O recente assassinato de um promotor que iria testemunhar sobre o envolvimento da presidente da Argentina no ataque terrorista à AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina) em 1994, pode ser apenas a ponta do iceberg com envolvimento de terroristas e políticos na América do Sul.Agências de notícias sulamericanas publicaram uma enxurrada de histórias que forneciam, desde documentos oficiais vazados até gravações de áudio com grupos terroristas que não só se enraizaram na região, mas também desenvolveram laços profundos com políticos de alto escalão e violentos cartéis de drogas.O promotor argentino, Alberto Nisman, estava preparado para testemunhar contra a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, com alegações de que ela tentou encobrir o papel do Irã, em 18 julho de 1994, no ataque ao edifício da AMIA em Buenos Aires.
Nisman foi encontrado morto em 19 de janeiro ao lado de um revólver calibre 22. e de uma mensagem final enviada aos amigos, dizendo em espanhol “eu estou melhor do que nunca e, mais cedo ou mais tarde, a verdade prevalecerá.” Ele foi um dos dois procuradores que alegaram em 2006 que o atentado terrorista de 1994 foi realizado pelo Irã e o Hezbollah.
A morte repentina de Nisman colocou a história nas manchetes globais, ainda que, infelizmente, seja apenas um dos vários acontecimentos que se desenrolam atualmente em toda a América Latina, sugerindo que um esquema muito mais amplo está em curso – Foro de São Paulo – com a organização terrorista iraniana Hezbollah sendo parte disso. A maioria dos meios de comunicação de língua inglesa, até agora, optou por não cobrir esta história.
Terroristas e políticos
Na Venezuela, um chefe de segurança do alto escalão fugiu recentemente do país para os Estados Unidos, com uma história muito semelhante à de Nisman. Leamsy Salazar foi o chefe de segurança do ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, durante dez anos, passando a trabalhar para Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), antes de fugir para Washington em 26 de janeiro de 2015.
Salazar afirma que Cabello opera tanto como político de alto escalão quanto como líder do Cartel dos Sóis, uma organização narcoterrorista que possui relações estreitas com as FARC. Ele planeja testemunhar contra Cabello nos EUA.
Poucos dias depois, em 30 de janeiro, o FBI colocou um diplomata venezuelano de origem libanesa, Ghazi Nasr al-Din, em sua lista dos mais procurados por levantar recursos para o Hezbollah.
De acordo com a agência de notícias El Nuevo Herald, al-Din “é um íntimo colaborador do governador de Aragua, Tarek El Aissami, que serve como elo principal entre o regime bolivariano e a organização terrorista conhecida como Hezbollah.”
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, também estaria supostamente envolvido. O relatório afirma que as autoridades americanas estão investigando as ligações entre Maduro, o Cartel dos Sóis e o Hezbollah, em um caso que mais uma vez tem uma impressionante semelhança com as acusações do desertor chefe de segurança da Venezuela e do procurador argentino assassinado.
Fontes não identificadas revelaram ao jornal El Nuevo Herald que foi Maduro quem concedeu cobertura diplomática a al-Din, quando Maduro ainda era chanceler, dando a al-Din liberdade diplomática para viajar ao exterior e coordenar as operações do Hezbollah na Venezuela. Ele também afirma que al-Din “manteve uma linha direta de comunicação com Maduro, quando ele esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela.”
Ao mesmo tempo em que as ligações acima vieram à tona, a conspiração foi crescendo e ficando mais profunda na Argentina. De acordo com a imprensa do país, verificou-se que o promotor assassinado não era a única pessoa com informações sobre os laços da presidente Cristina Fernández de Kirchner aos grupos terroristas.
Os meios de comunicação argentinos teriam vazado gravações de conversas telefônica que mostram que as conexões entre funcionários do governo e os grupos terroristas vão além de Kirchner.
Segundo o jornal El Observador, que publicou o áudio das chamadas online, as conversas foram entre o ex-líder sindical e partidário de Kirchner, Luis D’Elia, e o ex-presidente da Associação Árabe Islâmica, Jorge Alejandro Khalil.
As chamadas, afirma El Observador, sugerem que o governo argentino e a embaixada iraniana em Buenos Aires estão cooperando “em uma suposta operação de encobrimento dos terroristas que realizaram o ataque de 1994.”
Drogas em troca de armas
No Brasil, notícia semelhante veio à tona apenas alguns meses antes, em novembro de 2014, de que lá existem ligações entre o Hezbollah e a maior e mais poderosa quadrilha da América do Sul.
Um dos maiores meios de comunicação do Brasil, o jornal O Globo, obteve documentos, que foram divulgados pela Polícia Federal brasileira. Eles demonstram que o cartel brasileiro Primeiro Comando da Capital (PCC) está trabalhando com traficantes de armas do Hezbollah.
Terroristas do Hezbollah teriam feito um acordo com a poderosa quadrilha: o Hezbollah lhes forneceria armas, incluindo explosivos C4, e em troca, os membros do PCC protegeriam prisioneiros libaneses no Brasil pertencentes à rede do Hezbollah.
O acordo criou um novo problema para as prisões do Brasil, afirma O Globo, onde os membros de ambas as organizações estão desenvolvendo laços pessoais enquanto estão na prisão e formando com isso uma “associação perigosa.”
As conexões entre o Hezbollah e os cartéis de narcotraficantes são profundas. De acordo com vários relatórios, a região da Tríplice Fronteira, que é a junção do Paraguai, Argentina e Brasil, é o lugar onde os laços são mais fortes.
A região tem “uma forte presença de membros do Hezbollah” e “foi a base operacional do maior ataque terrorista sofrido pela região”, afirmou em 10 de julho de 2014 um relatório do Centro para uma Sociedade Livre localizado em Washington.
O Hezbollah tem vários objetivos na região, afirma o relatório. Levantar fundos através de suas ligações com o tráfico de drogas, contrabando – inclusive de armas – e crime organizado. Ele também pretende radicalizar as comunidades islâmicas que irão receber ordens do Líbano ou do Irã, seja para a realização de ataques contra determinados indivídios ou para operações maiores contra os Estados Unidos e Israel.
O Instituto Internacional para a Luta contra o Terrorismo fez acusações semelhantes em um relatório de outubro de 2013. Ele afirma que a geografia, sociedade e economia em torno da região da tríplice fronteira criaram um tipo perfeito de “terreno fértil para os terroristas.”
Ele afirma que a região “facilita o tráfico de drogas graças às vastas e impenetráveis florestas, que permitem que grupos ocultem suas bases, campos de treinamento, plantações, laboratórios e pistas clandestinas.”
“A atividade constante na região da fronteira cria diferentes esferas em que os criminosos e terroristas podem misturar-se entre os empresários, moradores locais, autoridades governamentais e turistas”, afirma o relatório. “A fluidez desse ambiente também estimula a corrupção e uma maior demanda por produtos de contrabando e documentos ilegais”.
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