domingo, 26 de abril de 2015

O povo contra a lei da gravidade


Imagine se as pessoas se revoltassem contra fenômenos naturais, como a lei da gravidade.

Jovens sairiam às ruas denunciando mortes e acidentes causados pela queda livre e exigiriam leis para reduzi-la. “Não suportamos mais esses 9,81 metros por segundo ao quadrado”, diriam. “Precisamos com urgência de uma legislação gravitacional para proteger os cidadãos!”

Políticos, sempre atentos aos anseios do povo, prometeriam atender o pedido. “Criarei um pacote de medidas que reduzirá a aceleração pela metade”, diria um candidato. A Secretaria de Direitos Humanos lançaria um “uma série de políticas públicas para valorizar a pessoa humana no sentido de tornar a gravidade da Terra tão leve quanto a da Lua”.

Alguns estudiosos considerariam as medidas absurdas, pois é óbvio que ninguém consegue controlar a lei da gravidade. Por mais triste que seja, diriam eles, é preciso aceitar a queda livre dos corpos. O melhor a fazer é se proteger dela com grades, pisos antiderrapantes e redes de proteção.

Mas pouca gente daria ouvidos a esses críticos. O povo acharia que quem discorda da legislação gravitacional gosta de ver as pessoas caindo, escorregando e tropeçando por aí.

É mais ou menos assim que eu enxergo as conversas sobre leis trabalhistas. Muita gente acredita que é possível aumentar o salário dos trabalhadores com regras e multas. E muitos políticos se elegem prometendo exatamente isso.

Mas economistas da esquerda, do centro e da direita estão cansados de dizer que as leis trabalhistas não ajudam e às vezes atrapalham, e que os salários dependem da produtividade e da oferta e procura.

Se milhões de trabalhadores miseráveis competirem por poucas vagas, o salário vai cair, mesmo que o ditador mais poderoso do mundo proíba essa queda. Do contrário, se houver vagas demais para empregadas domésticas e poucas pessoas dispostas ao serviço, os salários vão subir muito além do que donas de casa gostariam de pagar. Se a produtividade do trabalhador for baixa, os salários vão continuar baixos, pois ninguém vai pagar um salário de R$ 5 000 se o empregado não render pelo menos R$ 5001.

Por mais triste que seja, é preciso aceitar essas leis da economia. O melhor a fazer é se proteger delas facilitando a criação de vagas de trabalho e aumentando a produtividade.

Mas pouca gente dá ouvidos a esses economistas. O povo acha que quem discorda da legislação trabalhista gosta de ver os trabalhadores sofrendo, ganhando pouco, escorregando e tropeçando por aí.





Por Leandro Narloch

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