sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Dilma diz não representar o PT,...mas o PT a representa?



Muito oportuna – e malandra – a tentativa de a presidente Dilma se afastar do PT quando lhe interessa. Posa agora de grande estadista que representa todo o povo brasileiro, e não apenas seu partido, ignorando que os petistas são os primeiros a misturar partido com governo e estado.

Quem esqueceu do espanto do presidente Bush ao ver Lula, já eleito, usando um broche do PT e não da bandeira brasileira, em sua primeira visita aos Estados Unidos? Ou daquela estrela vermelha decorada no jardim do Palácio do Planalto?

O PT cria constrangimentos para Dilma, mas ela não tem como fingir que não faz parte do partido. Afinal, jamais veio contestar abertamente suas diretrizes, seus objetivos declarados, suas intenções. Sequer teve a coragem de responder a pergunta feita por Aécio Neves no debate da TV Globo, sobre sua opinião em relação aos mensaleiros presos na Papuda. Dilma jamais criticou abertamente o corrupto José Dirceu!

E agora resolve declarar que não representa o PT, partido ao qual é filiada desde 2000, mas sim o país. Uma presidente que, reeleita, sequer teve a hombridade de citar nominalmente em seu discurso de vitória seu adversário, que recebeu 51 milhões de votos. Disse Dilma aos jornalistas:

Eu não represento o PT. Eu represento a Presidência da República. A opinião do PT é a opinião de um partido. Não me influencia, eu represento o país. Sou presidente dos brasileiros. Acho que o PT, como qualquer partido, tem posições de parte e não do todo, é deles, é típico. Essa questão das eleições, que o PT se queixa que houve xingamentos e agressões, as duas partes reclamam da mesma coisa. Eu acho que não deveria caber a mim — e não cabe, eu não faço isso. E não acho que deveria caber também ao adversário. Se a gente tiver um pingo de cabeça fria, a gente vai ver que numa eleição ninguém controla o que se diz nas ruas nem nas redes sociais. Só se controla o que nós mesmo dissemos.

A opinião do PT não é “a opinião de um partido”, e sim a opinião de seu partido, o mesmo que a levou ao Planalto, que pagou seu marqueteiro João Santana, que definiu sua estratégia de campanha. Quando Dilma tenta se afastar da sordidez de sua campanha, liderada pelos “aloprados” do seu partido, ela demonstra excesso de esperteza, o que pode ser confundido com falta de caráter. As cabeças de sua campanha fazem parte de seu governo.

Diz que não foi ela quem partiu pessoalmente para agressões, que ambos devem ter cabeça fria agora, e que não se controla o que os outros dizem ou fazem. Falso. É responsabilidade dela vetar ou aprovar o que é feito em seu nome em sua campanha. É impensável seus correligionários descerem tanto o nível sem seu aval, sem sua aprovação.

Lembrando que o próprio ex-presidente Lula foi um desses que desceu ao nível abaixo do pântano, ao xingar Aécio Neves de “filhinho de papai” e insinuar que era um agressor de mulheres e drogado. Dilma não controla nem o que Lula diz? Mas concorda ou não? Então por que não veio a público rechaçar tais ataques, mostrar indignação, frisar que não falavam em seu nome?

Claro que Dilma é totalmente conivente e responsável pela baixaria de sua campanha, e apenas demonstra mais cara de pau agora, ao tentar manter uma distância estratégica dela, na esperança de que os tucanos possam relaxar na pressão e no combate sem trégua ao seu governo, uma vez decidido o pleito.

O que Dilma quer é um salvo-conduto para descer o nível e praticar a campanha mais pérfida e baixa da história de nossa democracia, para depois fingir que nada aconteceu, que isso não tem nada a ver com ela. E ainda repete a mentira de que a baixaria veio de ambos os lados, como tentou dizer o senador Humberto Costa, apenas para levar um merecido pito de Aécio Neves.

Não, o PSDB não chegou nem perto de agir como o PT. Há uma diferença de essência entre ambos, um abismo moral intransponível. Por mais que eu seja crítico dos tucanos, de seu modelo social-democrata muito à esquerda do que gostaria, de sua postura tantas vezes pusilânime na hora de enfrentar essa quadrilha no poder, o fato inegável é que o PSDB se porta feito um partido civilizado, algo impossível quando se trata do PT.

Dilma tenta pairar acima do PT agora, mas não vai conseguir. Diz não representar o partido, mas todos sabemos que o partido a representa. Dilma é PT, e o PT tem como representante no poder uma das suas. Não dá para dissociar ambos. Não vem que não tem, “presidenta”!



Por Rodrigo Constantino

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