We don’t need no education
We dont need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teachers! Leave them kids alone! – Pink Floyd
O “pós-modernismo” veio com toda a sua rebeldia contra o “sistema”, contra aqueles valores “burgueses” rígidos da era vitoriana ou do que restara dela. Era chegada a hora de acabar com essa rigidez, com a “palmatória”, com aqueles professores autoritários, com qualquer hierarquia.
Como quase todo movimento, havia alguma legitimidade em suas críticas, pois apontavam para excessos realmente existentes. E como quase todo movimento bem-sucedido, o pêndulo extrapolou para o outro lado. O pós-modernismo virou sinônimo de bagunça, indisciplina, e quem mais sofre com isso são os próprios alunos.
É o que argumenta a professora Kátia Simone Benedetti em seu livro A Dignidade Ultrajada: Ser professor do ensino público nos dias atuais (Barra Livros). Ganhei o livro de presente da própria autora, que escreveu uma longa dedicatória já denotando sua angústia. Em um trecho, ela diz: “Depois de 15 anos na educação, tornei-me uma pessoa absolutamente desesperada em relação ao futuro de nosso país”.
No decorrer da leitura, o motivo fica claro: Kátia defende, com base em sua formação em psicopedagogia com viés darwinista*, que a ciência foi abandonada em sala de aula em troca de algum idealismo confortante qualquer, tal como o conceito de “bom selvagem”. Passou-se a ignorar que crianças precisam de limites, de disciplina, e que o professor representa justamente essa função em classe.
A perda de respeito pelos professores tem deixado muitos deles deprimidos, sem falar que os bons docentes acabam abandonando a profissão e o espaço é ocupado pelos desqualificados e despreparados. Kátia não poupa de críticas os “profissionais de fora de sala de aula”, ou os “educadores de gabinete”, aqueles que vivem nas torres de marfim do mundo acadêmico das ideias, sem contato no dia a dia com os alunos em sala de aula. Muitos desses também alimentam uma visão romântica do ensino, prejudicando os alunos.
A premissa por trás do manifesto está na existência de uma “natureza humana”, ou seja, nós seres humanos não somos totalmente maleáveis, não somos uma “tabula rasa” como pensam alguns. E isso leva à necessidade de se impor limites e regras de conduta desde cedo, reconhecendo-se inclusive as hierarquias sociais. Ao tentar rasgar isso tudo, os pós-modernos subverteram importantes valores, e o resultado foi o caos.
Exercer a autoridade necessária não é o mesmo que autoritarismo. Claro que alguns vão abusar desse direito, mas o abuso de alguns não deve tolher o uso dos demais. Para combater os excessos, as falhas de alguns por conta inclusive da natureza humana, os pós-modernos acabaram jogando o bebê junto com a água suja do banho, e destruíram a autoridade legítima. O caminho ficou livre para a baderna.
Não são poucos os casos em que a hierarquia se encontra invertida, com os protagonistas trocados: a autoridade dentro das salas de aula deixou de ser exercida pelo professor e passou a ser exercida pelos alunos. Como apostar em uma boa instrução assim? Como achar que esses jovens sairão das escolas não só com boa formação, mas com respeito aos outros? Essa horizontalização passou dos limites. Como diz a autora:
Essa inversão de valores está inviabilizando ou, no mínimo, comprometendo drasticamente a qualidade das situações de ensino-aprendizagem porque é endossada pela sociedade (principalmente pela figura dos pais) e imposta pelas autoridades educacionais e pelo discurso acadêmico vigente e pela legislação educacional do país.
Não creio que alguém vá defender a volta da palmatória, nem mesmo o mais reacionário dos conservadores. Mas tampouco é preciso ser careta ou “antiquado” para notar que algo está fora do lugar, que as salas de aula viraram “terra de ninguém”, e que os professores decentes simplesmente não suportam mais ensinar em um ambiente desorganizado desses. É urgente restaurar a disciplina hierárquica dentro da sala de aula!
* A autora usa muito como base o livro O animal moral, de Robert Wright, que já li há muito tempo, mas lembro de ter gostado e absorvido importantes insights sobre o “bicho” homem.
Por Rodrigo Constantino
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