Anuncia o Lula a intenção de promover uma reforma estrutural no PT. Começa pelo cumprimento efetivo das quotas de participação, ou seja, a obrigatoriedade de serem escolhidos para funções de direção nos municípios, estados e no plano federal, 50% de mulheres, 20% de jovens e 20% de negros. O ex-presidente critica a direção centralizada e pretende a renovação dos quadros.
Significa o quê, esse posicionamento? Primeiro, uma declaração de guerra a Dilma Rousseff. Se o PT precisa de reformas é porque a presidente, cujo governo domina mais da metade dos companheiros, impõe diretrizes que isolam o ex-presidente. Nunca é demais buscar lições na História. Na China, Mao-Tsetung estava isolado, afastado das decisões, mera figura decorativa. O poder repousava nas mãos de Liu-Xaochi, Teng-Xiauping e outros moderados. Mao criou a Revolução Cultural, virou o país de cabeça para baixo e voltou a exercer o comando. Liu foi degradado, Teng refugiou-se num comando militar do interior e, por sinal, voltou com toda força depois da morte de Mao, para sepultar a Revolução Cultural.
Guardadas as proporções, o Lula ainda não perdeu de todo o poder, mas se não reagir, como agora parece estar fazendo, torna-se apenas um mito reverenciado mas ultrapassado. Daí a ênfase que pretende dar à renovação dos dirigentes do partido, manobra capaz de atingir o verdadeiro objetivo, no caso, reconduzir o PT às suas origens. Quais? A defesa de reformas socializantes em condições de bater de frente com a linha neoliberal e conservadora adotada pela sucessora.
Na verdade, o que precisa mudar no PT é o seu conteúdo.A legenda ficou igual às demais, um aglomerado de petistas buscando ocupar cargos, funções e espaços que os beneficiem pessoalmente, sem fazer conta dos ideais um dia proclamados de mudar a sociedade através das reformas envolvendo a justiça social, a igualdade, a extirpação da miséria e da pobreza, o fim dos privilégios das elites e sucedâneos.
Se o Lula obterá a vitoria, como Mao a obteve, é um ponto de interrogação, até sob o risco dos monumentais excessos e retrocessos que a China enfrentou com seus Guardas Vermelhos, afinal contidos. Uma evidência, porém, sobressai entre outras: vem por aí uma luta de foice em quarto escuro entre ele e Dilma.
Por Carlos Chagas
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