sexta-feira, 10 de abril de 2015

Hoje é dia de chorar


A alegria não vivida, a amada que se vai

Chorar a calma perdida num lamento que distrai

A luz que se apaga em meus olhos, o brilho que não brilha mais

Hoje é dia de chorar um dia cinzento, sombrio

Um dia frio apagado, sem luz, sem calor, sem abraço

Hoje é dia de chorar, chorar é tudo que faço

Hoje é dia de chorar a escuridão que se alastra

A fome que nos rodeia nefasta, invade e devasta

Chorar a panela vazia, a mesa farta de nada



Hoje é dia de chorar pelo nordeste sofrido

Pelo homem que cedo levanta

E logo de manhãzinha já se sente derrotado

Pensando que frutos colher se nada será plantado

E sentindo-se esquecido, impotente e mal logrado

Vendo seus filhos queridos doentes, esfomeados

Entrega ali sua sorte para Deus nosso senhor

Pedindo-lhe que um dia ele seja abençoado

Hoje é dia de chorar

A total impossibilidade de ter um trabalho honesto

E o suor desperdiçado daquele que tanto trabalha

A lentidão da justiça que é cega, tardia e falha

Hoje é dia de chorar

A vergonha que tenho daqueles que não tem vergonha de nada

A ausência de poder, o abuso do poder, a ética ignorada

Hoje, hoje é dia de chorar as vítimas da impunidade

As vítimas da negligência, da imperícia, da imprudência

Da falta de hombridade

As crianças que tem fome

A escola sem carteira, o professor sem respeito, escravidão no salário

A dor que trago no peito, a celebração do descaso

Hoje é dia de chorar a paz que foi desprezada

O lucro a qualquer preço, a dignidade achincalhada

A violação dos direitos, a covardia dos fortes, a união dos covardes

Hoje é dia de chorar a guerra que foi deflagrada

A bomba que foi lançada, a bomba que mata inocentes

Por qualquer que seja o motivo a bomba é sempre culpada

O ar que sufoca e arde

O fogo, a chama que queima os corpos dos miseráveis

Crianças gritando, correndo, sofrendo e morrendo por nada

Hoje é dia de chorar das mães os filhos ausentes

A impotência diante de mil canhões reluzentes

O sentimento de perda, os homens inconsequentes

Gloriosa destruição, coroação da insanidade

A vaidade, o orgulho matando em nome da liberdade

A glória de um ser humano é destruir a humanidade?

Hoje é dia de chorar

Chorar aqueles que calam diante da calamidade

Da omissão da verdade, verdade sempre esquecida

Chorar a cegueira dos fracos ao abdicar dos deveres

O estupro consentido, a consciência anulada

A honestidade esquecida, corrupção acobertada

Hoje é dia de chorar a ausência de piedade

A semeação da discórdia, a violência viril

A injustiça que não se esgota e o pensamento vil

De construir a própria vida por sobre as vidas alheias

Hoje é dia de chorar a floresta derrubada

A água envenenada, a terra seca erodida

A delicadeza da flor que ninguém mais observa

Que Deus me perdoe por tudo

Pelo grito que se cala, pela dor que sinto só

Pela lágrima que brota

Pela saudade que tenho de um tempo que não vivi

De um tempo que não houve e temo jamais haverá

Permanece o nó na garganta, o sofrimento velado

O coração apertado

Que Deus me perdoe por tudo

Pela falta de esperança, pelo meu grande cansaço

Mas hoje é dia de chorar, chorar é tudo que faço



Por Marcelo Gil



Esta poesia foi escrita há cerca de 20 anos e parece tão atual ... Lembra os anos de desgoverno, corrupção, injustiça, violência, impunidade, povo manso como gado, sem reação !

Mas, de repente, um grito , VEM PRA RUA!!!

E ressurge a esperança, deixa-se de lado o desanimo, o cansaço e o povo descobre a sua força...

Dia 12/04/2015 venha conosco, siga a multidão que deseja um governo honesto e dias melhores para todos!

Não é mais dia de chorar , é tempo de lutar por um Brasil melhor!

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