“As vítimas do processo permanecem amplamente inconscientes porque lhes falta não só o conhecimento da estratégia em questão, mas o mínimo de intuição histórico-sociológica para aprender as constantes num fluxo de acontecimentos que acaba lhes parecendo totalmente fortuito. O controle mental exercido pela elite esquerdista sobre seus adversários potenciais chega ao sadismo de explorar o seu temor do ridículo, com a mera alusão depreciativa a ‘teorias da conspiração’, dissuadir qualquer veleidade de aprender alguma intenção lógica por baixo do caos aparente dos fatos”.(artigo “Tirando o Tubo”, Olavo de Carvalho, “Primeira Leitura”, setembro de 2004)
A luta contra o marxismo-leninismo é uma guerra multilateral, complexa e total. É uma luta armada, política, ideológica, social, cultural, etc. Cada uma dessas vertentes pode assumir um papel mais importante que as demais em uma determinada conjuntura. Todas elas convergem, porém, a um ponto comum: o ideológico e o político.
Em suma, a luta contra o comunismo, atualmente fantasiado de gramscismo, é substancialmente a luta contra o partido – que agora, após o desmantelamento do socialismo real, não necessariamente terá em seu nome o termo comunista - e sua ideologia, simultaneamente. Mais profundamente, em um tratamento mais radical, essa luta se concentra em seu aspecto ideológico: na erradicação e prevenção da ideologia marxista-leninista da mente das pessoas. Isso é o essencial.
No entanto, o conceito totalizador da luta contra o comunismo, como de caráter político-ideológico, que engloba todas as demais formas de luta, é obstado, em certa medida, por duas concepções bastante difundidas. Uma delas considera necessária a luta contra o comunismo somente quando ele empreende ações armadas; a outra, supõe que as raízes do comunismo têm como única causa a fome e a miséria.
É certo que alguns, ainda hoje, somente reconhecem a subversão comunista quando ela se manifesta através da violência e de ações armadas que são, na verdade, duas das inúmeras formas de luta de que dispõem. Essa concepção descuida perigosamente os fatores políticos e ideológicos da multifacética atividade comunista, desarma os espíritos e abre amplas possibilidades à penetração marxista-leninista em todos os terrenos.
Ao criticar essa posição limitadora não se deve ignorar, é lógico, a possibilidade, que não deve ser descartada, da volta da luta armada através de uma guerrilha urbana ou rural no país. No entanto, não se deve esquecer que a guerrilha é, substancialmente, uma guerra política e ideológica.
Existem aqueles que, de outra parte, como já foi dito, em uma suposta posição progressista, sustentam a tese de que o comunismo é um produto da miséria e da fome e que, portanto, erradicando-as, o comunismo estaria liquidado. Esta tese é errônea e perigosa. Em primeiro lugar, deve ser firmemente assinalado que a luta contra a miséria e a fome deve dar-se sem necessidade de pretextos, pois assim o exigem a dignidade do homem e a solidariedade humana, independente de qualquer perigo comunista.
Essa tese de que o comunismo é decorrente da miséria e da fome é abraçada fundamentalmente por alguns que se fazem chamar de cristãos progressistas.
Supondo que esse argumento fosse basicamente correto, sabe-se que é uma quimera a erradicação total da miséria e, mais ainda, em um prazo em que pudesse render frutos políticos. De outra parte, o conceito de miséria é de caráter essencialmente relativo. Em tais circunstâncias, a propaganda comunista sempre disporia de uma ampla margem de especulação a respeito.
Ademais, é sumamente duvidoso que exista uma relação de causalidade direta entre o grau de miséria e o desenvolvimento do comunismo, pois sempre existiram grandes partidos comunistas em países europeus altamente desenvolvidos e com um elevado nível médio de vida. Por outro lado, muitos países pobres e subdesenvolvidos possuem raquíticos partidos comunistas ou simplesmente não os possuem.
A experiência tem também demonstrado que dentro de cada país os setores de mais baixa renda não são necessariamente os que aderem aos partidos comunistas e sim os operários mais qualificados, os estudantes e a intelectualidade. Assim, a miséria e a fome não poderiam explicar a filiação marxista-leninista de tantos e tantos profissionais, intelectuais e universitários, a maioria procedente das chamadas burguesia e pequena burguesia.
O fato é que a miséria e a fome constituem apenas uma das muitas condicionantes do progresso do comunismo. Mas não a miséria como tal, e sim a frustração econômica, o fracasso de expectativas, o desajuste entre as aspirações e o logro.
Em um sentido mais geral, o comunismo se alimenta das frustrações individuais e sociais de toda ordem. Dessa forma, é correto dizer que o partido comunista – uma organização ferrenhamente centralizada e disciplinada composta por revolucionários profissionais - não é, evidentemente, um produto da miséria, da fome ou das condições de vida. Dadas essas premissas, a luta contra o comunismo se apresenta, claramente, como já foi dito, como de caráter político-ideológico.
É evidente que essa luta não pode ser improvisada e nem pode depender de instituições esporádicas. Deverá ser uma luta planificada e fundamentada, pois é um fato inquestionável que o perigo comunista não fica automaticamente descartado porque o partido ou partidos comunistas estejam fora da lei ou debilitados em suas expressões externas, uma vez que o comunismo utiliza necessariamente suas técnicas pacíficas de infiltração para penetrar, influir e utilizar partidos políticos, organizações sociais, religiosas e de trabalhadores e, inclusive, mesmo, as Forças Armadas.
A luta do comunismo pelo Poder é planejada em etapas calculadas e de longo prazo. É uma guerra prolongada que terá êxito na medida em que seus adversários desconheçam seus objetivos, estratégias, táticas e métodos de luta e na medida em que estejam despreparados política e ideologicamente e indiferentes ao perigo sempre latente, na ilusão suicida de que algumas medidas de arbítrio poderão, quando se tornar necessário, substituir as diversas formas de luta político-ideológicas.
Julgamos que nunca será demais abordar este tema, pois “os conflitos ideológicos característicos do Século XX, e que tantos males causaram à humanidade” (Ordem do Dia de 27 de novembro de 2004, em homenagem às vítimas da Intentona Comunista) NÃO estão ultrapassados, como alguns erroneamente avaliam.
Por Carlos I.S. Azambuja
Historiador
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