sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Governo dos trabalhadores ou governo contra os trabalhadores?


Ao tomar posse na presidência da República, em janeiro de 1951, eleito pelo voto direto da população, no plenário do Palácio Tiradentes, no Rio, Getúlio Vargas jurou cumprir a Constituição. Não ficou nisso. Na calçada havia sido montado um palanque, para que ele falasse a milhares de trabalhadores lá reunidos: “hoje, estais no governo. Amanhã, sereis o governo.”

Em janeiro de 2003, empossado como o primeiro operário que ocuparia a presidência da República, 52 anos depois, o Lula exaltou o fato de estar se iniciando no Brasil o governo dos trabalhadores. Mais ou menos, porque além dos programas sociais de caráter assistencialista, também foi o governo da continuação do neoliberalismo, das privatizações e até do mensalão. A partir de 1964 haviam sido suprimidos dezenas de direitos trabalhistas antes criados por Vargas, imaginando-se que o Lula iria restabelecê-los, a começar pela estabilidade no emprego. Não quis, ou não conseguiu, mas o que acontece hoje, quando assume outro mandato o segundo governo dos trabalhadores?

Dilma Rousseff inaugura mais quatro anos no poder sob a égide de novas supressões de direitos trabalhistas. Acaba de cortar pela metade o abono salarial, o seguro desemprego, o auxilio doença, as pensões por morte do cônjuge e até benefícios a pescadores impedidos de pescar. Demonstra a falência do governo dos trabalhadores, jogando sobre eles a fatura do combate a crises econômicas. Esperar o quê, nos próximos quatro anos, senão mais supressão de direitos, cortes nos projetos sociais, aumento de juros e desemprego? Não se espante o trabalhador se lhe forem garfados férias, décimo-terceiro, horas extras, vale-transporte e vale-alimentação. De governo dos trabalhadores passamos para o governo contra os trabalhadores. Quando desfilar em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios, hoje à tarde, imaginará trabalhadores naqueles que eventualmente venham a aplaudi-la? Ou pelegos pagos pelo seu partido? A presidente descumpre os ideais um dia sonhados. Em vez de impulsionar conquistas, coleciona retrocessos. Logo irá colher fracassos.





Por Carlos Chagas

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