Por Luciano Ayan
Muitos direitistas denunciam ações comunistas. Os socialistas aproveitam-se disso e anexam os frames “exagerado” e “fora da realidade” ao direitista. O truque é fácil demais. Eles simplesmente associam o comunismo ao uso de tanques na rua e campos de concentração e sentenciam que “isso é comunismo”. Em seguida, dizem “não temos tanques na rua e campos de concentração, logo não temos comunismo”. Fim de debate.
A coisa sempre é levada nesse nível de sordidez, e muitos direitistas bem intencionados não conseguem perceber a tramoia. Me lembro de uma vez em que Marta Serrat protestou em um vídeo: “Esse é um plano totalitarista, comunista”. Aí ficou fácil para a extrema-esquerda ridicularizá-la.
A ridicularização se torna fácil pois o comunismo está enraizado no senso comum como o “extremo do socialismo”, quando na verdade não passa de uma promessa irrealizável, com fins de implementação do socialismo. O PT, por exemplo, não se declara comunista, mas socialista. Alguns partidos se declaram comunistas, mas, na prática somente promovem o socialismo.
Quando nós chamamos um socialista pelo nome, ele não tem como nos ridicularizar em retorno, pois eles sempre declaram os lemas socialistas em sua carta de intenções. Mas quando os chamamos de comunistas, eles apelarão ao ridículo para dizer “não defendo gulags nem tanques na rua, comunismo acabou, você perdeu, bobão”. Pode parecer apenas um detalhe, mas na guerra de frames isso é fundamental. Aliás, vocês já viram eu utilizar o termo “comunista” neste blog? Talvez nos primeiros posts, mas depois de me especializar em controle de frame, isso nunca mais ocorreu.
Sendo assim, é preciso partir do problema real: socialismo. Em seguida, precisamos analisar as diversas formas de sua implementação. Vejamos o socialismo implementado pela revolução armada e ditadura formal, como na antiga Rússia, no Cambodja, na China e na Coréia. Isso é socialismo puro. Nunca existiu e nunca vai existir nada de comunismo ali. Nesses regimes existe tanto comunismo quanto existem bilhetes realmente premiados nas mãos de fraudadores que vendem bilhetes falsos da Mega Sena.
O socialismo mais tradicional, portanto, é baseado no uso da luta armada, com pelotão de fuzilamento para dissidentes. Seus habitantes não podem fugir do país e são tratados como gado. No caso de Cuba, vendidos como escravos.
Esse tipo de socialismo, todavia, não “cola” muito bem no Ocidente, que gosta do discurso democrático. Então é preciso criar outras formas de exercer o mesmo socialismo, a partir de novas roupagens, sempre focando em mais facilidade de “venda”. É aí que surgiu o bolivarianismo, forma utilizada por tiranetes da América do Sul para implementar o socialismo.
No que constitui-se o bolivarianismo? A fórmula é simples:
O estado controla a economia no máximo quanto possível (aqui é o socialismo padrão)
Ao mesmo tempo, o governo controla a mídia e implementa os sovietes, mas tudo com fachada de democracia, ao contrário do que ocorre na China e na Coréia do Norte (esta é a inovação).
Por causa da censura, é possível esconder a crise por algum tempo, o que vai levar ao colapso do sistema.
Os sovietes ajudam o governo a implementar medidas como se fosse uma ditadura padrão, o que permite conter as revoltas em fases de colapso.
É o sistema vigente na Venezuela, e que está caminhando a largos passos na Argentina, Uruguai, Equador e Bolívia. No Brasil, o sistema está engatinhando. Podemos até dizer que o bolivarianismo é o maior template de implementação do socialismo latino-americano.
E por que se chama bolivarianismo? É uma homenagem ao político venezuelado Simón Bolivar, que viveu entre 1783 e 1830 e atuou em guerras de independências da América Latina contra a Espanha. Ele também teve papel fundamental em uma “liga de nações” latino-americanas, incluindo Bolívia, Colômbia, Equador, Paraná, Peru e Venezuela. Mas tecnicamente, seu nome foi escolhido para o sistema apenas por ser um ídolo venezuelano e por que a Venezuela foi o primeiro país a implementar o sistema, mesmo tendo sido arquitetado pelos principais líderes do Foro de São Paulo, Lula e Fidel. Se fosse implementado primeiramente no Brasil, o chamaríamos de varguismo.
Para reconhecer um bolivariano é fácil: suas prioridades sempre são a implementação de uma ditadura em prol de seu partidão, mas sempre com discursos de fachada para tentar vender todas as ações como democracia. Por isso o Decreto 8243 foi chamado, pelos governistas, de “mais democracia”, e os projetos de censura de mídia são chamados de “democratização da mídia”.
Pode-se contra-argumentar: “Mas a simulação de uma imprensa livre não existe em países que implementaram o socialismo pela força?”. Claro que existem, mas a diferença é que estes sistemas foram implementados depois de conquistas de poder pela força. A vantagem do bolivarianismo, neste sentido, é que pode-se chegar ao poder e implementar uma ditadura sem jamais partir para revolução armada.
Mas os grupos armados que ajudam Chavez não são um exemplo de revolução armada? Não, são milícias legalizadas por um sistema democrático corrompido, mas que sempre se apresentará como democrático.
A diferença é enorme: se alguém chamar observadores internacionais, verá que as eleições transcorrem normalmente na Venezuela. Porém, a mídia está controlada pela censura sutil (muito mais perigosa que a censura formal). Num país com censura sutil, as eleições até constituem um risco de perda de poder, mas é um risco pequeno. Já em países como Coréia do Norte não existem eleições de fato, a não ser aquelas com um único candidato, o que não passa de piada. A Coréia do Norte não consegue “se vender” como democracia, ao passo que os sistemas bolivarianos conseguem. Isso é o que os torna mais perigosos.
O bolivarianismo é uma grande inovação nas implementações socialistas, pois além de aprender muito mais com Gramsci do que com Lenin, ainda constitui-se de uma série de dissimulações para se venderem como democracia.
Dois pontos caracterizam o bolivarianismo: censura sutil e uso de sovietes. Mas nos dois casos, tudo precisa ser tratado de forma muito ardilosa para dar a falsa impressão de uma democracia. Se existir uma prioridade neste sentido, falamos de um sistema bolivariano.
Enfim, a grande obra do Foro de São Paulo foi desenvolver o sistema bolivariano.
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