e nem tomaríamos conhecimento, como passaram em branco alguns protestos de outros carnavais. Mas é preciso que todos se manifestem. Ou morreremos à míngua?





Por Márcio Accioly

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