O PSDB tinha tudo para vencer as eleições presidenciais em 2014 e entregou os pontos de bandeja para o PT, basicamente por erros na estratégia da campanha de Aécio Neves. Eis a tese que Maurício Coelho e Cristiano Penido defendem no pequeno livro A estratégia para derrotar o PT, que está disponível para download gratuito e já foi baixado por mais de 30 mil pessoas.
Recomendo. São apenas 100 páginas que resumem de forma sucinta os principais erros e acertos na campanha do tucano, sustentando como principal argumento a ideia de que Dilma deveria ser atacada, acima de tudo, pela ineficiência na gestão, não pela corrupção ou pelo PT como um todo. Os autores adotam visão pragmática, sem entrar no critério de valor. Estão analisando o que surtiria maior efeito do ponto de vista de votos, apenas isso.
O cerne do argumento é que o antipetismo é forte, mas a intensidade não é suficiente para a vitória: é preciso ter quantidade de votos. E não se conquista os indecisos com base no discurso vago de ética, e sim com mensagens simples que confirmem a sensação no eleitor de insegurança com o presente e despertem o desejo por mudança.
Ao combater o PT como um todo, Aécio acabou entrando no jogo do marketing petista, que tentou diluir os quatro anos ruins de Dilma nos 12 anos de PT no poder, com melhores resultados na era Lula. Os autores escrevem:
Não é a intensidade do sentimento que vence uma eleição, é a quantidade de votos! Ou seja, o sentimento de desaprovação ao governo Dilma era maior em percentual de eleitores e menor em intensidade, enquanto o sentimento contra o PT era menor em percentual e maior em intensidade. Todavia, quem possuía sentimento contra o PT, votaria em Aécio Neves nas duas possibilidades de discursos. Desse modo, só por um caminho ele tinha algo a ganhar.
Aécio, pela ótica dos analistas do livro, acabou reforçando a mensagem antipetista, mas não foi capaz, com isso, de converter indecisos, aqueles que não ligam tanto para o aspecto ético, talvez por considerarem (de forma equivocada) que todos são iguais. Esses deveriam ter sido conquistados pela mensagem simples de que Dilma fracassou como gestora, e que o tucano tinha experiência nessa área.
Como alguém que fica indignado com o embuste que foi o governo Lula, entendo como deve ser difícil entubar o mito de que, em sua gestão, houve “distribuição de renda”. Lula apenas surfou uma onda positiva de fora, plantando as sementes dos problemas atuais, amplificados pela incompetência, arrogância e ideologia intervencionista de Dilma. Mas do ponto de vista pragmático o alerta parece fazer sentido.
Afinal, esse é um mito que já “pegou”, e que não compensava atacar na campanha. Não era a pauta em jogo. As manifestações de junho de 2013 mostraram claramente: o povo estava cobrando melhores serviços públicos. Era a hora de atacar esse ponto, bater nessa tecla, desconstruir a imagem de Dilma como gestora eficiente, outro mito petista. Esse deveria ter sido o foco principal de Aécio, lembrando do enorme custo de oportunidade ao desviar recursos escassos para outros temas. Dizem os autores:
A oposição precisa fazer o “Discurso dos Períodos”, que basicamente consiste em dizer: o Brasil teve, com o Itamar, sua estabilidade política; teve, com o Fernando Henrique, sua estabilidade econômica; teve, com o Lula, a distribuição de renda; e Dilma deveria ter sido a presidente da boa gestão, a presidente que conseguisse fazer os serviços públicos funcionarem e as obras saírem do papel.
[...]
Ainda mais, é preciso expor violentamente a incompetência do governo, a incapacidade de gerir. Denunciar a corrupção é um trabalho importante da oposição, mas não pode se limitar a isso. O principal tem de ser mostrar que a Dilma não é capaz, e a população concordará.
Ou seja, não podemos confundir aquilo que nós, já “convertidos”, queremos ouvir para nosso desabafo, com aquilo que efetivamente atrai o voto dos indecisos, fundamentais em uma eleição apertada como essa. “É de extrema importância manter uma oposição que denuncie principalmente atrasos em obras, problemas estruturais, má gestão; revelando como isso está impactando na vida das pessoas”, resumem os autores.
Teremos mais quatro anos de incompetência, arrogância e ideologia intervencionista pela frente, caso Dilma não sofra um impeachment. Por mais tentador que seja para todos nós insistirmos na questão ética, essa não deveria ser a principal bandeira para derrotar o PT, segundo os analistas. O que está em jogo é a qualidade dos serviços públicos, e deve ficar bem claro para o eleitor médio que Dilma é um retumbante fracasso nessa área. Eis a principal mensagem dos autores.
Por Rodrigo Constantino
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