A proposta de alguns setores partidários de radicalização do processo político, por intermédio de uma nova aliança com os movimentos ditos sociais, é de uma grande irresponsabilidade.
O PT está se comportando como a avestruz. Pensa que, escondendo a cabeça, ninguém mais verá o resto do corpo. Os escândalos se sucedem, o mensalão passa para o petrolão, e o partido insiste em frisar a sua virgindade ética, como se tudo fosse uma grande artimanha das oposições. Ainda assim, deveria ser explicado a que oposição os seus líderes se referem, pois, se há, ela tem sido incapaz de conduzir qualquer coisa. Segue a reboque das ruas que, nestas últimas semanas, se tornaram a grande protagonista do país.
Vamos convir que a posição de vítima assumida pelo partido não tem nenhuma chance de vingar. O PT está no quarto mandato presidencial e é, portanto, responsável por tudo o que nele aconteceu e acontece. De nada adianta continuar culpando o ex-presidente Fernando Henrique por todo o mal que nos aflige, pois, se esse argumento for levado a sério, ele terminará sendo responsável por qualquer unha encravada. O que, sim, tem faltado para o atual governo e seu partido principal é o humilde reconhecimento dos seus erros, algo que parece se situar para além da soberba reinante.
Se o país vive, do ponto de vista governamental e partidário, uma espécie de desmoronamento ético, isto se deve ao aparelhamento da máquina estatal, tornada um mero instrumento de consecução de fins partidários. O discurso oficial é contra a corrupção, quando a prática partidária consiste em acobertá-la. O PT nem consegue punir os seus envolvidos tanto no mensalão quanto no petrolão. Uns são considerados “guerreiros do povo brasileiro”, outros não o são ainda por não terem sido condenados.
O atual tesoureiro continua protegido e a Petrobras, por sua vez, segue blindada na verdadeira apuração de suas responsabilidades. Tudo é um grande jogo de cena. Ocorre, porém, que esta cena não está mais “colando”, não gerando nenhuma adesão dos cidadãos. O PT caiu na lama e não consegue sequer se levantar.
Por outro lado, o país vive um despertar ético, demonstrando uma real preocupação com as suas instituições. As manifestações do dia 15 de março último foram uma efetiva tomada de consciência, com as ruas plenas de indignação, independentemente de faixa etária, classe social e gênero. O governo e o seu partido não mais conseguem tapar o sol com a peneira. Não há marketing que resolva essa situação. Os mágicos ficaram sem mágica!
Não tem o menor cabimento o PT reclamar de uma grande orquestração da mídia, como se fosse ela a responsável pelas grandes manifestações de rua, pelos escândalos da Petrobras, pela inflação e pelo o PIB zero. Jornais, revistas e meios de comunicação em geral, em sua diversidade e pluralidade, retratam o que está acontecendo.
O que pretendem os dirigentes partidários? Que as ruas repletas de gente não sejam filmadas, retratadas e descritas? Que o PIB zero não seja comentado? Que a inflação que acomete os cidadãos seja desconsiderada, quando ela é, mesmo, sentida diariamente nos supermercados? Que a corrupção da Petrobras não seja noticiada? Que o trabalho da Justiça e do Ministério Público seja denegrido?
A política petista de feroz crítica aos meios de comunicação consiste em uma tentativa de matar o mensageiro para que a mensagem não seja transmitida. Em vez de o partido enfrentar os seus reais problemas, termina ele apelando ao seu arsenal ideológico de ideias antiquadas e ultrapassadas, desta feita a do “controle social dos meios de comunicação” ou de “democratização dos meios de comunicação”.
Para falar claro: trata-se da tentativa de estabelecer a censura no país, nos moldes do que já é feito na Venezuela, Bolívia, Argentina e no Equador, nesta via comunista, soviética, agora denominada de “socialismo do século XXI”, como se assim a proposta autoritária se tornasse mais palatável! A moralidade é estropiada em nome de uma “superioridade moral do socialismo”.
O PT não consegue nem se entender no que diz respeito ao seu apoio ao governo Dilma. A austeridade fiscal que está sendo introduzida não é a responsável pela inflação, pelo PIB zero, pela desvalorização do real e pelos altos juros. Esses são nada mais do que consequências das políticas econômicas conduzidas pelo governo Dilma e pelo segundo mandato do governo Lula. São, reitero, meras consequências. O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nada mais está fazendo do que tentar corrigir o descalabro reinante, que é um produto do que foi feito até aqui.
Agora, que o partido se insurja contra o ministro e, indiretamente, contra a presidente, em nome das políticas desastradas que nos levaram até essa situação, é um manifesto contrassenso. Caberia, isto sim, apoiar a mudança de rumo, em nome da governabilidade e, sobretudo, do país, que é maior do que qualquer partido e da soma de todos. Como pode a presidente exigir o apoio incondicional do PMDB quando o seu próprio partido é o maior opositor de sua política atual?
A proposta de alguns setores partidários de radicalização do processo político, por intermédio de uma nova aliança com os movimentos ditos sociais, é de uma grande irresponsabilidade. Movimentos como o MST são expressões de um projeto político de tipo marxista para instalar no país um regime totalitário de tipo socialista.
Trata-se, no caso, de uma organização de tipo leninista, que possui vários braços, como os Sem-Teto, as Mulheres Campesinas, os Atingidos pelas Barragens, os Pequenos Agricultores e a Via Campesina. Todos obedecem a uma mesma estratégia e comando, tendo na Venezuela e em Cuba seus maiores exemplos. A faceta social é uma mera roupagem.
Insistir nesta via significaria lançar o país na ingovernabilidade e numa eventual crise institucional. Quando Lula chamou o “exército” de Stédile às ruas, ele conclamou essa milícia a se preparar. Permaneceram ele e os seus apoiadores cegos e surdos aos clamores populares. No dia 15 de março, um dos seus dizeres era: “A rua brasileira jamais será vermelha!”. Como bem expressaram os manifestantes em suas roupas: “ela é e sempre será verde-amarela!”.
Por Denis Lerrer Rosenfield
Professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário