A vida cristã é aperfeiçoada pelas inúmeras situações adversas à sua fé. Viver uma vida cristã sem considerar adversidades no cotidiano é como querer a existência dos oceanos sem águas. O enunciado não faz parte de uma teoria, o mesmo pode ser constatado na vida de cada pessoa. A narrativa bíblica do escritor neo-testamentário registra o dito de Jesus quando profere a seus díscipulos a frase “... No mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo” (Jo 16.33). Ora, foi o próprio Cristo quem advetiu a seus seguidores que os mesmo enfrentariam dificuldades. Essas dificuldades não se limitam apenas ao trabalho cristão, fosse assim o conteúdo do discurso se ocuparia ao tema, mas em contrapartida ele se preenche por palavras direcionadas a cumplicidade de qualquer pessoa em seguir a Jesus, ou seja, qualquer indivíduo que se proclamasse cristão passaria por dificuldades na vida. Mas as adversidades não estão reservadas apenas aos cristãos. Todos os homem as têm. Essa tendência de que para ser cristão verdadeiro era necessário passar por sofrimentos, foi muito forte nas regiões da Europa e Ásia, onde os sermões apocalípticos eram usados (principalmente nos tempos da perseguição religiosa por parte do Império Romano – até 313 d.C. – e da Igreja Romana na época da Reforma protestante – depois do século XVI). Nesse tipo de pregação, ser cristão era ser sofredor.
Nas últimas décadas do século XX se fortaleceu uma tendência teológica que ensina que ao cristão “ é só vitória”. Segundo esse tipo de pregação o cristão vence sempre. Essa teologia da confissão positiva não tolera o cristão passar por adversidades. Em confronto com as formas de ensinos existentes em séculos passados, esse ensinamento produz muito mais frustração aos crentes. Essa frustração é resultado da anomalia do ensino. Essa pregação concebe uma patologia emocional desencadeando no âmbito espiritual que leva ao abandono da fé e a uma desconfiança total em Deus ou a um estado de depressão crônica quanto a fé. Ou seja, se na época da perseguição muitos se frustravam por não serem perseguidos e, se fossem e não a suportassem, se achavam cristãos inferiores (por não “darem prova de sua fidelidade”), atualmente muitos cristãos inseridos à pregação néo-pentecostal se frustam por não conseguirem o que querem e acham que é “ por falta de fé” que estão em plena adversidade, dificuldades, etc.
Embora as temporalidades, regiões, e até mesmo teologias sejam diferentes, a narrativa bíblica continua intacta. O Cristão está inserido no mundo e nele permanecerá enfrentando os mesmo desafios do dia-a-dia sem privilégios. Mesmo que pareça estranha essa afirmação é o que encontramos na Bíblia. Em sua oração sacerdotal, Jesus não pediu ao Pai que tirasse seus discípulos do mundo, mas que os livrasse do mal (Jo 16.15); por sua vez, Pedro aconselha que a ardente prova não seja estranha aos cristãos (1Pe 4.12). Ao analisarmos a vida de profetas e dos seguidores de Cristo em todas as épocas concluimos que os mesmo não tiveram privilégios, mas tinham esperança (ver Hebreus capítulo 11).
Portanto, a importância se insere em não deixar a fé diante das adversidades, pois as mesmas são participantes da vida de todo ser humano, quer seja cristão ou não. Assim, uma breve análise em alguns pontos referente a fé a a adversidade elucidam a questão.
1 – A fé é o instrumento pelo qual Deus fortalece o seu servo (Hebreus 11.6). Quando o homem mantém a fé em Deus, ele tem mais segurança para não desistir da caminhada. Moisés foi chamado e mesmo em meio às adversidades no deserto não desistiu de cumprir sua chamada. Pedro pediu para andar sobre as águas e lhe foi concedido, mas quando sentiu o movimento das águas em seus pés e ouviu o barulho enfurecido do vento foi tomado de grande pavor e começou a afundar. Foi advertido por Jesus porque temeu, porém àquela experiência fortaleceu-lhe a fé. Não há nas Escrituras (ou em outra narrativa) relato de que outro homem tenha andado sobre as águas (exceto o próprio Cristo). Ele viu Jesus no mar e ir até ele dependia da ousadia de Pedro e ele ousou; pediu para ir até o Mestre; Jesus concedeu: “vem”! E ele, descendo do barco, foi. Foi porque sentiu sua fé fortalecida naquele momento. Embora a adversidade (o mar) parecesse estar entre Pedro e Jesus na verdade ambos estavam nas mesmas águas, na mesma situação; a diferença é que Pedro estava aprendendo que mesmo junto à Cristo, olhando para Ele, o homem passa por dificuldades não ficando isento dela. Mesmo que Jesus tenha dito para ele “vem” ele (Pedro) precisava confiar, não temer ( ver Mateus 14.22 – 33). Quando se aprende tais coisas em situações semelhantes a fé se fortalece na Graça concedida pelo Mestre e, assim, andar sobre as águas ou mesmo enfrentar dificuldades no deserto (lugares totalmente opostos) são oportunidades que o Senhor nos concede para fortalecer a nossa fé.
2 – Todo homem é provado concernente à sua fé – A fé não é um sentimento, mas é uma convicção provinda da racionalidade; nós optamos em crer. O ato de crer não depende de Deus, depende do homem. A revelação da Graça sim depende do Espírito Santo (convencendo o homem do pecado, da justiça e do juízo). Ora, crer quando tudo está bem é fácil; crer quando a adversidade está às portas é exercitar a fé depositando a confiança em Deus. Jó foi provado e em meio a provação não negou sua fé em Deus. Mesmo “perdendo” a família e lhe sendo roubado e destruído seus bens materiais, manteve firme sua convicção em Deus. Ele era um homem temente, poderia achar estranho estar passando por tantas lutas, mesmo assim continuou fiel ao Senhor. Ele tomou uma decisão em sua vida e essa decisão tinha como base as convicções de sua crença no Altíssimo. Jó foi provado quanto sua lealdade a seus amigos, sua família, seus negócios etc, mas não tanto quanto o foi em sua fé. A sua lealdade a Deus era maior que sua lealdade a qualquer ser humano. O objetivo do Adversário era produzir no coração de Jó um sentimento de repudio a tudo que ele viveu, adorou, sacrificou, orou, agradeceu ao Deus que temia. Mas Jó não blasfemou do Senhor seu Deus, antes a Ele se manteve fiel. A Abraão o Senhor pediu-lhe o filho em sacrifício. Ele podia negá-lo, mas não o fez. Foi ao monte Moriá e “sacrificou” a Isaque no cordeiro que Deus a si mesmo proveu.
3 - A adversidade traz maturação à fé. O Salmista Davi disse que para ele bom foi ter sido afligido para que conhecesse melhor o caminho do Senhor. José antes de sentar no trono do governo do Egito, teve que passar por uma cisterna; por um lugar de acusações na casa de Potifar; nas masmorras da prisão egípcia até chegar no lugar de exaltação. As várias etapas da caminhada (vida) de José solidificaram sua fé no Deus que preserva seu servo na adversidade, nem sempre o livrando de passar por ela. Daniel passou uma noite com leões famintos; três hebreus foram lançados na fornalha babilônica, mas em todas esses e outros acontecimentos Deus deu vitória ao seu povo, mas em meio ao processo em que estavam passando.
Portanto, por mais intimo que seja o homem com Deus, isso não o isenta de lutas e provações. Deus não nos chamou para estarmos imunes ao que acontece no mundo, ou seja, estamos sujeitos as mesmas coisas que acontece as pessoas que não seguem a Jesus. No entanto, a alegria do Senhor é a nossa força, Ele é nosso Pastor e com certeza nos ajudará em todos os nossos momentos edificando a nossa fé em si mesmo.
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